Casa do Capítulo da Ordem de Cristo em Tomar (imagem de 1860)
Coevo da independência de Portugal e das nossas grandes edificações do século XII, erigido por um dos valentes capitães de D. Afonso Henriques, o mestre do Templo D. Gualdim Pais, em 1160, resume este documento a série dos estilos arquitectónicos que se sucederam desde aquele século até ao século 18, isto é, de D. Afonso Henriques até D. João V, que foi o último soberano que ali fez obra.
E, todavia, nunca se completou aquele grandioso baluarte da Ordem de Cristo, baluarte que resistiu às hostes de Miramolim, imperador de Marrocos, para agora o vermos a desmoronar pelo desleixo de quem tem a seu cargo a manutenção dos monumentos nacionais!
Todos os reis de Portugal, como grão-mestres da Ordem, contribuíram para aquela portentosa edificação; mas desde o tempo de D. João I, em que a arquitectura mais se aperfeiçoou entre nós, fizeram-se ali obras notáveis, onde se admiram construções de estilo anterior ao gótico, muitas do manuelino, e não poucas do que floresceu no tempo dos Filipes, a quem se deve a do famoso claustro chamado da Procissão do Corpo de Deus, em retribuição do muito que os freires da Ordem o ajudaram a nos tornar cativos.
A mais bela e brilhante amostra do estilo de D. Manuel, em Tomar, é a janela da casa do capítulo, que fica debaixo do coro da igreja, em frente do claustro de Santa Bárbara.
Nesta casa capitular se reuniram, a 16 de Abril de 1581, as cortes, ditas de Tomar, para jurarem a Filipe II de Espanha, rei de Portugal, depois da derrota do prior do Crato em Alcântara.
Aí se jurou e prometeu o pérfido monarca 19 capítulos, contendo os foros e regalias que devia conservar a nação portuguesa, os quais em pouco tempo infringiu escandalosamente, apesar de ter afirmado com a mão sobre o Santo Evangelho - que se algum dos seus sucessores os quebrantassem, seriam malditos da maldição de Deus, da Virgem e dos apóstolos da corte celestial.
A nossa estampa é cópia da casa do capítulo, mandada edificar por D. Manuel, mas nunca concluída.
No topo ainda se vê distintamente, o grande nicho ou pavilhão de cantaria lavrada, onde se devia colocar a cadeira do grão-mestre da Ordem, ou trono do soberano, que era o mesmo, porque o rei era sempre o grão-mestre, desde D. Dinis, que depois da extinção da Ordem dos Templários, criou a de Cristo em 1319.
Archivo pittoresco, Volume 3, 1860
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