História
Literatura
Continua renhida a Questão Coimbrã

Tem continuado a renhida controvérsia, entre alguns escriptores de Coimbra e de Lisboa, ácerca da critica liiteraria do sr. Antonio Feliciano de Castilho no Poema da Mocidade, do sr. Pinheiro Chagas, a que nos referimos no Annuário anterior. Em defesa do sr. Castilho e do bom nome das letras portuguezas, antigas e modernas, vieram os srs. Innocencio Francisco da Silva, A. A. Teixeira de Vasconcellos, Ramalho Ortigão, Zacharias Assa e outro filho do poeta aggredido. Em defesa do sr. Anthero do Quental saíram o sr. Theophilo Braga, e anonymos em diversos jornaes e opúsculos, mas estes com tal azedume e tão pouca justiça, que os periódicos ao annunciarem a apparição dos escriptos, não têm deixado de verberal-os como merecem.
O artigo do sr. Innocencio da Silva, o distincto bibliographo, teve por fim levantar, ou, antes, sustentar a fama e a veneração de que justamente gozam entre os cultores das boas letras os nossos clássicos, que são os mestres de todos os que prezam a vernaculidade da língua, e que os adversários do sr Castilho pretenderam ridiculisar referindo-se a elles com o mais humilhante desprezo.
O artigo do sr. Teixeira de Vasconcellos, sob o titulo de Pax!, tendia á conciliação; notando a temeridade do sr. Anthero do Quental em aggredir um vulto litterario como o sr. Antonio Feliciano de Castilho, respeitado e venerado de nacionaes e estranhos pelos seus importantíssimos serviços á litteratura, o esclarecido redactor da Gazeta de Portugal desejaria que o novel escriptor de Coimbra viesse confessar publicamente o seu erro e a sua audácia, e dar testimunho de que não podia deixar de respeitar o que era respeitado de todos.
Um novo folheto em verso contra o sr. Roussado, que também defendêra o sr. Castilho, veiu engrossar o numero já avultado, das folhas avulsas relativas a esta controvérsia litteraria, mas não suavisar a rudeza de certos contendores. A controvérsia, pois, continuará, e não sabemos quando chegará ao termo. Os escriptores que trouxeram ao campo tão ingrata polemica reconhecem porventura a sua precipitação eo seu erro, porque a critica lideraria não desce nunca a questiúnculas pessoaes, mas não querem confessar a culpa e pedir a absolvição. Este procedimento não deslustraria os moços escriptores, mas a sua teimosia é da mais severa censura.
Desde o tempo do célebre José Agostinho de Macedo, que soube alimentar ruidosas e escandalosas controvérsias litterarias, não houvera, comtudo ,outra, como a que está chamando, e ainda chamará a attenção de todos, pela pertinácia com que a alimentam.

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