sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Maias 2012 - Os Calendários dos Maias e o Fim do Mundo





Maias 2012


Os Calendários dos Maias e o Fim do Mundo

A contagem do tempo parece ter sido a maior preocupação dos Maias.

Os Maias inventaram um ano solar «civil» de 365 dias, mas sabemos que eles efectuaram correcções e tinham uma noção do tempo solar mais precisa que a expressa pelo nosso calendário. Assim, o verdadeiro ano sideral (o tempo exacto que a Terra leva a fazer a volta completa em torno do Sol) é de 365,2422 dias. O ano do nosso calendário gregoriano, com as suas correcções bissextas é de 365,2425 dias. O dos antigos Maias é de 365,2420 dias.

O sucesso dos Maias é tanto mais assombroso quanto eles não conheciam o vidro e não dispunham de qualquer instrumento óptico de precisão. Os longos tubos de jade, descobertos em escavações, ter-lhes-iam servido de óculos de observação? Acrescente-se que eles não tinham nem relógio, nem ampulheta, nem clepsidra para calcular as horas e os minutos, nada que pudesse ajudá-los a determinar dados astronómicos precisos.

Os três únicos códices Maias sobreviventes, mostram-nos que as observações astronómicas dos Maias se processaram sem interrupção durante séculos. Estas observações persistentes permitiam-lhes mesmo preverem eclipses solares!

O seu ano civil solar de 365 dias era composto de dezoito meses de cinte dias e um mês complementar de 5 dias; cada mês tinha um nome e cada dia era numerado de zero a 19, sendo os do último mês, Uayeb, de zero a 4 dias. Neste calendário os Maias contavam os dias, tal como nós fazemos com as horas, a partir do zero e não de um.

Este ano solar civil era indissociável de um calendário mágico de 260 dias, desenvolvendo-se ambos paralelamente, simultâneamente e de forma contínua.

Ambos os calendários se iniciavam ao mesmo tempo e decorriam 18 980 dias até que os dois primeiros dias desses dois calendários se encontrarem de novo, ou seja, setenta e três anos mágicos ou cinquenta e dois anos solares.

Do ponto de vista prático, cada dia deste ciclo de cinquenta e dois anos (ou 73 anos mágicos, ou 18 980 dias), duração ideal da vida do homem para este povo, possuía um valor mágico perfeitamente referenciado e preciso, graças a este sistema.

Os Astecas tinham limitado a sua visão cósmica a este ciclo de cinquenta e dois anos. Para eles, o termo deste período anunciava um eventual fim do mundo; uma angustia generalizada apoderava-se do povo inteiro. As pessoas prostravam-se nas suas cabanas, enquanto os sacerdotes se dirigiam em procissão às colinas para interrogarem ansiosamente o céu. Faziam oferendas e sacrifícios a fim de que todos os astros continuassem o seu caminho celeste e que os deuses permitissem aos homens viverem um novo ciclo de cinquenta e dois anos na Terra.

Os Maias haviam ultrapassado esta visão limitada do tempo, fixando um ponto de referência cronológica, 3113 anos antes de Cristo. Eles inventaram um ponto de partida determinado, para um tempo histórico orientado, bastante antes do Ocidente. Segundo os especialistas este início cronológico corresponderia a um facto mítico, baseando-se no facto de não existirem vestígios arqueológicos até meio milénio antes da nossa era.

O princípio do calendário mágico é simples: os duzentos e sessenta dias que o compõem são o resultado da reunião de uma série de vinte dias, todos eles com nomes diferentes, e de uma série de treze números que se sucedem de um a treze. Os dias e os números começam ao mesmo tempo e seguem-se paralelamente ao longo de treze meses até ao momento em que o número um encontra novamente o primeiro dia do primeiro mês Imix, quer dizer, durante duzentos e sessenta dias.

Qual o significado profundo deste calendário mágico? Não se sabe. E o treze?

O mundo Maia contava treze andares do céu - cada um com uma divindade própria -, suportados por quatro deuses-irmãos, de pé perante os quatro pontos cardeais. Por cima destes estendiam-se os nove reinos subterrâneos, regidos por nove deuses da noite. Cada ponto cardeal tinha a sua própria cor: encarnado para este, branco para norte, negro para oeste e amarelo para sul. Todos os elementos da vida tinham um lugar assinalado neste espaço orientado, e a sua cor dependia do local em que se encontrassem.

