terça-feira, 16 de outubro de 2012

História: O TRAPEIRO DE LISBOA (imagem de 1860)




O TRAPEIRO DE LISBOA

Muita gente cuida que na vasta cadeia social, os social trapeiros constituem uma família mui diminuta, e que tais são simplesmente os que, como o da nossa estampa, limpam às ruas os monturos e os barris do lixo, dos trapos e outros resíduos. .

É um engano.

Toda a sociedade é uma família interminável de trapeiros, dividida em diversas espécies a saber:

A dos trapeiros apurados ou por excelência - janotas

Idem aveludados - burgueses

Idem ensebados - pobres

Idem esfarrapados - mendigos

O trapeiro é, pois, o ente de mais triste figura que a natureza criou, e o maior desordeiro conhecido na politica do asseio.


E que o trapeiro tem alguma cousa de repugnante fantasia, e de alheio ao aspecto e viver dos seres organizados, para infundir terror aos próprios cães, que mesmo a dormir dão por ele a longa distancia; e que o trapeiro é a peste das escadas, que por todo o transito das suas industriosas excursões, vai deixando em completo chiqueiro, pelo que se torna o flagelo e o pesadelo dos moços e criadas de servir.

Atravessar em silencio, um palmo que seja, de rua, é-lhe tão impossível como cativar as simpatias destes indivíduos, que hão de ser sempre seus eternos e acirrados inimigos.

Nogueira da Silva

Archivo pittoresco, Volume 3, 1860


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