Ser escritor, por Paul Auster
«Para dizer a verdade, comecei a escrever aos nove anos. Um dos autores que adorava na altura era Robert Louis Stevenson, e tentava escrever como ele. Escrevi poemas que são provavelmente os piores alguma vez criados. Mas recordo-me de como me fizeram sentir feliz, de como foi compensador escrevê-los. Senti-me conectado com o mundo que me rodeava, mesmo sendo uma criança. Porém, soube que iria ser escritor somente aos 16 anos, depois de ler "Crime e Castigo" de Dostoievsky. Li-o numa espécie de de febre, de alucinação, e disse a mim mesmo: "Se isto é tudo o que um romance pode ser, então quero escrever romances." Se pensarmos bem, ser escritor é algo muito estranho. É uma forma completamente doida de viver, que consiste em estar sozinho num quarto o dia todo. Poucas pessoas conseguem aguentá-lo. A maior parte quer ganhar dinheiro, quer segurança, e não há qualquer segurança em ser-se escritor. E também não faz sentido escrever para ser famoso, pois muito poucos alcançam o reconhecimento. Quem escolhe esta vida, fá-lo por paixão. E também - sempre afirmei isto - porque está de algum modo doente, porque é um ser ferido, danificado. As pessoas normais não precisam disto, o mundo é-lhes suficiente. Estar vivas é-lhes suficiente.»
Paul Auster entrevistado por Luciana Leiderfarb (Atual nº2079, Expresso de 1 de Setembro de 2012, edição impressa)
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