quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

História: Baile de Máscaras no Paço da Ajuda, Lisboa





História


Lisboa


Carnaval


Baile de Máscaras no Paço da Ajuda

Satisfazemos cabalmente a promessa que fizemos no antecedente num, com a seguinte noticia que nos enviou pessoa das mais bem informadas.

O baile de mascaras que houve no paço da Ajuda, domingo gordo começou ás onze horas da noite e terminou ás cinco horas e meia da madrugada do dia seguinte. Estiveram presentes a esta magnifica função cerca de trezentas pessoas e d'estas apenas estavam sem mascara sua majestade el rei D. Fernando, que trajava o seu grande uniforme militar, o seu ajudante de campo conde da Foz, igualmente de uniforme, e os marqueses de Ficalho e de Subserra, bem como o conde da Ponte que, encarregados de fazerem as honras da casa, de reconhecerem á entrada as pessoas mascaradas, e designarem o serviço daquela noite haviam sido dispensados de comparecerem mascarados.


O aspecto da sala do baile, onde se achavam reunidos os convidados era deslumbrante não só pela variedade, elegância e riqueza dos trajos que ali ostentavam as suas aprimorada galas, como pela profusão de luzes que iluminavam aquele recinto encantador dando realce á beleza bom gosto e opulência que á porfia se haviam empenhado em exibir, naquela noite, os seus mais aprazíveis dotes.

O turbilhão de mascaras que percorria as salas desenhava-se caprichoso e fantástico, com um caleidoscopio de dimensão gigante. Confundidas as classes, as categorias, os sexos e as idades, em uma anarquia sem exemplo, reinava contudo entre todos a mais perfeita harmonia, subordinada á batuta do maestro da orquestra que, com frequência os convidava aos folguedos do dança.

As mascaras conservaram-se rigorosamente postas encobrindo os rostos dos convidados até ás duas horas da noite. A esta hora um elegante cavaleiro coberto com a sua armadura completa, e da mais fina tempera, o qual havia atraído a atenção de todos pelo garbo e gentileza de seus movimentos e meneios, chegando ao centro da sala do baile, e levantando com um gesto elegante a viseira do seu misterioso elmo, deixou ver o simpático rosto. Era sua majestade el rei o senhor D. Luiís I que, com um gracioso e amável sorriso, saudava a brilhante sociedade que o rodeava, e d'esta forma levantava o interdito da mascara. O exemplo foi instantaneamente seguido por todos os circunstantes, e o baile d'então em diante continuou até ao fim ainda mais animado do que estivera.
Dama do século XIX

Um bem servido bofete estava colocado em uma das salas próximas, aonde, além dos refrescos delicados e de toda a espécie, se serviu pelas três horas, uma sumptuosa ceia que durou até ás cinco.

Os trajos eram todos do melhor gosto; contudo entre tantos são dignos de menção os seguintes: das senhoras, os três trajos de sua majestade a rainha, sendo o primeiro de lavradeira de Avintes, o segundo de escocesa e o terceiro de consorte de Amadeu VI de Saboia (época 1362); o rico trajo de napolitana que vestia mad. Guiteau, esposa do ministro de França: o da marquesa de la Ribera, esposa do ministro de Espanha, que trajava como as mulheres do povo da Valachia; o da condessa de Penafiel, que apresentava um singelo mas elegante vestuário de aldeã russa; o da sra. D. Teresa da Câmara, que, com gentileza, trajava de fantasia, simbolizando o jogo de xadrez; o da sra. condessa de Azambuja de moscovita o da sra condessa de Lumiares, de rainha das fadas; o da sra. D. Maria Ignacia de Sousa Botelho, semelhante ao terceiro que mencionámos de sua majestade a rainha; o da consorte do secretario da legação espanhola, lindo e elegante vestuário de fantasia, representando uma moleira; e o da sra viscondessa de Soares Franco, simbolizando a noite.

Entre os homens sobressaiam os três vestuários de sua majestade el rei, o primeiro dos quais era de pajem da idade media, o segundo de cavaleiro da mesma época (armadura de aço), e o terceiro primorosamente acabado, de Amadeu VI, conde de Saboia, instituidor da ordem da Anunciada (época 1312); o do marquês de Castello Melhor, que representava seu avo o conde do mesmo titulo, primeiro ministro del-rei D. Affonso VI; o do conde de Sobral, de oficial de cavalaria do tempo de Luiz XV; o do conde de Lumiares, militar da mesma época; o de José Emygdio Cabral, de húngaro; o de Júlio Ferreira, de habitante da Valachia; o do conde de Óbidos, do tempo de Luiz XIII; o do conde de Mesquitella, de Afonso de Albuquerque; o do conde de Penafiel, que representava um os avoengos d'esta casa do tempo dos Filipes; e o do visconde da Lançada, de turco.


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