segunda-feira, 11 de abril de 2011

Cão da Terra Nova - notícia de 1837



Cão da Terra Nova salva jovem dono

Notícia de 1837


O cão da Terra Nova

Este animal forte, intelligente, e docil, о mais nobre da raça canina, he natural do país de que toma о nome, е pode ser considerado como huma especie particular. Os cães, que ordinariamente vemos com o nome da Terra Nova, são muí inferiores a todo o respeito áquelles que se encontram no seu estado natural; não obstante são elles sempre amigos fiéis e valentes, apezar de não mostrarem ternura exagerada, turbulencia, ou de humor. Este bom animal, em casa, estende-se a vossos pés, dirige seus olhos sobre o vossos, e espera hum simples aceno, hum movimento de vossos labios lhe diga - Vamos para fora. - Entao segue a passos lentos seu amo, delle se nao afasta para vagamundear com outros cães, e parece a todos que o vêem hum priguiçoso, ou pelos menos hum indolente -, mas chegada a hora do perigo, então he que he ve-lo. Se he atacada a pessoa a quem acompanha, em hum momento seu e herissa, elevam-se-lhe as orelhas, brilham-lhe os olhos, rangem-lhe os dentes; e num abrir e fechar d'olhos, salta ao pescoço do agressor, e o prostra por terra.

O cão da Terra Nova he empregado pelos habitantes daquelle paiz na condução das madeiras do interior para a costa; tres ou quatro cães, presos a hum carro, puxam por muitas leguas, e com facilidade, oito a dez arrobas de madeira; são tão destros neste serviço, que não necessitam de guia; e logo que os descarregam, voltam de motu proprio para os bosques, esperando receber alguma coisa de comer, em recompensa de seu trahalho. Mesmo entre nós, o cão da Terra Nova deseja sempre que o empreguem, e com prazer leva pendentes da boca as coisas que se lhe confiam, e seria perigoso tentar sua fidelidade.

Muitos factos se contam que attestam a fidelidade do cão da Terra Nova, tanto nos perigos imminentes, como mesmo além do túmulo; o seguinte he hum dos exemplos mais notaveis que conhecemos.


Hum rapaz inglêz, tendo embarcado por moço a bordo do de hum navio que navegava de Nova Yorck para Inglaterra, e não tendo obtido licença do capitão para о accompanhasse hum magnifico cão de Terra Nova que possuia, separou-se delle não sem derramar lagrimas; e o pobre animal por milito tempo ficou immovel sobre a praia como se duvidasse da partida de dono. Mas quando vio largar as vellas ao navio, e este começava a cortar as ondas, o pobre cão lançou-se ao mar, alcançou a embarcação e a seguio a nado por espaço de algumas leguas. Em fim o capitão, á vista de tanta constancia, permittio que o fiel animal, já quasi exhausto de forças, fosse recebido a bordo, onde aos cuidados do dono, em breve convaleceo de suas fadigas.


Quasi no fim da viagem huma violenta tempestade metteo o navio a pique, perto das costas da Inglaterra, e pereceo toda a equipagem, excepto o jovem moço, a quem o seu cão a muito custo conseguio pôr a salvo em terra. Logo que o vio em lugar seguro, рôs as patas sobre o corpo desanimado de seu dono, e começou a ladrar com toda força até que vieram socorre-lo. He neste acto que o representa a estampa do frontispicio. O cão todo o tempo que o moco se conservou sem sentidos, nao deixou de vigiar com ar inquieto e desconfiado os movimentos dos pescadores que o socorriam; mas logo que o corpo deo signaes de vida, veio lamber as mãos dos seus bemfeitores, e depois deitou-sе aos pés de seu dono, a quem olhava com a maior ternura.



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