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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

História: O chafariz de Belém, Lisboa (imagem de 1860)



História: O chafariz de Belém, Lisboa (imagem de 1860)


Este chafariz, como se pode ver pela nossa gravura, é elegante, e todo ele de boa cantaria. Os quatro golfinhos que lhe servem de bicas, estavam guardados desde muito tempo n' um telheiro a S. Pedro de Alcântara, dizendo alguns que se haviam tirado do antigo chafariz do Rossio; mas o sr. José Sérgio Veloso de Andrade, arquivista da câmara municipal de Lisboa, na excelente memoria que publicou em 1851 sobre os chafarizes e fontes desta cidade, e ao qual se devem estas noticias acerca do de Belém, julga que estes golfinhos estavam destinados para o grandioso chafariz que se projectava fazer no Campo de Santa Ana, nos fins do século passado. Diz ele também que são obra do escultor português António Gomes, o qual, como autor deles, não achámos nomeado nas fidedignas Memorias das vidas e obras dos artistas nacionais, coligidas por Cyrillo Volkmar Machado.

Este chafariz de Belém, com o custo das expropriações, novos encanamentos, jornas e materiais, importou em 11 800$000 rs.


Não será descabido dizermos para remate, que o artista Alexandre Gomes, que esculpiu os golfinhos que se aplicaram a este chafariz, é juntamente autor dos quatro tritões que já estiveram postos no tanque do passeio publico, e hoje não sabemos onde os sumiram; e igualmente das duas figuras do Tejo e Douro, que ainda se acham no mesmo passeio, assim como das quatro carrancas que actualmente estão no chafariz de Alcântara. Todas estas esculturas fez o dito estatuário Alexandre Gomes por 3000$000 rs. para o projectado chafariz do Campo de Santa Ana, de cujo desenho contamos dar copia em gravura.

Archivo pittoresco, Volume 3, 1860

História: Sintra, o penedo dos ovos ou Penha Longa (imagem de 1860)




História: Sintra, o penedo dos ovos ou Penha Longa (imagem de 1860)

Tanto que o leitor puser os olhos na estampa que lhe apresentámos, reconhecerá logo por aquela penedia rolada e sobreposta, que é um lanço da famosa serra de Sintra, á qual, pela sua eminencia chamaram os antigos geógrafos monte ou promontório da lua.

Na estrada real, que vai de Lisboa para Sintra, pouco antes de chegar a esta deliciosa vila, á mão esquerda, fica uma casinha de modesta aparência, mas de grande nomeada. É a da Sapa, antiga e imortal... queijadeira, a cuja porta fazem paradeiro todos os que regressam de Sintra, e querem trazer para a cidade um atestado autentico da sua visita áquele delicioso vergel de Portugal.

Mesmo ao lado d'esta casinba, se abre uma estrada traversa, que em menos de meia hora conduz a um lugar denominado do Linhó ou Linhol, talvez corrupção de Linhal, agro ou plantio de linho que ali houvesse antigamente.


Não tem o Linhó, de certo, grandes atractivos para o viajante, porque ficando no fundo do vale, que formam os montes da Pena e de Santa Eufémia, faltam-lhe as belas vistas que oferecem os píncaros de Sintra as sombras dos seus frondosos bosques, e a frescura maviosa dos seus passeios. Mas em compensação, é o terreno mui florido e virente, por ser continuamente regado das copiosas águas que da serra se precipitam, como serpes de cristal, coleando-se por entre os pomares e jardins, de que o vale é recortado.

Sobre esta planície se ergue alterosa, á beira da estrada, a longa penha ou penedo que a nossa gravura representa, e devemos ao lápis do nosso insigne paisagista o sr. Annunciação, e ao buril primoroso do sr. Pedroso. É formada esta penha por um alteroso grupo de penedos, todos rolados pelas águas, como em geral são os de Sintra; e sobranceiro a eles, está um enorme, posto a pino, em cujo vértice assentaram uma grande cruz de pedra os frades do próximo convento que se denominava de Penha Longa, tirando o nome desta que lhe está vizinha. A cruz desabou já, mas ainda lá se conservam uns resquícios que a estampa acusa.


O povo chama-lhe, desde muito tempo, penedo dos ovos, a historia pera longa ou penha longa, e uma cronica manuscrita que temos á vista, composta por um frade jeronimo do mencionado convento, diz que se lhe chamou já em eras remotas, pedra da verdade.


A denominação primitiva parece nos ser de pera longa, contracção de pedra em português velho. Porque, na escritura da compra do sitio para se edificar o convento, que transcreve o já citado frade, escritura feita em 1390, diz o proprietário, que era um João Domingues, corretor da cidade de Lisboa, que vende por 3$500 réis, moeda corrente de dez soldos, a sua quinta em Peralonga, que consta de casas, azenhas, vinhas, herdades, pomares, matos, fontes e foros, a qual parte com caminho que vai de Sintra para a Malveira, com o casal que foi do conde Dom Henrique, e outros que cita, até entestar com os logradouros dos vizinhos do dito lugar de Peralonga.


Esta escritura tem muitas singularidades, que por brevidade deixámos de apontar. Mencionarmos, contudo, que n'este notável instrumento, se transcreve uma carta del-rei D João I, com o seu selo de camafeu, datada de Santarém, e dirigida ao dito João Domingues, agradecendo-lhe o ele ter acedido aos rogos que lhe fizera para que vendesse a sua quinta aos frades jerónimos; e porque eles lhe não tinham podido pagar até Junho, como fora ajustado, ele, rei, lhe mandava o dinheiro, para que não deixasse de se efectuar a compra, isto é uma coisa que cumpre muito ao serviço de Deus e nosso; o que vos muito agradesseremos e per que vos faremos mercê. Assim conclui o mestre de Avis.


Assinam esta escritura, entre outros, como testemunhas, Bartholomeu Domingues, escolar de leis, filho do vendedor, e João Martins, costureiro
(?).

Vê-se pois que o convento (que foi comprado pelo sr. Bessone), tomou o nome do lugar, e este o tinha tomado da penha ou penedo de que estamos falando.

Sobre a denominação de penedo dos ovos, tão popular no sitio, eis o que nos diz o sr. Munró, num apontamento que muito lhe agradecemos.

«Atribui-se o nome de penedo dos ovos, dado a esta penha, á seguinte lenda:

Era voz constante naqueles sítios, que debaixo da enorme pedra existia um "tesouro encantado", o qual só se descobriria a quem pudesse conseguir derrubar a pedra, atirando-lhe com tantos ovos quantos bastassem para conseguir tal façanha. Ninguém a tentava; mas um dia, certa velha do lugar quis empreender essa tarefa, e munindo-se de quantos ovos pôde juntar por muitos dias, começou a atiral-os sobre o formidável penedo. Tendo, porém, exaurido todas as munições, sem poder quebrar o encanto, e faltando-lhe os meios de adquirir ainda mais projecteis, abandonou a empresa, e ficaram todavia na pedra, e ainda hoje lá se vêem, os sinais do tiroteio que fez a velha, nas malhas amarelas que cobrem um dos lados do penedo, malhas que os velhos e crianças do sitio afirmam serem as gemas dos ovos que ali ficaram! Um musgo amarelado, que cobre a parte meridional do penedo, aviventa esta crença dos honrados linholenses.

