quinta-feira, 6 de outubro de 2011

História da Ordem Militar de Cristo (Portugal)


História da Ordem Militar de Cristo (Portugal)


Extinta a famosa Religião equestre dos Templários pelo Papa Clemente V em 1311, pretendeu logo el Rei D. Dinis instituir outra Ordem em Portugal, intitulada de Nosso Senhor Jesus Cristo, cujos Cavaleiros lutariam contra os Mouros, inimigos da Fé. Para isso suplicou ao Papa João XXII, sucessor de Clemente V, quisesse convir na erecção da nova Cavalaria, o qual assentindo a tão pia súplica, expediu uma Bula em Avinhão, França, que chegou e se publicou em Santarém, onde se encontrava el Rei, a 5 de Maio de 1319.

Logo mandou el Rei desembaraçar no Algarve o Castelo de Castro Marim e ali fez estabelecer a nova Ordem, para onde foi Frei Gil Martins, seu primeiro Mestre, que vinha nomeado na Bula, por ser Cavaleiro valoroso da Ordem de Avis e se mandou que os novos Cavaleiros se governassem pelas Constituições da Ordem de Calatrava, as quais observaram pelo espaço de cento e dezanove anos, até que o Infante D. Henrique, oitavo Mestre, lhes deu outras Leis, que são as que hoje conservam.

Qual fosse o hábito que primeiro usaram os Cavaleiros desta Ordem, nem a Bula da instituição o declara, nem outra qualquer memória; porém, mandando o Pontífice que se vivesse pelas Constituições de Calatrava, é de crer que seguissem neste ponto também o que aquela Ordem usava, que era escapulário ou bentinho branco, por insígnia essencial da Religião. Depois, com  o exemplo das ordens antigas usaram uma Cruz Vermelha assentada sobre o branco desde o ano de 1330 e, el rei D. Manuel, no Capítulo que mandou celebrar em Tomar no ano de 1503, deu a forma do que hoje se pratica bordado nos mantos ou vestidos da parte esquerda.

Nos lugares públicos e tempo de guerra, para maior autoridade, usavam de bandeira branca quadrada com Cruz vermelha, que se conserva em Tomar na Igreja da ordem. Tinham também os Mestres por preeminência levar diante de si nos actos públicos o Comendador Mor com um estoque ao ombro, pegando-lhe pela ponta e as guarnições voltadas para as costas. O D. Prior nos lugares públicos tem o lugar da mão direita e lhe andam anexas preeminências Episcopais. Antigamente tinham maior jurisdição.

No tempo del Rei D. Fernando, mudou-se esta Ordem para a vila de Tomar, que tinha sido cabeça da Ordem dos Templários; e ainda que ali viviam os Freires conventualmente, el Rei D. João III, no ano de 1530 os reduziu a observância Monacal com Estatutos tirados da Regra de S. Bento e de Cister e foi seu Reformador o Padre Frei António Moniz da Silva, Religioso da Ordem de S. Jerónimo.

Os Mestres que teve esta ínclita Ordem até se unir à Coroa foram:

1 - Gil Martins, que começou a governar a Ordem desde o ano de 1319, com admirável direcção e mui correspondente ao conceito que el Rei fazia da sua capacidade. Congregou Capítulo geral, que foi o primeiro desta Ordem, na cidade de Lisboa, nas casas que tinham os Templários e se chamam Escolas Gerais. Faleceu a 13 de Novembro de 1321 e jaz em Tomar na Igreja de Santa Maria dos Olivais.

2 - D. João Lourenço, varão de grande esforço e brio; celebrou duas vezes o Capítulo Geral, em que determinou coisas muito úteis para a Ordem. Governou cinco anos.

3 - D. Martim Gonçalves foi dotado de muitas naturais e adquiridas. Procurou a comunicação dos privilégios da Ordem Teutónica com a de Cristo. Foi muito estimado por el Rei Afonso IV, que num privilégio que concedeu a esta Cavalaria lhe chama: «Magnífico, estrenuo e poderoso Cavaleiro». Governou durante oito anos e morreu em 1335.

4 - D. Estêvão Gonçalves, irmão do anterior Mestre, foi grande flagelo dos Mouros e aumentou muito a Ordem em bens temporais, tirando muita fazenda, que tinha sido dos Templários e andava sonegada. Governou nove anos e morreu em 1344.

5 - D. Rodrigo Annes, grande Cavaleiro e de muito valor. El Rei D. Afonso IV fez dele grande estimação; porém, dissabores e aleivosias obrigaram-no a renunciar depois de ter governado a Ordem durante doze anos.

6 - D. Nuno Rodrigues, de ilustre descendência. No sei tempo passou o Convento de Castro Marim para Tomar, onde se celebrou o primeiro Capítulo Geral a que presidiu o D. Abade de Alcobaça, conforme a autoridade da Bula da erecção. Governou quinze anos.

7 - D. Lopo Dias de Sousa, sobrinho da Rainha D. Leonor de Meneses. Sendo de mui tenra idade, não quis o Papa Bonifácio IX confirmar a aprovação e assim, passados treze anos, governando-se neste espaço de tempo o Mestrado por particular Administrador, completando o dito D. Lopo Dias de Sousa vinte e cinco anos, foi confirmado pelo Pontífice na antiga eleição e veio a governar vinte anos com reputação de grande valor. Morreu na Covilhã em 1418, de onde foi trasladado para o Convento de Tomar, onde jaz.

8 - O Infante D. Henrique, filho del Rei D. João I. Teríamos muito a dizer sobre este ínclito Mestre, mas não chegaria o espaço.


E porque os outros Mestres ou Administradores que se seguiram ao Infante D. Henrique fora, ou Infantes, ou filhos de Infantes, bastará nomear-lhes os nomes:

9 - O Infante D. Fernando, Duque de Viseu.

10 - D. Diogo, filho do anterior.

11 - D. Manuel, que depois foi Rei.

12 - D. João III.

Daqui por diante, como esta Milícia se incorporou na Coroa, foram seus Mestres os Soberanos Reis, prezando-se muito dela, pois só com o seu hábito se ornam.

Dignidades da Ordem de Cristo

D. Prior, Comendador Mor, Claveiro, Sacristão Mor e Alferes.

Capítulos da Ordem de Cristo

1 - Em 1321, sendo Mestre D. Gil Martins.

2 - No ano de 1326, em Tomar, por D. João Lourenço.

3 - Em 1326 em Lisboa.

4 - Em 1372 em Tomar por D. Nuno Rodrigues



6 - Em Tomar por el Rei D. Manuel.

7 - Em 1503 pelo mesmo Rei.

8 - Em Tomar por el Rei D. João III.

9 - Em 1538 em Lisboa, no Hospital de Todos os Santos, governando el Rei D. Sebastião e presidiu a ele Frei Vicente, Prior de Tomar.

10 - Em 1573 em Santarém pelo mesmo Rei.


O património desta Ordem é mui rendoso, porque se compõe de quatrocentas e cinquenta e quatro Comendas e vinte e uma vilas e Lugares, que os Sereníssimos Reis lhe deram para manter e conservar o lustre de seus progressos, correspondente ao de sua erecção.

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