sábado, 8 de outubro de 2011

História da Cidade de Faro e antigo brasão (imagem de 1860)



História da Cidade de Faro e antigo brasão (imagem de 1860)

A CIDADE DE FARO


No tempo da dominação romana existia na parte meridional da Lusitânia, então chamada Céltica, é hoje Algarve, a cidade de Ossonoba, de origem antiquíssima e que floresceu por muitos séculos, logrando nas primeiras eras do cristianismo a prerogativa de sede episcopal. Na invasão dos moiros foi inteiramente arruinada e os seus moradores ou foram cativos para terras de África, ou buscaram refugio nas serras de Monchique e Caldeirão.

Passados anos, sujeita quase toda a península hispânica ao jugo sarraceno, começaram alguns pobres pescadores a edificar varias casas num sitio a légua e meia para o ocidente da destruída cidade de Ossonoba, de cujas ruínas tiravam os materiais precisos. As edificações foram aumentando e os foragidos habitantes daquela cidade vieram pouco a pouco estabelecer-se na nova povoação. Tal foi o principio da cidade de Faro.

Quanto á etimologia do seu nome, há diferentes opiniões. A que parece mais provável, é a que a faz derivar de um farol que aí se erigiu para guia dos nautas que frequentavam aquele porto, o que deveria ser muito posterior á fundação da cidade, por que esta se chamou no seu principio de Santa Maria.

Em 1249 veio el rei D. Afonso III em pessoa pôr cerco a Faro. A cidade achava-se então bem fortificada e abastecida de tudo o necessário, pela facilidade com que recebia socorros de África. Acometida, porém, ao mesmo tempo por terra e por mar, rendeu-se enfim aos portugueses, mas ficou em tal estado de ruína que a maior parte dos seus habitantes viu-se obrigada a abandona-la.

Passados quase dezassete anos, no de 1266, achando-se já o reino inteiramente desafrontado de moiros, cuidou D Afonso III em reedifica-la e povoa-la de novo, para o que lhe deu foral com muitos privilégios que lhe atraíssem moradores.

El rei D. João II fez doação de Faro á rainha D. Leonor, sua mulher, e daí em diante ficou sendo apanágio das rainhas de Portugal.

As vantagens comerciais que o seu porto lhe proporcionava, fizeram engrandecer tanto a povoação que el rei D. João III elevou-a á categoria de cidade e, no ano de 1580, reinando ainda o cardeal rei D Henrique, foi trasladada para Faro a cadeira episcopal de Silves, então ocupada pelo sábio e virtuoso bispo D. Jerónimo Osório, não menos celebre pelo seu patriotismo e elevação de carácter.

Achando-se Portugal subjugado por Filipe II de Castela, surgiu na costa do Algarve, em Julho de 1596, uma esquadra inglesa. Em seguida as tropas que trazia a seu bordo fizeram um desembarque e entraram á força de armas na cidade de Faro no dia 25 do dito mês, tornando a embarcar depois de terem saqueado e incendiado a povoação.

Esta catástrofe deixou a cidade no mais triste estado de ruína e miséria. O fogo devorou a maior parte dos seus edifícios. Dos templos só escaparam ao incêndio a paroquia de S Pedro e a igreja da Misericórdia. A rica livraria do bispo D. Jerónimo Osório foi levada pelos ingleses para a sua universidade de Oxford. 

Passado pouco mais de século e meio, veio uma nova desgraça afligir esta povoação. O terremoto do 1 de Novembro de 1755, que abismou Lisboa, estendeu a todo o Algarve a sua terrível influencia, causando graves estragos á cidade de Faro, que já no ano de 1722 havia padecido bastante nos edifícios e nas vidas dos seus moradores pelos deploráveis efeitos de outro grande tremor. 

Acha-se situada a cidade de Faro numa planície arenosa na margem esquerda de um pequeno rio ou esteiro que, comunicando com o oceano a distancia de légua e meia, forma-lhe um porto acessível a barcos de navegação costeira e a navios de duzentas toneladas. Dista doze léguas da cidade de Lagos, oito de Silves e cinco de Tavira.

Divide-se Faro em duas paroquias: a Sé e S. Pedro. É a primeira um templo muito antigo de três naves quadradas sustentadas por colunas de ordem jonica. Há na cidade casa e hospital da Misericórdia, fundada aquela pelos anos de 1583, e este no século passado; a igreja de S. Luís e varias ermidas Teve três conventos de frades que eram: o de S. Francisco, de religiosos franciscanos, construído em 1529; o de Santo António, dos Capuchos, de piedosos, erigido em 1620; e o colégio da Companhia de Jesus, edificado em 1602. De freiras teve um só convento intitulado de Santa Clara, de religiosas capuchas, fundação da rainha D. Catarina, mulher del rei D. João III, em 1527, hoje extinto. Os principais edifícios da cidade, além destes, são o paço do bispo, contíguo á sé; o seminário episcopal, que se comunica com o paço; e a casa da Câmara, próxima de ambos.

Faro apresenta um aspecto agradável, pela alvura e asseio das casas. Tem ruas espaçosas e em geral limpas, e uma grande praça de forma rectangular, cujo lado do sul deita para o rio onde tem um cais e barbacã. No lado de leste desta praça eleva se um formoso arco de cantaria, ornado de colunas jonicas e coroado por uma bela estátua de S. Tomas de Aquino, feita em Itália, de mármore branco e com oito palmos de altura. Este elegante monumento foi mandado fazer pelo bispo do Algarve D. Francisco Gomes de Avelar, na segunda metade do século passado (18), sendo o desenho do arquitecto Francisco Xavier Fabri. Nesta praça faz- se todos os dias mercado de hortaliças, frutas, etc.

Faro é praça de guerra. Foi começada a fortificar com redentes para o lado do mar e com alguns baluartes para a parte de terra, nos fins do século XVII. Da fortificação antiga ainda conserva o seu velho castelo e muralhas torreadas. Dentro do castelo há bons quartéis onde permanece um regimento de infantaria.

É residência de um general, comandante da oitava divisão militar, de um governador civil e mais autoridades que competem á capital de um distrito. Possui um liceu, alfandega e um teatro.

Nos subúrbios há alguns sítios aprazíveis. O da ermida de Santo António do Alto, que é uma pequena elevação próxima da cidade, oferece lindas e variadas perspectivas. O grande banco de areia, a que chamam a Ilha, que, juntamente com outros menores, divide a barra em dois canais, um denominado a barra grande e outro a barreta, é um lugar de agradável passeio, pela sua pitoresca situação e pela vista da cidade.

O termo de Faro é fértil e bem cultivado. Produz alguns cereais, azeite, vinho e muitos figos, amêndoas e alfarroba, constituindo estes três últimos géneros o ramo mais importante da sua agricultura e do seu comercio de exportação, a que se deve acrescentar o das pescarias.

Fazem-se na cidade as seguintes feiras: a 16 de Julho; a 20 de Outubro; e a 10 de Julho em Estoi, no lugar onde existiu a antiga Ossonoba.

Faro conta uns sete mil e oitocentos habitantes. No antigo regímen gozava de voto em cortes, tendo os seus procuradores assento no banco terceiro. Tem por brasão de armas um escudo coroado e nele a imagem de Nossa Senhora da Conceição entre duas torres.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos 2011 Faro conta com 63 967 habitantes

Freguesias de Faro

Conceição de Faro
Estoi 
Montenegro
Santa Bárbara de Nexe
São Pedro (cidade de Faro)
Sé (cidade de Faro)

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