História de Linhares da Beira e imagem de 1860 do antigo brasão
VILA DE LINHARES
Na província da Beira Alta, quatro léguas a oeste da cidade da Guarda, está a vila de Linhares, assentada nas faldas da serra da Estrela, mas em terreno bastante elevado.
Um dos nossos escritores, que mais se deram ao estudo das antiguidades pátrias, posto que aceitasse com pouco exame e menos escrúpulo todas e quaisquer opiniões, o padre Carvalho, na sua Corographia Portugueza, diz que esta povoação foi fundada pelos turdulos, quinhentos e oitenta anos antes do nascimento de Cristo e que se chamara Lento ou Leniobriga, corrupto hoje em Linhares. Avança mais, que no tempo dos godos, foi cidade episcopal; que se arruinou depois e que el rei D. Afonso III de Leão a mandou reedificar pelos anos de 900.
Entretanto, sem que hajam fundamentos plausíveis para se ajuizar da sua fundação ou, pelo menos, dessa remota antiguidade que o referido autor lhe atribui, é certo que é uma povoação antiga, pois lhe deu foral el rei D. Afonso Henriques e parece que a fez povoar de novo.
Quando o nosso rei D. Fernando casou a sua filha legitimada, D. Isabel, com D. Afonso Henriques de Castela, conde de Gijon, filho natural de D. Henrique II, rei de Castela, deu-lhe em dote a vila de Linhares, que tornou poucos anos depois para a coroa.
El rei D. João III, por carta regia de 13 de Maio de 1532, fez conde de Linhares a D. António de Noronha, filho segundo do primeiro marquês de Vila Real e que também foi alcaide mor de Linhares, além de outros senhorios e empregos que teve.
Acabando este titulo pela extinção desta família, o príncipe regente D. João, mais tarde sexto do nome entre os nossos Reis, renovou o titulo de conde de Linhares na pessoa de D. Rodrigo de Sousa Coutinho, conselheiro de estado e seu ministro de estado dos negócios estrangeiros e da guerra. Hoje é seu neto o terceiro conde.
Tem esta vila por brasão de armas um escudo com uma meia lua e cinco estrelas. Se se der credito à lenda popular, teve este brasão a seguinte origem. Correndo o ano de 1189, entraram pela província da Beira tropas leonesas e castelhanas, roubando e devastando as terras por onde passavam. Como se dirigissem sobre o castelo de Celorico, que sendo a principal fortaleza daqueles contornos, se acaso fosse tomada, ficariam todos aqueles povos inteiramente á mercê do inimigo, resolveram os moradores de Linhares ir em auxilio dos seus irmãos de Celorico. Chegou o socorro muito a propósito, porque também acabavam de chegar os invasores ás proximidades do castelo. Animados os da fortaleza com o inesperado reforço e impacientes por tirar vingança de tantos danos e afrontas, não quiseram esperar pelo acometimento do inimigo. Saíram a campo nessa mesma noite e com tão grande denodo se houveram e tal foi a sua fortuna, que puseram os adversários em completo destroço, fugindo covardemente e deixando no arraial todas as bagagens e avultado numero de mortos e prisioneiros. Em memoria de tão assinalada façanha, tomaram os vencedores para brasão de armas das suas respectivas vilas de Celorico e de Linhares, um escudo com a meia lua e cinco estrelas, porque as estrelas e a lua, no seu crescente alumiando-lhe o caminho, os ajudaram a ganhar a vitoria.
É Linhares uma pequena vila, que apenas conta um milhar de habitantes. Tem uma só paroquia dedicada a Nossa Senhora da Conceição; casa da Misericórdia e hospital e diversas ermidas. Ainda conserva o seu antigo castelo, com duas torres e duas portas, edificado sobre altos rochedos.
Tanto a vila como os arrabaldes são abastecidos de muita e excelente agua, pois que na primeira, além de varias fontes particulares, há quatro chafarizes, um dos quais é de boa arquitectura, e uma levada de agua que pode lavar todas as ruas e que rega no verão muitas fazendas dos subúrbios. São estes bastante arborizados. Só um souto de belas árvores, que é da câmara, tem uma légua de comprimento e meia de largura.
O clima é mui frio mas muito saudável. O termo produz cereais, vinho, algum azeite e boas frutas. Cria-se nele bastante gado de diferentes espécies e muita variedade de caça.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Linhares é uma freguesia portuguesa do concelho de Celorico da Beira
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