segunda-feira, 16 de abril de 2012

História de Portalegre e imagem do antigo brasão



História de Portalegre e imagem do antigo brasão

A CIDADE DE PORTALEGRE 

Esta cidade está na província do Alentejo, duas léguas ao sudoeste da praça de Marvão, três da fronteira do reino de Leão e nove ao norte da cidade d Elvas. Campeia sobre um pequeno monte, que faz parte da serra também chamada de Portalegre, estendendo-se pela ladeira que olha para o norte. De um lado desce o monte suavemente para um vale arborizado e regado de varias ribeiras. De outro lado precipita-se em barrancos e profundas quebradas, sombreadas aqui e ali por oliveiras e outras árvores. Da parte do norte, enfim estende-se com suave declive por baixo de um continuado bosque de castanheiros e outras árvores frutíferas, com muitas vinhas e quintas que, chegando ao vale, guarnecem as margens da ribeira de Nisa. Portalegre é capital do distrito administrativo do seu nome.

Como povoação antiquíssima, a sua origem esconde-se por entre mil fábulas. No tempo dos romanos era uma cidade de alguma importância. Por um cippo, obra romana, que se achou fora dos muros da cidade, abrindo-se os alicerces da ermida do Espírito Santo, parece que se chamava então Ammaia. Este cippo, que sem duvida servia de base a alguma estátua e se vê na referida ermida, tem seguinte inscrição: Imp. Cae. L. Aurelio Vero Aug. Divi Antonini F. Pont. Max. Cons. II. Trib. Pop. P.P. Municip. Ammaia.

Vertido em linguagem quer dizer: O município de Ammaia erigiu esta memoria ao imperador César Lúcio Aurélio Vero Augusto, filho de Antonino, pontífice máximo, cônsul duas vezes, tribuno do povo e pai da patria.

Padeceu provavelmente esta povoação completa ruína na invasão dos bárbaros do norte, pois que não consta dela mais noticia.

Conforme uma tradição popular, em tempos anteriores á monarquia, havia aqui umas vendas chamadas Portellos e estavam junto ao lugar onde mais tarde se edificou a ermida de S. Bartolomeu. Destas vendas ficou o nome ao sitio. Aceitando pois a tradição, serviram estas vendas de núcleo á nova povoação, que em torno delas foi edificando com os materiais da destruída cidade romana. Correndo porém o tempo, veio a ter a mesma sorte da antiga Ammaia. Nas guerras entre os campeões de Cristo e os sectários de Mafoma, que devastaram durante séculos o belo solo da península, foi aquela terra inteiramente arruinada e despovoada.

Levantou-a das ruínas e mandou a novamente povoar el rei D. Afonso III no ano de 1259, dando-lhe foral de vila com vários privilégios. Nas escrituras dessa época. que eram escritas em latim, dá-se-lhe o nome de Portus Alacer, Porto Alegre. Dizem que tomou a primeira parte dele de um sitio denominado Porto, que aí fica entre a penha de S. Tomé e Cabeça de Mouro, e a segunda do muito alegre que é a sua posição, vindo ao diante a unir-se as duas partes em Portalegre.

El rei D. Dinis tratou de fortificar bem Portalegre, construindo-lhe um castelo e cercando-a com uma dupla muralha guarnecida de doze torres e com oito portas denominadas: da Deveza, do Postigo, de Alegrete, de Elvas, de Évora, do Espírito Santo, de S. Francisco e do Bispo. Quis a sorte, que este mesmo soberano tivesse de experimentar contra si próprio a fortaleza daquelas muralhas.

Tendo o infante D. Afonso, seu irmão, levantado o estandarte da rebelião e seguindo Portalegre o partido do infante, a cujo senhorio pertencia, foi el rei D. Dinis, em pessoa, sitiar a vila. Principiou o cerco em Maio de 1299 e durou até Outubro, acabando afinal por uma capitulação que pôs a vila nas mãos del rei. Vieram a fazer-se as pazes entre D. Dinis e D. Afonso, mas a torreada vila, que tão valente se mostrara na defensa, bem como Marvão, ficaram incorporadas na coroa, recebendo o infante em troca as vilas de Sintra Ira e Ourem. E para que não se desse ali outro caso semelhante, concedeu D. Dinis aos moradores de Portalegre o privilegio de que a sua vila se não desanexaria em tempo algum do património real. Este privilegio foi depois confirmado por el rei D. Afonso V e por D. João II.

Passados anos, intentou el rei D. Manuel dar o senhorio de Portalegre a D. Diogo da Silva de Menezes, que fora seu aio e por quem tinha particular estima. Opuseram, porém, os habitantes tal resistência, que el rei, depois de ter empregado para a vencer, primeiro ameaças e em seguida degredos e outras penas, viu-se obrigado a desistir, contentando-se com fazer mercê ao seu valido do titulo de conde de Portalegre e da alcaidaria mor desta terra.

Tendo obtido el rei D. João III a bula de 2 de Abril de 1550, que erigiu o bispado de Portalegre, desmembrando-o da diocese da Guarda, elevou nesse mesmo ano aquela vila á categoria de cidade. O primeiro bispo da nova diocese foi D. Julião d' Alva, prelado muito aceito del rei D. João III e da rainha D. Catarina.

Durante a guerra da sucessão de Espanha, reinando em Portugal D. Pedro II, foi Portalegre sitiada pelo exercito espanhol de Filipe V, ao qual teve de render-se, mas em breve voltou ao domínio do seu soberano.

No antigo regímen gozava da prerrogativa de ter voto em cortes, nas quais os seus procuradores tinham assento no banco quarto. O seu brasão de armas é um escudo coroado e nele duas torres, que dizem significar as duas que estão defronte da porta da Deveza.

