O TRAPEIRO DE LISBOA
Muita gente cuida que na vasta cadeia social, os social trapeiros constituem uma família mui diminuta, e que tais são simplesmente os que, como o da nossa estampa, limpam às ruas os monturos e os barris do lixo, dos trapos e outros resíduos. .
É um engano.
Toda a sociedade é uma família interminável de trapeiros, dividida em diversas espécies a saber:
A dos trapeiros apurados ou por excelência - janotas
Idem aveludados - burgueses
Idem ensebados - pobres
Idem esfarrapados - mendigos
O trapeiro é, pois, o ente de mais triste figura que a natureza criou, e o maior desordeiro conhecido na politica do asseio.
E que o trapeiro tem alguma cousa de repugnante fantasia, e de alheio ao aspecto e viver dos seres organizados, para infundir terror aos próprios cães, que mesmo a dormir dão por ele a longa distancia; e que o trapeiro é a peste das escadas, que por todo o transito das suas industriosas excursões, vai deixando em completo chiqueiro, pelo que se torna o flagelo e o pesadelo dos moços e criadas de servir.
Atravessar em silencio, um palmo que seja, de rua, é-lhe tão impossível como cativar as simpatias destes indivíduos, que hão de ser sempre seus eternos e acirrados inimigos.
Nogueira da Silva
Archivo pittoresco, Volume 3, 1860
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