sexta-feira, 10 de junho de 2011

História de Alenquer e brasão de 1860

História

Brasão de Alenquer em  1860


A VILA DE ALENQUER 

São muitas e variadas as opiniões sobre a antiguidade desta vila e sobre a etimologia do seu nome. Uns autores a fazem de origem romana, dizendo que então se chamara Jerabrica, o mesmo nome com diferença de uma letra, que tivera a vila de Povos. Querem outros que fosse fundação dos alanos, no ano de Cristo de 418, e que estes a denominaram Alan Kerke, na sua língua «Templo dos Alanos». Também há quem a atribua aos suevos com o nome de Alenkerkana. Se se atender á lenda popular, provém-lhe o nome e as armas do seguinte sucesso.

Achando-se el rei D. Afonso Henriques no cerco esta vila, então ocupada por moiros, na madrugada do dia de S. João, saindo estes a banharem-se ao rio conforme o seu costume, um cão que vigiava a vila, e que saíra com eles, veiu ter com os portugueses, e indo-se direito a el rei sem ladrar, lhe fez tanta festa que este monarca exclamara, referindo-se ao cão: O Alão quer. E tomando isto por um aviso do céu acommeteu de improviso a praça e a tomou. 

Na verdade as armas da vila parecem confirmar a lenda, pois são, em campo de prata, um cão pardo preso a uma árvore com um grilhão de oiro.

Entretanto os autores que lhe assinalam origem romana têm bons fundamentos, pois que em diversas épocas, e principalmente no século passado, se encontraram em excavações para alicerces de casas ou muros, muitas lápides e cippos com inscrições romanas.

A lenda pode ser verdadeira, mas também é possivel que, tendo os alanos por emblema nacional, que usavam nos escudos e bandeiras, a figura de um gato, decerto mal representado, pois que as artes se achavam entre eles no mais deplorável atraso, é possivel, repetimos, que essa tosca figura viesse, com o discurso do tempo, e depois da extinção daquele povo, a equivocar- se e tomar-se por um cão. O nome de Alão pode igualmente ser o resultado de uma confusa tradição popular. Encontramos tambem escritores de boa nota, que pretendem que o nome de Alenquer seja de origem árabe.

Partindo de épocas menos remotas e de notícias mais certas, sabe- se que Alenquer foi tomada aos moiros por el rei D. Afonso Henriques pelos annos de 1148, e no fim de dois meses de cerco. No de 1184 vieram os moiros cercá-la com grande exército, mas foram derrotados. 

Arruinada e despovoada por efeito das guerras, foi mandada reedificar e povoar por D. Sancho I, que a deu em dote á sua filha, a infanta D. Sancha.

Nas discórdias entre esta princesa e seu irmão, el rei D. Afonso II, que lhe pretendia tirar a posse da vila, sofreu muito esta povoação pelo espaço de dois anos, que durou esta contenda. Por esta ocasião teve um cerco de quatro meses, resistindo até ao fim dele, contra as forças daquele soberano.

Vagando para a corôa por morte desta infanta santa, foi doada por D. Afonso III a sua mulher, a rainha D Brites, e ficou depois no senhorio das rainhas. 

Refere um autor, que foi grande investigador das nossas antigalhas, que nos primeiros reinados da monarquia, se deu a Alenquer o nome de Chapins da Rainha, por causa da doação feita a D. Beatriz, ou a outra das suas successos, dizer que eram as rendas doadas para os chapins da rainha.

Nas desordens que se sucederam á morte do rei D. Fernando, padeceu cercos e combates a vila de Alenquer, por se conservar fiel á rainha viúva D. Leonor Teles, contra o mestre de Aviz, depois rei com o nome de D. João I (1385). E também passou por muitos sustos e alvorotos durante as discórdias, que romperam sobre a regência de Portugal entre a rainha D. Leonor, viúva del rei D. Duarte e mãe de D. Afonso V, e o infante D. Pedro, seu cunhado (1439).

Na usurpação de Castela, foi dada esta vila por D. Filipe II a D. Diogo da Silva, conde de Salinas em Espanha, ao qual fez marquês de Alenquer e vice-rei de Portugal. Pela restauração de 1640, tornou para o seu antigo senhorio, onde se conservou até que, em 1833, foi extinta a casa das rainhas.

Está assentada a vila de Alenquer no dorso de um monte, pelo qual vai descendo até ao fundo de um estreito vale, por onde corre o rio do seu mesmo nome, que a divide por assim dizer em dois bairros.

Servem de corôa a esta antiga vila os restos venerandos de seu antiquíssimo castelo. Não há notícia certa da primeira fundação deste castelo de Alenquer, mas sabe-se que já existia quando teve lugar a invasão dos moiros, no começo do século VIII, e que estes pelo tempo adiante o renovaram e acrescentaram.

A resistência que o mestre de Aviz encontrou nesta fortaleza, quando lhe pôs o cerco acima referido, levou mais tarde este príncipe a mandar- Ihe tirar os cunhais, com o que em breve caiu em ruínas.

A cerca de muros, que outrora cingia e fechava Alenquer, com as portas de Vila, e do Carvalho. ou Santo António, que eram as principais, e três outras mais pequenas, era obra dos árabes, assim como várias cisternas de que ainda restam vestígios.

