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segunda-feira, 25 de março de 2013
sábado, 23 de março de 2013
Convívio - Évora
Convívio Évora: duas loiraças gostosas, juntas ou separadas; trintona fogosa de clitóris avantajado, massaja próstata; bonecas brincalhonas - uma 20 rosas, as 2 por 30; duas indiazinhas meigas; boazona mais amiga, garganta funda (qual delas?); morena meiga, tudo nas calmas, para cavalheiros de bom gosto (aquela calma alentejana, topas?)
segunda-feira, 16 de abril de 2012
História de Portel e imagem do antigo brasão
História de Portel e imagem do antigo brasão
A VILA DE PORTEL
Na província do Alentejo, distrito administrativo de Évora, seis léguas ao sudoeste da cidade de Évora, e outras seis ao nordeste da cidade de Beja, está situada a vila de Portel, sobre um alto cabeço.
Foi fundada por D. João Pires de Aboim. e seu filho D. Pedro Annes, ricos homens do tempo de el rei D. Afonso III, chamados de Portel por serem os fundadores desta povoação. Foram estes ilustres cavaleiros que deram foral á vila pelos anos de 1262.
Não sabemos quem lhe edificou o seu castelo, talvez fosse el rei D. Dinis, pois que este soberano pôs todo o cuidado e desvelos na defensa do país, fortificando grande numero de povoações e construindo fortalezas em muitos pontos apropriados a esse fim. Do reinado, porém, de D. João I é que data o maior desenvolvimento de Portel, porquanto o Condestável D. Nuno Álvares Pereira fundou a igreja matriz, e os duques de Bragança edificaram aí um palácio onde costumavam passar de vez em quando algum tempo, e também construíram um convento, que nessas eras dava importância e outras vantagens ás pequenas povoações.
Enquanto os duques de Bragança tiveram a sua corte em Vila Viçosa, prosperou a vila de Portel, á sombra do impulso e protecção desta opulenta casa, a cujo estado pertencia e chegou a possuir mais de mil fogos. Depois que esta Augusta família foi elevada ao trono, e também por causa das guerras com Castela, que se sucederam á sua elevação, começou Portel a decair, de tal modo que hoje pouco mais conta de quinhentos fogos.
Gozava esta vila da regalia de enviar procuradores ás antigas cortes do reino, nas quais tomavam assento no banco décimo quinto. O seu brasão de armas compõe-se de sete torres de oiro em campo vermelho, na forma que representa a estampa junta.
Há na vila uma única paroquia, da invocação de Nossa Senhora da Lagoa, cuja primeira fabrica foi obra do Condestável D. Nuno Álvares Pereira. Tem casa de misericórdia, hospital, as ermidas de Santo António, Santo Estêvão e Espírito Santo, dentro da povoação; e fora as de S. Luís, Nossa Senhora da Saúde, Nossa Senhora da Serra, S. Pedro, S. Bento, S. Lourenço, S. Brás, Santa Catarina, Santiago e S. Lázaro.
Teve dois conventos, um de frades paulistas, intitulado de S. Paulo, construído em 1420, e outro de piedosos capuchos, dedicado a S. Francisco e fundado perto da vila, em 1547, por D Teodósio I, duque de Bragança.
O castelo com a sua cerca de muros, ergue-se na parte mais alta da povoação. Dentro está o antigo palácio dos duques de Bragança.
Próximo da vila corre o rio Dejebe. que se vai lançar no Guadiana, a duas léguas dali.
O termo é muito produtivo em toda a variedade de frutos que se cultivam naquela província. Nele há uma serra chamada dos Velhascos, que fica na freguesia de Santa Ana, na qual se encontra muita caça miuda, rasteira e do ar e também corças e javalis.
Na aldeia de Vera Cruz do Marmelar, pertencente também ao mesmo termo, há um rico templo e um palácio que era dos balios da ordem de Malta.
No ultimo sábado de Agosto começa a feira anual de Portel. Porém na aldeia do termo, Vera Cruz do Marmelar, fazem-se duas feiras anuais, uma no 1 de Maio e a outra a 14 de Setembro.
Portel contém uns mil e oitocentos habitantes.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelo Censos 2011 Portel conta com 6428 habitantes
sábado, 3 de março de 2012
História: As Dez Portas de Évora
História: As Dez Portas de Évora
É esférica a figura da cidade de Évora antiga e girava 3452 passos, antes das novas fortificações que lhe mandou fazer el Rei D. Pedro II. Chegou a contar com 14 mil vizinhos, no auge das suas glórias, mas hoje (1728), com as fatalidades da peste e da guerra e muito mais com a ausência da Corte, chora o ver diminuída a maior parte deste grande número,
Dez portas tinham os muros com que a cercaram os Reis D. Afonso IV, D. Pedro I e D. Fernando. Eram: a da Lagoa, Avis, Moinho de Vento, Traição, Machede, Mendo Esteves, Mesquita, Rossio, Raimundo e Alconchel. Hoje (1728) só restam sete; porque a de Machede se fechou com o novo forte; e as da Traição e Moinho de Vento se incorporaram na cidade com a construção dos Colégios da Purificação e Espírito Santo.
Cinco tinha a antiga no tempo de Sertório. De duas dura o nome sem portas; são aquelas a Nova e a de Moura; é esta o Arco de D. Isabel, por onde entrou o vitorioso Giraldo.
Giravam as primitivas muralhas em 3452 passos da seguinte maneira: da porta do Rossio, por corresponder ao de S. Brás, até à do Raimundo, que tomou o nome de um fidalgo eborense que tinha o seu palácio na rua vizinha, 488 passos; desta à de Alconchel (nome corrupto do árabe Alcoucel, que significa capelo, cúpula ou coruchéu), nome que deram os mouros àquela rua por nela se situar uma torre com um coruchéu muito alto, 300 passos. Desta à da Lagoa, que tomou o nome da que lhe ficava vizinha, 532 passos; desta à de Avis, que como a de Machede tomou o nome da vila a que corresponde a sua entrada, 370 passos. Desta à que tinha antigamente um Moinho de Vento, 416 passos. Desta à da Traição, vizinha do nosso Colégio, 154 passos; desta à de Machede, 262 passos; desta à de Mendo Esteves, fidalgo que morava próximo, 190 passos; desta à da Mesquita, por ser contigua à dos Mouros, 370 passos; e desta à do Rossio, 370 passos.
Este muros antigos começaram a revestir-se com cortinas, fossos e baluartes por D. João IV e D. Pedro II, construção que ainda hoje (1728) continua e que aumenta muito o tamanho da cidade.
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Fotos Antigas da Sé de Évora, Portugal
Fotos Antigas da Sé de Évora
Por Biblioteca de Arte-Fundação Calouste Gulbenkian
Fotógrafo: Mário Novais, 1899-1967.
Orientador científico: Mário Tavares Chicó, 1905-1966.
Data aproximada da produção da fotografia original: 1954.
Sem restrições de direitos autorais conhecidas
quarta-feira, 26 de outubro de 2011
História de Mourão e imagem de 1860 do antigo brasão
História de Mourão e imagem de 1860 do antigo brasão
VILA E PRAÇA DE MOURÃO
Ergue-se esta villa em sitio alto, na provincia do Alentejo, meia legua além do Guadiana, uma legua áquem da fronteira de Espanha e seis ao nordeste da vila de Moura.
A memoria mais antiga que encontramos desta terra é de 1226, ano em que a mandou povoar D. Gonçalo Egas, prior do Hospital da ordem militar de S. João. Foi ele tambem que lhe deu o seu primeiro foral e que el rei D. Dinis confirmou em 1298. Este monarca enobreceu a vila com um forte castelo. Não se sabe ao certo quem foi que mandou fazer a antiga muralha torreada que cercava a povoação. Só da torre de menagem se conhece o fundador pelo seguinte letreiro gravado na mesma: «EMCCCLXXXI annos ao primeiro dia de Março Bom Affonso IV Rey de Portugal, mandou começar a fazer este castello de Mouron. O Mestre que o fazia avia nome João Affonso. O qual Rey foi filho do mui nobre Rey D. Diniz e da Rainha Dona Isabel, aos quaes Deus perdoe, e elle foi casado com a Rainha Dona Beatriz, avia filho herdeiro o Infante Dom Pedro.»
Quando pela acclamação d el rei D. João IV, Portugal se preparou para manter com as armas o grito de independencia, que levantara, a vila de Mourão foi uma das terras escolhidas para praça de guerra. Aproveitando-se das antigas fortificações o que podia servir de defensa, construiram-se outras segundo o moderno sistema.
Durante esta grande luta, correndo o anno de 1657 e sendo governador de Mourão D. João Ferreira da Cunha, foi esta praça assaltada e tomada pelos espanhois. O inimigo arrasou logo a povoação, poupando todavia a fortaleza que guarneceu e pretendeu conservar. Porém, pouco tempo, depois no principio de Novembro desse mesmo ano, foi expulso, tornando a flutuar nas ameias da praça o estandarte de Portugal.
Segundo refere a Monarchia Lusitana a vila de Mourão passou por muitas mais vicissitudes, sendo usurpada, restituida, dada, vendida e comprada em varios tempos.
Foram aicaides móres de Mourão os marqueses de Montebello. Tem a villa por brasão de armas cinco escudos com as quinas, postos em cruz, sobre campo azul, tendo o escudo inferior de um lado o sol de oiro e do outro a lua de prata.
Ha na vila uma só paroquia, casa da Misericórdia, hospital e cinco ermidas. Tem uma praça espaçosa e algumas ruas largas e regulares, posto que na maior parte guarnecidas de casas baixas. A igreja paroquial e algumas casas estão situadas dentro do castelo ea parte principal da povoação estende-se pela falda de leste do monte do Castelo.
As cercanias de Mourão não são feias. Cultivam-se nelas cereais, olivais, algumas vinhas e montados onde se cria bastante gado. Tambem abundam em variadas especies de caça. O Guadiana fornece á vila algum peixe.
