sábado, 15 de outubro de 2011

História de Lamego e imagem de 1860 do antigo brasão



História de Lamego e imagem de 1860 do antigo brasão

A Cidade de Lamego


Está assentada esta cidade em lugar baixo, nas faldas do monte de Penude, que é continuação da serrania da Estrela e, na margem da ribeira de Balsemão, que vai desaguar no Douro, a uma légua daí. Dista do Porto doze leguas, nove Viseu e vinte e duas de Coimbra. Na nova divisão que se fez do reino em 1833, ficou pertencendo á província do Douro. Anteriormente fazia parte da Beira Alta.

Não há noticia certa sobre a fundação de Lamego. A origem grega, que lhe atribuem alguns escritores nossos, autorizando-se com as palavras de Estrabão, se não é uma fábula, pelo menos é muito duvidosa. É certo, porém, que existia como cidade no tempo dos romanos e que se chamava Lameca.

Desta época poucas memorias se encontram desta povoação, o que prova ser então pequena. Todavia não era tão insignificante que não se atravesse a rebelar-se contra o domínio de Roma, governando o imperador Trajano, que bem caro lhe fez pagar o seu arrojo.

Depois da destruição do império romano e da invasão dos povos do norte é que principiou, esta cidade, a figurar mais alguma coisa, ou deste tempo para cá é que começam a aparecer noticias dela mais positivas.

Achando-se pois sob a dominação dos suevos, foi erigida em sede episcopal, no concilio Lucence, celebrado no ano de 510 da era cristã. Este facto mostra exuberantemente, que nessa época era Lamego uma cidade importante.

Governaram este bispado sucessivamente oito bispos, até á entrada dos árabes na península. Sujeita a cidade ao jugo muçulmano, fugiram a maior parte dos seus moradores e o seu bispo, para as Astúrias, onde o valor de Pelaio e de um punhado de esforçados companheiros, tinham salvado as relíquias do império godo, lançando assim os fundamentos á monarquia dos Reis de Leão.

Sendo Lamego capital e corte de um pequeno reino muçulmano, foi tomada por D. Afonso III, rei de Leão, mas pouco depois caiu de novo cm poder dos moiros.

No século XI foi reconquistada aos árabes por  Fernando Magno, primeiro do nome, rei de Castela, achando-se nesta empresa o celebre Rui Dias de Bivar, mais conhecido na historia pelo titulo glorioso de Cid Campeador. Não são concordes os historiadores no ano desta vitoria das armas cristãs. A Chronica dos godos diz que teve lugar em 29 de Novembro de 1047. O historiador espanhol Flores pretende que foi em 1057. O que parece fora de duvida é que reinava então em Lamego um rei ou regulo chamado Zadan Aben e que D. Fernando Magno o deixou na posse do seu estado, contentando-se de o fazer seu tributário, provavelmente pela impossibilidade de assegurar aquela conquista.

No ano de 1102, ganhou o conde D. Henrique esta cidade á força de armas, mas como o rei moiro Eicha se fizesse cristão, não o despojou da coroa. Deu-se por satisfeito de que lhe rendesse vassalagem.

Não foi porém assim seu filho, D. Afonso Henriques, que, mais ambicioso de estender os seus domínios, reuniu aos seus estados o pequeno reino do Eicha Martin. A tradição, hoje muito contestada, diz que se reuniram em Lamego as cortes que puseram a coroa de rei sobre a fronte do vencedor de Ourique e que constituíram Portugal em monarquia hereditária, independente e livre.

As vicissitudes do tempo e os desastres da guerra, por vezes arruinaram e despovoaram esta cidade, sendo necessário em algumas dessas vezes reedifica-la e povoa-la quase inteiramente. Apesar da sua posição pouco vantajosa para o comercio, floresceu pelo impulso da industria nos séculos XIV e XV. Algumas fabricas de diversos tecidos e uma grande feira anual, a que concorriam muitos moiros de Granada com especiarias e fazendas do Oriente de que se abastecia a maior parte do reino, faziam de Lamego uma cidade rica e importante. Porém todas estas vantagens vem a perder pela conquista de Granada e expulsão dos moiros da península e pela descoberta da carreira da Índia. Despojada do seu pequeno empório comercial, em breve caiu em decadência a sua industria manufactora. A introdução de fazendas francesas e inglesas, que começou a tomar vulto na segunda metade do século XVI, acabou de lhe arruinar as fabricas.

Depois destes reveses, esta cidade tem-se conservado quase estacionaria. A prosperidade das vinhas do Douro trouxe-lhe, é verdade, aumento e riqueza, porém este beneficio não tardou a ser neutralisado pelas tristes consequencias das invasões estrangeiras e das lutas civis, e também pela decadência daquele importante ramo da nossa industria agrícola. Contudo, o melhoramento das vias de comunicação, promete-lhe mais prosperidade no futuro.

Com a fé cristã reestabeleceu-se em Lamego a sua antiga sede episcopal, em que têm figurado muitos prelados distintos em letras e virtudes.Deu-lhe foral com muitos privilégios el rei D. João I.

Na velha monarquia gozava esta cidade da prerogativa de se fazer representar em cortes por procuradores, que tomavam assento no segundo banco.

Tem por brasão de armas um escudo coroado e nele, em campo azul, um castelo de prata com três torres, sobre campo negro. Ao lado está uma árvore com pomos, que dizem chamar se Lamegueiro; e na parte superior do escudo, tem de um lado o sol de oiro e do outro a lua de prata.

Este é o brasão tal qual se vê pintado num livro das armas das cidades e vilas de Portugal que se guarda na Torre do Tombo. Entretanto achamos uma variante em alguns autores que põem uma estrela em vez de lua e o escudo das quinas reais por cima da fortaleza.