Este rochedo serviu por muito tempo de sinal ou marco aos navegantes que demandavam a barra de Lisboa. Com os melhoramentos da navegação, e a colocação de faróis na costa, não serve hoje o penedo dos ovos senão para colónia de corvos, e admiração dos raros viajantes que ali vão.»

Archivo pittoresco, Volume 3, 1860

Casa do Capítulo da Ordem de Cristo em Tomar (imagem de 1860)




Casa do Capítulo da Ordem de Cristo em Tomar (imagem de 1860)

Coevo da independência de Portugal e das nossas grandes edificações do século XII, erigido por um dos valentes capitães de D. Afonso Henriques, o mestre do Templo D. Gualdim Pais, em 1160, resume este documento a série dos estilos arquitectónicos que se sucederam desde aquele século até ao século 18, isto é, de D. Afonso Henriques até D. João V, que foi o último soberano que ali fez obra.

E, todavia, nunca se completou aquele grandioso baluarte da Ordem de Cristo, baluarte que resistiu às hostes de Miramolim, imperador de Marrocos, para agora o vermos a desmoronar pelo desleixo de quem tem a seu cargo a manutenção dos monumentos nacionais!

Todos os reis de Portugal, como grão-mestres da Ordem, contribuíram para aquela portentosa edificação; mas desde o tempo de D. João I, em que a arquitectura mais se aperfeiçoou entre nós, fizeram-se ali obras notáveis, onde se admiram construções de estilo anterior ao gótico, muitas do manuelino, e não poucas do que floresceu no tempo dos Filipes, a quem se deve a do famoso claustro chamado da Procissão do Corpo de Deus, em retribuição do muito que os freires da Ordem o ajudaram a nos tornar cativos.

A mais bela e brilhante amostra do estilo de D. Manuel, em Tomar, é a janela da casa do capítulo, que fica debaixo do coro da igreja, em frente do claustro de Santa Bárbara.

Nesta casa capitular se reuniram, a 16 de Abril de 1581, as cortes, ditas de Tomar, para jurarem a Filipe II de Espanha, rei de Portugal, depois da derrota do prior do Crato em Alcântara.

Aí se jurou e prometeu o pérfido monarca 19 capítulos, contendo os foros e regalias que devia conservar a nação portuguesa, os quais em pouco tempo infringiu escandalosamente, apesar de ter afirmado com a mão sobre o Santo Evangelho - que se algum dos seus sucessores os quebrantassem, seriam malditos da maldição de Deus, da Virgem e dos apóstolos da corte celestial.

A nossa estampa é cópia da casa do capítulo, mandada edificar por D. Manuel, mas nunca concluída.

No topo ainda se vê distintamente, o grande nicho ou pavilhão de cantaria lavrada, onde se devia colocar a cadeira do grão-mestre da Ordem, ou trono do soberano, que era o mesmo, porque o rei era sempre o grão-mestre, desde D. Dinis, que depois da extinção da Ordem dos Templários, criou a de Cristo em 1319.

Archivo pittoresco, Volume 3, 1860

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Alto relevo de Cristo Crucificado na Basílica do Convento de Mafra (imagem de 1860)


Alto relevo de Cristo Crucificado na Basílica do Convento de Mafra (imagem de 1860)

História: Urzela (imagem de 1860)




Urzela

(imagem de 1860)

Segundo o botânico Félix de Avelar Branco: «A urzela é uma planta criptogamica imperfeita, a que os portugueses deram este nome, os espanhóis o de orselle ou orcilla, os franceses o de orseille, do italiano roccella, querendo indicar uma planta de cor roxa. (...)

A verdadeira urzela, em vez de raiz tem um apoio nodoso aplanado, orbicular, e raramente uns fios mínimos, com os quais e com a sua base se agarra às pedras. Do seu apoio ou base nodosa, sobressaem hastes em feixe, levantadas, roliças e pouco ramosas, de uma a três polegadas de altura, e tanto elas como os ramos são de cor cinzenta-alvadia, e terminam em pontas agudas.

Esta planta é inodora, tem um sabor um pouco salgado e por fim levemente acre.

Nasce naturalmente, sem cultura nem amanho, nos píncaros e rochedos à beira mar das nossas Berlengas, da Provence e Languedoc, ilhas da Córsega, Elba e Sicília; nas da Berberia, nas ilhas de Cabo-Verde e outras nossas de África, nos Açores, Canárias, etc.»

A urzela tem muita utilidade na tinturaria por produzir uma viva cor púrpura. Serve não só para a tinturaria, mas também para a pintura, para dar cor aos mármores, vinhos, licores, etc.

A urzela, desde há muito conhecida nas Canárias, só em 1730 foi encontrada nas nossas possessões africanas.

Um negociante de Tenerife, à vista de uma amostra deste musgo que lhe foi enviada da ilha Brava (Cabo-Verde), mandaram uma embarcação com alguns urzeleiros àquela ilha, onde carregaram 500 quintais, dando de luvas ao capitão-mor, pela licença, uma pataca por quintal.

Os jesuítas, sabendo disto, e conhecendo o valor comercial desta planta, requereram ao rei D. João V privilégio exclusivo para apanhar e exportar aquela ervinha seca, querendo inculcar por este humilde nome, que era planta de pouca valia.

Mas o rei já estava bem informado, e em vez de dar o privilégio aos padres, tomou-a para si, proibindo a apanha da urzela e dado-a por arrematação a um negociante holandês estabelecido em Lisboa. Em 1750 arrematou-a um português, José Gomes da Silva Candeias, que lhe deu grande incremento, até que passou para a administração da companhia do Grão-Pará e Maranhão, que fraudou grandemente o estado, em virtude do que passou a ser administrada por conta do governo em 1750.

Prosperou muito por esse tempo, a ponto de em 1820 e 1840, o seu rendimento líquido para o tesouro ter subido de 80 para 100 contos de réis.

O decreto de 17 de Janeiro de 1837, que declarou livre a exportação da urzela das províncias de Angola, Moçambique, S. Tomé e Príncipe, ainda que não fosse tão boa como a de Cabo-Verde, fez-lhe perniciosa concorrência, pelo que os arrematantes largaram o contrato.

A 5 de Junho de 1844, promulgou-se outro decreto, declarando o comércio das plantas conhecidas com o nome de urzela, ficava, em todas as províncias portuguesas de África, exclusivamente reservada ao governo, o qual o poderia dar por contrato, se fosse conveniente, gozando os contratantes de todos os privilégios concedidos aos arrematantes da fazenda pública.

