sexta-feira, 10 de junho de 2011

História de Alcácer do Sal e brasão antigo (1860)


História

Alcácer do Sal 


Brasão de 1860


A VILA DE ALCÁCER DO SAL 

Trinta anos antes do nascimento de Cristo, segundo escrevem alguns historiadores, Bogud, rei moiro de África, atravessando o estreito com um poderoso exército, invadiu e assolou grande parte da Lusitania. Entre as muitas devastações que cometeu, a que mais afligiu e indignou os habitantes foi a destruição de um célebre templo dedicado a Salacia, que se erguia junto ás margens do rio Sado.

Bogud, carregado de despojos, embarcou-se para África; porém, ao meio do Mediterrâneo, sobreveio- lhe tão rijo temporal, que perdeu em lastimoso naufrágio as riquezas que levava, e a maior parte do seu exército.

Atribuido este caso á justa vingança da deusa, cresceu tanto nos habitantes a devoção para com a sua patrona, que não só reedificaram o templo com mais grandeza, mas fundaram em torno dele uma povoação a que deram o nome de Salacia. Teve esta povoação tão grande e rápido desenvolvimento, que o imperador Augusto lhe deu o titulo de município romano, e em memória daquele sucesso e honra da deusa mandou que se chamasse Salacia Inperatoria.

Progrediu tanto a nova cidade no seu engradecimento que há autores antigos que afirmam, ocupara um âmbito de duas léguas. E com efeito neste espaço de terreno se tem achado algumas antiguidades romanas e muitos vestígios de grandes edificios.

No ano de 300 de Jesus Cristo Alcácer do Sal era cidade episcopal, tinha então por bispo a S. Januário, e por esse tempo assistiu e pregou nela S. Manços, primeiro bispo de Évora.

Todavia esta prosperidade De Alcácer do Sal não foi de longa duração, talvez por causa das muitas guerras de que foi teatro o solo da Lusitania durante a dominação romana, pois que Plínio, exaltando a sua grandeza e opulência de outrora, diz que no seu tempo se achava muito destruida.

A invasão dos povos do norte, depois da queda do imperio romano, acabou de arruiná-la, de sorte que os seus moradores já muito reduzidos em número, viram-se obrigados a recolherem- se ao castelo, que campeava sobre uma eminência vizinha á povoação, para daí melhor se defenderem contra os continuos acometimentos de novos inimigos.

Apossando-se os moiros deste nosso país no seculo VIII, não trataram de levantar das ruinas a destruida Salacia; preferiram, segundo o seu sistema, estabelecerem-se numa posição defensável e já fortificada, como era o monte em que se achava o castelo. O que fizeram foi construir uma nova cerca, que deixasse amplo espaço para dentro dela se abrigar a nova povoação. A esta denominaram Alcazar de Salaria.

O primeiro nome era comum a todos os castelos na língua árabe, o segundo para o diferençar dos mais, era alusivo ao muito sal que ali se tirava do Sado desde tempos mais remotos.

A 24 de Junho de 1158 Alcácer do Sal foi tomada aos moiros por el rei D. Afonso Henriques, depois de dois meses de apertado cerco e continuos combates, tendo feito anteriormente o mesmo monarca duas inúteis tentativas para a conquistar, ajudado então de armadas estrangeiras.

Tiveram os moiros a fortuna de a recuperar, e os cristãos a de se apoderarem novamente dela a 18 de Outubro de 1217, reinando D. Afonso II, e por esforço de D. Sueiro, bispo de Lisboa, que aproveitando-se do auxílio de uma armada de cruzados que aportara ao Tejo, foi á frente das falanges portuguesas atacá-a por terra, enquanto os estrangeiros auxiliares a acommetiam do lado do rio. Tal era a fortaleza e defensa daquela praça, que deu tempo a virem em socorro della, com grandes forças, os reis de Badajoz, de Jaen, Sevilha e Cordova.