Fafel, compreende a catedral e uma praça, em que se levanta o paço do bispo. Chamam a este bairro o Couto da Sé. O terceiro bairro, que é em elevação e se denomina do Castelo, está no meio dos dois primeiros e tem, na parte mais alta, o velho castelo arruinado.

São duas as paroquias: a Sé e a Colegiada de Santa Maria de Almacave. Aquela é um bom templo de tres naves, de arquitectura gótica, com três portas na frontaria, cada uma correspondente à sua nave. Foi edificado pelo conde D. Henrique, no principio do século XII, e é um dos nossos antigos monumentos mais bem conservados e onde melhor se pode estudar a arquitectura daquela época em Portugal, pois que, infelizmente, todos ou quase todos os outros edifícios coevos com o nascimento da monarquia, têm sido arruinados completamente pelos séculos ou deturpados nas reedificações, a ponto tal, que não ficaram ou mal se vêem vestígios do tipo primitivo.

Há nesta igreja alguns túmulos e sepulturas notáveis, de muita antiguidade. Na capela do Santíssimo Sacramento, do lado da epistola, acha- se metido na parede o sepulcro de D. Guiomar de Berredo, neta del rei D. Afonso III. No epitáfio diz neta de D. Afonso IV, mas é erro, comprovado por documentos que existem no arquivo da mesma sé. Junto á capela do Sacramento, está outra em que avultam as armas da família Balsemão e na qual estão sepultados alguns dos seus ascendentes e entre eles, em rico túmulo, Álvaro Pinto da Fonseca, fidalgo da casa real, morgado de Balsemão e fundador deste jazigo.

Teve esta Sé um precioso tesouro de relíquias e de mui ricos vasos sagrados e alfaias, o qual desgraçadamente perdeu, por ocasião de um incêndio que devorou quase toda a sacristia.

A igreja de Santa Maria de Almacave, segundo a tradição popular, foi Catedral no tempo da monarquia dos Reis suevos e godos; depois reduzida a mesquita pelos moiros e finalmente consagrada outra vez ao culto cristão, sob a invocação da Virgem. O edifício é de arquitectura humilde e singela, como são, com raras excepções os que nos restam dessas remotas eras.

Há mais na cidade a igreja da Misericórdia, com o seu hospital, varias ermidas, o convento das Chagas, de freiras franciscanas e outro de recolhidas. Teve três conventos de frades: um de capuchos, que foi outrora de templários, outro de cónegos seculares de S. João Evangelista e o terceiro, de eremitas de Santo Agostinho.

O paço do bispo é uma boa residência com sua cerca e jardim. O velho Castelo acha-se em grande ruína, mas ainda assim é um monumento respeitável pela sua muita antiguidade e também curioso pela sua estrutura. Na sua elevada torre de menagem, mandou o conde de Marialva, D. Francisco Coutinho, abrir uma grande e bela janela de assentos. Indo el rei D. João II a Lamego pouco depois de se concluir esta obra, perguntou lhe o conde, muito ufano, o que lhe parecia aquela janela; mas em vez do elogio que esperava, respondeu-lhe o monarca: «Que mais sabia quem a abrira que quem a mandou abrir.» Resposta certamente mui adequada e que bem quadra aos nossos modernos inovadores, quando sem ciência, nem consciência, deturpam e mascaram os monumentos antigos com remendos á moderna.

Conta-se também deste soberano que, achando- se próximo a morrer na vila de Alvor, mandara chamar o bispo de Lamego, D. João Madureira Camelo da Silva, que vivia vida desregrada, para lhe dizer que levava deste mundo um grande arrependimento e desconsolo pelo ter nomeado bispo; e rematando por lhe pedir que ao menos lhe prometesse emenda.

Envergonhou-se e comoveu-se o bispo com a repreensão e pedido do rei moribundo, que lhe prometeu emendar-se, e assim o cumpriu, sendo dali em diante um prelado exemplar. Em memoria deste sucesso, apenas se recolheu á sua diocese, mandou tirar de cima do retabolo da capela mor da sé, que era de talha doirada e obra sua, o escudo das suas armas e, no lugar dele, fez colocar uma cruz com as insignias episcopais, e por baixo duas mãos travadas uma da outra.

A vizinhança do rio Douro e de um santuário grandioso, e muito venerado; num terreno acidentado, onde os montes se erguem cobertos de bosques e os vales bem cultivados e sempre verdejando, graças á abundância da agua e á humidade que espalham amiudados nevoeiros, todas estas circunstancias fazem formosos e pitorescos os subúrbios de Lamego. E além disto são muito produtivos, em vinhos especiais, principalmente, em azeite, cereais, legumes, frutas, linho, gados e caça.

Fazem-se na cidade duas feiras anuais e mui concorridas, uma no primeiro dia de Março e ia outra a 3 de Maio. Lamego conta uns nove mil e trezentos habitantes. É actualmente capital de um distrito e como tal é sede de um governador civil e mais autoridades administrativas, de fazenda e de justiça. Tem um liceu e um regimento de infantaria.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos 2011 Lamego conta com 26 707 habitantes


Freguesias de Lamego

Almacave (Urbana Lamego), Avões (perímetro urbano), Bigorne, Britiande, Cambres, Cepões (perímetro urbano), Ferreirim, Ferreiros de Avões, Figueira, Lalim, Lazarim, Magueija, Meijinhos, Melcões, Parada do Bispo, Penajóia, Penude, Pretarouca, Samodães, Sande (perímetro urbano), Sé (Urbana Lamego), Valdigem, Várzea de Abrunhais, Vila Nova de Souto d'El-Rei (perímetro urbano)

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