Archivo pittoresco, Volume 3

Pescadores de Ílhavo em Lisboa (imagem de 1860)




Pescadores de Ílhavo em Lisboa (imagem de 1860)

Todos sabemos que durante os meses da pesca, grande parte da povoação marítima de Ílhavo vai lançar as redes por essas costas de Portugal, e que para Lisboa vem muitas companhas. As praias, desde a torre de Belém até Paço d Arcos, são a paragem onde mais se encontram homens e mulheres dessa tribo, que constitui um tipo individual no nosso país.

(...)

O velho ovarino, que passava a maior parte das noites fora da barra na pescaria, desforrava- se ao jantar em galhofar com os bisnetos, os quais, logo que ouviam as badaladas, iam-no, esperar mais a mãe, que igualmente a essa hora recolhia da venda com a sua canastra, que era também, quando já vazia do peixe, berço do filhinho que andava criando.

(...)

Como aquela gente, sem eira nem beira, sempre fora de casa agenciando a vida, cria os filhos trazendo-os constantemente, ora nos braços, ora ao peito ora á cabeça, sem cansaço, sem enfado, alegre e risonhamente, pareceria coisa fabulosa, se não soubéssemos que o amor de mãe obra prodígios, e vence todos os outros amores, até o da gloria.

O sr. Anunciação é verdadeiro em todas as suas copias do natural. Nesta varina, ou ovarina, se vê. Aqueles desvelos e carinho pela filha, embalada em humilde canastra, não são inferiores aos que pôde desfrutar a infância opulenta, acalentada por amas e aias em berços cortinados.

Esta pintura sobre ter o mérito de representar os trajos graciosos daquela povoação marítima, é de mui correcto desenho, e de exacta perspectiva, como tem todos os quadros do sr. Anunciação, paisagista já admirável, e que tem diante de si um largo futuro, se lhe proporcionarem os meios de fazer uma viagem fora do reino, onde o seu talento poderá tomar altíssimos voos.

Archivo pittoresco, Volume 3, 1860

 

Estátua de S. Jerónimo na Basílica do Convento de Mafra (imagem de 1860)




Estátua de S. Jerónimo na Basílica do Convento de Mafra (imagem de 1860)

Distribuídas pela fachada, vestíbulo e capelas da Basílica de Mafra, há 58 estátuas colossais de mármore, representando os santos fundadores de ordens religiosas.

A de S. Jerónimo é a primeira da capela do Santo Cristo, a qual fica da parte do evangelho, entrando-se pela porta principal. Nesta capela estão, de ambos os lados, nos seus nichos, as estátuas dos quatro doutores da igreja - S. Gregório, Santo Agostinho, Santo Ambrósio e S. Jerónimo.

Archivo pittoresco, Volume 3, 1860


História: O TRAPEIRO DE LISBOA (imagem de 1860)




O TRAPEIRO DE LISBOA

Muita gente cuida que na vasta cadeia social, os social trapeiros constituem uma família mui diminuta, e que tais são simplesmente os que, como o da nossa estampa, limpam às ruas os monturos e os barris do lixo, dos trapos e outros resíduos. .

É um engano.

Toda a sociedade é uma família interminável de trapeiros, dividida em diversas espécies a saber:

A dos trapeiros apurados ou por excelência - janotas

Idem aveludados - burgueses

Idem ensebados - pobres

Idem esfarrapados - mendigos

O trapeiro é, pois, o ente de mais triste figura que a natureza criou, e o maior desordeiro conhecido na politica do asseio.


E que o trapeiro tem alguma cousa de repugnante fantasia, e de alheio ao aspecto e viver dos seres organizados, para infundir terror aos próprios cães, que mesmo a dormir dão por ele a longa distancia; e que o trapeiro é a peste das escadas, que por todo o transito das suas industriosas excursões, vai deixando em completo chiqueiro, pelo que se torna o flagelo e o pesadelo dos moços e criadas de servir.

Atravessar em silencio, um palmo que seja, de rua, é-lhe tão impossível como cativar as simpatias destes indivíduos, que hão de ser sempre seus eternos e acirrados inimigos.

Nogueira da Silva

Archivo pittoresco, Volume 3, 1860


quinta-feira, 10 de novembro de 2011

História de Peniche e imagem de 1860 do antigo brasão


História de Peniche e imagem de 1860 do antigo brasão


A VILA E PRAÇA DE PENICHE

Na costa da provincia da Estremadura, doze léguas ao noroeste de Lisboa, está edificada a vila e praça de guerra de Peniche. Ergue-se sobre rochas, na extremidade de uma pequena península que o oceano, no preamar das águas vivas, quase reduz ás condições de ilha. E parece fora de duvida, que era uma ilha há mil e novecentos anos e que nela se abrigaram os herminios, fugindo da serra da Estrela, onde habitavam, acossados pelas armas triunfantes de Júlio César.

Mantiveram-se firmes por um mês naquele inóspito lugar, que o mar e os rochedos defendiam. Mas afinal, apertados da fome, tiveram de render-se ao inimigo; Júlio César, contentando-se de sujeitar ao domínio de Roma os indomitos lusitanos, foi clemente e benigno com os vencidos. Segundo alguns autores, ficando na ilha todos, ou a maior parte dos herminios, aí deram principio á povoação que ao diante, vindo a unir-se a ilha ao continente por uma restinga de areia, se chamou Península, do que se derivou por corrupção o nome de Peniche.

Porém, conforme a opinião de outros escritores, os herminios voltaram para os seus antigos lares e a origem de Peniche é coeva com a fundação da monarquia ou pouco anterior. Seguindo o parecer destes, os primeiros povoadores de Peniche foram, ainda antes da vinda do conde D. Henrique a Portugal, os moradores da vizinha vila de Atouguia da Baleia que, atraídos da comodidade que o sitio oferecia para a pesca, aí começaram a construir cabanas.

D. Afonso Henriques foi auxiliado na conquista de Lisboa, como é sabido, por uma armada de cruzados que, nessa ocasião demandara o Tejo. Nas doações que fez de diversas terras, em recompensa daquele serviço, aos cruzados que quisessem ficar no país, coube aos irmãos D. Roberto e D. Guilherme Lacorne o território da Atouguia da Baleia e de Peniche. A estes estrangeiros deveram, pois, aquelas duas terras, senão a sua fundação, pelo menos um grande impulso na sua povoação e edificação.

Até ao fim do século XV a pesca era o emprego exclusivo dos seus moradores e emprego mui lucrativo, pela abundância e infinita variedade de peixes que frequentam aquela costa. Porém quando D. Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral, devassando novos mares, franquearam a Portugal as portas da Índia e do Brasil, aqueles ousados pescadores, pondo a mira em mais elevados lucros, armaram navios de alto mar e lá foram enriquecer-se e mais á sua terra natal no comercio desses novos e riquíssimos países.

Por este modo viu o século XVI engrandecer-se Peniche, até contar mais de mil fogos e de cinco mil habitantes. As humildes cabanas dos pescadores foram-se transformando em boas moradas de casas e as acanhadas ermidas em templos mais grandiosos.

Em 1609, D. Filipe III de Espanha, que então governava em Portugal, deferindo á suplica dos moradores e donatários de Peniche, que era o conde de Atouguia, D. João Gonçalves de Ataide, elevou esta povoação à categoria de vila.