Os Maias aplicaram a todos os domínios, compreendendo o dos calendários, este princípio. O ciclo de cinquenta e dois anos (casamento do calendário mágico com o calendário solar), que se imaginava como um circulo, inscrevia-se nesta visão quadripartida do universo, distribuindo os seus anos pelos quatro cantos do mundo. Cada novo ano solar civil, representado por um deus ou por um número, encontrava-se num desses pólos, diferindo do local ocupado no ano anterior. Tomava então, automaticamente a cor e o aspecto, benéfico ou maléfico, desta colocação. Um ciclo de cinquenta e dois anos era, pois, dividido simbolicamente em grupos de treze anos pelos quatro cantos do mundo. Tínhamos um esquema deste género:

13 anos   13 anos
13 anos   13 anos

ou seja: cinquenta e dois anos.

Temos razões para acreditar que a organização social deste povo se regia segundo este imperativo.

Podemos divagar até ao presente: não tem o baralho 52 cartas repartidas por quatro séries de treze cartas? A cor vermelha reparte-se por ouros e copas e o negro por espadas e paus. E o joker? Em muitos jogos é a carta mais forte. Na Índia, diz-nos a tradição, existe, para além dos reis das cartas, um suserano supremo... Se aplicarmos isto à organização quadripartida da sociedade Maia, cada uma das quatro série de treze, desde o ás ao rei, representaria as linhagens, e cada cor determinaria o seu lugar num mundo orientado. Mas estamos a divagar!

Temos, portanto, o famoso numero treze. Mas o número cinco é também um elemento perturbante. No plano mágico é temível e reencontramos o terror que ele inspira até mesmo no calendário civil solar, de trezentos e sessenta e cinco dias, mais um mês suplementar, o Uayeb (a cama do ano), com cinco dias, os dias sem nome, aqueles que nunca deviam ser nomeados. Eram de tal modo nefastos que as pessoas não saiam de casa nem se lavavam.

Na mitologia Maia este número cinco era tido como um símbolo da desgraça. Os Maias pensavam que viviam no quarto mundo, ou no quarto sol, o dos homens verdadeiros. Os três mundos anteriores tinham desaparecido num cataclismo, diluvio, chuva de fogo, etc.. Mas, infelizmente, esse mesmo mundo em que viviam seria também para eles o último; terminaria devido a uma catástrofe, a fim de deixar o seu lugar ao quinto mundo, símbolo do fim definitivo dos verdadeiros homens.

Como se comporta o número cinco nos calendários?

Tomemos como exemplo o importante ciclo de cinquenta e dois anos de 365 dias e a sua divisão pelos quatro cantos do mundo. No final deste lapso de tempo, o ano civil atrasou-se treze dias em relação ao ano verdadeiro. Os Maias não ignoravam isso. Era preciso arranjar uma posição para esse quinto elemento, esses treze dias na combinação quadripartida. resolveram colocá-lo no centro, ou seja:


O que equivale  a 52 anos solares verdadeiros.

Passando ao escalão superior, o do Mundo, os maias obtiveram, multiplicando 52 por 20, 1040 anos solares.

Estes, repartidos pelos quatro cantos do mundo podem ser assim esquematizados:


Ou seja um total de 1040 anos solares verdadeiros. Faltavam duzentos e sessenta dias para se colocarem a par da marcha do Sol, o que equivale justamente ao tempo de um calendário mágico.

Assim, na escala do tempo, a vida de um homem era representada pelo ciclo de 52 anos, enquanto os 1040 significavam a duração do mundo. Sabemos que os Maias viviam no quarto mundo e que esperavam com angústia a chegada do quinto, com o seu cataclismo final. O seu universo cósmico contava, pois, com cinco mundos:


O total dava 5200 anos, o que equivale ao universo dos Maias.
Estes 5200 anos civis correspondem ao limite do universo «organizado», o do famoso ponto de partida cronológico do tempo: baktun treze.

Temos pois que os Maias dispunham de dois sistemas paralelos, idênticos na forma, para a contagem do tempo em função da repartição quadripartida.