Mourão tem duas feiras anuaes que começam uma a 21 de Abril e a outra a 13 de Setembro. Conta uns mil e quinhentos habitantes.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelo Censos 2011 Mourão conta com 2666 habitantes
Freguesias de Mourão
Granja, Luz, Mourão
terça-feira, 25 de outubro de 2011
História de Montemor-o-Novo e imagem de 1860 do antigo brasão
História de Montemor-o-Novo e imagem de 1860 do antigo brasão
A VILA DE MONTEMOR O NOVO
Na província do Alentejo, distrito administrativo de Évora, cinco léguas ao noroeste desta cidade, ergue se a vila de Montemor o Novo, meia sentada nas faldas de um monte cuja crista se divide em três cabeços, meia subindo pela encosta.
Teve por fundador a el rei D. Sancho I, no ano de 1201, recebendo deste monarca muitos privilégios e isenções, que lhe foram atraindo moradores.
Nestes tempos em que andava sempre ateada a guerra entre moiros e cristãos, não se fundava, ou pelo menos não podia medrar povoação alguma sem se prover á sua defensa. Assim pois em breve Montemor foi cercada de muros ameiados, edificando-se na parte mais alta um castelo que passava então por um dos maiores e mais fortes do reino.
Com tais condições de segurança, foi crescendo a povoação até romper o seu cinto de muralhas, vindo estender-se pela raiz do monte. Desassombrado finalmente o país da presença dos infiéis, voltados para a agricultura os braços e as atenções que quase exclusivamente se empregavam na guerra, prosperou muito Montemor o Novo graças à imensa fertilidade dos vastíssimos campos que a cercam. No século XVI, apogeu da sua prosperidade, dizem que chegou a contar três mil fogos.
Honraram-na com a sua residência, por varias vezes, os Reis D. Afonso V, D João II e D. Manuel. Este ultimo aí reuniu as cortes para a cerimonia do juramento e menagens dos três estados do reino, por ocasião da sua exaltação ao trono, em 1495.
Este mesmo soberano a fez vila, reformando e ampliando o foral que lhe havia concedido D. Sancho I. Deu- lhe o titulo de «notavel», a regalia de ter assento em cortes no banco quarto e por brasão de armas, um castelo sobre rochedos e uma ponte com seu rio, comemorando assim a origem da povoação, pois que tanto a fortaleza como a ponte, chamada de Alcácer, que atravessa junto á vila a ribeira de Cunha, foram obra de D. Sancho I.
Deriva esta vila o seu nome da eminencia em que está fundado o seu castelo e da necessidade de se diferenciar de Montemor o Velho, vila da Beira.
Com a usurpação de Castela começou a decadência de Montemor o Novo, juntamente com a de toda a monarquia. Depois a longa e porfiosa guerra da restauração, fazendo da província do Alentejo o principal teatro da luta, estagnou todas as fontes de prosperidade daquela vila e afugentou do seu seio a maior parte das famílias nobres e abastadas.
A paz e os muitos recursos do solo têm ressarcido em grande parte aquelas avultadas perdas, mas não poderá ainda restituir a vila ao seu antigo esplendor. Este condão estará destinado sem duvida á via férrea que promete pôr em breve Montemor o Novo em rápida e fácil comunicação com toda a província e com Lisboa.
Os edifícios religiosos desta vila são os seguintes: as igrejas paroquiais de Santa Maria do Bispo, Nossa Senhora da Vila, S. João e Santiago; a igreja da Misericórdia; o convento de Nossa Senhora da Saudação, de freiras dominicas, fundado em 1506; e varias ermidas. Teve quatro conventos de frades, um da ordem de S. Francisco, outro de S. Domingos, fundado em 1559, outro de Santo Agostinho e o ultimo de S. João de Deus. Este foi edificado em 1627 na rua Verde, nas casas onde nasceu S. João de Deus, o piedoso instituidor da ordem dos hospitaleiros.
Possui a vila um hospital desde o século XVI e varias casas particulares de aparência nobre.
O castelo está hoje cm grande ruína, bem como a cerca de muralhas em que havia quatro portas e cinco torres. Na luta com a Espanha, em 1640, acrescentaram-se a estas antigas fortificações outras obras de defensa segundo o sistema moderno, as quais ao diante se abandonaram, vindo também a arruinar-se.
Os arrabaldes da vila são cheios de hortas e pomares, correndo pelo meio deles a ribeira de Canha e outros arroios. O termo compõe-se de ricas herdades, abundantissimas de cereais e de azeite, em que se recolhe algum vinho e outros produtos agrícolas e nas quais se vêem extensos montados, onde se criam anualmente muitas mil cabeças de gado suíno.
No primeiro de Maio e no primeiro domingo de Setembro têm lugar nesta vila as suas feiras anuais, em que só faz bastante comercio.
El rei D. Afonso V fez esta vila cabeça de marquesado, em favor de D. João, filho segundo do duque de Bragança D. Fernando I. A alcaidaria mor andava na casa dos condes de Santa Cruz, que tinham o seu palácio dentro do castelo.
Montemor o Novo encerra uma população de duas mil e novecentas almas.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelos Censos 2011 Montemor-o-Novo conta com 17 409 habitantes
Freguesias de Montemor-o-Novo
Cabrela, Ciborro, Cortiçadas, Foros de Vale de Figueira, Lavre, Nossa Senhora da Vila, Nossa Senhora do Bispo, Santiago do Escoural, São Cristóvão, Silveiras
História de Monsaraz e imagem de 1860 do antigo brasão
História de Monsaraz e imagem de 1860 do antigo brasão
A VILA DE MONSARAZ
Ergue-se esta povoação na província do Alentejo sobre um alto cabeço formado de um grupo de penhascos. A falda oriental deste monte desce até ao Guadiana. A vila fica a cinco léguas ao sul de Vila Viçosa e uma ao noroeste da vila de Mourão.
A memoria mais antiga que achamos desta terra, é que el rei D. Dinis a mandou povoar pelos anos de 1310 e lhe edificou o castelo.
Enquanto as guerras com os nossos vizinhos se sucediam umas ás outras, com pequenos intervalos, Monsaraz era um sitio apetecido e procurado pelos povos daqueles contornos, que achavam naquela posição fortificada e quase inacessível, a tranquilidade e segurança que se não podia desfrutar nos campos. Assim cresceu e prosperou esta vila. Porém, logo que vieram tempos mais bonançosos e que a paz começou a dar alguma garantia de duração, tornou-se incomoda a todos os respeitos aquela vivenda e os seus moradores foram pouco a pouco desertando dali.
A duas léguas de Monsaraz, para o lado de leste, no meio de dilatadas e férteis campinas, via-se então uma ermida dedicada a Santo António. Aproximava-se ao seu fim o século XVII, quando se principiaram a edificar algumas pequenas casas em torno da ermida. No começo do século seguinte já era uma aldeia chamada do Reguengo, com sua igreja paroquial da invocação de Nossa Senhora da Caridade. A fertilidade do terreno, a bela situação do lugar e a industria dos moradores em vários tecidos de lã ordinários e na fabricação de chapéus grossos, fizeram aumentar por tal modo esta aldeia que, em 1838, foi transferida para aqui a cabeça de concelho que até então se achava em Monsaraz. Passados dois anos, por carta regia de 29 de Fevereiro de 1840, foi a aldeia de Reguengo elevada á categoria de vila, com o nome de Vila Nova dos Reguengos.
A historia do engrandecimento desta povoação é portanto a mesma da decadência de Monsaraz. A expensas desta, até certo ponto, tem aquela crescido e prosperado. E daqui se tem originado um ódio entranhável entre os habitantes das duas terras.
Monsaraz, que teve outrora três paroquias, hoje apenas conta uma, que tem a invocação de Santa Maria da Lagoa. A primeira fabrica deste templo foi obra do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, mas ao presente acha-se amodernada. É uma igreja espaçosa, de três naves e com três portas na frontaria. Entre a porta do meio e a da parte esquerda, entrando no templo. vê-se um grande túmulo de mármore, assente sobre leões. Sobre a tampa está estendida a estátua de um cavaleiro com um cão deitado aos pés. Na face do mausoléu, que está voltada para a capela mor, estão lavradas em relevo quatorze figuras de santos e na face que corresponde aos pés do finado, avulta a imagem de um cavaleiro empunhando um falcão em quanto outro vôa direito a uma árvore, em que estão poisadas duas aves, para as quais correm também dois cães. Na borda da tampa tem um letreiro gótico meio apagado, em que apenas se pode ler que ali descansa Tomas Martins, Vassalo del rei. No chão, junto a este túmulo, está a sepultura de Martim Silvestre, pai de Tomas Martins, que morreu em 1371.
Tem a vila de Monsaraz casa de misericordia com um pequeno templo, edificado em frente da matriz e no qual se vêem dois painéis pintados em madeira da escola do Grão Vasco.
A vila é cercada de muros hoje bastante arruinados. O castelo ainda se conserva de pé, com as suas torres e muralha,s porém os mais edifícios que encerrava estão inteiramente derrocados. Das ameias da torre de menagem, avistam- se em dilatadissimo horizonte, as cidades de Évora e de Elvas, as vilas de Évora Monte, de Estremoz, de Mourão, de Alconchel, de Vila Nova del Fresno, de Olivença, que foi nossa e agora é de Espanha e além doutras povoações menos importantes a Serra d 'Ossa e outras cordilheiras de montanhas.
Como a vila de Monsaraz cresceu muito, depois da construção dos seus muros, acha-se fora deles, como arrabalde, uma parte da povoação. Tem muitas casas desertas e pouca vida nas ruas, pois que os seus habitantes estão reduzidos a pouco mais de mil e duzentos.
Não há fontes na vila. Os moradores ou se hão-de prover de agua numa grande cisterna que aí há ou na fonte do Outeiro, que está nas faldas do monte. A cisterna é uma casa de abobada, com porta para a rua, da qual desce uma escada de pedra até ao fundo do deposito. Conta o povo, por tradição, que esta casa foi mesquita dos moiros. A 15 de Agosto tem esta vila a sua feira anual.
