quarta-feira, 2 de novembro de 2011

História de Ourém e uma bela moura chamada Fátima (Imagem do brasão de 1860)


História de Ourém e uma bela moura chamada Fátima (Imagem do brasão de 1860)



VILA DE OURÉM

Sobre um monte mui elevado e por todos os lados de difícil acesso, campeia a nobre vila de Ourém. Pertence á província da Estremadura e ao distrito administrativo de Leiria. Dista da cidade deste nome quatro léguas para éste e três de Tomar para oeste.

Não é conhecida a historia desta vila, anteriormente á monarquia portuguesa. Apenas consta que, nessas eras remotas, se chamava Abdegas. Conquistou-a aos moiros el rei D. Afonso Henriques, pelos anos de 1148 ou 49 e logo depois, por ser um sitio tão defensável por natureza, cuidou de a fortificar de modo que não pudesse cair facilmente outra vez em poder dos infiéis. Dizem as cronicas que, para este fim, a cercara de muros e construíra um forte castelo. Se atendermos porém ao costume que os moiros tinham e que era uma necessidade daqueles, tempos de pôr as suas povoações a coberto de qualquer surpresa dos cristãos, deveremos supor que não se teriam descuidado de fortalecer com muralhas e castelo um ponto como aquele, tão apto para a defensa e, por conseguinte, tão importante numa época em que os sobressaltos da guerra constituíam uma das bases mais constantes do viver dos povos. Cremos, pois, que o conquistador de Ourém não fez mais que reparar ou acrescentar as fortificações que já existiam.

Os amores de Gonçalo Hermiges e da bela moura Fátima

Aquele soberano fez doação desta vila a sua filha, a infanta D. Teresa, que lhe deu foral no ano de 1180. Conta-se que esta mesma infanta, em memoria e honra de uma heroína do seu tempo e talvez amiga sua, lhe mudara o nome de Abdegas pelo de Ouriana, depois corrupto em Ourém. Essa heroína era aquela gentil moira que o esforçado Gonçalo Hermiges, numa correria que fez por terras de infiéis, no ano de 1170, cativara nas vizinhanças de Almada, onde ela vivia. O cavaleiro de Cristo, rendido à formosura e graças da jovem agarena, amou-a com tão puro afecto e cercou-a de tão respeitosas atenções e desvelos, que a moira se rendeu alfim ao amor de Gonçalo, que a desposou e á fé cristã. Deixando o nome de Fátima, recebeu com as águas do baptismo o de Ouriana. Foi curta a felicidade dos dois esposos, porque em breves anos chamou Deus a si a consorte de Gonçalo, mas ainda assim deu-lhe tempo para deixar honrada memoria em feitos de armas, no culto da poesia, na fidelidade e extremos conjugais e em todas as virtudes cristãs. Gonçalo Hermiges, perdendo neste lance fatal a vida da sua vida, resolveu morrer para o mundo e foi-se encerrar na clausura do mosteiro de Alcobaça.

No século XIV foi esta vila erigida em condado por el rei D. Pedro I, a favor de D. João Afonso Tello de Menezes, irmão de D. Leonor Teles da Menezes, que ao diante veio a ser rainha de Portugal, pelo seu casamento com el rei D. Fernando, filho de D. Pedro I.

El rei D. Fernando fez conde de Ourem a João Fernandes Andeiro, o insolente valido da rainha D. Leonor Teles, que o mestre de Avis assassinou nos Paços da Moeda. E quando este príncipe subiu ao trono, com o nome de D João I, galardoou com aquele condado os serviços do ilustre Condestável D. Nuno Álvares Pereira, o qual o renunciou mais tarde em seu neto D. Afonso, primogénito do primeiro duque de Bragança. Desde então andou este titulo na casa de Bragança. Modernamente foi feito barão e depois visconde de Ourem o general Lapa.

El rei D. Pedro II deu novo foral a esta vila, a 6 do Julho de 1695. Tinha voto nas antigas cortes, com assento no banco décimo quarto. O seu brasão de armas consta de uma águia no meio do escudo, entre dois escudos das quinas de Portugal e, sobre este,s de um lado o crescente e do outro uma estrela.

Havia, outrora, na vila quatro paroquias, que foram incorporadas numa única Colegiada, pelo papa Eugénio IV, a instâncias de D. Afonso, marquês de Valença e conde de Ourem, por ocasião da sua ida como embaixador ao concilio de Basileia. Este mesmo príncipe fundou o templo da Colegiada em 1445, consagrando-o a Nossa Senhora da Misericordia. Goza esta Colegiada do titulo de insigne e é servida por varias dignidades e cónegos. Numa capela por baixo do coro, acha.se o rico mausoléu do fundador que, por falecer em vida de seu pai, D. Afonso I, duque de Bragança, filho natural de el rei D. João I, passou a sucessão desta grande casa ao segundo genito, D. Fernando.

Os outros edifícios mais notáveis da vila são a casa da Misericordia, o hospital e três ermidas; o castelo e as muralhas, com duas portas que cercam a povoação e que se conservam com alguma ruína.

Regam os subúrbios quatro ribeiras, que os fazem férteis e aprazíveis. Há neles uma bela quinta, com grandes bosques, chamada da Moita da Vide e o edifício do extinto convento de Santo António, de frades capuchos, fundado em 1602.

Nas vizinhanças de Ourém há ainda outra memoria da consorte de Gonçalo Hermiges. E a invocação de uma igreja paroquial que se intitula Nossa Senhora dos Prazeres de Fátima.

A principal produção do termo consiste em cereais, legumes, azeite, vinho e frutas. Abunda em caça e tem alguma criação de gado.

Ourem encerra uns três mil habitantes. Também é nomeada Vila Nova de Ourem.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos 2011 Ourém conta com 45 887 habitantes

Freguesias de Ourém

Alburitel, Atouguia, Casal dos Bernardos, Caxarias, Cercal, Espite, Fátima, Formigais, Freixianda, GondemariaMisericórdias (Ourém), Olival, Ribeira do Fárrio, Rio de Couros, Seiça, Urqueira 

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