História
Abrantes em 1860
A VILA DE ABRANTES
É esta vila de Abrantes uma das mais antigas não só da província da Estremadura, mas de Portugal. Atribui- se a sua fundação aos galos celtas, 308 anos antes do nascimento de Cristo.
Abrantes foi próspera sob o domínio dos romanos, os quais lhe deram o nome de Tubuci, posto que alguns antiquários querem que esta denominação pertencesse à vila de Tancos.
Destruído o império romano pelos povos do norte, em breve estes invadiram a península hispânica (ano de 409) e assim passou Abrantes sucessivamente de uns a outros possuidores.
Durante o governo dos godos, ao que parece, se começou a chamar Aurantes, pela razão do muito oiro que aí se tirava das areias do Tejo.
Invadida novamente a península pelos árabes no século VIII, vencidos a seu turno os godos, e aniquilado o seu poder, ficou Abrantes sob o jugo sarraceno. Os moiros chamaram-lhe Líbia.
No ano de 1148 Abrantes foi conquistada pelas armas cristãs, tendo á sua frente a D. Afonso Henriques, o ilustre fundador da monarquia. Passados trinta e um anos, veio pôr- lhe cerco, com poderoso exército, Aben Jacob, filho do Miramolim de Marrocos. Neste estreito assédio obraram os seus moradores singulares proezas, até que tiveram a fortuna de ver o inimigo desbaratado e desalentado, levantar seus arraiais e recolher-se ás suas terras. Em remuneração deste feito concedeu-Ihe D. Afonso Henriques muitos privilégios.
Com a expulsão dos moiros perdeu logo o nome que estes lhe tinham dado, pois que os portugueses começaram a chamar-lhe Avrantes, corrupção do de Aurantes. Aquele também com o tempo se corrompeu no de Abrantes que actualmente tem.
Querem alguns autores, que em uma reunião de cortes a que concorreram os procuradores desta vila, se travara entre estes e os de Torres Novas uma acalorada disputa sobre a precedência de usarem da palavra, e que el rei decidindo a questão em favor dos primeiros, lhe dissera: Hablad antes (falai antes), de onde se originou a vila o nome de Abladantes, corrupto depois em Abrantes. Na historia dos godos vem denominada Ablantes. Contudo a primeira etimologia parece-nos a mais verdadeira.
Está situada a vila de Abrantes na margem direita do Tejo, em lugar elevado, o que lhe dá a vantagem de desfrutar deliciosas vistas do rio, e dos aprazíveis campos e montes que a rodeiam, onde se vêem muitas hortas e pomares.
No seu princípio, Abrantes constava unicamente de duas grandes ruas, chamadas a rua Nova e a do Castelo, que corriam junto desta fortaleza, que lhe ficava a cavaleiro. Depois arruinaram-se aquelas e foi-se estendendo a vila pelo dorso do monte até um sitio cheio de salgueirais, dos quais ainda conserva a memória em nome da fonte do Salgueiro. A sua população anda actualmente por umas cinco mil almas. Dista cinco léguas de Tomar e vinte e três de Lisboa- Deu-lhe foral el rei D. Afonso Henriques em 1179, o qual foi reformado por el rei D. Manuel em 1510. Nas antigas cortes tinham assento os seus procuradores no banco nono.
Abrantes tem quatro paroquias: S. Vicente, S. João Baptista, Santa Maria do Castelo e S. Pedro; casa da Misericórdia e hospital, varias ermidas, dois conventos de freiras e dois das extintas ordens religiosas. A igreja de S. Vicente é o seu principal templo, tanto pela sua antiguidade como pela grandeza e magnificência da sua fábrica. A sua primeira fundação é muito anterior á monarquia. Tinha por orago a Nossa Senhora da Conceição, quando o primeiro alcaide mor do castelo de Abrantes, tendo assistido em Lisboa á trasladação do corpo de S. Vicente, e obtido de el rei D. Afonso Henriques um dente daquelle mártir, levou-o e depositou-o naquele templo, que desde então se intitulou de S. Vicente. No século XVI achando-se muito arruinado, foi completamente reedificado por ordem de el rei D. Sebastião, conservando-se só da antiga fabrica, para memória, a capela que passou a intitular-se de Nossa Senhora da Conceição. Concluiu-se no ano de 1590.
A igreja de Santa Maria do Castelo é de muita antiguidade e duvidosa origem. É pequena e tem tido diversas reedificações, porém encerra muitos objectos de arte e memórias históricas nos túmulos da família dos marqueses de Abrantes, que aí têm o seu jazigo. O mausoleo de Diogo Fernandes d' Almeida, vedor da fazenda dos Reis D. Duarte e D. Afonso V, falecido em 1450, e o de D. António d' Almada, que morreu em 1556, são de muita beleza e primor artístico.
O mosteiro de Nossa Senhora da Graça de religiosas dominicas, teve princípio no ano de 1384. Fundou-o D. Vasco de Lamego, bispo da Guarda, e foi habitado por conegas regulares de Santo Agostinho; e no ano de 1548, tendo passado as freiras sete anos antes á observância da regra de S. Domingos, se mudaram para o novo convento construído no Rossio.
O outro convento de Abrantes é de freiras franciscanas, e da invocação de Nossa Senhora da Esperança. Este foi modernamente suprimido.
O extinto convento de frades de S. Domingos, que se intitulava de Nossa Senhora da Consolação, foi obra de el rei D. Manuel, que o acabou em 1517.
O de Santo António de piedosos, foi edificado por D. Lopo de Almeida em 1526.
Sobranceiro á vila de Abrantes, como dissemos, fica o seu antigo castelo, e aí também um bom palácio dos marqueses de Abrantes, seus alcaides mores.
É esta vila de Abrantes praça de guerra desde o tempo da regência do príncipe D. Pedro, depois rei, segundo do nome, que mandou fazer as fortificações modernas, a que posteriormente se acrescentaram algumas obras. Padeceu muito na guerra da restauração contra Castela, e na invasão dos franceses em 1807 teve de franquear as suas portas ao marechal Junot, na sua marcha sobre Lisboa.
Abrantes tem algumas boas ruas e uma grande praça, que é a principal, onde se ergue a casa da câmara edifício espaçoso e regular construido no século passado.
A feira anual de Abrantes, a 24 de Fevereiro, é muito concorrida. Finalmente Abrantes faz um grande comércio com Lisboa por meio do Tejo, e tem por armas quatro flores de liz, e quatro corvos, com uma estrela no meio em campo azul. Vêm-lhe as flores de liz do seu primeiro alcaide mor que teve parte na conquista de Lisboa, e parece era do origem francesa. Os corvos se lhe juntaram em honra e memória de S. Vicente, por causa da relíquia que lhe foi levada. A estrela, dizem uns que é em sinal de ter sido terra de moiros, e outros em comemoração de ter tido por orago da sua mais antiga paroquia a Nossa Senhora da Conceição.
Residiram por vezes nesta vila el rei D. Manuel e a rainha D. Maria, sua segunda mulher, que nela deu á luz os infantes D. Luís e D. Fernando. Este último, que foi casado com D. Guiomar Coutinho, essa rica herdeira, filha do conde de Marialva, cujos amores com o marquês de Torres Novas, filho de D. Jorge, duque de Coimbra, formam o mais singular e complicado romance da história portuguesa, habitou também nesta vila, numas casas que no século passado pertenciam ao morgado Manuel Soares Galhardo Themudo Caldeira.
Pelos Censos 2011 Abrantes tem 39 362 habitantes
Abrantes é uma cidade do distrito de Santarém.
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