Treze kin: número primordial, conserva o seu valor de 13.
Treze uinal: equivalente a um ano mágico de 260 dias.
Treze tun: repartido por quatro pontos cardeais. Cinquenta e dois tun.
Treze katun: repartido pelos quatro pontos cardeais. Mil e quarenta tun.
Treze baktun: 5200 tun, valor de cinco mundos.

Organizando isto em termos do ano solar civil temos:
O princípio era o treze, símbolo do tempo.
Nascimento do homem: casamento do número treze com o número 20, ou seja, 260, o calendário mágico.
Vida do homem: casamento do tempo mágico e do tempo solar, ou seja 52 anos.
Vida de um mundo: 52 vezes 20 ou seja 1040 anos.
Vida do universo: cinco mundos, 1040 vezes cinco ou seja 5200 anos.


Mas os Maias não se limitaram a estes dois sistemas paralelos. Arranjaram um terceiro, ligado ao planeta Vénus.
Segundo hoje sabemos, Vénus efectua uma revolução sinódica, ou seja, um retorno à posição inicial no céu, dentro de um período de 583,92 dias. Cada uma das revoluções deste planeta divide-se em quatro períodos diferentes: durante oito meses á a estrela da manhã, desaparecendo depois durante três meses; em seguida, encontramo-lo como estrela da noite durante oito meses, até desaparecer durante catorze dias antes de reaparecer como estrela da manhã.

Os Maias codificaram perfeitamente estes períodos, relacionando-os com os intervalos existentes entre duas luas novas.

As revoluções do planeta Vénus são irregulares, irregularidades que se escalonam em cinco revoluções sucessivas, tendo, respectivamente, 580, 587, 583, 583, 587 dias. Estabelecendo a média desta série os Maias chegaram à extraordinária medida de 584 dias para um ano venusiano.

Atraídos por estes cinco anos irregulares venusianos, os Maias aperceberam-se que coincidiam perfeitamente com oito anos civis de 365 dias do seu calendário solar. Os sacerdotes-astrónomos tentaram então em fazer principiar o calendário do ano solar ao mesmo tempo que o calendário de Vénus; decorriam portanto 2920 dias, ou seja, oito anos solares e  cinco anos venusianos antes que os primeiros dias dos dois calendários se encontrassem de novo. Coincidência de tal maneira cheia de significado que decidiram «caar» os dois calendários de modo a poderem obter um terceiro, tendo como unidade de base o ano venusiano-solar de 2920 dias.

Ora, enquanto decorria este grande ano, os oito anos solares de 365 dias que o compunham ficavam com dois dias de atraso perante a verdadeira marcha do Sol (atraso que nós suprimimos com os anos bissextos). Isto significava que, após 130 anos solares-venusianos, os 1040 anos solares civis totalizavam 260 dias de atraso em relação à marcha do Sol, valor de um calendário mágico, como já vimos. Os Maias não ignoravam isso, mas verificaram com estupefacção que estes 1040 anos solares de 365 dias não apresentavam atraso algum em relação ao calendário venusiano e que, ao contrário, se identificavam perfeitamente com a marcha de Vénus. Encontraram-se, pois, perante um tempo magicamente enfeitiçado, que se atrasava em relação ao Sol mas que se apresentava perfeitamente exacto em relação ao planeta Vénus.

Consideremos os factos: o tempo verdadeiro era determinado pela marcha de Vénus; neste rígido quadro do tempo, o ano solar civil não precisava de correcções bissextas. Assim, o ano solar-venusiano tornava-se, em virtude deste facto, num módulo, uma espécie basilar e universal, um ponto de referência exacto para controlar a marcha do tempo e, a partir daí, organizá-la de modo preciso.

As divisões do tempo eram, para os Maias, uma espécie de fardos trazidos pelos deuses em estações repartidas no universo quadripartido. Uma quinta estação, ao centro, aparecia de vez em quando e, segundo este princípio, o ano solar-venusiano dividia-se em cinco anos, ou estações (quatro nos diferentes pontos cardeais e uma ao centro), e em oito solares, ou oito estações no quadro dos precedentes.

Verificamos, pois, que apresenta treze estações de tempo. Temos pois a origem do famoso número 13, base de todos os calendários Maias. Estas treze estações determinavam o tempo verdadeiro.

Possuidores deste esquema, tudo se tornava claro aos astrónomos Maias. Os anos bissextos eram absorvidos pelo centro, eterno ponto mágico e perigoso. De qualquer modo, perdiam a sua importância, já que o ano solar civil de 365 dias permitia maior precisão na medida do tempo verdadeiro determinado pelo planeta Vénus.