Divide-se esta povoação nas seguintes paroquias. A da Santo Estevão, situada no declive de monte; parece fôra dos cavaleiros do Templo, e encerra num corredor, que vai da sacristia para o côro, uns mausoleos metidos na parede e debaixo de arcos, com umas espadas esculpidas na pedra como usavam os templários. A de S. Pedro é menos antiga. A de Santa Maria da Varzea está fundada próximo do rio. Tendo sido destruida no seculo XV por um incêndio, que se atribuiu aos judeus que moravam junto ao postigo de Santiago, onde então era a judiaria, foram estes expulsos da villa e obrigados a reedificar o templo. Na capela mór numa sepultura embebida na parede da parte da epístola, está o célebre cronista del rei D. Manuel, Damião de Góis. Nossa Senhora da Assunção de Triana, fundada pela rainha Santa Isabel no outro lado do rio, pelo que se denominou, ao principio, Nossa Senhora da Assunção Trans Amnem, isto é, além do rio, de que vem por corrupção o nome de Triana. O convento de S. Francisco que ora se vê em ruínas, situado na parte mais alta da vila, foi o primeiro que a ordem serafica teve em Portugal. Está fundado no palácio em que habitou a santa infanta D. Sancha, por ela própria doado para esse fim. Concluiu-se este convento no ano de 1222, em vida de S. Francisco de Assis. Teve várias reedificações. Enquanto o convento se construia, assistiram os primeiros fundadores, enviados por aquele santo, no pequeno hospício chamado o Oratório de Santa Catarina, junto do rio.

A igreja e hospital da Misericórdia, foram mandados edificarem 1527 por D. João III. Teve também um convento de freiras de Santa Clara.

Conta Alenquer várias ermidas, mas de entre estas a mais celebre é a do Espírito Santo, por haver sido fundada com um hospital contiguo pela rainha Santa Isabel, e porque nela instituiu, a mesma santa, aquela singular festividade ao Espírito Santo, em que se fazia a cerimónia da coroação de um imperador; festa que bem depressa se generalisou por todo o reino, e que tão popular se tornou, fazendo-se ainda hoje em muitas terras com bastante aparato. 

Numa fonte próxima desta ermida, diz a tradição, que vinha a santa rainha, quando residia naquela vila, lavar os panos que serviam no hospital ao curativo dos doentes. Refere também a tradição, que o nome de Fonte Santa, que se dá a uma nascente que corre junto do Oratório de Santa Catarina, se deriva de terem ali residido aquelles filhos de S. Francisco, que indo levar a luz evangélica a Barberia, aí encontraram o martírio, fazendo-se depois conhecidos no orbe católico, pelos cinco mártires de Marrocos.

Na rua da Triana há uma fonte, que se julga ser obra da rainha Santa Isabel.

Das pontes que cortam o rio, a mais notável é a do Espírito Santo, construida próximo da ermida da mesma invocação por el rei D. Sebastião, a qual se terminou, segundo diz uma inscrição que nela se lê, aos 28 de Abril de 1571. Também na mesma ponte se vê esculpido na pedra o escudo das armas reais com o cão por baixo.

Encerra esta vila duas fábricas muito importantes, uma de papel e a outra de cobertores, e diversos outros produtos, tanto de algodão como de lã. Esta, fundada pelo senhor Lafourie, ocupa um bom edifício modernamente construido. Aquela, construida por uma sociedade de capitalistas de Lisboa, tem um edificio vasto e de bela aparência, com grandes e formosas presas de água. Depois de haver tido tempos de prosperidade, e de decadência, e de estar afinal muitos anos arruinada e inútil, foi vendida há poucos annos a uma companhia de acionistas que a reconstruiu, melhorou e pôs em movimento. Ambas estas fabricas estão situadas junto ao rio, que lhe serve de motor, e ambas dão emprego a um grande número de braços.

Alenquer dista sete léguas e meia de Lisboa para o norte, uma do Tejo, e pouco menos de uma da respectiva estação do caminho de ferro de leste. Fica junto á nova estrada, que do Carregado conduz para Coimbra, passando pelas Caldas, Alcobaça, Batalha, Leiria, Pombal, Redinha e Condeixa, com as quais está em diária comunicação por meio da mala posta.

Segundo um documento muito antigo, achado no cartório da câmara, se nos não enganamos, teve esta vila em tempos remotos uma grande população, em que se contavam perto de cinco mil pessoas do sexo masculino. Ao presente tem uns dois mil e quinhentos habitantes. Teve voto em cortes com assento no banco sexto.

No segundo domingo de cada mês faz-se ali um importante mercado.

Esta vila tem bonitos arrabaldes com muitos pomares e arvoredos de um e outro lado do rio. Sentada no declive de um monte desafrontado e com largo horisonte para a parte do sul; dominando o fresco vale aonde vem ainda estender-se como para se mirar na fugitiva corrente do seu rio e na plácida superficie dos seus lagos, a que a ramagem dos chorões faz sombra, e festa; Alenquer goza de lindas vistas, e oferece aos que a procuram uma perspectiva encantadora.




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Pelos Censos de 2011 Alenquer possui 42 362 habitantes


Alenquer é uma vila do Distrito de Lisboa.



As freguesias de Alenquer são as seguintes:
Abrigada, Aldeia Galega da Merceana, Aldeia Gavinha, Cabanas de Torres, Cadafais, Carnota, Carregado, Meca, Olhalvo, Ota, Pereiro de Palhacana, Ribafria, Santo Estêvão (Alenquer), Triana (Alenquer), Ventosa, Vila Verde dos Francos




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