terça-feira, 11 de outubro de 2011

História de Grândola e imagem de 1860 do antigo brasão



História de Grândola e imagem de 1860 do antigo brasão

A VILA DE GRÂNDOLA

D. Jorge de Lencastre, duque de Coimbra e filho legitimado del rei D. João II era muito afeiçoado aos exercícios da caça. Um dos sítios que mais procurava para esta distracção, era a serra de Grândola, nos limites da comarca de Setúbal, povoada de todo o género de caça.

Para sua maior comodidade, mandou edificar um palácio nas faldas da serra onde havia uma pequena e pobre aldeia, chamada o lugar de Grândola. Assim que o duque viu acabado o palácio, passou a viver nele uma boa parte do ano.

Achando-se em certo dia á janela, a recrear os olhos na mata de sobreiros e carvalhos que lhe ficava defronte e mui vizinha, um grande e sanhudo javali, rompendo com fúria o mato, perseguido dos cães veio parar ao terreiro do palácio. O duque, mal viu a fera, bradou pelos criados e vassalos, saltou as escadas de um pulo e saiu a campo para montear o javali.

Faltou-lhe porém o mais destro e ousado dos seus monteiros e a esta falta atribuiu D Jorge o pesar de lhe escapar o animal. A extensão de semelhante desgosto, só pode ser avaliada pelas pessoas que encontram na caça o maior prazer da vida. Julgue-se, portanto, da desesperação do duque, por não ter corrido á sua voz o monteiro que mais desejava ver ao pé de si. Todavia não fora culpa do vassalo o não se achar ao lado do seu real senhor quando este precisou dos seus serviços. Outros deveres imprescritiveis o tinham chamado a uma audiência judicial na vila de Alcácer do Sal, a cujo termo pertencia o lugar de Grândola.

Para evitar, pois, a repetição destes casos, impetrou e alcançou D. Jorge del rei D. João III, o foro de vila, para o seu lugar de Grândola, o que leve efeito no ano de 1543.

Empenhou-se desde então o duque de Coimbra em aumentar e aformosear a humilde aldeia, que de tudo necessitava para bem merecer a honra a que fora elevada. Com as imensas riquezas de que dispunha, fácil lhe foi dar grande impulso á edificação de novas casas, à reconstrução da matriz, que apenas era uma pequena ermida; e a outras fabricas mais. Com os privilégios do foral que obtivera da munificencia regia, com o fausto com que vivia e com a autoridade e consideração da sua pessoa, como príncipe e perfeito cavalheiro que era e como grão mestre da ordem de Santiago, também conseguiu sem muita dificuldade ir atraindo á sua vila numerosos moradores de diversas classes da sociedade, entrando nesta conta algumas famílias nobres e ricas que aí fundaram boas casas para sua residência.

Tal foi a origem da vila de Grândola e por tais razões é uma das terras do reino edificadas com mais regularidade.

Está situada, como dissemos, nas faldas de uma serra do mesmo nome, quase nos limites da província da Estremadura e quatro léguas ao sul da vila de Alcácer do Sal.

Compõe-se a povoação de cinco ruas, bem alinhadas e de varias travessas que as cortam. No centro está a matriz que é a única paroquia, dedicada a Nossa Senhora da Assunção, a qual, quando era simples ermida, tinha a invocação de Nossa Senhora da Abendada.

Os templos de S. João Baptista, de S. Domingos, de S. Sebastião e de S. Pedro, estão colocados em quatro pontos opostos, de modo que formam uma cruz, ficando a matriz no meio dela.

A igreja e hospital da Misericórdia acham-se fundados em frente do antigo palácio do duque de Coimbra, no sitio onde o javali rompeu do mato para o terreiro.

No ano de 1679 fundou-se nesta vila um celeiro comum, á maneira do de Évora, para fazer empréstimos de trigo aos lavradores pobres, recebendo depois na mesma espécie o capital e um modico juro.

