História
Leiria
Viagem pelo passado de Leiria e o seu castelo em 1848
No século V a povoação, ou pago de Collippo, caiu em poder dos suevos - sendo depois entrada dos visigodos e dos mouros ,no VIII século. Entretanto pode-se com certeza afirmar que a verdadeira importância de Leiria data do tempo em que D. Afonso Henriques, conhecendo a excelência da posição, e o quanto lhe convinha fazer dela uma espécie de atalaia, que lhe facilitasse as suas conquistas nos feracissimos territórios ao norte e sul do Tejo, ainda senhoreados dos inimigos da fé, fundou o castelo (1135), cujas ruínas hoje apresentámos na nossa estampa.
Por vezes tentaram os mouros destruir aquele fortíssimo baluarte, o que conseguiram, apesar da brava resistência que lhes opôs o seu valente alcaide D. Paio Guterres: da primeira vez (1139), quatrocentos homens d' armas e cavaleiros tingiram com o seu sangue aquelas muralhas; da segunda, morta toda a guarnição, o próprio D. Paio caiu prisioneiro dos infiéis. Estes terríveis revezes não fizeram desistir Afonso Henriques do seu propósito: o castelo é novamente reedificado, e o município de Coimbra oferece perdão de todos os pecados a quem dentro daquelas muralhas for combater pela santa causa da religião e da pátria.
A illustração militar de Leiria acaba aqui; porque não consta que mais vezes fosse assediada ou rendida.
É de 1142 o primeiro foral desta cidade.
Leiria não se tem opulentado e crescido em proporção de outros logares que não eram menos insignificantes. Todavia a sua situação, num valle delicioso e ameníssimo, entre o Liz e o Lena, é bastante vantajosa; o melhoramento das communicações internas e a construição de uma via férrea, que, partindo de Lisboa em direcção ao Porto, passasse por esta povoação, haviam de influir grandemente no seu destino e constitui-la- iam um excellente ponto para o cormercio interno, no que muito ganhariam as visinhas povoações e as riquíssimas mattas nacionaes mandadas plantar pelo bom rei D. Dinis, e que actualmente se podem dizer quasi desaproveitadas.
Leiria hoje é capital d'um districto administrativo, e conterá 3,000 almas, pouco mais ou menos, repartidas por 640 fogos. Além do castelo não existem em Leiria outras construcções que mereçam especial menção. Nos arrabaldes vê-se, porém, o templo de N.S. da Conceição, graciosamente edificado na planura duma montanha. Traremos para aqui as palavras dum mimoso poeta contemporâneo, que por aquelles contornos andou buscando inspirações:
«Do alto desta montanha, diz elle no seu manuscripto, descobre-se ao longe a serra de N.S. do Monte, e a sua peregrina ermida; vê-se a estrada de Santo António do Carrascal, e a de Coimbra; avista-se uma grande extensão de viçosas campinas, de alegres outeiros, de formosos valles cortados pelo Liz. Em baixo, levantando-se nos ares como um gigante de pedra, atalaia do rio, avultam as magnificas ruínas do castelo de Leiria.
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