História da Ordem Militar de Santiago em Portugal
Ordem Militar de Santiago
Deve esta preclara Ordem Militar a sua introdução neste Reino ao invicto Rei D. Afonso Henriques, o qual vendo o socorro e valimento que o Apostolo Santiago fazia nos exércitos dos Cristãos contra os Mouros, começou a invoca-lo na tomada de Santarém, de cuja vitoria agradecido, admitiu e favoreceu muito os Cavaleiros desta Milícia, dando- lhe muitas terras e Comendas. Depois, seu filho D. Sancho I, a ilustrou grandemente, fazendo- lhe mercê das Vilas de Palmela, Almada, Arruda e Alcácer do Sal.
Aumentou-se mais esta Ordem no tempo del Rei D. Sancho o Capelo e seu irmão, EIRey D. Afonso III, porque florescendo então o grande Mestre dela, D. Paio Peres Correia e ganhando aos Mouros muitas terras e quase todo o Algarve, deram nossos Reis muitas das sobreditas terras à Ordem de Santiago, com as quais enriquecida, reinando jà EIRey D. Dinis, intentou eximila da obediência que davam os Cavaleiros existentes em Portugal ao Grão Mestre que residia em Castela.
Os motivos e as causas que existiram para esta isenção, foram muitas, que por varias vezes se representaram na Curia Romana, as quais julgadas por forçosas, expediu o Papa Nicolau IV um Breve, a 17 de Setembro de 1288, mui favorável à Ordem de Santiago em Portugal, pelo qual mandou que os Comendadores de Portugal e seus bens se apartassem da obediência e dominio do Grão Mestre de Castela e pudessem eleger Mestre Provincial, como com efeito juntos os Comendadores Portugueses na Igreja de Santos o Velho de Lisboa, no ano de 1291, elegeram a D. João Fernandes.
Sabendo isto, o Grão Mestre de Castela, que então era D. Pedro Fernandes Matta, procedeu contra o de Portugal, novamente erecto, valendo-se dos Pontífices Celestino V e Bonifácio VIII, sucessores de Nicolau, para que derrogassem o Breve de isenção. Procederam os Papas com censuras, mas reclamando os Cavaleiros Portugueses, obtiveram outros Breves e favores dos mesmos Sumos Pontífices, com que foram continuando na eleição dos seus Mestres Provinciais, até que ElRey D. Dinis lhes deu posse, entregando as Comendas das do Reino ao Mestre Português, para que da sua mão as desse aos benemeritos; e averiguados pelo Pontífice João XXII os fundamentos que havia para se eximirem de Castela os Cavaleiros Portugueses, houve por bem passar Bula da separação no ano de 1320, que era o quarto de seu Pontificado.
Na tutoria delRey D. Afonso V, tornou a porfiar Castela; porém Rui da Cunha, que no ano de 1440 achava em Roma com o carácter de Embaixador e o Mestre Fr. João Manuel, Provincial do Carmo, que depois foi Bispo da Guarda, alcançaram do Eugénio IV a isenção para sempre, mandando com censuras, que se pusesse perpetuo silencio neste ponto; e assim, daí por diante, continuaram a fazer suas eleições dos Mestres, sem mais instância contraria. Os Mestres que tem havido depois da isenção de Castela são os seguintes:
1 - D. João Fernandes, eleito no ano de 1291, no primeiro Capitulo Provincial que se celebrou em Lisboa no Mosteiro de Santos. Governou somente ano e meio.
2 - D. Lourenço Anes Carnes, eleito no ano 1292. Começou o edifício do Convento de Alcácer do Sal e governou vinte e três anos.
3 - D. Pedro Escacho, foi eleito na ano de 1316 em Mértola. Daqui mudou o Convento para Alcácer do Sal. Adquiriu para a Ordem muitos privilégios e lhe serviu de grande utilidade. Governou pacificamente dez anos e meio. O Autor da Évora gloriosa num. 332, lhe chama D. Pedro Estaco e diz que fora o primeiro Mestre depois da separação de Castela; porém numa e outra noticia se equivoca.
4 - D. Garcia Peres. Não se sabe em que ano foi eleito; sabe-se somente que governou dezasseis anos.
5 - D. Vasco Anes. Foi o primeiro Mestre que visitou todos os lugares e terras da Ordem com grande utilidade dela. Morreu no ano de 1367 e governou quatorze.
6 - D. Gil Fernandes de Carvalho. Alferes delRey D. Fernando. Governou vinte anos.
7 - D. Estêvão Gonçalves. Foi um dos valorosos Cavaleiros que ElRey D. Fernando pôs nas fronteiras do Reino contra Castela. Parece que morreu no ano de 1382 e governou dez anos.
