sexta-feira, 10 de junho de 2011

História de Abrantes (Portugal) e brasão de 1860




História

Abrantes em 1860

A VILA DE ABRANTES

É esta vila de Abrantes uma das mais antigas não só da província da Estremadura, mas de Portugal. Atribui- se a sua fundação aos galos celtas, 308 anos antes do nascimento de Cristo.

Abrantes foi próspera sob o domínio dos romanos, os quais lhe deram o nome de Tubuci, posto que alguns antiquários querem que esta denominação pertencesse à vila de Tancos.

Destruído o império romano pelos povos do norte, em breve estes invadiram a península hispânica (ano de 409) e assim passou Abrantes sucessivamente de uns a outros possuidores.

Durante o governo dos godos, ao que parece, se começou a chamar Aurantes, pela razão do muito oiro que aí se tirava das areias do Tejo.

Invadida novamente a península pelos árabes no século VIII, vencidos a seu turno os godos, e aniquilado o seu poder, ficou Abrantes sob o jugo sarraceno. Os moiros chamaram-lhe Líbia.

No ano de 1148 Abrantes foi conquistada pelas armas cristãs, tendo á sua frente a D. Afonso Henriques, o ilustre fundador da monarquia. Passados trinta e um anos, veio pôr- lhe cerco, com poderoso exército, Aben Jacob, filho do Miramolim de Marrocos. Neste estreito assédio obraram os seus moradores singulares proezas, até que tiveram a fortuna de ver o inimigo desbaratado e desalentado, levantar seus arraiais e recolher-se ás suas terras. Em remuneração deste feito concedeu-Ihe D. Afonso Henriques muitos privilégios.

Com a expulsão dos moiros perdeu logo o nome que estes lhe tinham dado, pois que os portugueses começaram a chamar-lhe Avrantes, corrupção do de Aurantes. Aquele também com o tempo se corrompeu no de Abrantes que actualmente tem.

Querem alguns autores, que em uma reunião de cortes a que concorreram os procuradores desta vila, se travara entre estes e os de Torres Novas uma acalorada disputa sobre a precedência de usarem da palavra, e que el rei decidindo a questão em favor dos primeiros, lhe dissera: Hablad antes (falai antes), de onde se originou a vila o nome de Abladantes, corrupto depois em Abrantes. Na historia dos godos vem denominada Ablantes. Contudo a primeira etimologia parece-nos a mais verdadeira.

Está situada a vila de Abrantes na margem direita do Tejo, em lugar elevado, o que lhe dá a vantagem de desfrutar deliciosas vistas do rio, e dos aprazíveis campos e montes que a rodeiam, onde se vêem muitas hortas e pomares.

No seu princípio, Abrantes constava unicamente de duas grandes ruas, chamadas a rua Nova e a do Castelo, que corriam junto desta fortaleza, que lhe ficava a cavaleiro. Depois arruinaram-se aquelas e foi-se estendendo a vila pelo dorso do monte até um sitio cheio de salgueirais, dos quais ainda conserva a memória em nome da fonte do Salgueiro. A sua população anda actualmente por umas cinco mil almas. Dista cinco léguas de Tomar e vinte e três de Lisboa- Deu-lhe foral el rei D. Afonso Henriques em 1179, o qual foi reformado por el rei D. Manuel em 1510. Nas antigas cortes tinham assento os seus procuradores no banco nono.

Abrantes tem quatro paroquias: S. Vicente, S. João Baptista, Santa Maria do Castelo e S. Pedro; casa da Misericórdia e hospital, varias ermidas, dois conventos de freiras e dois das extintas ordens religiosas. A igreja de S. Vicente é o seu principal templo, tanto pela sua antiguidade como pela grandeza e magnificência da sua fábrica. A sua primeira fundação é muito anterior á monarquia. Tinha por orago a Nossa Senhora da Conceição, quando o primeiro alcaide mor do castelo de Abrantes, tendo assistido em Lisboa á trasladação do corpo de S. Vicente, e obtido de el rei D. Afonso Henriques um dente daquelle mártir, levou-o e depositou-o naquele templo, que desde então se intitulou de S. Vicente. No século XVI achando-se muito arruinado, foi completamente reedificado por ordem de el rei D. Sebastião, conservando-se só da antiga fabrica, para memória, a capela que passou a intitular-se de Nossa Senhora da Conceição. Concluiu-se no ano de 1590.

