História das Ordens Religiosas em Portugal - Congregação de Clérigos Agonizantes

História das Ordens Religiosas em Portugal - Congregação de Clérigos Agonizantes

Introduziu em Portugal este Instituto, o virtuoso Padre Manuel de Jesus Maria, que antes de Sacerdote se chamava Manuel de Bessa Leal, natural da Freguesia de S. João de Nespereira, Comarca de Penafiel, Bispado do Porto, o qual, desenganado das vaidades e promessas do mundo nos poucos anos que o havia experimentado, por inspiração Celeste determinou retirar-se ao deserto e, não contando mais que vinte e quatro anos de idade, nem 1677, foi buscar no Alentejo o solitário sitio da Tomina, distante da Vila de Moura cinco léguas, num vale cercado de ásperas montanhas, que dividem Portugal de Castela. Ali começou uma vida contemplativa e santa, corroborando a sua primeira vocação com varias mortificações e penitencias continuamente. Agregaram-se-lhe alguns companheiros, os quais o persuadiram que se ordenasse de Sacerdote, como com efeito o ordenou o Bispo de Targa, D. Frei Bernardino de Santo António, no ano de 1683.

Para mais decente comodidade dos seus santos e espirituais exercícios, erigiu um Conventinho com sua Ermida; porém, como o comum inimigo desejava demolir e extinguir aquela nova atalaia da virtude, urdio tal enredo que ElRey D. Pedro II mandou ao Desembargador do Porto, Francisco Barroso de Faria, fosse arrasar aquela obra, por ser erecta sem sua permissão. Foi o prudente Ministro, mas vendo e observando naqueles varões penitentes, um proceder virtuoso e edificativo, suspendeu a execução e deu parte ao Tribunal competente do quanto serviam ao bem das almas dos rústicos habitadores daquelas vizinhanças, aqueles Anacoretas.

Daqui resultou começar ElRey, mais bem informado, a proteger com afecto ao virtuoso Padre e sua nova Congregação, fazendo-lhe a mercê de o admitir à sua presença algumas vezes, de que sempre ficava edificado da sua virtude, que até no semblante reverberava. Tinha ele formado os  seus Estatutos e, para haver de os confirmar pela Sé Apostólica, passou a Roma no ano de 1704, sendo-lhe preciso repetir esta jornada três vezes, sempre a pé, lutando e sofrendo com singular paciência inumeráveis trabalhos e contratempos, até que a santidade de Clemente XI, em 23 de Dezembro de 1709, lhos confirmou com os três votos simplices, sendo o seu especial Instituto assistir aos enfermos de morte até expirarem, em cujo exercício foi o fervorosissimo Instituidor exacto e exemplar observante, excitando o bem das almas, a sair muitas vezes, de dia e de noite, a agonizar os moribundos em tão remotas distancias, que bem mostrava ser o seu zelo sólido radicado em verdadeira caridade.

Achando-se finalmente em Lisboa, e em casa do Doutor Manuel Guerreiro Camacho com uma doença de predestinado, soltou o espírito da prisão corpórea e voou ao prémio eterno de seus trabalhos em 28 de Novembro de 1720, com sessenta e sete anos de idade, depois de receber os Eclesiásticos Sacramentos, com grandes preparações. O Céu depositou em sua alma um copioso tesouro de virtudes, porque o animo era liso e sincero; o coração cândido e humilde; a vida austera e penitente; abominador de embustes, perseverante na oração, mortificado nas paixões do animo; assim se experimentou na constância imperturbavel, com que sofreu algumas penosas injurias que os seus mesmos (dispondo o a Providência) inventaram para o perseguir. Jaz na Igreja do Convento de Nossa Senhora da Graça de Lisboa, depositado num caixão no carneiro, que está na entrada da Capela do Rosário, da parte direita.

A Comunidade lhe fez um Ofício solenissimo, com todas aquelas honras que se costumam fazer aos Religiosos mais graves da mesma Província. Muitas pessoas, que tinham conhecimento das suas virtudes, concorreram a pedir relíquias, mas só se concedeu o seu barrete ao Reverendo Desembargador Francisco Barroso de Faria, seu especial devoto. Consta o que temos dito não só da atestação e assento do livro dos óbitos, que está na Sacristia do mesmo Convento, a fol. 21 vers., mas também da informação que nos comunicou o zeloso e Reverendo Padre Paulo de S. José, benemérito professor desta pia Congregação, a qual consta das seguintes  Casas: