História
Mosteiro da Batalha em 1849
A Casa do Capítulo
O convento da Batalha, esse primoroso monumento da arte verdadeiramente nacional, esse magnifico poema de pedra das nossas glórias e nossa independência, está edificado em um vale ameno, regado pelo Lena, junto de uma pequena povoação que dele tira o nome popular que tem.
A Batalha há sido tanta vez descrita de nacionais e estranhos, que julgámos inútil repetir o que de quase todos é sabido, e o que foi já tratado tão magistralmente. É bem conhecida a descrição do elegante autor da Historia Dominicana - a obra de Murphy, acompanhada de magníficos desenhos é do maior interesse, como de homem imparcial e competentíssimo na matéria - a mais recente memoria do ilustre D. Fr. Francisco de S. Luiz, já falecido, e impressa nas da academia real das ciencias, é um trabalho consciencioso como tudo quanto saiu da pena daquele sábio escritor.
Há cousas, porém, no nosso magnifico monumento, que nunca serão assas admiradas. Neste caso está a celebrada casa do capitulo, de que a estampa dá uma pequena ideia. É uma obra admirável, maravilhosa, a mais maravilhosa de quantas maravilhas abundam na majestosa criação de Afonso Domingues - o arquitecto soldado.
«Sendo quadrada, e tendo 340 palmos em âmbito, sem coluna, nem esteio, nem cousa que a sustente, nem mais repuxo da banda de fora, que a companhia do edifício que lhe fica nos lados, assim está em forma que a quem põe os olhos no alto engana, e faz parecer, pela grandeza da casa, que se sustenta sem côncavo. É fama que ao tempo que se fabricava caiu duas vezes ao tirar dos simplices, com dano de oficiais; e elrei, desejando que todavia ficasse a casa sem o desar de colunas em meio, prometeu mercês ao arquitecto, as quais o fizeram espertar de sorte, que tornando a fechar a abobada, afirmou que teria melhor sucesso; porém ao tirar da madeira dos simplices, dizem que não quis elrei arriscar os oficiais, e mandou vir das prisões do reino alguns homens que estavam sentenciados a grandes penas, para que sobre elles caísse o terceiro dano, quando sucedesse.»
No centro desta extraordinária casa, que ainda até hoje, 461 anos depois, não desmentiu a palavra do brioso artista, acham-se os túmulos de D. Afonso V e sua mulher, D. Isabel; e o do príncipe D. Afonso, filho de D. João II, que de idade de 16 anos, caindo de um cavalo, morreu desastradamente junto a Santarém.
«Em um dos ângulos da casa, no ponto onde nasce um ramo dos arcos que não fechar a abobada, vê-se um busto de pedra, que se supõe representar o arquitecto que concluiu a obra.»
Fazemos ardentes votos para que efectivamente se destinem esses mesmos meios que estão votados, e que aliás são insuficientes, ao reparo de tão glorioso monumento, confiando-se a direcção dos respectivos trabalhos a indivíduo que tenha a inteligencia, o gosto e a prática necessária.
39º39'32"N 8º49'33"W
Batalha
Portugal
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