Nos subúrbios de Monsarás está o edificio do extinto convento de Nossa Senhora da Orada, que foi de Agostinhos descalços e fica a meia légua da vila. Em igual distancia corre o Guadiana, apertado entre montes. Na raiz da mesma montanha em que campeia a vila, há uma ermida, cuja capela mor de forma oitavada e de grossa muralha dizem ter sido templo romano.
Cereais, algum azeite, muitos montados em que se cria grande quantidade de porcos, mel e cera, são as principaes produções do termo. Os montes são abundantes de caça e o Guadiana de peixe.
Monsaraz tinha voto nas antigas cortes com assento no banco décimo sexto. O seu brasão é um simples escudo de prata. A alcaidaria mor desta vila andava na família dos Britos Pereiras.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Monsaraz é uma freguesia do concelho de Reguengos de Monsaraz
terça-feira, 11 de outubro de 2011
História de Juromenha, Alandroal, Alentejo e imagem de 1860 do antigo brasão
Alentejo
História de Juromenha, Alandroal e imagem de 1860 do antigo brasão
A VILA DE JUROMENHA
É esta vila uma das nossas praças de armas da fronteira do Alentejo. Está edificada junto á margem direita do Guadiana, sobre um outeiro escarpado para o lado do rio e guarnecido em torno com obras de fortificação. Dista da cidade de Elvas três léguas para o sudoeste e seis de Estremoz para o sueste.
Se houvermos de dar credito a alguns escritores que entre nós se têm dedicado ás antiguidades do país, Juromenha teve por fundadores os galos celtas e Júlio César cercou-a de muros, dando- lhe o nome de Julii-mosnia, depois corrupto em Juromenha.
Partindo porém de tempos mais conhecidos, diremos que el rei D. Dinis, achando-a em grande ruína e falta de moradores, mandou-a reedificar e povoar no ano de 1312. Um antigo castelo que ali havia, obra romana, conforme uns e mourisca segundo outros, foi também reparado pelo mesmo soberano. Por esta ocasião concedeu D. Dinis muitos privilégios a Juromenha, com o fim de atrair ali novos habitantes.
Não sabemos de que época data o seu brasão de armas, mas supomos que lhe foi dado naquele reinado. Consiste num escudo de prata com um castelo, cercado de agua, pendendo dele dois grilhões. O castelo e a agua são alusões á vila fortificada e ao rio que a banha. Os dois grilhões significam um antigo privilegio que os seus moradores gozavam, de não poderem ser mudados para outra cadeia fora da vila, estando presos sem que os tribunais pronunciassem sentença final.
Tem esta vila uma só paroquia, dedicada a Nossa Senhora do Loreto; casa de Misericórdia, hospital e quatro ermidas. A sua população não chega a seiscentas almas. Como praça de guerra, tem governador e uma pequena guarnição.
As margens do Guadiana fazem amenos os subúrbios da vila, próximo da qual entra naquele rio a ribeira de Mures, em cuja foz se costuma pescar varias espécies de peixes. O termo abunda em cereais, frutas e pastagens. Tem muitos azinhais e matos, onde há variada caça.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
Juromenha é uma freguesia do concelho do Alandroal
sexta-feira, 30 de setembro de 2011
Imagens Milagrosas em Portugal - Évora
Imagens Milagrosas em Portugal - Évora
Em Évora, no Mosteiro Agostiniano de Santa Mónica é venerada uma Imagem do Menino Jesus, o qual, pelos estupendos milagres que principiou a manifestar pelos anos de 1570, quer o Mestre Anjos que se propagasse em Portugal a grande devoção que nele há do Menino Deus.
segunda-feira, 26 de setembro de 2011
D. Fernando Afonso, Templário morto por frades em Évora
D. Fernando Afonso, Templário morto por frades em Évora
Foi cavaleiro Templário.
Era filho de Dona Chamoa Gomes, filha do conde D. Gomes Nunes,
Foi morto em Évora pelos Freires de Veles e sepultado na Igreja de S. Brás em Lisboa.
História de Évora e antigo brasão (imagem de 1860)
História de Évora e antigo brasão (imagem de 1860)
A CIDADE DE ÉVORA
Évora a capital da rica província do Alentejo é uma das mais antigas cidades do reino e, como tal, a sua origem é desconhecida, ou pelo menos muito duvidosa.
Alguns autores atribuem a sua fundação aos celtas iberos, outros aos tartesios andaluzes. Carvalho, na sua Corographia portugueza, diz que foi fundada pelos eburones ou eburonices, antigos povoadores da península hespanica, 2059 anos antes do nascimento de Cristo, pondo-lhe o nome de Ebora.
O que se pode ter por verdade, é que já existia anteriormente ao domínio dos romanos. Durante a porfiosa luta que os lusitanos sustentaram em defensa da sua independência, foi Évora a principal residência dos dois grandes capitães, Viriato e Sertório, que em épocas diversas conseguiram, por seu heróico esforço, impedir o passo e levar de vencida os poderosos conquistadores que assoberbavam o mundo.
Ao segundo destes heróis deveu a cidade de Évora muita prosperidade e importância e belos monumentos, alguns dos quais, atravessando tantos séculos, nos falam ainda hoje do ilustrado governo de Sertório, da sua grandeza e gloriosas empresas.
No seu tempo ainda a cidade se denominava Ebora; porém, depois, tendo-se curvado toda a Lusitânia ao jugo de Roma. tomou Ebora o nome de Liberalitas Julia, em comemoração da visita que lhe fez Júlio César e dos favores que lhe concedeu, elevando-a á categoria de município romano e dando aos seus habitantes os mesmos privilégios que desfrutava a cidade de Roma.
Os bárbaros que destruíram o império dos Césares, invadiram e sujeitaram também a Lusitânia, onde se civilizaram e conservaram, principalmente os visigodos, pelo espaço de duzentos anos. Do domínio destes passou Évora para o dos moiros, que se assenhorearam da península no começo do século oitavo.
No fim de quatrocentos e cinquenta e um anos, que tanto durou este novo cativeiro, foi resgatada a cidade de Évora, em 1166, pelo esforço temerário de Giraldo Giraldes que, adquiriu por este glorioso feito, o cognome de Sem pavor.
Giraldo era um cavaleiro da corte del rei D. Afonso Henriques, que por certo crime que cometera, andava fugido e perseguido pela justiça. Para se reabilitar e obter o seu perdão resolveu, com outros mais companheiros nas mesmas circunstancias, tomar aos moiros por surpresa a cidade de Évora, o que alcançou numa noite, começando por trepar à torre da atalaia, onde surpreendeu e matou o moiro vigia e sua filha. Em memoria desta acção, que D. Afonso Henriques recompensou generosamente, tomou a cidade por brasão de armas um escudo coroado e nele, em campo azul, a figura de Giraldo montado num cavalo, empunhando a espada na mão direita e com a esquerda segurando pelos cabelos as cabeças dos dois vigias.
Quase todos os nossos Reis, até D. Sebastião, tiveram por vezes a sua corte em Évora, pelo que esta cidade foi teatro de muitos sucessos importantes. Em diversos reinados, aí se reuniram em cortes os três estados do reino. Entre as festas que aí se fizeram por ocasião de consórcios reais, foram mui celebradas pelo seu aparato e magnificencia, as do casamento do príncipe D. Afonso, filho único de el rei D. João II, com a infanta D. Isabel, filha de Fernando e Isabel Reis de Castela.
Em 20 de Junho de 1483 foi justiçado na praça principal da cidade o infeliz duque de Bragança, D. Fernando II, acusado de conspiração contra el rei D João II, que era seu cunhado.
Nas guerras da restauração de 1640 foi sitiada e tomada pelo exercito espanhol comandado por D. João de Áustria, correndo o ano de 1663. Pouco depois foi recuperada por D. Sancho Manuel de Vilhena, conde de Vila Flor.
A cidade de Évora está edificada no centro da província do Alentejo e por todos os lados rodeada de dilatadissimas planícies.
Três vezes foi esta cidade fortificada. A primeira por Sertorio, que a cercou de muros com varias torres e cinco portas, cuja obra se demoliu no reinado de D. Fernando I. A segunda por D. Afonso IV, D. Pedro I e D. Fernando I, que construíram uma mais larga cerca de muralhas, que ainda existem bem conservadas, com maior numero de torres e dez portas. A terceira, nos reinados de D. Afonso VI e D. Pedro II, que principiaram e adiantaram um plano de fortificações que se não chegou a concluir e que devia constar de doze baluartes e dois meios baluartes, ligados na maior parte do seu recinto aos muros de que acabámos de falar.
Presentemente tem a cidade sete portas. chamadas da Lagoa, de Avis, de Mendo Esteves, da Piedade, do Rossio, do Raimundo e de Alconchel. As outras três perdeu-as com a edificação de dois conventos e de um baluarte.
No centro da cidade eleva-se um pouco o terreno com mui doce subida. Sobre essa pequena altura está situada a Sé. Foi fundada esta catedral pelo bispo D. Paio, no ano de 1186; e gastaram-se dezoito anos na sua construção. É um grande templo de arquitectura gótica, com cento e noventa e três palmos de comprimento, oitenta e nove de largura e cento e quinze de altura, dividido em três naves e contendo vinte capelas. Em 1721 foi demolida por ser pequena a antiga capela mor, começando-se então a actual, pelo risco de Ludovice arquitecto do palácio de Mafra. Toda construída de finos mármores e ornada de excelentes esculturas, é sem duvida uma das obras mais sumptuosas que neste género há em Portugal.
O primeiro bispo de Évora foi S. Manços, discípulo dos apóstolos, no ano 35 da era de Cristo. Tendo perdido a cidade a sua cadeira episcopal pela invasão dos moiros, recuperou- a logo que foi resgatada do poder dos infiéis, dando-lhe D. Afonso Henriques por bispo a D. Soeiro. Em 1540, por morte do cardeal infante D. Afonso, ultimo bispo de Évora, foi elevada esta mitra á dignidade arquiepiscopal, sendo o seu primeiro arcebispo o cardeal infante D. Henrique, depois rei.
