História
Carnaval de 1842
O CARNAVAL
O Carnaval deste anno, a despeito do rigor da estação, que só no terceiro dos tres dias solemnes deixou ver o sol, foi abundante de feijões e tremoços, representações, bailes e mascaras. A generalidade de taes dispêndios populares, observa um philosopho, é sempre um simptoma de pobreza. A nossa já não carecia de tais provas para ser conhecida. Em geral duas coisas podemos observar neste entrudo: os brincos selvagens passaram de moda, mas o bom gosto na escolha dos divertimentos não se tem apurado; os nossos mascarados são, com pouquíssimas excepções, insignificantes authomatos, que dizem pouco e não significam nada; tomam uma mascara e qualquer vestido, que não seja o seu, e com isso têm satisfeito a sua consciência de carnaval. O baile mascarado de S. Carlos esteve deplorável nas duas primeiras noites; na terceira concorreu gente bastante e os disfarces chegariam a 150. O saimento do entrudo, ao bater meia noite, foi espancado e corrido com tal paleada, que os da comitiva se tornaram sem n'o haverem podido enterrar. Com razão; a paródia da coisa mais solemne e tremenda do mundo é abominável numa festa; os cantos e trajos da egreja, atraz de um pendão com cruz e caveira e precedendo a um esquife com um mono dentrom é uma tão insensata e semsabor impiedade, que devem para sempre desterral- a. Outro tanto dizemos dos hábitos religiosos, com que alguns mascarados andavam promovendo o já pleonastico desprèso das coisas da egreja, na hora mesma que precede ao dia das cinzas; na entrada do tempo da penitencia!
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