El rei D. João III, que foi o primeiro dos nossos soberanos que principiou a fortificar a barra de Lisboa, foi também o primeiro que, reconhecendo a importância de Peniche para a defensa marítima do reino, aí mandou construir um reduto. E tal é a fortaleza natural desta posição que, ajudada apenas deste reduto, resistiu ao exercito inglês que ali desembarcou em 22 de Maio de 1589, para fazer valer a pretensão de D. António, prior do Crato, ao trono usurpado por Filipe II de Castela.

Logo depois da expulsão dos espanhóis e da aclamação de D. João IV, determinou este monarca fazer de Peniche uma praça de guerra. As novas obras de fortificação foram dirigidas pelo conde de de Atouguia, D. Jerónimo de Ataide. Estas foram ainda acrescentadas e melhoradas em 1809 e 1810, por ocasião da defensa do reino contra as invasões francesas.

Em 1671 mandou el rei D. Pedro II executar alguns trabalhos, com que se melhorou o porto Peniche.

El rei D. João V e D. João VI, sendo regente, honraram esta vila com a sua visita. O segundo aí passou oito dias, em 1806. Residiu no palácio dos governadores da praça.

As diversas causas que produziram a decadência do nosso comercio, actuando do mesmo modo sobre a vila de Peniche, foram empobrecendo a terra e reduzindo-a outra vez aos recursos da pesca e aos limitados produtos da sua industria agrícola e manufactora, reduziram também os seus moradores ao numero de três mil e trezentos, que ao presente encerra.

A vila está assentada parte em lugar plano, parte em terreno um pouco elevado. Tanto as ruas como as casas têm uma certa regularidade.

Dividem-se os moradores por três paroquias que se intitulam: Nossa Senhora da Ajuda, Nossa Senhora da Conceição e S. Pedro. Este ultimo templo é o maior e melhor. Duas fileiras de colunas de ordem toscana dividem a igreja em três naves. A igreja da Misericordia é notável pelo seu magnifico tecto, onde se vêem cinquenta e cinco quadros pintados a óleo em pano e representando os principais sucessos do Novo Testamento. A maior parte destes quadros são obra de Josefa de Ayala, aquela insigne pintora que tanta celebridade adquiriu sob o nome popular de Josefa de Óbidos, sua pátria.

Além da casa e hospital da Misericórdia há outro estabelecimento pio, criado em 1505 pelos marítimos, que o administram. É destinado a socorrer as viúvas e filhas destes. Intitula- se Casa ou capela do Corpo Santo.

Os outros templos da vila são: a bonita capela de Santa Barbara, que é o orago

Peniche é praça de guerra de primeira ordem e como tal tem guarnição de artilheiros e um destacamento de infantaria e costuma ser governada por um general. As fortificações, além da muralha que cerca toda a vila, compõem-se de seis baluartes, o forte da Luz, na extremidade do norte que domina o mar e o istmo e a cidadela, que se ergue na extremidade do sul, dominando também o porto, a esplanada e a própria praça. Na costa vizinha há de um e outro lado pontos fortificados. Na cidadela está o palácio do governador, quartéis, etc.

Esta pequena península forma duas enseadas, a do norte com pouco fundo e a do sul com suficiente profundidade para surgidouro de navios de pouca lotação, que aí acham abrigo contra as nortadas. Duas léguas para oeste do cabo de Peniche, estão as ilhas Berlengas.

Os subúrbios de Peniche são áridos, como é toda a costa da Estremadura. O istmo, que liga a península ao continente, é uma extensa praia de quatrocentas braças de norte a sul. O terreno da península, junto á vila, é cultivado e produz cereais, legumes, frutas e vinho, sendo este ultimo antes da moléstia das vinhas o seu principal produto.

Nas vizinhanças da vila encontram-se varias ermidas, o farol do Cabo de Carvoeiro e o edifício arruinado do convento do Bom Jesus, fundação de 1452, que foi de franciscanos, onde está o sepulcro do fundador, o ilustre vice rei da Índia, D. Luís de Ataide.

Fabricam-se em Peniche óptimas rendas, que exporta para as principais terras do reino.  As pescarias constituem o mais importante ramo do comercio desta povoação. Dão emprego a muitos barcos e braços e atraem á vila muita gente de longe e avultadas somas.

A vila de Peniche pertence á comarca das Caldas da Rainha e ao distrito administrativo de Leiria. Tem por brasão de armas uma caravela com S. Pedro e S. Paulo, um na proa e o outro na ré, sobre mar azul com ondas de prata.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa

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Pelo Censos 2011 Peniche conta com 27 630 habitantes


Freguesias de Peniche

Ajuda, Atouguia da Baleia, Ferrel, São Pedro, Serra d'El-Rei, Conceição 

História de Penela e imagem de 1860 do antigo brasão




História de Penela e imagem de 1860 do antigo brasão

A VILA DE PENELA

Está situada em terreno elevado, na província da Beira Baixa, distrito administrativo de Coimbra, em distancia de umas quatro léguas da cidade de Coimbra.

Atribui-se a sua fundação ao conde D. Sisnando, quando era governador daquela cidade, pelos anos de 1080; e dizem que começara por construir o castelo que ainda ali se vê, posto que em ruínas. Tempos depois caiu a povoação e fortaleza em poder dos moiros. Foi resgatada por el rei D. Afonso Henriques, porém ficou arruinada e despovoada por causa da tenaz resistência que opôs ao vencedor.

Todo absorvido na gigantesca empresa de libertar o país do jugo sarraceno, aquele soberano legou a seu filho o cuidado de reparar os estragos de Penela. Em 1187 mandou pois D. Sancho I restaurar os edifícios e povoar de novo a terra. O seu foral de vila foi- lhe dado por el rei D. Afonso II.

Em 1471 fez conde de Penela el rei D. Afonso V a seu sobrinho, D. Afonso de Vasconcelos e Menezes, bisneto do infante D. João, que era filho de el rei D. Pedro I e de D. Inês de Castro. Extinguiu-se este titulo por morte do segundo conde, D. João de Vasconcelos, filho do primeiro.

Lograva esta vila desde os primeiros tempos da monarquia a prerogativa de enviar ás cortes os seus procuradores, que tomavam assento no banco de cimo sexto. As suas armas são, em campo azul, três torres de prata, duas colocadas na parte superior do escudo e uma em baixo.

Tem uma única paroquia, da invocação de Nossa Senhora do Pranto, casa da Misericordia e hospital. Conta perto de três mil habitantes.

O termo é fértil. Consistem as suas principais produções em cereais, castanha e outras frutas, algum vinho e linho.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa

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Pelo Censos 2011 Penela conta com 5980 habitantes

Freguesias de Penela

Cumieira, Espinhal, Podentes, Rabaçal, Santa Eufémia, São Miguel 

História de Penamacor e imagem de 1860 do antigo brasão



História de Penamacor e imagem de 1860 do antigo brasão

A VILA DE PENAMACOR


Sentada num cabeço penhascoso, na província da Beira Baixa, distrito administrativo de Castelo Branco, a vila de Penamacor dista nove léguas nordeste da cidade capital do distrito e pouco de duas da fronteira da Estremadura Espanhola.