As rendas desta Sé elevavam-se, no principio do século passado (18), a cento e quarenta mil cruzados.
Pegado á Sé está o palácio arquiepiscopal e, contíguo a este, o edifício da biblioteca publica e museu.
Além da freguesia da Sé, há na cidade mais quatro paroquias, que são: S Pedro, que foi igreja de templários e posteriormente reedificada; a de Santiago; a de Santo Antão, edificada na praça principal da cidade em 1558 pelo cardeal infante D. Henrique, a qual é um bom templo de três naves; e a de S. Mamede.
A igreja da Misericórdia foi fundada em 1533, bem como o seu hospital.
Contava Évora, antes da extinção das ordens religiosas, em 1833, vinte e dois conventos e colégios dentro da cidade e próximo dos seus muros. Dos de frades são dignos de menção, pelas suas magnificas igrejas, que se conservam em bom estado, os seguintes: o de S, Francisco cujo vastíssimo templo de uma só nave e sem colunas, que sustentem a sua singular abobada, foi construído nos reinados de el rei D. João II e de el rei D. Manuel; o de Nossa Senhora da Graça, de religiosos agostinhos, fundado por el rei D. João III no principio do seu governo; o de Ara Coeli, de religiosos cartuchos edificado em 1598 pelo arcebispo D. Teotónio de Bragança; o de Nossa Senhora do Espinheiro, de monges de S. Jerónimo, começado em 1452 e concluído em 1558; e o colégio do Espírito Santo, de jesuítas, obra do cardeal rei.
Os conventos de freiras são oito: o de Santa Helena, de religiosas capuchas, fundado pela infanta D. Maria, filha de el rei D. Manuel; o de Santa Clara, de franciscanas, levantado em 1458; o de Santa Catarina, de dominicas, edificado em 1547; o do Salvador, de franciscanas, fundado era 1605; o de Nossa Senhora do Paraíso, de dominicas, construído em 1516; o de S. Teresa, feito em 1681; o de S. Bento, de bernardas, cuja primeira fundação teve lugar em 1169; e o do Menino Jesus, de agostinhas, edificado em 1380.
Iríamos muito além dos limites se mencionássemos todos os edifícios religiosos que Évora possui. Bastará pois dizer, que além dos já referidos, conta muitos recolhimentos, confrarias e ermidas. Ainda existe o palácio da antiga inquisição, hoje propriedade particular.
Á frente dos seus estabelecimentos de caridade, figuram a Casa Pia, fundada em 1836, o hospital da Misericordia e o Celeiro para empréstimos aos lavradores pobres, chamado Monte de Piedade, instituído pelo cardeal infante D. Henrique em 1576.
Este mesmo príncipe honrou a cidade de Évora com uma universidade, que foi a segunda que houve no reino, e á erecção da qual muito se opôs a de Coimbra.
Nenhuma cidade de Portugal mostra como esta tantos vestígios da sua antiguidade e passadas grandezas. O aqueduto, chamado da Prata, com os seus dois elegantes pavilhões ou mães de agua; o templo de Diana, ornado do uni formoso vestíbulo de colunas corintias do mármore branco. O palácio de Sertorio, hoje ocupado pelas freiras do Salvador e do qual ainda restam algumas partes, apesar das reedificações posteriores; uma das portas e parte de uma torre da cerca da cidade, mandada fazer por Sertorio, são, além de varias inscrições e cippos, os padrões, que comemoram a prosperidade e importância de Évora, no tempo dos romanos.
Os restos do palácio real, com suas formosas janelas góticas, junto ao convento de S. Francisco e no fundo de um espaçoso terreiro, obra dos Reis D. João II e D. Manuel; o antiquíssimo palácio acastelado dos duques do Cadaval, e os de outras antigas casas titulares, mais ou menos bem conservados, atestam o esplendor de Évora, nas épocas em que foi corte de nossos Reis e principal residência de muitas das mais nobres famílias de Portugal.
Évora é sede das diversas autoridades e repartições, que competem á capital de um distrito. Possui um liceu nacional, um seminário arquiepiscopal, uma biblioteca publica, um museu de antiguidades, achadas pela maior parte em escavações nos arredores da cidade, dois teatros, onde representam companhias volantes e uma casa de assembleia. O regimento de cavalaria nº 5 tem o seu quartel nesta cidade, cujo edifício é talvez o mais belo e vasto de entre todos os quartéis militares do reino.
Não há na cidade nenhuma praça regular; porém a maior praça é bastante grande e tem alguns bons edificios. Na extremidade da praça, fazendo frente á igreja de Santo Antão, fica a casa da câmara e a cadeia, edificadas no reinado de D. Afonso V. As outras praças são pequenas. O Rossio é fora dos muros da cidade e junto á porta do mesmo nome. É um grande campo sem mais edificações do que um chafariz. Tem uma alameda de árvores plantadas modernamente, que oferece um agradável passeio, porém pouco concorrido. É aqui que se fazem as feiras anuais, a 24 de Junho e a 12 de Outubro. Esta é só de gados e muito concorrida, porém aquela e a de Viseu são as duas mais importantes de todo o reino.
Próximo do Rossio e junto ás muralhas da parte de fora, está a horta dos soldados, com seus arvoredos, tanques e flores. É um bonito passeio, com vista desafogada para os lados de Beja, mas pouco frequentado.
A cidade é bem abastecida de agua pelo aqueduto da Prata, que alimenta vários chafarizes no interior da povoação e por outras fontes que estão fora dos muros.
Os arrabaldes de Évora não são formosos. Em torno das muralhas há varias hortas e, mais distante, espalhadas aqui e ali, vêem-se algumas quintas arborizadas, mas poucas e pequenas. Tudo o mais são campos de trigo, perfeitamente planos. Só ao longe se avistam montes, olivais e frondosos arvoredos dos montados.
Os mercados da cidade são abundantemente fornecidos de frutas e de todo o género de criação e caça, que lhe vem de diferentes terras, e até da Beira. O termo cujos terrenos são de extraordinaria fertilidade, produz muitos cereais, azeite e algum vinho. Cria-se nele grande quantidade de gados de diversas espécies, que constituem, juntamente com as lãs, um dos mais importantes ramos do seu comercio.
Évora gozava, no antigo regímen, de voto em cortes sentando se os seus procuradores no primeiro banco. A sua população excede hoje talvez a dez mil almas. Nos tempos em que foi corte tinha mais do dobro.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelo Censos 2011 Évora conta com 57 073 habitantes
Évora é capital do Distrito de Évora
Freguesias de Évora
Bacelo, Canaviais, Horta das Figueiras, Malagueira, Nossa Senhora da Boa Fé, Nossa Senhora da Graça do Divor, Nossa Senhora da Tourega, Nossa Senhora de Guadalupe, Nossa Senhora de Machede, Santo Antão, São Bento do Mato, São Mamede, São Manços, São Miguel de Machede, São Sebastião da Giesteira, São Vicente do Pigeiro, Sé e São Pedro, Senhora da Saúde, Torre de Coelheiros
Eleições Autárquicas - 11/10/2009
Votação por Partido em EVORA
PS: 40% - 3 mandatos
PCP: 34,7% - 3 mandatos
PSD: 17,5% - 17,5%
Candidatos Eleitos pelo Circulo: Évora
PS - José Ernesto Ildefonso Leão d'Oliveira
PCP-PEV - Eduardo Lorge Pratas Fernandes Luciano
PS - Manuel Francisco Grilo Melgão
PPD/PSD - António José Costa Romenos Dieb
PCP-PEV - Jesuína Francisca Rosa Pedreira
PS - Cláudia Maria Ferreira de Sousa Pereira
PCP-PEV - Joaquim José Abreu Soares
sexta-feira, 23 de setembro de 2011
Auto de Fé celebrado em Évora
Auto de Fé celebrado em Évora
Frei Acursio de S. Pedro foi um frade franciscano da Província Geral dos Algarves, Mestre de Teologia da sua ordem, Guardião do Convento de Évora e Provincial eleito em 1653.
Sabe-se que nasceu em Serpa.
Escreveu:
Sermão no Acto de Fé que se celebrou na cidade de Évora em 21 de Agosto de 1644.
Publicado em Lisboa por Domingos Lopes Rosa em 1644, 32 páginas.
História de Estremoz e brasão antigo (imagem de 1860)
História de Estremoz e brasão antigo (imagem de 1860)
A VILA DE ESTREMOZ
Na parte mais amena da província do Alentejo, acha-se a vila de Estremoz, edificada na raiz e encosta de um monte, a que faz coroa um antigo castelo. Está distante de Vila Viçosa duas léguas e meia para o ocidente e seis de Évora, para o nordeste.
El rei D. Afonso III, querendo aproveitar esta forte posição para defensa da fronteira do Alentejo, da qual não dista muito, fundou, no mais alto do monte, um castelo, correndo o ano de 1258. Segundo os costumes do tempo não tardaram os habitantes indefesos daquelas cercanias a vir procurar o abrigo da fortaleza contra as continuas correrias dos moiros.
Começaram pois a construir casas pelo dorso do monte, que pelo tempo adiante se foram estendendo até ás faldas e daí pela vizinha planície. Tal foi a origem, ao que parece, da vila de Estremoz.
Quanto á etimologia do seu nome, há duas opiniões; uma, que a deriva da circunstancia de se achar a povoação pouco distante do extremo da província; outra que quer que provenha dos muitos tremoceiros que vestiam o monte, quando nele principiaram as edificações.
Em favor desta ultima opinião vem o brasão de armas da vila, que tem no meio do escudo uma planta de tremoços.
O mesmo rei D. Afonso III, achando-se a povoação já aumentada, deu-lhe privilégios iguais aos de Santarém. El rei D. Manuel concedeu-lhe o foral de vila no ano de 1512.