Portalegre é uma cidade industriosa. Em meados do século XVII já possuía uma grande fabrica de panos de lã, que empregava inumeráveis braços e cujos produtos exportava para as principais terras do país. Nesta época os seus panos tinham chegado a bastante perfeição e vestia- se deles a maioria dos portugueses. Tão importante trato fez rica e prospera esta cidade, que então contava três mil fogos, como refere o cronista mor frei Francisco Brandão, que escreveu isto pelos anos de 1649 ou 1650.

A importação dos panos ingleses, que ao principio fora e se conservara por muito tempo limitada a Lisboa, onde esses produtos apenas achavam consumidores nas classes mais abastadas e principalmente entre as pessoas nobres, foi aumentando progressivamente na capital e estendendo se ao Porto e outras terras. As fabricas nacionais em breve se ressentiram desta concorrência. Ferido desta forma o principal ramo da industria manufactora de Portalegre e um dos principais do seu trato comercial, decaiu tanto a cidade que em 1707 encerrava apenas mil e oitocentos fogos, os quais, no ano de 1820 se achavam reduzidos a mil setecentos cinquenta e um.

Felizmente teve um termo esta progressão decadente. Portalegre está em caminho de prosperidade, pelo desenvolvimento da sua agricultura e pelo grande impulso que á sua fabrica de panos têm dado os actuais proprietários, os senhores Larcher & Cunhado, que conseguiram elevar estes produtos a muita perfeição. A isto acrescerá brevemente a imensa vantagem de lhe passar próximo a via férrea que há-de ligar Lisboa com Madrid e as outras capitães da Europa.

Dividia-se a cidade em cinco paroquias, que eram: a Sé, Santiago, S. Lourenço, S. Martinho e Santa Maria Madalena. Porém em 1857 as duas ultimas foram suprimidas, afim de se estabelecer um mercado no local da igreja de S. Martinho e construir- se um chafariz no da segunda.


A sé ergue-se no sitio mais alto da cidade. Foi fundada pelo primeiro bispo desta diocese, D. Julião d'Alva, no lugar onde estava a igreja paroquial de Santa Maria do Castelo. A capela-mor, porém, é obra do virtuoso prelado e elegante escritor, D, frei Amador Arraes, terceiro bispo de Portalegre. Esta catedral é o melhor edifício da cidade. Consta de três naves sustentadas por colunas goticas, posto que revestidas de estuque com ornatos de mau gosto. A abobada é de laçaria. A fachada já não conserva a arquitectura primitiva. Tem duas torres e ornam-lhe a porta duas colunas de mármore. No meio da capela-mor está a sepultura do bispo D. Julião. Para esta Sé bordou a rainha D. Catarina, mulher de D. João III, umas alfaias que aí se devem conservar.

A casa da misericórdia, o hospital, umas dez ermidas, o paço episcopal, a casa da câmara, os extintos conventos de S. Francisco, que foi de franciscanos fundado em 1265, o de Santa Maria, de Agostinhos descalços, edificado em 1683, o colégio de S. Sebastião, dos jesuítas, construído em 1605 e os dois mosteiros de freiras ainda habitados, são os principais edifícios da cidade.

Um destes é de religiosas da ordem de Santa Clara, o outro é de freiras de S. Bernardo e foi fundação do bispo da Guarda D. Jorge de Melo, na primeira metade do século XVI. Na capela de Nossa Senhora da Conceição, da igreja deste mosteiro, repousa o fundador, num sumptuoso túmulo.


As ruas de Portalegre são em geral estreitas, tortuosas e com maior ou menor declive, Vêem-se todavia nelas muitas casas de boa construção e agradáveis á vista. Tem um grande campo ou rossio, para o lado do norte, onde estava a antiga fabrica de panos.


Modernamente edificou-se nesta cidade um bonito teatro para representações de curiosos ou de alguma companhia volante.

A povoação é abastecida de excelente água por diversos chafarizes.

Os arrabaldes, já dissemos, que são muito lindos e pitorescos. Os acidentes de terreno, os arvoredos frondosos que os cobrem, as vinhas, hortas e pomares que descem pela colina até ao vale e aí se estendem ao longo das ribeiras que o cortam e fertilizam os mananciais de puríssimas águas, que por todos os lados brotam, fazem com que os arredores de Portalegre ofereçam ao viajante belos panoramas e alguns sítios deliciosos.

O termo de Portalegre é de muita fertilidade em todo o género de produções agrícolas. Há nele magnificas herdades, com grandes montados em que se cria muito gado suíno. Cereais, azeite e vinho constituem a sua cultura mais especial. Todavia produz grande copia de castanhas e outras frutas, tem criação de gados de diversas espécies e exporta muita madeira de castanho. É regado pelas ribeiras de Xever, de Xevera, de Xeverete, de Xola e de Nisa, que nascem na serra de Portalegre e que fazem trabalhar muitas azenhas. Esta serra é ramo da da Estrela. Tem muita variedade de caça e brotam dela grande quantidade de fontes, que fazem todos os seus vales muito frescos, risonhos e produtivos.

A população da cidade de Portalegre passa de seis mil e trezentas almas. Como cabeça de distrito e de comarca, é sede de um governador civil, de um juiz de direito e outras autoridades, de um liceu, etc.

A 13 de Setembro tem a sua feira anual, que é muito concorrida de gente das terras vizinhas, de géneros e de gado.


Por Ignacio de Vilhena Barbosa




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Pelo Censos 2011 Portalegre conta com 24 930 habitantes

Freguesias de Portalegre

Alagoa, Alegrete, Carreiras, Fortios, Reguengo, Ribeira de Nisa, São Julião, São Lourenço, Sé, Urra

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