Fundou-a el rei D. Sancho I e deu-lhe foral pelos anos de 1189. Tinha voto nas antigas cortes, sentando se os seus procuradores no banco décimo primeiro. As suas armas são: em campo vermelho, uma espada e uma chave e, no meio delas, crescentes contrapostos.

El rei D. Afonso V fez conde de Penamacor a D. Lopo de Albuquerque. A rainha, senhora D. Maria II, renovou este titulo em 1844, na pessoa do senhor António de Saldanha Albuquerque Ribafria, descendente do conde D. Lopo e do ilustre vice rei da Índia D. João de Castro.

É esta vila praça de armas. As suas fortificações são irregulares, por causa dos acidentes do terreno. As que existem, foram feitas por ocasião da guerra da restauração de 1640. Compõem-se de cinco baluartes e três meios baluartes. No sitio mais alto, para o lado do sul, levanta-se o velho Castelo edificado sobre fragas e dominando toda a praça e terrenos vizinhos. Atribui-se a sua fundação a D. Gualdim Pais, mestre dos Templários, algum tempo antes que D. Sancho I fundasse a vila.

Tem esta três paroquias, intituladas Santa Maria, S. Pedro e Santiago, casa da Misericordia, hospital e varias ermidas. Fora dos muros, para o lado do ocidente, está o edifício do extinto convento de frades capuchos.

Fazem-se nesta vila três feiras anuais; a primeira a 28 de Agosto, a segunda a 21 de Setembro e a ultima a 30 de Novembro.

O terreno produz cereais, pela maior parte centeio,o legumes, vinho, azeite, linho, cera e mel. Cria algum gado e abunda em caça, principalmente a serra do Salvador, que é afamada pela grande quantidade de coelhos, lebres e perdizes que nela se encontram.

A vila de Penamacor encerra uns três mil habitantes.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelo Censos 2011 Penamacor conta com 5652 habitantes

Freguesias de Penamacor 

Águas, Aldeia de João Pires, Aldeia do Bispo, Aranhas, Bemposta, Benquerença, Meimão, Meimoa, Pedrógão de São Pedro, anteriormente apenas Pedrógão, Penamacor, Salvador, Vale da Senhora da Póvoa

História de Penafiel e imagem de 1860 do antigo brasão



História de Penafiel e imagem de 1860 do antigo brasão

A CIDADE DE PENAFIEL

Está situada a cidade de Penafiel na encosta de um monte, a seis léguas do Porto, dominando um formoso vale de duas léguas de extensão. Fazia parte, outrora, da antiga província de Entre Douro e Minho. Pela divisão do reino decretada em 1834, ficou pertencendo á província do Douro e, pela moderna divisão administrativa, pertence ao distrito do Porto e é cabeça de comarca.

Conta-se que, no ano de 850, achando se o nosso país sob o domínio dos moiros, um cavaleiro cristão chamado D. Faião Soares, descendente dos godos e tronco da ilustre família dos Sousas, fundara, com beneplácito dos dominadores, uma povoação a pouca distancia do rio Sousa, á qual deu o nome de Arrifana de Sousa.

O Bispado de Penafiel

Este lugar veio mais tarde a ser cabeça do concelho de Penafiel. Erigiu-o em vila el rei D. João V, no ano de 1741. Seu filho, el rei D. José, elevou-a á categoria de cidade em 1770, mudando- lhe o nome no de Penafiel, ao mesmo tempo que alcançou do papa Clemente XIV a criação de um novo bispado, cuja sede colocou na nova cidade. Por morte deste ilustrado soberano, os ódios que perseguiram o grande marquês de Pombal e que pretenderam anular a maior parte dos actos do seu governo, não pouparam o bispado de Penafiel. O seu primeiro e único bispo, que era confessor da rainha D. Maria I e que governara o bispado durante oito anos, renunciou à sua mitra e esta diocese foi outra vez incorporada no bispado do Porto, por bula do papa Pio VI, de Dezembro de 1778.

Penafiel é uma pequena cidade de três mil almas, quase toda edificada ao longo de uma comprida rua, por onde passa a bela estrada macdamisada que do Porto conduz a Amarante, á Régua e Vila Real.

A industria dos seus habitantes e a fertilidade dos terrenos que a cercam, lutaram debalde por muito tempo contra os estorvos que ao seu desenvolvimento opunha a falta de boas estradas. Hoje, porém, que se acha em fáceis comunicações com uma parte da província de Trás os Montes, com a principal povoação e porto do país vinhateiro do Douro e, enfim, com o grande centro comercial da cidade do Porto, pode considerar-se em caminho de prosperidade.

Tem esta cidade uma só paroquia, dedicada a S. Martinho. É um templo de três naves, edificado no meio da povoação no ano de 1570. A igreja da Misericórdia, fundada no Rossio das Chãs pelo abade de Ermelo, Amaro Moreira, é um bom templo de três naves. Serviu de sé durante os oito anos que a cidade logrou a preeminencia de sede episcopal.

De entre as diversas ermidas que possui Penafiel, citaremos a do Senhor do Hospital e a de Nossa Senhora da Piedade. A primeira, porque nela teve principio, em 1509, a humanitária confraria da Misericórdia daquela terra e porque se venera, no seu altar, um crucifixo que um chamado João Correia trouxe de Inglaterra, quando Henrique VIII, tendo mudado a religião do estado, perseguia os católicos e mandava queimar as imagens dos santos; a segunda, porque a imagem de Nossa Senhora da Piedade tem a mesma procedência.

Havia dois conventos hoje ambos extintos, um de frades capuchos, fundado em 1666 e o outro de recolhidas, intitulado de Nossa Senhora da Conceição, o qual se construiu no Rossio das Chãs no começo do século passado (18). Neste mesmo rossio está a casa das audiências do juiz de direito e cartórios dos escrivães. É o principal edifício publico. Tem esta cidade um hospital, sofríveis hospedarias e algumas casas particulares de boa aparência.

Os arrabaldes são muito agradáveis e bem cultivados, principalmente o delicioso vale por onde corre o rio Sousa, que passa a uma légua da cidade e vai entrar no Douro, duas léguas acima do Porto. Existem neles dois monumentos de antigas eras, dignos de menção e de serem vistos. Um é o celebre convento de Paço de Sousa, distante de Penafiel uma légua. O outro é conhecido pelo nome popular de Marmoiral.

O convento está situado junto ao rio Sousa, em lugar baixo. Fundou-o D. Truicrozendo Juedes pelos anos de 956 e aumentou-o seu neto Egas Moniz, o dedicado aio de D. Afonso Henriques. De tão remota época parece que apenas existe o túmulo deste herói. Todavia a igreja é um curioso espécimen da arquitectura gótica. Pertenceu este mosteiro á ordem beneditina.