Estremoz distinguiu-se nas guerras da independência com a Espanha. As obras de fortificação, que a constituiram em praça de guerra, começaram logo depois da restauração de 1640. Ao principio estas obras foram frágeis, mas passados poucos anos fizeram-se com solidez e segundo os preceitos da arte, ficando a vila cingida com dez baluartes, três meios baluartes e um redente, fora os revelins e mais obras exteriores. Reparou-se o antigo castelo, que passou a ser a cidadela da praça e sobre um monte vizinho, padrasto do que serve de assento á vila, construiu-se um forte com quatro baluartes e, sobre outro um pouco mais distante, edificou-se um reduto chamado de Santa Barbara.
Nas proximidades de Estremoz está o sitio de Montes Claros, celebre pela assinalada vitoria que os portugueses, comandados pelo marquês de Marialva e pelo marechal de Schomberg, aí ganharam aos espanhóis no ano de 1665.
O castelo de Estremoz é notável na nossa historia por ter servido de residência a el rei D, Dinis, á rainha Santa Isabel, sua mulher, que nele faleceu e a el rei D. Pedro I, que também aí acabou os seus dias. Da sala onde expirou a rainha santa fez-me mais tarde uma ermida, que ainda existe com a invocação de Santa Isabel. Até ao começo deste século (19), conservava-se neste castelo um museu de armas antigas muito rico e curioso e que era o único que havia no reino depois que o terremoto de 1755 destruiu os Paços da Ribeira em Lisboa, onde se via um grande armazém cheio de armas de diferentes eras. Infelizmente, por ocasião da invasão francesa, foi o museu de Estremoz despojado de todas as suas armas.
Consta a vila de três paroquias: Santa Maria do Castelo, que é a matriz, Santo André e S. Tiago. Tem casa de Misericordia e hospital e um mosteiro de freiras da ordem de Malta, da invocação de S. João Baptista, o único desta ordem que há no reino, fundado em 1563 pelo infante D. Luís, filho del rei D. Manuel. Havia outrora quatro conventos de frades dentro da vila e um nos arrabaldes, cujos edifícios ainda existem. Eram aqueles o de S. Francisco, edificado por D. Afonso III; o de S. João de Deus; o dos frades agostinhos; e o dos congregados de S. Filipe Nery. O que fica extra- muros era de capuchos da província da Piedade, e foi construído em1662. Além dos edifícios religiosos mencionados, há na vila varias ermidas.
A mais bela parte de Estremoz é a que está edificada na planície. Tem aí um vasto largo ou praça, cercado de boa casaria e dos edifícios dos extintos conventos, com um chafariz de oito bicas e um grande tanque quadrado e dois mais pequenos.
Tem o seu quartel em Estremoz o regimento de lanceiros nº 1. A população fixa da vila anda por seis mil e seiscentas almas. Em 25 de Julho e a 30 de Novembro fazem-se aí duas feiras anuais de bastante comercio.
Os subúrbios de Estremoz são muito aprazíveis e de grande fertilidade. Há neles abundância de agua que rega muitas hortas e pomares. O termo produz azeite, cereais e outros frutos e encerra preciosos mármores. O branco é o que serve para todas as construções da vila. Também contém excelente barro, de que ali se fabrica muita variedade de obras, que são apreciadas no reino e fora dele.
No antigo regímen gozava esta vila de voto em cortes com assento no banco terceiro. O seu brasão de armas é como se vê na estampa, sendo verde o tremoceiro, o campo vermelho, o sol de oiro e a lua do prata.
Eram alcaides mores de Estremoz os duques de Cadaval.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelo Censos 2011 Estremoz conta com 14 328 habitantes
Estremoz é uma cidade do Distrito de Évora
Freguesias de Estremoz
Arcos, Évora Monte, Glória, Santa Maria (Estremoz), Santa Vitória do Ameixial, Santo André (Estremoz), Santo Estêvão, São Bento de Ana Loura, São Bento do Ameixial, São Bento do Cortiço, São Domingos de Ana Loura, São Lourenço de Mamporcão, Veiros
sábado, 17 de setembro de 2011
História de Borba e brasão antigo (imagem de 1860)
História de Borba e brasão antigo (imagem de 1860)
A VILA DE BORBA
Na província do Alentejo, meia légua ao poente de Vila Viçosa, e a duas léguas de Estremoz, está assentada a Vila de Borba, num vale formoso e ameno.
Pretendem alguns antiquários, que tivera por primeiros fundadores os galos celtas. Nas diversas invasões que a Lusitânia padeceu, esteve por largos anos sujeita ao domínio de Roma, depois ao dos godos e outros povos do norte que, destruindo o império romano, avassalaram toda a península hespanica; e destes passou ao dos árabes, que a seu turno os venceram e desalojaram das terras conquistadas.
Correndo o ano de 1217, resgatou-a do poder dos infiéis el rei D. Afonso II, e ficou desde então parte integrante da monarquia portuguesa. Arruinada e abandonada, por esta ocasião, pelos seus moradores, o mesmo monarca a mandou reedificar e povoar de novo. Deu-lhe foral el rei D. Dinis e geralmente se lhe atribui a fundação do seu castelo. Todavia, uma pedra com dois malhos nela esculpidos, e a tradição de que junto à vila, no sitio hoje chamado «os Mosteiros», existira um convento de templários, dão algum fundamento para se supor que o Castelo foi obra destes e não de el rei D. Dinis, que talvez tão somente o reparasse.
Dizem os etimologistas que o nome de Borba se deriva de um grande barbo, que apareceu em época remota numa fonte que está dentro do castelo, e alegam para prova o brasão de armas da vila, em que figuram dois daqueles peixes.
Divide-se a povoação em duas paroquias: uma da invocação de Nossa Senhora do Soveral, e outra dedicada a S. Bartolomeu. A primeira, que é a matriz, é um bom templo de três naves, sustentadas por quatorze colunas de mármore branco, sete de cada lado e com um belo portal, também de colunas. Foi edificada no ano de 1401 por D. fr. Fernando Rodrigues de Sequeira, mestre da ordem militar de Avis, á qual esta igreja pertencia.
A outra paroquia é de uma só nave e de construção muito mais moderna. Está no seu distrito o convento de Nossa Senhora das Hervas ou das Servas, de religiosas franciscanas de Santa Clara, fundado pelos anos de 1600. Também tinham na mesma freguesia um colégio, os religiosos de S. Paulo, primeiro eremita, principiado em 1704.
O hospital e casa da misericordia estão situados dentro do castelo. O templo desta foi reedificado no começo do século passado (18). Os outros templos da vila são: Capela dos terceiros de S. Francisco, e as ermidas de Santo António e de S. Sebastião. Porém fora dos muros há mais cinco ermidas.
O velho castelo ergue-se junto das muralhas da vila, para o lado do nascente. Tem no meio uma praça para onde deita uma alta torre quadrangular, em que se vêem uns toscos e mal distintos caracteres e os dois malhos esculpidos a que acima nos referimos.
Tem Borba ruas espaçosas e boas, e a sua casa da câmara é um dos melhores edifícios municipais de todo o reino. Abastecem-na de excelente agua muitas fontes dentro e fora de seus muros. Extrema-se de todas, pela grandeza da fabrica e beleza da arquitectura, a que o antigo senado da câmara mandou fazer em 1781, Este esbelto chafariz está colocado num espaçoso largo ao sair da vila. É todo de mármore branco, com cinco bicas e três tanques. Entre muitos ornatos esculpidos com perfeição, avulta o busto da rainha D. Maria I, então reinante.
A abundância de agua destas fontes, de que se forma uma pequena ribeira, faz os arrabaldes mui férteis e viçosos, povoados de muitas hortas e pomares e algumas bonitas quintas, ornadas de frondosos arvoredos. É notável entre estas ultimas, a dos senhores condes das Galveias. É também celebrado pela sua linda floresta, o extinto convento de Nossa Senhora da Consolação, que pertenceu aos religiosos capuchos da província da Piedade e que é conhecido em todo o Alentejo pelo nome popular de convento do Bosque. Foi fundado em 1505 pelo duque de Bragança D. Jaime. Fica a um quarto de légua da vila. É uma estância deliciosa, pela majestade das árvores seculares que assombreiam a cerca e pela copia e frescura das águas que aí correm, em fontes e levadas, ou se despenham em cascata.
Do alto de um monte que bem merece o nome que tem de Boa Vista, vizinho ao convento, goza-se de um panorama admirável. Avistam se daí as vilas de Veiros, Evoramonte, Estremoz, Fronteira, Cabeço de Vide, Monforte, Vila Boim, Terrugem, Jerumenha, Vila Viçosa e a cidade de Portalegre; e em Espanha, Olivença, Villa Real e S. Jorge.
O concelho de Borba produz cereais, muito azeite, algum vinho e frutas. Nas suas montanhas há ricas pedreiras de mármores, principalmente branco e azul, da mais fina qualidade. De uma destas pedreiras foram levados para Évora, na primeira metade do século passado (18), todos ou quase todos os riquíssimos mármores de que se reconstruiu a sumptuosa capela mor da sé desta cidade. Dizem autores antigos que também nas mesmas montanhas, existem minas de prata, e se encontram turquesas e outras pedras preciosas.
No primeiro de Novembro faz-se em Borba uma feira de três dias a que concorre muita gente. A população d esta vila excede a três mil almas.