O signo de Vénus era, portanto, o número cinco. As etapas deste planeta eram em número de cinco e não de quatro, como exigia a repartição quadripartida do universo, estando a quinta etapa colocada no centro.

Os sacerdotes-astrónomos entregaram-se afincadamente à procura dos pontos comuns entre o calendário de Vénus e os diferentes calendários, mágico, solar, venusiano-solar. Assim, 13 anos venusiano-solares são iguais a 65 anos de Vénus, que, por sua vez, equivalem a 104 anos solares e 146 anos mágicos.

Encontro fabuloso, que utiliza de modo brilhante o módulo que encontrámos treze vezes sob o signo treze. Vejamos: 65 anos de Vénus, repartidos por cinco estações deste planeta, dão 13 anos venusianos por estação; 104 anos solares, repartidos por oito estações, dão 13 para cada uma delas.

Vejamos se estes encontros se podem adaptar ao sistema aritmético e ao ano civil e solar determinados.

104 anos solares civis - 65 anos de Vénus - 146 anos mágicos - 13 anos Vénus-solares
1040 anos solares civis - 650 anos Vénus - 1460 anos mágicos - 130 anos Vénus-solares
5200 anos solares civis - 3250 anos Vénus - 7300 anos mágicos - 650 anos Vénus-solares

O total de 3250 anos de Vénus, repartidos por cinco locais-chave do universo, dão cinco mundos de 650 anos Vénus ou 1040 anos solares.

Ao elaborarem esta máquina cósmica, os sacerdotes- astrónomos  Maias julgaram, sem dúvida, estar na posse da chave do universo. Devem ter-se julgado senhores do mundo.

Ora acontece que estes mestres feiticeiros, dominadores dos anos e dos homens, foram as primeiras vítimas desta máquina infernal que trazia consigo o poder da desintegração.

Vejamos como: já que cada mundo contava 1040 anos, o fim do quarto mundo, o dos Maias inventores, o dos verdadeiros homens, deveria acontecer ao fim de 4160 anos, ou seja 1040 vezes quatro. Faltavam somente 168 anos para se chegar ao fim do mundo.

Coloquemos as coisas na nossa cronologia:

Ponto de partida Maia: 3113 a.C.
Fim do quarto mundo: 1047 (4160 menos 3113)
Data da primeira estela clássica. 889.
Tempo até ao fim do mundo: 158 anos (1047 menos 889)

Esta proximidade iminente da inevitável catástrofe certamente criou uma angústia enorme entre a elite Maia do século IX.

A dois mil quilómetros do Peten, em Xochicalco, no coração dos planaltos do México central, realizou-se no século IX um congresso de astrónomos. E os Maias estavam presentes, segundo os arqueólogos. Provavelmente procurava-se encontrar um meio de fazer face ao aniquilamento anunciado.

Para os Maias o único modo de escapar era renunciar ao sistema. Fugir dessa terra sagrada, esquecer o esquema cósmico. Os Maias tiveram que renunciar a tudo: ao conhecimento, ao poder, à organização social, às belas cidades. As elites foram sacrificadas para salvação dos homens ou então fugiram, instalando-se noutros locais e levando aí uma vida onde somente pudesse intervir o tempo do homem, o único com sabor a eternidade.

Os Astecas pretendiam viver no quinto mundo e temiam o quarto, símbolo do desaparecimento do precedente.. Na mitologia asteca quatro mundos haviam desaparecido antes da sua chegada aos planaltos do centro do México. Compreendemos assim o terror que sentiam no final de cada ciclo de cinquenta e dois anos, já que viviam no quinto mundo e o aniquilamento era inevitável.

Outros índios do Iucatão dispunham de mais tempo, pois usavam a «roda de katun», ou seja, 260 anos.

Isto mostra-nos que até que os grandes Maias, inventores destes calendários, não desapareceram quando fugiram; decididos a nunca mais utilizar a sua máquina de contar o tempo, não tentaram recriá-la noutros locais. Transmitiram apenas uma ínfima parte dos seus conhecimentos àqueles que lhes deram asilo.

Já agora: o próximo ciclo acaba em 2087 e não em 2012.

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