O Marmoiral ergue-se numa bouça, ao norte da estrada que vai do lugar da Ermida para o da Cadeada. É um arco de quinze palmos de altura, de forma ogival, elevado sobre quatro degraus e coroado de uma cimalha com seus lavores, a qual se acha um pouco arruinada. Consta de um documento de 1152, que é o túmulo de um cavaleiro chamado D. Souzino Álvares. O nome que o vulgo dá a este monumento é provavelmente corrupção da palavra memorial. Ao que parece houve ali próximo deste mausoléu um castelo, denominado de Bugefa, do qual D. Souzino talvez seria o alcaide ou senhor.

Em distancia de uma pequena légua de Penafiel, para o norte, vê-se também o edifício do antiquíssimo mosteiro de S. Miguel de Bustelo, que foi igualmente de beneditinos.

As principais produções do termo são milho grosso e miúdo, trigo, cevada, centeio, azeite, vinho verde, linho, castanha e outras frutas. Cria-se nele muito gado de diversas espécies e caça.

A 11 de Novembro começa a feira anual de Penafiel, que é uma das mais concorridas do nosso país, tanto de gente como de produtos agrícolas e de industria. Faz-se ali muito comercio em gado, principalmente cavalar.

Tem esta cidade por armas um escudo com coroa e nele duas espadas e uma águia coroada. Dizem que este brasão lhe foi dado pelo seu primeiro fundador.

Penafiel está ligada com o Porto, Amarante e Régua por meio de carreiras regulares de diligencias. A rainha D. Maria I erigiu esta cidade em condado no ano de 1798, em favor de Manuel José da Matta de Sousa Coutinho. Ao presente é segunda condessa sua filha a ex.ma senhora D .Maria da Assunção.

Esta terra finalmente serviu de berço a muitos homens distintos nas armas, na magistratura e no magistério da universidade de Coimbra.


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Pelo Censos 2011 Penafiel conta com 72 258 habitantes

Freguesias de Penafiel 

Abragão, Boelhe, Bustelo, Cabeça Santa, Canelas, Capela, Castelões, Croca, Duas Igrejas, Eja, Figueira, Fonte Arcada, Galegos, Guilhufe, Irivo, Lagares, Luzim, Marecos, Milhundos, Novelas, Oldrões, Paço de Sousa, São Miguel Paredes, Penafiel, Perozelo, Pinheiro, Portela, Rans, Rio de Moinhos, Rio Mau, Santa Marta, Santiago de Subarrifana, São Mamede de Recezinhos, São Martinho de Recezinhos, Sebolido, Urrô, Valpedre, Vila Cova 

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

História de Pedrógão Grande e imagem de 1860 do antigo brasão



História de Pedrógão Grande e imagem de 1860 do antigo brasão

A VILA DE PEDRÓGÃO GRANDE

Está situada esta vila no cume de uma alta serra, cuja raiz banham os rios Zêzere e Pera, na província da Estremadura, distrito administrativo de Leiria, a oito léguas noroeste da cidade de Tomar.

Diz a Corograpgia Portugueza, que foi fundada pelos Petronios romanos e que disto se acham memorias. O mesmo autor julga ver uma prova desta opinião no escudo das armas da vila, que são uma águia olhando para o sol e por baixo o rio Zêzere. É sabido que a águia era a insígnia do império romano.

Seja ou não verdadeira esta noticia, o que é certo é que esta terra já existia no domínio dos árabes, que se arruinou e despovoou durante as guerras travadas entre os cristãos e os infiéis e que el rei D. Afonso Henriques a mandou reconstruir e povoar de novo no ano de 1176. D. Pedro Afonso, filho natural daquele monarca, deu-lhe foral que ao diante foi confirmado e ampliado por el rei D. Afonso III. O senhorio desta vila andava na casa dos condes de Redondo.

Enquanto a corte teve o seu assento na cidade Coimbra, vinham muitas vezes os nossos Reis á vila de Pedrogão Grande recrear-se na caça, em que abundam aqueles sítios.

Há na vila uma paroquia consagrada a Santa Maria, igreja da Misericordia, hospital e sete ermidas.

As cercanias da vila são agradáveis e mui pitorescas, pelos arvoredos e penedias que guarnecem as encostas da serra, pelos amenos vales por onde correm os rios Zêzere e Pera, que fazem um quase cerco á montanha e, enfim, pela grande quantidade de fontes que nelas há, as quais não são menos, segundo dizem, de duzentas.

A um quarto de légua da vila está o edifício do extinto convento de Nossa Senhora da Luz, que foi de frades dominicos. Está edificado na parte mais íngreme e escabrosa do dorso da serra, entre fragas e arvoredos que parecem dependurados e prestes a despenharem-se sobre o Zêzere, que aí rola as suas águas por cima de rochas com medonho sussurro. Foi fundado o convento em 1476.

O termo é de muita fertilidade e produz todo o género de frutos, que mais geralmente se cultivam em o nosso país. É terra de muito gado e como acima dissemos, mimosa em infinita variedade de caça. O Zêzere fornece-a de algum peixe.

Pedrogão Grande possui uma vasta forja de ferro, que se extrai de uma mina próxima. A sua população é de duas mil e setecentas almas.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos de 2011 Pedrógão Grande conta com 3916 habitantes

Freguesias de Pedrógão Grande 

Graça, Pedrógão Grande, Vila Facaia 

História de Panóias (Ourique) e imagem de 1860 do antigo brasão



História de Panóias (Ourique) e imagem de 1860 do antigo brasão

A VILA DE PANÓIAS


Esta pequena mas antiga povoação está situada na província do Alentejo, distrito administrativo de Beja. Dista duas léguas noroeste da vila de Ourique e outras duas sudoeste da vila de Messejana.

Pertenceu Panóias á ordem militar de Santiago; deu-lhe foral el rei D. Manuel, em 10 de Julho de 1512 e tinha voto nas cortes da velha monarquia, com assento no banco décimo quarto. Por esta ultima circunstancia mostra que foi terra de alguma importância. Todavia poucas memorias encontramos desta povoação.

O seu brasão d armas é do modo seguinte. Em campo azul, dois braços de homem cruzados, um vestido de amarelo e o outro de carmesim e com as mãos apontando para cima. Entre os braços está uma cabeça humana de barbas e cabelos loiros, que parece ser a de Jesus Cristo. Acha-se assim pintado este brasão na Torre do Tombo. Não nos consta, porém, que venha descrito e explicado em obra alguma; pelo menos tendo o procurado nos autores que mais particularmente se deram ao estudo das antiguidades pátrias não achamos noticias a seu respeito.

A vila de Panóias, que no começo do século passado (18) tinha duzentos e sessenta fogos, apenas contava, em 1820, cento noventa e oito, com uns setecentos e setenta habitantes. Supomos que este é, com pouca diferença, o seu estado actual. Tem uma única paroquia da invocação de Santa Maria.

