História das Ordens Religiosas em Portugal - Hospitalários de S. João de Deus
Deve este caritativo Instituto a sua origem ao prodigioso e singular Patriarca Português S. João de Deus, o qual, nascendo na Vila de Montemor o Novo, a 25 de Março de 1495, foi tão aplaudido no Céu, que este pôs luminarias aparecendo sobre as casas em que nascera, uma resplandecente coluna de fogo e ouvindo se repicar os sinos da sua Paroquia, sem intervir impulso humano, tendo juntamente revelação das excelências do recém nascido, o santo varão João de Valença, Eremita da Serra de Ossa.
Aos oito anos da sua idade, deixando a pátria, se passou a Castela, onde se empregou em diferentes exercícios, até à idade de quarenta e dois anos, que completou no de 1537, no qual, a 8 de Novembro, dia em que a Igreja celebra a Oitava de Todos os Santos e o martírio dos quatro Coroados de Roma, o coroação Maria Santíssima e S. João Evangelista com uma coroa de espinhos, e assim coroado lançou o primeiro alicerce à sua Ordem, principiando nesse mesmo dia a fundação do Hospital de Granada, qual governou até os cinquenta e cinco anos de sua vida, que finalizou em 8 de Março de 1550, cujo ditoso fim anunciaram ao povo todos os sinos de Granada, dobrando por mãos invisíveis para que de alguma sorte correspondesse a morte com o nascimento.
Passados vinte anos nove meses e vinte e três dias, depois do seu felicíssimo transito, aprovou S. Pio V esta Ordem à instância de seus filhos, pela Bulia Licet ex debito, expedida no primeiro de Janeiro de 1571,de cuja aprovação se devem contar os anos da sua antiguidade, como contra varias opiniões de alguns Autores, declarou a Sagrada Congregação dos Ritos, por Decreto do ano de 1742.
Tem gerado esta fecunda e caritativa Mãe mais de cento e noventa filhos singulares na virtude, cujas vidas se lêem na sua Chronologia Hospitalaria, entrando neste numero muitos que mereceram a coroa do martírio e não entrando os muitos que voluntariamente tem sacrificado as suas vidas na assistência dos enfermos em ocasiões de peste.
Não há muitos tempos que vimos arder ainda nos corações de seus filhos o incêndio da caridade deste Santo Patriarca, pois convidando o Padre Geral de Hespanha, por carta circular de 15 de Outubro de 1743, aos Religiosos daquele Reino, para irem assistir aos feridos da peste que havia nas praças de Ceuta e Penon de Vellez de Gomera, se ofereceram mais de cem, como nos consta por certidão autentica do Secretario Geral, de 1 3 de Dezembro do dito ano, e depois da data desta se ofereceram e instaram com repetidas suplicas Comunidades inteiras, não os intimidando as lastimosas noticias que lhe chegavam dos que iam morrendo na empresa, em que gloriosamente acabaram dezanove as suas vidas.
Dentro de tão pouco tempo se tem propagado esta Ordem, de sorte que conta hoje dezoito Províncias, de que se compõem as duas Congregações de Itália e Hespanha, com dois Gerais, independentes hum do outro, e divididas por Paulo V no Breve que principia: Piorum virorum, de 12 de Abril de 1608, por virtude do qual se celebrou em Madrid o primeiro Capitulo Geral da Congregação de Hespanha, em 20 de Outubro do mesmo ano e saíu eleito Geral, o Venerável Padre Frei Pedro Egipciaco, varão de admiráveis virtudes.
No ano de 1606, antes desta divisão, vieram dois Religiosos de Espanha a este Reino, para fundarem o primeiro Convento, na própria casa em que nasceu o Santo Patriarca, que logo compraram com esmolas e nele fundaram um pequeno Templo, com um Hospital e deste tempo se deve estabelecer a época da sua fundação, sem embargo de que depois se fez outro Templo maior, em que pôs a primeira pedra D. Francisco de Melo, sobrinho do Arcebispo de Évora, D. José de Melo, em 24 de Junho de 1625, ficando debaixo do Presbitério do Altar Mor a mesma casa do Santo, que hoje está reduzida a Ermida, mas com as mesmas paredes para a qual se desce por uma formosa escada.
O Convento de Lisboa é fundação de D. António Mascarenhas, Deão da Sé, hoje Basílica de Santa Maria, Comissário da Bula e Presidente da Mesa da Consciência, do qual tomaram posse os Religiosos no ano de 1629. Com estes dois Conventos e alguns Hospitais, que os Senhores Reis deste Reino lhes entregaram, para neles lhes curarem os seus soldados, (podendo-se ter propagado muito mais este tão pio Instituto, pois o Santo, além de ser nosso natural e o único Patriarca que temos, é a sua Ordem tão celebre em Espanha) ainda assim foi erecta em Província no duodécimo Capitulo Geral, que se celebrou em Madrid a 3 de Maio de 1 671 e foi o seu primeiro Provincial o Padre Frei Estêvão da Silva, varão de elevado talento e grande caridade.
Tem esta Província os Conventos e Hospitais seguintes:
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