A vila de Borba tinha voto nas antigas cortes, tomando os seus procuradores assento no banco décimo quinto. Há diversas opiniões sobre o seu verdadeiro brasão de armas. Querem uns, que seja um castelo e ao pé uma fonte com um barbo. Outros dizem que é um rochedo sobre agua, da qual saem dois barbos, e assim está pintado na Torre do Tombo. A opinião que achamos mais seguida é a que se conforma com a estampa junta: um escudo simplesmente com dois barbos a sair da agua.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelo Censos 2011 Borba tem 7406 habitantes
Borba é uma cidade do Distrito de Évora, região Alentejo
Freguesias de Borba
Matriz (Borba), Orada, Rio de Moinhos, São Bartolomeu (Borba)
Eleições Autárquicas - 11/10/2009
Votação por Partido em BORBA
PS: 2764/63,1% - 4 mandatos
PCP - 836/19,1% - 1 mandato
Candidatos Eleitos pelo Circulo: Borba
PS - Ângelo João Guarda Verdades de Sá
PS - Artur João Rebola Pombeiro
PS - Humberto Luís Russo Ratado
PCP-PEV - Joaquim José Serra Silva
PS - Rosa Maria Basílio Véstia
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
História de Arraiolos (Alentejo) e imagem do antigo brasão
Alentejo
História de Arraiolos e antigo brasão (imagem de 1860)
A VILA DE ARRAIOLOS
Como todas as povoações de origem muito antiga, tem esta vila a historia da sua fundação mui cheia de duvidas e envolta em fábulas. Resumindo umas e outras, diremos que alguns autores lhe dão por fundadores os tusculanos e albanos, querendo que de um capitão grego, que no seu principio a governava, chamado Rayeo, tomara o nome de Rayolis, corrupto pelo decurso do tempo no de Arrayolos.
Outros escritores atribuem a sua fundação aos galos celtas, que a denominaram Galantia. Esta opinião tem por si alguns dos nossos mais zelosos investigadores de antiguidades. Além disso parece fora de duvida que durante a dominação romana se chamava Calantia.
Nas invasões dos povos do norte, que destruíram o império romano, mais tarde na dos árabes, e depois nas guerras travadas entre estes e os cristãos, arruinou-se e despovoou-se a vila de Arraiolos.
El rei D. Dinis, que tanto a peito tomou restaurar das ruínas as terras do seu reino, mandou- a reedificar e povoar, dando lhe foral no ano de 1310 e construindo para sua defesa um forte castelo com seis torres.
El rei D. Fernando fez doação desta vila, com o titulo de condado, a D. Álvaro Pires de Castro e, por morte deste fidalgo, el rei D. João I fez conde e senhor de Arraiolos ao Condestável D. Nuno Álvares Pereira. Depois passou este titulo e senhorio para a casa de Bragança.
Na luta da independência, quando os espanhóis tomaram a cidade de Évora, entraram também em Arraiolos e lançaram fogo ao castelo, que contava muitas casas de habitação dentro dos seus muros.
Está assentada esta vila no coração da província do Alentejo, em lugar elevado e desafrontado, três léguas ao norte da cidade da Évora. A sua eminente posição dá lhe a vantagem de gozar, além de muito bons ares, uma dilatada perspectiva. De alguns sítios, e principalmente do monte de S. Pedro, descobrem-se em dias claros, a cidade de Évora, as vilas de Redondo, Monsaraz, Évora Monte, Estremoz, Alter do Chão, Cabeço de Vide, Fronteira, Vimieiro, Avis, Galveias, Pavia, Lavre, Montemor o Novo e a vila das Águias, e entre outras serras as de Ossa, de Portel, de Portalegre, da Estrela, da Arrábida, de Sintra e de Monte Junto.
Tem esta vila uma única paroquia da invocação do Santo Salvador, a qual se acha dentro do castelo, e nos arrabaldes tem os edifícios, de dois extintos conventos, um que foi dos religiosos terceiros de S. Francisco, e outro que pertenceu aos cónegos seculares de S. João Evangelista. Este ultimo intitulava-se de Nossa Senhora da Assunção, e foi fundado por João Garcez, fidalgo da casa del rei D. Afonso V, na sua quinta de Vale Formoso, correndo o ano de 1527.
Tem mais casa de misericordia, um hospital, da invocação do Espírito Santo, e umas seis ermidas nos subúrbios.
Não tem esta vila no seu recinto fonte alguma, todavia abastecem-na de agua o poço do castelo, e vários outros, que existem nas cercanias, e a meia légua de distancia a fonte dos Almocreves.
Nos seus arrabaldes há algumas hortas e pomares regados pelas ribeiras do Divor, Pontega e da Vide, as quais criam peixe miúdo e fazem trabalhar vários moinhos. O termo possui ricas herdades e abunda em cereais, azeite, algum vinho, frutas, gado e caça.
Arraiolos conta uns mil e seiscentos habitantes. Houve aqui uma fabrica de tapetes que não sabemos se ainda existe, mas que no século passado (18) prosperou muito, tendo os seus produtos grande extracção no país e nas nossas províncias ultramarinas.
Faz-se nesta vila uma feira anual de três dias, que principia no segundo sábado do mês de Julho.
No antigo regímen gozava Arraiolos de voto em cortes com assento no banco décimo quinto. Tem por brasão as armas reais de Portugal, metidas num escudo e assim se acha no livro dos brasões das cidades e vilas deste reino, que se guarda na Torre do Tombo. Todavia há quem lhe assinale por brasão uma cabeça na forma de uma esfera, em memoria do tal capitão Rayeo.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelo Censos 2011 Arraiolos tem 7352 habitantes
Arraiolos é uma vila do Distrito de Évora.
As freguesias de Arraiolos são as seguintes:
Arraiolos (Arraiolos, Ilhas e Santana do Campo), Igrejinha, Sabugueiro, Santa Justa (Vale do Pereiro), São Gregório (S.Gregório, Casas Novas, Carrascal, Aldeia da Serra e Bardeiras), São Pedro de Gafanhoeira, Vimieiro (Vimieiro, Venda do Duque e Bardeiras)
Eleições Autárquicas - 11/10/2009
Votação por Partido em ARRAIOLOS
PCP - 2709/64% - 4 mandatos
PS - 1038/24,5% - 1 mandato
Candidatos Eleitos pelo Circulo: Arraiolos
PCP-PEV - Jerónimo José Correia dos Loios
PCP-PEV - Sílvia Cristina Tira-Picos Pinto
PS - Manuel Maria Correia Leitão
PCP-PEV - Armando António Isidro de Oliveira
PCP-PEV - Francisco Miguel Correia Fortio
segunda-feira, 12 de setembro de 2011
Vende-se bom emprego em Évora
Gazeta de Lisboa, 24 de Janeiro de 1806
Vende-se bom emprego em Évora
segunda-feira, 13 de junho de 2011
História: Paços Reais de Évora (II), imagem de 1868
História
Évora
PAÇOS REAIS DE ÉVORA
2ª Parte
A galeria dos paços de Évora, apesar de muito desfigurada com alterações e mudanças de toda a ordem, é ainda um bom exemplar da arquitectura denominada manuelina.
Em cima do portal estão as esferas. Não nos diz, porém, menos que a divisa o estilo do próprio edificio. Recorda-nos, da mesma sorte que o mosteiro de Belém, o convento de Tomar, a igreja de Santa Cruz de Coimbra, e tantos monumentos que ergueu ou reedificou el rei D. Manuel, os descobrimentos e conquistas do seu reinado. Os feitos gloriosos que marcaram na história uma epoca notável produziram tambem na arquitectura um estilo caracteristico. Nem são menos brilhantes e portuguesas que as outras estas páginas de pedra.
Já advertiu Garrett que o estilo daquela epoca mais depressa influiria do que receberia influência de outros generos contemporaneos. Não houve patriotica exageração no asserto que depois confirmou Rackzynski, e há pouco vimos sancionado na exposição universal de Paris.
A arquitectura manuelina dominou em Évora como em todo o reino. Abundam as relíquias em muitas casas da cidade. As janelas e portais, em lugar das ogivas dos tempos anteriores ou das vergas posteriormente usadas, tem os arcos de muitos centros ou as linhas sinuosas e recurvadas, conforme os tipos graciosissimos que produziu a alliança dos estilos gótico e árabe, a modificação das formas graves e severas do primeiro pelas galas e fantasias do segundo. Em partes a comhinação de dois arcos forma bem claramente a figura de um M gótico, inicial do grande nome daquele que, por cingir a coroa de Portugal, influia nos destinos do mundo.
Ao topo meridional da galeria correspondem três arcos elevados com voltas em forma de ferradura, de puro estilo árabe. Pelo seu gracioso aspecto, pela disposição e recortes dos tijolos, trazem á lembrança os das mais belas construções de Sevilha ou de Granada. Este género de arquitectura foi também muito usado em Évora nos principios do seculo XVI, e talvez nos fins do anterior, umas vezes puro, outras vezes dando a feição mais proeminente ao estilo manuelino. Conservam-se ainda nalgumas casas da cidade mirantes, que as pessoas ilustradas, mas desprevenidas, facilmente tomam como reliquias da dominação árabe. Nos mirantes a que aludimos, e em muitas janelas e portais, os arcos de tijolo ou de granito, com recortes mais ou menos vivos, sustentam-se sobre colunas de mármore, à maneira daqueles em mais propriamente se conhece o estilo manuelino.
As trevas que envolvem a história da arte em Évora, como nas outras cidades de Portugal, não nos permitem explicar a abundancia de relíquias do árabe que só aqui se encontra. Conservar-se-iam em tempo de D. João II ou de D. Manuel monumentos genuinos que servissem de modelos aos arquitectos?
Comparando a gravura anterior com a que hoje ilustra este artigo, razoavelmente se tomarão por construções diferentes a parte austral e a da galeria. Só a primeira com o pórtico, é de estilo manuelino, e em tudo muito semilhante áquela dos paços reais de Sintra que no mesmo tempo foi construida. Os arcos da parte setentrional são inteiramente lisos, como o eram tambem outros, muito mais pequenos e numerosos, que por cima dos que se vêem na gravura formavam uma varanda extensa que se prolongava ainda por um lanço que faz angulo recto com o que a estampa representa. Destes arcos, completos no primeiro lanço, apenas se conservam no segundo as voltas embebidas na alvenaria com que lhes taparam os vãos depois de lhes rouharem as colunas.
O telhado que se avista na gravura foi também enxertado no edificio primitivo. No século XVII ou XVIII, arruinando-se o tecto, que era, provavelmente, de madeira, porque as delgadas paredes não comportavam pesada cobertura, construiram dentro da galeria e sobre a abóbada em que assenta o pavimento, grossas paredes de metro e meio de espessura, e em cima delas firmaram a pesada abobada com o telhado que hoje se vê. Assim, estúpida e brutalmente, se reparou a ruína do tecto, promovendo a das paredes, que já tem algumas brechas.