A meia légua da vila, para o lado ocidental, está um templo de muita antiguidade, dedicado a S. Romão, que nasceu em França e faleceu num convento que fundou e que foi o primeiro que houve em Portugal, de que existem ainda alguns vestígios no meio de charnecas, a três léguas da vila de Mértola. Na igreja matriz de Panóias, venera-se a cabeça deste santo, em relicário de prata e o corpo na referida ermida de S. Romão, onde se lhe faz, no ultimo dia de Fevereiro, uma grande festa, a que concorrem muitas romagens e povos das vilas e aldeias vizinhas.

O termo de Panóias produz em abundância os mesmos frutos que o de Ourique, pois que ambos se estendem pelo celebrado campo que tomou o nome desta ultima vila.


Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Panóias é uma freguesia do concelho de Ourique.
Panóias é vila e foi sede de concelho até 1836, quando foi anexada ao município de Messejana. 

História de Palmela e brasão antigo


História de Palmela - imagens do século 19 e brasão antigo


A VILA DE PALMELA


Sobre um dos mais altos cabeços da cordilheira que se estende entre o Tejo e o Sado até formar o Cabo do Espichel, ergue-se o castelo de Palmela. Junto á velha fortaleza, no declive do monte, para o lado do norte, está edificada a vila do mesmo nome, em território da província da Estremadura, distrito administrativo de Lisboa. Dista cinco léguas da capital e uma de Setúbal.

O autor da Corographia Portugueza pretende que esta povoação fora fundada pelos celtas e pelos sarrios, trezentos e dez anos antes da era cristã e que, cento e seis anos depois do nascimento de Cristo, a reedificara Aulo Cornelio Palma, governador romano na Lusitânia, pondo-lhe então o nome de Palmela, derivado do seu. Todavia pode-se dizer que a historia de Palmela, até ao tempo de ser conquistada aos moiros pelo nosso primeiro rei, é desconhecida, ou pelo menos muito duvidosa.

Achando se pois sob o domínio dos árabes, conquistou-a D. Afonso Henriques, no ano de 1147. Tendo caído outra vez em poder dos sarracenos foi novamente tomada por aquele monarca em 1165, o qual cuidou então em melhor assegurara sua posse, reconstruindo o castelo, cuja defensa entregou á ordem dos cavaleiros de Santiago e povoando de novo a vila. Seu filho, el rei D. Sancho I, prosseguindo no mesmo empenho tratou, em 1205, de melhorar a fortaleza e aumentar a povoação.

Gozava de voto em cortes, sentando-se os seus procuradores no banco décimo terceiro.

O brasão de armas, que se vê na estampa junta, é copiado do que está na Torre do Tombo. Entretanto achamo-lo descrito por alguns escritores do modo seguinte. Em campo vermelho, um braço de homem sustentando uma palma, entre dois castelos; a cada lado do escudo, o habito de Santiago e por timbre as quinas reais de Portugal.


O castelo ocupa a coroa do monte. Ignora-se a época da sua fundação, mas sabe-se que tem diversas reconstruções. No seu recinto estão o convento, que foi dos freires de Santiago e a matriz de Santa Maria. O convento data dos primeiros tempos da monarquia, mas tem passado por muitas reedificações que lhe têm alterado sua primitiva arquitectura. Até á extinção das ordens religiosas, em 1834, era a cabeça da ordem militar de Santiago.


Do castelo goza se um ponto de vista admirável. Para o lado do norte descobre-se Lisboa, com os seus extensos arrabaldes; as serras de Sintra, de Montachique, de Bucelas e Montejunto, com todo o país entremedio; o Tejo, desde a barra até Santarém e uma infinidade de vilas e aldeias. Para o lado do sul vê-se Setúbal rodeada de pomares de laranja; o Sado desde a sua foz até a uma grande distancia do seu curso; e o oceano sem fim, onde os olhos se cansam e perdem.

Na vila acham-se a igreja paroquial de S. Pedro, a da Misericordia, o hospital e cinco ermidas. Nos arredores há outras capelas. Contém esta povoação mais de três mil habitantes. Posto que esteja assentada na encosta da montanha tem algumas ruas com pouco declive.

Os subúrbios não são bonitos, por serem terrenos pouco arborizados e íngremes. As principais produções do termo consistem em vinho, azeite, frutas, alguns cereais, mel, caça e algum gado.

 A pouca distancia da vila passa o caminho ferro de Setúbal.

Palmela tem uma feira anual a 8 de Dezembro e mercado no segundo domingo de cada mês. É considerada praça de guerra e governada por um major.

 Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos de 2011 Palmela conta com 62 549 habitantes

Freguesias de Palmela

Marateca, Palmela, Pinhal Novo, Poceirão, Quinta do Anjo


História de Ourique e imagem de 1860 do antigo brasão




História de Ourique e imagem de 1860 do antigo brasão

A VILA DE OURIQUE

Na extremidade meridional da província do Alentejo, distrito administrativo de Beja, a sete léguas e meia sudoeste da cidade de Beja e outras tantas oeste da vila de Mértola, acha-se a vila de Ourique, edificada sobre uma pequena elevação.

Não consta a época da sua fundação. Apenas se sabe que el rei D. Dinis lhe deu foral a 8 de Janeiro de 1290, estando na cidade de Beja.

Junto da vila estende-se um vasto campo, célebre na nossa historia com o nome de Campo de Ourique. Foi aí que teve principio a monarquia portuguesa. Entranhando-se o jovem infante D. Afonso Henriques pela província do Alentejo, em busca de infiéis para combater, saíram-lhe ao encontro nos plainos de Ourique o rei moiro Ismar e mais quatro régulos, seguidos de um poderoso exercito. Apesar da imensa desigualdade das forças, pois que os portugueses, a par dos moiros, apenas eram um punhado de valentes, travou- se a peleja no dia 25 de Julho de 1139. Este mesmo dia presenciou o destroço completo dos sarracenos, com a morte dos cinco régulos e a aclamação de D. Afonso Henriques, primeiro rei de Portugal, pelos seus soldados ébrios de gloria e maravilhados do valor e coragem do moço infante.

Este insigne feito e memorável sucesso esteve por muitos séculos sem um padrão que o comemorasse, além da tradição popular e das memorias escritas, até que a rainha D. Maria I mandou elevar naquele sitio uma pirâmide de mármore, com uma inscrição que refere o acontecimento.

A vila de Ourique tinha voto nas antigas cortes com assento no banco décimo quinto. O seu brasão de armas é, em campo vermelho, um guerreiro com armadura e elmo, com o braço direito levantado e empunhando a espada, montado num cavalo, sobre terra firme; e na parte superior do escudo, uma torre em cada ângulo, tendo por cima uma o crescente e a outra uma estrela, tudo prata.

Esta vila é cabeça de comarca. Conta uma só paroquia dedicada a S. Salvador, que pertencia outrora, juntamente com o senhorio dr Ourique, á ordem militar de Santiago, que tanto ajudou os nossos primeiros Reis a expulsar os moiros de Portugal. Tem casa de Misericordia, hospital, as ermidas de S. Sebastião, S. Luís, N. Senhora do Castelo, S. Brás, S. Lourenço e Nossa Senhora da Cola e um castelo.