Advertidos os portugueses e seus aliados, sairam-lhes ao encontro a uma légua de distância, e aí se pelejaram duas batalhas tão mortiferas, que ao sitio se deu o nome de Vale da Matança, que ainda se conserva em uma herdade. A derrota dos moiros e a morte de dois dos seus príncipes, enchendo de terror os seus irmãos de Alcazar, levou-os a entregar a praça por capitulação.

Não tornou mais Alcácer do Sal a separar-se da corôa de Portugal; porém, no meio destas encarniçadas lutas, desapareceu a Alcazar moirisca, como antes dela desaparecera a Salaci romana. Os novos moradores, preferindo viver nos campos vizinhos, foram-se estendendo pela margem direita do Sado; e apesar da mortal antipatia que dividia as duas raças em dois campos tão inimigos, ficou á nova povoação o nome árabe de Alcácer do Sal, que pronunciamos com pouca corrupção do antigo.

Está pois situada a vila de Alcácer em lugar plano junto ao rio, a sete leguas de distancia da sua foz e da vila de Setúbal. Conta perto de tres mil habitantes. Tem duas paroquias: a de Santa Maria do Castelo e a de Santiago. A primeira, fundada logo depois da restauração da vila em 1217 por el rei D. Afonso II, está dentro do castelo. Na arquitectura interior, principalmente, mostra a sua muita antiguidade. A segunda foi construida no seculo passado no centro da vila, concorrendo para a obra el rei D. João V.

A igreja da Misericórdia foi fundação de Rui Salema no ano de 1530. Além do hospital anexo a esta Santa Casa, tem outro intitulado do Espírito Santo, que é administrado pela câmara.

Dentro do castelo de Alcácer do Sal está o convento de Nossa Senhora de Araceli, de religiosas de Santa Clara, fundado pelo mesmo Rui Salema, que era fidalgo da casa do infante D. Luís. Para esta obra fez- lhe doação el rei D. Sebastião dos paços, que os nossos reis tinham no dito castelo, e nos quais se achava o duque de Beja, D. Manuel, quando por morte de seu primo, el rei D. João II, foi chamado ao trono.

Nos arrabaldes de Alcácer do Sal está o extinto convento de Santo António, que foi de frades franciscanos, edificado por D. Fernando Mascarenhas no ano de 1524.

O castelo de Alcácer, posto que em grande ruína, é uma curiosa antiguidade, não só pelas memórias históricas que estão ligadas áquelas paredes desmoronadas, mas também porque ainda no seu vasto âmbito se descobrem vestígios de grandes edificios árabes e algumas antigualhas. Situado sobre uma eminência, quase toda de rocha, e sobranceiro ao rio, goza-se dali um encantador panorama.

Alcácer faz bastante comércio com Lisboa, Setúbal e Beja, sendo o Sado navegavel até Porto de Rei, três léguas acima de Alcácer. As rendosas herdades de que se compõe o seu termo, e as numerosas salinas que lhe debruam o rio, constituem-na uma das mais ricas vilas de Portugal. Tem uma feira importante a 14 de Abril. 

Outrora gosou da prerogativa de mandar procuradores ás côrtes, os quais tomavam assento no sexto banco.

Tem por brasão uma nau, e por timbre as armas reais. Estas em memória de ter sido a vila conquistada a primeira vez pelo próprio rei D. Afonso Henriques. A nau em recordação da armada de cruzados que auxiliou naquela empresa o monarca português.




***



Pelo Census 2011 Alcácer do Sal tem 12 980 habitantes


Alcácer do Sal é uma cidade do Distrito de Setúbal, região Alentejo.


As freguesias de Alcácer do Sal são as seguintes:
Comporta, Santa Maria do Castelo (Alcácer do Sal), Santa Susana, Santiago (Alcácer do Sal), São Martinho, Torrão



Sem comentários:

Enviar um comentário