Ignora-se o nome do autor de tamanho vandalismo, e tambem o do arquitecto que edificou a galeria. Martim Lourenço, o mesmo que reconstruiu o templo de S. Francisco, era em 1513 o mestre das obras dos paços reais. Na galeria, como naquela igreja, as paredes são muito delgadas, e toda a sua segurança está na abóbada inferior. Em ambas as construções se ocultaram, pois, cuidadosa e elegantemente os artificios empregados a fim de lhes dar a devida solidez. Esta analogia, porém, não hasta para provar com evidencia a identidade do arquitecto.
A pequena distância do edificio que as gravuras representam era a galeria das damas, da qual restam apenas no meio da cerca de S. Francisco as paredes, em grande parte desmoronadas. Tinha esta casa de forma quadrangular a frontaria muito ornamentada, como se vé pelas colunas jónicas e pelos ornatos das janelas, tudo no estilo do renascimento; o que nos leva a atribuir com probabilidade esta construção ao reinado de D. João III. As paredes são de alvenaria, mas as colunas, arquitraves e todos os demais ornamentos foram feitos de tijolo e cobertos de estuque para imitarem mármore branco. Parece obra mesmo arquitecto, posto que mais elegante e delicada, a torrinha do aqueduto que fica proxima galeria das damas.
Este género de arquitectura não se encontra commumente em Portugal. No ano de 1556 havia cidade de Évora um padre Pasquino Vilanes, que tinha a seu cargo o laranjal dos paços reais e a dos canos que D. João III mandou fazer para aos jardins a água da Prata que sobejasse do da Praça. Parece este padre pelo nome italiano, e arquitecto pelo encargo. Não será, portanto, fora de razão atribuir-lhe a galeria das damas e a torrinha aqueduto, ambas italianas no estilo e no modo que foram edificadas.
A esta arquitectura leve e elegante faltaram imitadores, se bem que muito merecia tê-los numa terra em que tanto abundam o tijolo e a cal. A barateza dos materiais e a facilidade com que se fingiriam todos os géneros de ornamentação, todas as grandezas arquitectonicas, compensariam o não ficarem tão duradoiras como se foram de mármore ou de granito.
As relíquias dos paços reais com os terrenos adjacentes foram concedidos à câmara municipal, com convento e cerca de S. Francisco, por carta de lei de 25 de julho de 1864. Como parte destes viesse a juntar- se ao passeio público, está hoje nele encravada a galeria de D. Manuel, que a actual vereação louvavelmente deseja restaurar. Os restos galeria das damas desaparecerão dentro em pouco do lugar em que jazem, o qual se destina para um novo mercado. Seria mais para lamentar este sacrificio que tem de fazer-se á comodidade do povo eborense, se o estado das ruínas não fosse tal que a própria acção do tempo bastasse para brevemente acabar de destruir o que ainda não deu de todo em terra.
A. FILIPPE SIMÕES
38° 34' N 07° 54' W
Évora
Portugal
História: IGREJA E CONVENTO DE S. FRANCISCO em ÉVORA (III)
História
ÉVORA
IGREJA E CONVENTO DE S. FRANCISCO
3ª parte
«Morto este rei, ficou seu filho D João II, e acabou de nos tomar o mais e nos tirou a vista do Rocio, e nos pôs no que agora védes; e porém quem viver verá que os mortos, que isto deram a S. Francisco, hão-de clamar e pedir justica a Deus. Neste tempo tinha el rei grandes fadigas de guerra e coisas que a seu tempo parecerão, que tambem nestas casas onde se liam as escripturas de Deus, se deu sentença de morte com que degolaram o duque Bragança; e agora querem fazer festas, que se hão-de tornar em pranto; e quem viver verá. Dizem os padres velhos que cada rei que vier há-de tomar seu pouco até que tomem toda a casa, não olhando que foi edificada com licença de S. Francisco e por companheiros santos, onde jazem também muitos letrados e homens santos, não entendendo os castigos e açoutes que lhes Deus dá.»
Tanto se alargou D. João II pelo convento que, segundo afirma o padre Esperança, no aperto em pôs os frades, até oficinas lhes faltavam. Restituiu-lhes, porém, a fim de a transformarem em enfermaria, uma casa que servia de relação.
Diz o autor da memória, que nos estudos, por onde D. Afonso V começara a apropriar-se do convento, se deu a sentença de morte do duque de Bragança. Diverge neste ponto das crónicas contemporaneas, que são concordes em declarar que nos paços do conde de Olivença (onde é hoje a casa do duque de Cadaval) se hospedou el rei, por serem melhores para o verão, e aí foi sentenciado o infeliz duque.
As festas de que fala são as que se celebraram Évora pelos desposórios do principe D. Afonso com a infanta de Castela em 1490; e os prantos que seguiram tiveram por causa a morte desastrosa do mesmo príncipe em Santarém, oito meses depois, no ano de 1491.
Obteve D. João II uma bula de Alexandre VI, passada a 14 de abril de 1495, confirmando as annexações feitas, sob condição de compensar o convento com as obras mais úteis e necessárias, o que não chegou a cumprir, porque faleceu neste mesmo ano de 1495.
Começando a reinar D. Manuel, achava-se reduzido á ultima extremidade, no material e na extensão, o convento de S. Francisco de Évora. Da grande casa que os frades antecedentemente haviam ocupado não lhes restava mais que o templo em ruinas, a claustra a e as edificações próximas, também em grande parte arruinadas. Da extensa horta, onde outrora podiam espairecer em dilatados passeios, apenas um pequeno quintal junto da portaria, até onde se tinham alargado os jardins dos paços reais. A mão poderosa dos monarcas de quase tudo os privara para aumentar e engrandecer a sua residência predilecta.
Cuidou, porém, o novo rei de melhorar o convento, reedificando o aluido templo, restituindo a cozinha antiga, que estava tambem anexada ao palácio, e fazendo o dormitorio com outras obras de necessidade. Conta-se que em certa ocasião se queixaram os religiosos ao seu real edificador de lhes deixar muito pequenas as portas das celas, e que ele, entrando numa, lhes respondera que por onde cabia um bem podia caber um frade.
Reedificou-se a igreja nos princípios do século XVI. Destas obras ficou uma curiosa memória no foral que D. Manuel deu á cidade em 1501, e se guarda no arquivo da câmara. Tem no principio um desenho de cores, tosco e imperfeito, que representa a cidade naquela época, e por cima a seguinte epigrafe gótica: «Ebura colonia romana». Aí se vê a igreja S. Francisco, tendo as paredes incompletas com guindaste a indicar as obras que nela se faziam. O foral é tambem escrito de letra gótica em pergaminho, com tarjas e iluminuras.
Neste mesmo reinado, tendo sido cento e oitenta e três anos cabeça de custodia, se reformou o convento de Évora na regular observância por bula pontificia de 7 de julho de 1513. A carta em que D. Manuel o mandou entregar aos observantes foi passada em Lisboa a 22 de julho do dito ano, e apresentada no dia 29 do mesmo mês aos frades pelo licenciado João do Soiro, juiz da cidade, com a intimação de sairem do convento.
Pelas obras e concessões del rei D. Manuel, não se chegaram a separar os dominios reais dos franciscanos, antes permaneceram como antecedentemente, em recíproca dependência. Servia- se a corte da tribuna da igreja por meio de comunicações interiores, e consta que no tempo de D. João III não havia menos de sete portas comuns aos paços e ao convento. Assim continuou tudo até ao tempo de Filipe III de Espanha, que em 1619 deu aos religiosos todo o ferro do palácio para o aplicarem a obras suas. Em 1626 deu- lhes três salas, sendo uma delas o quarto da rainha, que era do lado do Rocio, para o transformarem em dormitorio, e, além disso, o jardim, o laranjal e a agua da Prata.
Aproveitaram-se os frades das concessões, destruindo as grandezas do palácio, e enxertando no convento os mármores, as madeiras e todos os ricos despojos que ali encontraram; de modo que de tão vastos edificios não restam mais que as ruínas de duas galerias.
Do convento já também se não conserva muito. A parte menos arruinada é aquela onde se construiram no seculo XVII os dormitórios, cujas janelas dão sobre a rua do Paço e para o passeio publico. O que daí se segue até á igreja são tudo ruinas. O refeitório, construido por D. Manuel, como se via pelas esferas da abóbada, e que estava contiguo á claustra, foi demolido há quatro anos depois de ter servido de tribunal judicial. Destinara-se o espaço que ocupava e o terreno próximo á construção de um mercado, que não teve ainda principio.
Os restos do convento e dos paços, com a cerca, pertencem boje á câmara. O que passou dos fiéis devotos aos frades, dos frades aos reis, e destes outra vez áqueles, veio afinal, pela sucessão dos tempos, a ser do municipio. Assim se restituiu ao dominio popular aquilo que primeiro pertenceu ao povo. O que as revoluções aniquilaram, o que a ignorância e o desleixo destruiram, isso que a ninguém utilisou, sirva ao menos de persuadir a necessidade de preparar um futuro mais civilizado que os últimos século,s compreendendo, apesar de todas as luzes este em que vivemos. A. Filippe Simões
38° 34' N 07° 54' W
Évora
Portugal
História: IGREJA E CONVENTO DE S. FRANCISCO em ÉVORA (II) -imagem 1868
História
ÉVORA
IGREJA E CONVENTO DE S. FRANCISCO
2ª parte
Não durou muito a pobreza primitiva da ordem. Da citada doação de julho de 1245, escrita por Payo, tabelião, consta que João Esteves e sua mulher, Maria Martins, deram uma terra aos religiosos para se alargarem mais, com a obrigação de os encomendarem a Deus. Por outra escritura feita em setembro de 1250, João Pelagio Cordura e sua mulher, Mayor de Guimarães, doaram aos frades um lagar e outra terra junto á porta de Alconchel para estenderem mais o convento. Finalmente, por outra escritura que fez Domingos Martins em 22 de junho 1280, Pedro Afonso, mercador, e sua mulher, Maria Soares, deram aos frades um campo contiguo ao convento para o mesmo fim, pelo amor de Deus e em beneficio de suas almas.