Nos subúrbios passam as ribeiras de Cobres e Tergis que, depois de se unirem, vão lançar-se no Guadiana. Pouco mais distante, mas ainda no termo vila, tem o seu nascimento o rio de S. Romão, que vai entrar no rio Sado em Porto de Rei. Segundo refere a tradição, as águas daquelas ribeiras correram até ao Guadiana tintas de sangue sarraceno, no dia da batalha de Ourique.

O termo possui bons terrenos, em que se cultivam cereais, frutas, alguns olivais e vinhas. Há nele alguma criação de gado e muita caça.

A vila de Ourique encerra uma população de duas mil e quatrocentas almas. A 29 de Setembro tem a sua feira anual. Sobre as ribeiras de Cobres e Tergis está em construção uma bela ponte de cantaria.


Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelos Censos 2011 Ourique conta com 5387 habitantes

Freguesias de Ourique 

Conceição, Garvão, Ourique, Panóias, Santa Luzia, Santana da Serra 

História de Ourém e uma bela moura chamada Fátima (Imagem do brasão de 1860)


História de Ourém e uma bela moura chamada Fátima (Imagem do brasão de 1860)



VILA DE OURÉM

Sobre um monte mui elevado e por todos os lados de difícil acesso, campeia a nobre vila de Ourém. Pertence á província da Estremadura e ao distrito administrativo de Leiria. Dista da cidade deste nome quatro léguas para éste e três de Tomar para oeste.

Não é conhecida a historia desta vila, anteriormente á monarquia portuguesa. Apenas consta que, nessas eras remotas, se chamava Abdegas. Conquistou-a aos moiros el rei D. Afonso Henriques, pelos anos de 1148 ou 49 e logo depois, por ser um sitio tão defensável por natureza, cuidou de a fortificar de modo que não pudesse cair facilmente outra vez em poder dos infiéis. Dizem as cronicas que, para este fim, a cercara de muros e construíra um forte castelo. Se atendermos porém ao costume que os moiros tinham e que era uma necessidade daqueles, tempos de pôr as suas povoações a coberto de qualquer surpresa dos cristãos, deveremos supor que não se teriam descuidado de fortalecer com muralhas e castelo um ponto como aquele, tão apto para a defensa e, por conseguinte, tão importante numa época em que os sobressaltos da guerra constituíam uma das bases mais constantes do viver dos povos. Cremos, pois, que o conquistador de Ourém não fez mais que reparar ou acrescentar as fortificações que já existiam.

Os amores de Gonçalo Hermiges e da bela moura Fátima

Aquele soberano fez doação desta vila a sua filha, a infanta D. Teresa, que lhe deu foral no ano de 1180. Conta-se que esta mesma infanta, em memoria e honra de uma heroína do seu tempo e talvez amiga sua, lhe mudara o nome de Abdegas pelo de Ouriana, depois corrupto em Ourém. Essa heroína era aquela gentil moira que o esforçado Gonçalo Hermiges, numa correria que fez por terras de infiéis, no ano de 1170, cativara nas vizinhanças de Almada, onde ela vivia. O cavaleiro de Cristo, rendido à formosura e graças da jovem agarena, amou-a com tão puro afecto e cercou-a de tão respeitosas atenções e desvelos, que a moira se rendeu alfim ao amor de Gonçalo, que a desposou e á fé cristã. Deixando o nome de Fátima, recebeu com as águas do baptismo o de Ouriana. Foi curta a felicidade dos dois esposos, porque em breves anos chamou Deus a si a consorte de Gonçalo, mas ainda assim deu-lhe tempo para deixar honrada memoria em feitos de armas, no culto da poesia, na fidelidade e extremos conjugais e em todas as virtudes cristãs. Gonçalo Hermiges, perdendo neste lance fatal a vida da sua vida, resolveu morrer para o mundo e foi-se encerrar na clausura do mosteiro de Alcobaça.

No século XIV foi esta vila erigida em condado por el rei D. Pedro I, a favor de D. João Afonso Tello de Menezes, irmão de D. Leonor Teles da Menezes, que ao diante veio a ser rainha de Portugal, pelo seu casamento com el rei D. Fernando, filho de D. Pedro I.

El rei D. Fernando fez conde de Ourem a João Fernandes Andeiro, o insolente valido da rainha D. Leonor Teles, que o mestre de Avis assassinou nos Paços da Moeda. E quando este príncipe subiu ao trono, com o nome de D João I, galardoou com aquele condado os serviços do ilustre Condestável D. Nuno Álvares Pereira, o qual o renunciou mais tarde em seu neto D. Afonso, primogénito do primeiro duque de Bragança. Desde então andou este titulo na casa de Bragança. Modernamente foi feito barão e depois visconde de Ourem o general Lapa.

El rei D. Pedro II deu novo foral a esta vila, a 6 do Julho de 1695. Tinha voto nas antigas cortes, com assento no banco décimo quarto. O seu brasão de armas consta de uma águia no meio do escudo, entre dois escudos das quinas de Portugal e, sobre este,s de um lado o crescente e do outro uma estrela.

Havia, outrora, na vila quatro paroquias, que foram incorporadas numa única Colegiada, pelo papa Eugénio IV, a instâncias de D. Afonso, marquês de Valença e conde de Ourem, por ocasião da sua ida como embaixador ao concilio de Basileia. Este mesmo príncipe fundou o templo da Colegiada em 1445, consagrando-o a Nossa Senhora da Misericordia. Goza esta Colegiada do titulo de insigne e é servida por varias dignidades e cónegos. Numa capela por baixo do coro, acha.se o rico mausoléu do fundador que, por falecer em vida de seu pai, D. Afonso I, duque de Bragança, filho natural de el rei D. João I, passou a sucessão desta grande casa ao segundo genito, D. Fernando.

Os outros edifícios mais notáveis da vila são a casa da Misericordia, o hospital e três ermidas; o castelo e as muralhas, com duas portas que cercam a povoação e que se conservam com alguma ruína.

Regam os subúrbios quatro ribeiras, que os fazem férteis e aprazíveis. Há neles uma bela quinta, com grandes bosques, chamada da Moita da Vide e o edifício do extinto convento de Santo António, de frades capuchos, fundado em 1602.

Nas vizinhanças de Ourém há ainda outra memoria da consorte de Gonçalo Hermiges. E a invocação de uma igreja paroquial que se intitula Nossa Senhora dos Prazeres de Fátima.

A principal produção do termo consiste em cereais, legumes, azeite, vinho e frutas. Abunda em caça e tem alguma criação de gado.

Ourem encerra uns três mil habitantes. Também é nomeada Vila Nova de Ourem.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos 2011 Ourém conta com 45 887 habitantes

Freguesias de Ourém

Alburitel, Atouguia, Casal dos Bernardos, Caxarias, Cercal, Espite, Fátima, Formigais, Freixianda, GondemariaMisericórdias (Ourém), Olival, Ribeira do Fárrio, Rio de Couros, Seiça, Urqueira