Muitas vinhas, hortas e olivais, alguns campos de trigo e, mais longe, bosques de sobreiros e carvalhos, o rio Davino com suas margens arborizadas e que passa junto da vila indo desaguar no Sado, depois de fazer trabalhar varias azenhas; o Borbolegão, e outros mananciais de puríssimas águas; o próprio Sado, que corre não mui distante, fazem as cercanias de Grândola muito produtivas, aprasiveis e formosas.

Além dos frutos próprios das culturas a que nos referimos, a criação de gado, principalmente suíno, constitui ali um ramo de grande comercio.

Grândola conta uns dois mil e duzentos habitantes e tem por armas um escudo com a cruz da ordem de Cristo, segundo dizem os autores que temos á vista, o que não se conforma muito com a circunstancia de ter sido o fundador da vila um grão mestre de Santiago e de ter pertencido a esta ordem a apresentação dos seus párocos.

Fazem-se na vila algumas feiras anuais.

Há nas vizinhanças de Grândola algumas curiosidades que devemos mencionar. O Borbolegão é um olho de agua que nasce junto da vila, apresentando um diâmetro como o da roda de um carro. É tal a violência com que rebenta, que expulsa qualquer corpo que lhe lancem por pesado que seja, arremessando-o fora da agua. O fragor, que as águas aí fazem, assemelha-se ao do mar embravecido e ouve-se em distancia.

Este manancial forma um rio, que vai entrar no oceano próximo da vila de Sines. Dois pontos tem no seu curso mui notáveis e dignos de exame. Um, a que o povo chama a Diabroria, é uma lagoa feita pelas águas do Borbolegão que se despenha, ao sair dela, de uma alta penedia. O outro, chamado a Ponte dos Aivados, é uma das mais belas curiosidades naturais que se encontram no nosso país. O rio, minando e gastando uma elevada rocha que impedia a passagem da sua furiosa corrente, formou aí uma ponte natural que a natureza foi vestindo de heras e tão ampla que lhe passam carros por cima com comodidade e segurança. Os arvoredos das margens do rio acrescentam muita beleza a este sitio pitoresco.

Outra curiosidade não menos digna de ser visitada, é a serra das Algares com as suas famosas grutas. Começa esta serra a uma légua ao nascente da vila de Grândola e vai correndo para leste por mais uma légua, ate ao sitio chamado Castelo Velho, por causa de um antiquíssimo castelo arruinado que aí se vê. Está minada esta serra na base e em todo o seu comprimento com extensas galerias, por onde se pode transitar até muita distancia.

Em diversas partes destas galerias se encontram profundos poços, que não deixam duvidar de que tudo isto foi obra dos homens em tempos mui remotos, dos romanos ou talvez dos fenícios, para explorações mineralógicas.

Pela extensão e fabrica das galerias e pela quantidade e grandeza dos poços, vê-se que os trabalhos da lavra destas minas foram executados com muita perícia e deve- se presumir que daqui se tirou grande porção de metais. Os terrenos contíguos á serra, para o lado do norte, estão cobertos de escumalho, provando assim que ali houve fundição de metais.

No principio do século passado (18), cavando-se á entrada de uma destas minas, achou-se uma moeda de prata romana.

No reinado del rei D. João V, foram estas minas inspeccionadas por pessoas peritas, mandadas a esse fim pelo governo. Segundo a opinião dessas pessoas, extraíram-se delas muita quantidade de ferro e prata.

Dá-se nesta serra dos Algares, a singularidade de serem potaveis e muito boas todas as águas que brotam do seu seio, pelo lado do sul, ao passo que nenhuma é potável das que rebentam pelo lado do norte. Todas estas são impregnadas de substancias que lhe dão diversos sabores e que imprimem diferentes cores nas pedras e terra por onde passam, obstando á vegetação nos terrenos que humedecem. Ao que parece são diferentes qualidades de águas minerais, que muito conviria que fossem examinadas por hábeis químicos.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa




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Pelos Censos 2011 Grândola conta com 14 854 habitantes

Freguesias de Grândola 

Azinheira dos Barros e São Mamede do Sádão
Carvalhal
Grândola
Melides
Santa Margarida da Serra

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