Foi também o convento, nos primeiros tempos depois da sua fundação, favorecido pelos monarcas portugueses. D. Afonso III deixou-lhe em testamento cinquenta libras, D. Fernando e D. Duarte lhe deram terras e casas para se alargar. Alguns o protegeram com importantes privilégios e isenções.
Com estas e outras esmolas aumentou a casa franciscanos a ponto de lhe chamarem comumente convento do oiro. Que chegara a estender-se por boa parte da cidade é o que se depreende das aludidas doações, e também de uma velha memória manuscrita que andava num livro de pergaminho do coro onde se cantavam as horas menores. Começa este curioso documento da maneira seguinte:
«Esta casa de S, Francisco de Évora quero aqui pôr o que tem para que os que vierem saibam o que é da casa. Esta casa tem por cerca da porta do Rocio até á porta do Reymondo, tomando pela rua dos Toiros abaixo até á porta. E tem este alpendre e todo o adro sagrado assim como são as claustras ambas e a igreja, e da banda do muro da cidade não é sagrada, posto que o seja o adro. A igreja era de sete naves, e no couce estava um côro muito honrado; e prégam no alpendre para caber a gente. A egreja de sete naves cahiu, e com esmolas a tornaram a fazer os padres de três naves, e tornou a cahir com parte do alpendre, de que esta casa recebeu grande perda e damno, e reinou D. Afonso V, e houve grandes guerras com Castella...»
Não merece crédito a historia do templo aqui referida, que os cronistas repetiram e a cidade conserva em tradição. Admitir que em pouco mais de dois séculos os frades, tendo principiado em grande pobreza, alevantassem uma igreja de sete naves, não mais de cinco as maiores da cristandade; que mesmo espaço de tempo caisse por terra, fosse reedifícada e tornasse a cair; que os religiosos a conservassem depois em ruinas muitos anos, á espera que a real munificencia lha reconstruisse, tudo isto é o mesmo que inverter a ordem natural dos factos, e começar por onde se deveria acabar. Baldadas diligências nos parecem pois as que puseram alguns escritores em conservar este glorioso brazão á ordem S. Francisco e á cidade de Évora.
Tinha o convento, como diz a memória, duas claustras. Uma existe ainda, posto que muito arruinada; outra apenas restam alguns vestigios. Era esta última num espaço alastrado de ruinas, que hoje vemos entre o edificio e o muro que entesta com a rua que há pouco tempo se abriu desde a porta lateral do publico até á rua do Paço. Conserva-se de pé parte do lanço setentrional da velha claustra com dois ou três grandes arcos de volta abatida, muito obstruidos e alterados com posteriores reconstruções; e no meio do largo subsiste a velha cisterna, tão entulhada que já custa a conhecer. Uma parede que recentemente deu em terra do lado do poente descoberto um abundante ossário.
A primeira claustra em breve seguirá esta na ruína que os homens, ainda mais que o tempo, lhe vão apressando. Em partes os arcos ogivais deram já de si a ponto de desaprumarem a dobrada ordem de colunas de mármore em que se estriham. Foi construida no anno de Cristo de 1376, como se lê na lapida que dali trasladaram ha alguns annos para biblioteca publica. «Dom Fernando Affonso de Moraes, commendador de Montemor, mandou fazer esta crasta a fr. João d'Alcobaça, custódio, e a fr. Aº Montemor, guardião, na grande fome em 1414.»
Os caracteres góticos minusculos, muito perfeitos e elegantes desta inscrição formam um quadro, em cujo meio se vêm esculpidas as armas dos Moraes com a cruz da ordem de S. Tiago, á qual pertencia a comenda de Montemor. Talvez por dificuldade que se lhes deparasse nas abreviaturas, os cronistas ordem e o padre Fialho deram só metade da inscrição, com quanto seja importante o facto da grande fome ali mencionada. Se foi particular do Alentejo ou geral do reino não o sabemos nós, nem temos noticia de nenhuma que se refira áquele ano de 1376.
Outra pedra mais notável e de maior valor artístico foi igualmente transferida do claustro de S. Francisco para a biblioteca publica. É um mármore de 1,23m de largura, de 0,94m de altura, e de 0,23m de espessura, que representa em mais de meio relevo a Anunciação de Nossa Senhora. Na parte inferior lê-se em carateres góticos maiusculos o seguinte, que também temos por inédito: «Aqui jaz Ruy Pires Alfageme, frade da terceira ordem. Era 420.»
As figuras são toscas, bem como todas as que ficaram da mesma epoca, ainda nos primeiros trahalhos deste género; mas o gracioso e bem baldaquino que as cobre revela já o escopro que alguns anos depois abriu os delicadissimos ornatos da Batalha. O relevo do velho claustro é, pois, um mais interessantes monumentos da escultura portuguesa do seculo XIV.
Diz-nos o autor da memória qual era em seu tempo a importância do convento:
«Tem esta casa dois refeitórios, um de peixe, outro de carne. Tem mais esta casa estudo, que é a melhor coisa que tem este relno; e estão aqui sempre os principais mestres em teologia. Tem aposentamentos padres mestres e estudantes. Tem livraria, onde se acham todas as obras compridamente: Testamento velho e novo, e todos com suas cadeias. Esta casa chama-se Convento de Ouro. Aqui vem toda a clerezia com suas cruzes, e todo o povo vespera de Ramos, e nós todos em procissão, e seis padres com varas vermelhas e capas; e eramos por todos ás vezes oitenta; e trazendo os ramos a esta igreja aqui se benzem com grande solenidade e prazer, e isso temos por privilégio como outras coisas.»
Durando ainda o século XIII, se tornaram os conventos de S. Francisco de observantes em claustrais, por meio de dispensas e privilégios que lhes permitiram acumular riquezas, contra o primitivo espírito da ordem. Perdeu com esta mudança a austeridade monástica, mas ganhou muito a cultura das letras, que em todos os conventos do reino se promoveu com diligencia e ardor. E como das aulas que mantinham não recebessem estipendio, pouparam a despesa da cadeira de teologia na universidade a el rei D Dinis, que em estatuto determinou que os estudantes aprendessem com os frades de S. Domingos e de S. Francisco. Vigorava ainda esta disposição quando pela segunda vez se trasladou a universidade para Coimbra.
Não era sómente nos conventos desta última cidade e de Lisboa que havia estudos regulares. No de Évora ensinavam-se, além da teologia especulativa e da moral, as humanidades, e davam- se tanto aos de casa como aos de fora que frequentavam as aulas, os graus de doutor licenciado e bacharel. Costumava também a ordem mandar alguns filhos seus ás universidades estrangeiras para se aperfeiçoarem nas disciplinas que no reino haviam de professar.
Quando D. João III trasladou e reformou a universidade de D. Dinis, eo cardeal D. Henrique fundou a de Évora, pelos privilégios e aumentos que estas instituições obtiveram, começaram a decair os estudos seráficos da altura a que antecedentemente haviam chegado. Em Évora só a universidade podia ter aulas públicas. Desta e outras prerogativas muito se queixavam os franciscanos, de toda a maneira desatendidos e avexados pelos jesuitas, que chegaram até a lhes tirar o lugar, que de direito lhes pertencia, logo depois da ordem de S. Domingos, nos argumentos públicos da universidade.
Havia também noutros conventos, como no de S. Francisco, o uso de prender os livros com cadeias ás estantes. Os estatutos da universidade de Évora ordenaram a este respeito o seguinte: «Averá nas escolas húa casa pera livraria da Universidade, na qual estarão livros de todas as faculdades em ahastança, postos em estantes, e presos por cadeas, e enquadernados em tavoão, com seus titulos de boa letra.»
Lê-se mais adiante na memória do livro do côro:
«Pousava D. Afonso V nos estáos, e porque sahia muitas vezes ao campo, pediu-nos os estudos para neles pousar, e nós lhos démos com todas as casas dos mestres, por ser nosso rei e senhor; e elle como se viu de posse, e as casas tão boas, cometeu-nos que lhe dessemos aqueles aposentos, em que estava e nos faria a igreja; e nós todos com campa tangida lhos outorgamos, não nos parecendo que elle mais tomasse; e elle começou logo de fazer suas camaras e portas para a nossa casa, e cada dia pedia casas; assim que tomou bem ametade da casa, e depois ametade da horta; e depois os padres choravam pelas barbas, e reclamavam sem lhe aproveitar, que para isso el rei houve provisão de grande sacerdote, e por isso se foram daqui muitos padres...»
Os estáos ou paços reais eram na Praça de Évora, entre a rua da Cadeia e a rua dos Toiros, que ainda em 1500 se prolongava até á mesma praça. Ficavam portanto próximos de S. Francisco e na mesma área que, segundo o velho manuscrito ,o convento ocupava. Não se reputará por esta razão impossivel que chamassem antigamente paços de S. Francisco aos estáos, como parece depreender-se das crónicas de Ruy de Pina e Duarte Nunes de Leão.
D. Afonso V, fazendo em Évora mais longas residencias que os reis seus antecessores, e achando pequenas as casas da Praça, resolveu edificar novos paços no convento e horta dos franciscanos, o melhor sitio que para tal fim se lhe deparava em toda a cidade. Com o pretexto de sair facilmente ao campo, se hospedou na casa dos estudos e se foi apossando do que mais lhe convinha, embora deixasse os pobres frades a chorar pelas barbas.
Já vimos também que não é facil determinar o tempo em que principiaram estas régias invasões pelos dominios dos frades, e que só com alguma probabilidade supozemos que seria pelos annos de 1471, depois das vitórias de Arzilla e de Tanger.
A. Filippe Simões
38° 34' N 07° 54' W
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