terça-feira, 25 de outubro de 2011

História de Monsaraz e imagem de 1860 do antigo brasão



História de Monsaraz e imagem de 1860 do antigo brasão

A VILA DE MONSARAZ

Ergue-se esta povoação na província do Alentejo sobre um alto cabeço formado de um grupo de penhascos. A falda oriental deste monte desce até ao Guadiana. A vila fica a cinco léguas ao sul de Vila Viçosa e uma ao noroeste da vila de Mourão.

A memoria mais antiga que achamos desta terra, é que el rei D. Dinis a mandou povoar pelos anos de 1310 e lhe edificou o castelo.

Enquanto as guerras com os nossos vizinhos se sucediam umas ás outras, com pequenos intervalos, Monsaraz era um sitio apetecido e procurado pelos povos daqueles contornos, que achavam naquela posição fortificada e quase inacessível, a tranquilidade e segurança que se não podia desfrutar nos campos. Assim cresceu e prosperou esta vila. Porém, logo que vieram tempos mais bonançosos e que a paz começou a dar alguma garantia de duração, tornou-se incomoda a todos os respeitos aquela vivenda e os seus moradores foram pouco a pouco desertando dali.

A duas léguas de Monsaraz, para o lado de leste, no meio de dilatadas e férteis campinas, via-se então uma ermida dedicada a Santo António. Aproximava-se ao seu fim o século XVII, quando se principiaram a edificar algumas pequenas casas em torno da ermida. No começo do século seguinte já era uma aldeia chamada do Reguengo, com sua igreja paroquial da invocação de Nossa Senhora da Caridade. A fertilidade do terreno, a bela situação do lugar e a industria dos moradores em vários tecidos de lã ordinários e na fabricação de chapéus grossos, fizeram aumentar por tal modo esta aldeia que, em 1838, foi transferida para aqui a cabeça de concelho que até então se achava em Monsaraz. Passados dois anos, por carta regia de 29 de Fevereiro de 1840, foi a aldeia de Reguengo elevada á categoria de vila, com o nome de Vila Nova dos Reguengos.

A historia do engrandecimento desta povoação é portanto a mesma da decadência de Monsaraz. A expensas desta, até certo ponto, tem aquela crescido e prosperado. E daqui se tem originado um ódio entranhável entre os habitantes das duas terras.

Monsaraz, que teve outrora três paroquias, hoje apenas conta uma, que tem a invocação de Santa Maria da Lagoa. A primeira fabrica deste templo foi obra do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, mas ao presente acha-se amodernada. É uma igreja espaçosa, de três naves e com três portas na frontaria. Entre a porta do meio e a da parte esquerda, entrando no templo. vê-se um grande túmulo de mármore, assente sobre leões. Sobre a tampa está estendida a estátua de um cavaleiro com um cão deitado aos pés. Na face do mausoléu, que está voltada para a capela mor, estão lavradas em relevo quatorze figuras de santos e na face que corresponde aos pés do finado, avulta a imagem de um cavaleiro empunhando um falcão em quanto outro vôa direito a uma árvore, em que estão poisadas duas aves, para as quais correm também dois cães. Na borda da tampa tem um letreiro gótico meio apagado, em que apenas se pode ler que ali descansa Tomas Martins, Vassalo del rei. No chão, junto a este túmulo, está a sepultura de Martim Silvestre, pai de Tomas Martins, que morreu em 1371.

Tem a vila de Monsaraz casa de misericordia com um pequeno templo, edificado em frente da matriz e no qual se vêem dois painéis pintados em madeira da escola do Grão Vasco.

A vila é cercada de muros hoje bastante arruinados. O castelo ainda se conserva de pé, com as suas torres e muralha,s porém os mais edifícios que encerrava estão inteiramente derrocados. Das ameias da torre de menagem, avistam- se em dilatadissimo horizonte, as cidades de Évora e de Elvas, as vilas de Évora Monte, de Estremoz, de Mourão, de Alconchel, de Vila Nova del Fresno, de Olivença, que foi nossa e agora é de Espanha e além doutras povoações menos importantes a Serra d 'Ossa e outras cordilheiras de montanhas.

Como a vila de Monsaraz cresceu muito, depois da construção dos seus muros, acha-se fora deles, como arrabalde, uma parte da povoação. Tem muitas casas desertas e pouca vida nas ruas, pois que os seus habitantes estão reduzidos a pouco mais de mil e duzentos.

Não há fontes na vila. Os moradores ou se hão-de prover de agua numa grande cisterna que aí há ou na fonte do Outeiro, que está nas faldas do monte. A cisterna é uma casa de abobada, com porta para a rua, da qual desce uma escada de pedra até ao fundo do deposito. Conta o povo, por tradição, que esta casa foi mesquita dos moiros. A 15 de Agosto tem esta vila a sua feira anual.

Nos subúrbios de Monsarás está o edificio do extinto convento de Nossa Senhora da Orada, que foi de Agostinhos descalços e fica a meia légua da vila. Em igual distancia corre o Guadiana, apertado entre montes. Na raiz da mesma montanha em que campeia a vila, há uma ermida, cuja capela mor de forma oitavada e de grossa muralha dizem ter sido templo romano.

Cereais, algum azeite, muitos montados em que se cria grande quantidade de porcos, mel e cera, são as principaes produções do termo. Os montes são abundantes de caça e o Guadiana de peixe.

Monsaraz tinha voto nas antigas cortes com assento no banco décimo sexto. O seu brasão é um simples escudo de prata. A alcaidaria mor desta vila andava na família dos Britos Pereiras.


Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Monsaraz é uma freguesia do concelho de Reguengos de Monsaraz 

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