8 - D. Fernando Afonso de Albuquerque, bisneto, ainda que por bastardia, delRey D. Dinis. Foi Cavaleiro de grande estimação e governou oito anos.
9 - D. Mem Rodrigues de Vasconcelos. A sua eleição foi confirmada pelo Papa Bonifácio IX, por ser canónica e não outra que fizeram os Comendadores da Ordem, de que se originaram varias inquietações. Governou dezanove anos e morreu no de 1415.
10 - O Infante D. João, filho delRey D. João I. Transferiu a Ordem de Alcácer do Sal para a Vila de Palmela e, depois de ter levantado grande parte dos edifícios, morreu no ano de 1442. Governou vinte e sete anos.
11 - D. Diogo, filho do antecedente, a quem a quem sucedeu nos bens e dignidades. Viveu pouco e não se sabe o tempo que governou.
12 - O Infante D. Fernando, filho delRey D. Duarte. Foi eleito em Alcácer do Sal por Bula Pontifícia. Acabou a Igreja e Convento de Palmela e outras obras que estavam começadas. Governou dez anos.
13 - D. João, filho do sobredito. Herdou tudo o que possuía seu pai e não há dele mais memoria.
14 - O Príncipe D. João, que depois foi Rei, segundo do nome. Pôs na ultima perfeição o Convento de Palmela e o completou no ano de 1482.
15 - O Príncipe D. Afonso, filho delRey D. João II. Pouco tempo logrou o Mestrado, por morrer intempestiva e desgraçadamente em Santarém, no ano de 1491.
16 - D. Jorge, filho bastardo delRey D. João II. Sendo de doze anos, lhe fez EIRey seu pai a mercê do Mestrado, precedendo para isto Capitulo, que a Ordem celebrou em Santarém; e ali, no mês de Abril de 1492, tomou juramento aos Cavaleiros, presente todo o Capitulo. Celebrou-o no ano de 1508, no Convento de Palmela, com muita solenidade, reformando e acrescentando os estatutos da Ordem por Bula Pontifícia. Morreu no ano de 1511 e jaz no Convento de Palmela.
Por morte do Senhor D. Jorge, incorporou Adriano VI, no ano de 1522, o Mestrado desta Ordem na Coroa Real e assim, desde ElRey D. João III, tem continuado até o presente na Majestade delRey D. João V que é o XXVI Mestre da Ordem, depois da sua separação. O Autor da Corografia Portugueza, no tom. 3, transcreve uma Relação dos Mestres desta Ordem Militar de que diz haver memoria no Convento de Palmela; mas é dos Mestres enquanto a Ordem esteve subordinada a Castela; e ainda esta é diminuta e não faz menção alguma dos que governaram só em Portugal, que é o que nos pertence.
Dignidades da Ordem Militar de Santiago
Depois da dignidade de Grão Mestre segue- se a de Prior Mor de Palmela,ao qual estão anexas insígnias Pontifícias e jurisdição quase Episcopal, que lhes concedeu o Papa Leão X pelo Breve, que passou no ano de 1516. O insigne Académico D. Luís de Lima diz a que o primeiro Prior fora D. João de Braga; porém, na Historia desta Ordem escrita por Fr. Jerónimo Roman, que conservamos em nosso poder, consta que o primeiro Prior Mor de Palmela fora D. Cristóvão, a quem se seguiram Martim Dias, André Peres, D. Fernando, D. Gonçalo, D. Martinho II, D. Pedro I, D. Pedro Anes II, D. Lourenço Anes, D. Gonçalo, D. Pedro Dias III, D. Luís da Rosa, D. João Fernandes, D. João de Braga; de sorte que antes deste tinham precedido treze.
As Comendas com que liberalmente enriqueceram esta Ordem os Senhores Reis, bem mostram o seu pio e generoso animo, que ainda para Reinos mais populosos e opulentos seria um grande reconhecimento do muito que a estimavam. A Geografia Histórica lhe assina cento e cinquenta Comendas.
Professam os Cavaleiros desta Ordem os três votos essenciais de pobreza obediência e castidade conjugal, conforme o privilegio de Paulo III. O seu habito é uma Cruz vermelha bordada sobre o manto branco ou sobre os vestidos com as guarnições à maneira das espadas antigas, com uma concha no meio.
Tem finalmente esta Milícia Sagrada um Mosteiro de Religiosas, situado fora dos muros de Lisboa, para onde vieram da Igreja de Santos o Velho e se governa por uma Comendadeira que sempre é das principais Senhoras do Reino e é hoje (século 18) a Excelentíssima Senhora Dona Maria Rosa de Portugal, mulher que foi do Conde de Pombeiro.
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