A igreja de Santa Maria do Castelo é de muita antiguidade e duvidosa origem. É pequena e tem tido diversas reedificações, porém encerra muitos objectos de arte e memórias históricas nos túmulos da família dos marqueses de Abrantes, que aí têm o seu jazigo. O mausoleo de Diogo Fernandes d' Almeida, vedor da fazenda dos Reis D. Duarte e D. Afonso V, falecido em 1450, e o de D. António d' Almada, que morreu em 1556, são de muita beleza e primor artístico.

O mosteiro de Nossa Senhora da Graça de religiosas dominicas, teve princípio no ano de 1384. Fundou-o D. Vasco de Lamego, bispo da Guarda, e foi habitado por conegas regulares de Santo Agostinho; e no ano de 1548, tendo passado as freiras sete anos antes á observância da regra de S. Domingos, se mudaram para o novo convento construído no Rossio.

O outro convento de Abrantes é de freiras franciscanas, e da invocação de Nossa Senhora da Esperança. Este foi modernamente suprimido.

O extinto convento de frades de S. Domingos, que se intitulava de Nossa Senhora da Consolação, foi obra de el rei D. Manuel, que o acabou em 1517.

O de Santo António de piedosos, foi edificado por D. Lopo de Almeida em 1526.

Sobranceiro á vila de Abrantes, como dissemos, fica o seu antigo castelo, e aí também um bom palácio dos marqueses de Abrantes, seus alcaides mores.

É esta vila de Abrantes praça de guerra desde o tempo da regência do príncipe D. Pedro, depois rei, segundo do nome, que mandou fazer as fortificações modernas, a que posteriormente se acrescentaram algumas obras. Padeceu muito na guerra da restauração contra Castela, e na invasão dos franceses em 1807 teve de franquear as suas portas ao marechal Junot, na sua marcha sobre Lisboa.

Abrantes tem algumas boas ruas e uma grande praça, que é a principal, onde se ergue a casa da câmara edifício espaçoso e regular construido no século passado.

A feira anual de Abrantes, a 24 de Fevereiro, é muito concorrida. Finalmente Abrantes faz um grande comércio com Lisboa por meio do Tejo, e tem por armas quatro flores de liz, e quatro corvos, com uma estrela no meio em campo azul. Vêm-lhe as flores de liz do seu primeiro alcaide mor que teve parte na conquista de Lisboa, e parece era do origem francesa. Os corvos se lhe juntaram em honra e memória de S. Vicente, por causa da relíquia que lhe foi levada. A estrela, dizem uns que é em sinal de ter sido terra de moiros, e outros em comemoração de ter tido por orago da sua mais antiga paroquia a Nossa Senhora da Conceição.

Residiram por vezes nesta vila el rei D. Manuel e a rainha D. Maria, sua segunda mulher, que nela deu á luz os infantes D. Luís e D. Fernando. Este último, que foi casado com D. Guiomar Coutinho, essa rica herdeira, filha do conde de Marialva, cujos amores com o marquês de Torres Novas, filho de D. Jorge, duque de Coimbra, formam o mais singular e complicado romance da história portuguesa, habitou também nesta vila, numas casas que no século passado pertenciam ao morgado Manuel Soares Galhardo Themudo Caldeira.

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Pelos Censos 2011 Abrantes tem 39 362 habitantes


Abrantes é uma cidade do distrito de Santarém.




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