História
Porto
Igreja de Cedofeita no Porto (Imagem de 1842)
Nem só o grandioso da estrutura e a dos materiais fazem célebres os edifícios; recordações históricas dão a uns categoria monumentos; e a outros basta a veneranda antiguidade de sua fundação para serem estimados. Neste caso está a igreja de Cedofeita, hoje uma das freguesias da nobre cidade Porto. Sobre qual fosse o seu fundador correm opiniões encontradas; as duas mais gerais apresenta D. Rodrigo da Cunha no Catal. Hist. do Bispos do Porto, 2ª part. pag. 406 e 407; a primeira, citando Fr. Luiz dos Anjos, o qual diz ter sido levantado o templo pelo rei suevo Reciario, o primeiro católico destes Reis na Galiza, e que fora educado na seita de Ario; dando-se por motivo de sua conversão a saúde de um filho, que muito amava, recobrada depois de perigosa enfermidade por virtude da devoção, que por conselhos tomara com S. Martinho bispo de Tours; e conta-se que ao mandar vir de Franca uma relíquia do santo fizera logo começar a igreja, a qual tão prestes se aprontou que ao chegar a relíquia já estava concluída, donde lhe veio (dizem) o nome de citofacta ou Cedofeita. S. Gregório Turonense, referindo a vida de S. Martinho, diz que esta obra se fizera de um modo portentoso.
A segunda é de Fr. Bernardo de Brito, que (Mon. part. 2 liv. 6 cap. 12) sem discrepar das circunstancias do milagre tem para si que o rei de que fala S. Gregorio era Theodomiro, e a igreja edificada a de Dume junto a Braga. S. Máximo, bispo de Saragoça, expressamente narra que a de Dume fora erecta por ordem Reciario para se recolher S. Martinho a que chamamos Dumiense, depois de ter pregado a fé em Portugal, e já depois de estarem as relíquias de S. Martinho Turonense em igreja, que não podia ser a de Dume, construída. O P. Agostinho Rebello na sua Descrip. do Porto traz inteira uma inscrição lapidar collocada por cima da porta da igreja em 1767; no fim da mesma inscrição se diz ter sido trasladada de outra mais antiga e que constava dos arquivos da Colegiada, e no corpo dela se relata com especificação que o rei suevo Theodomiro a fundara 559, dedicando-a á honra de Deus e da Virgem, e a S. Martinho de Tours, recebendo aí o baptismo com seu filho Ariamiro, porque ambos eram hereges arianos; Iê-se que foi sagrada por Lucrécio, prelado de Braga sob o pontificado de João III. Teve comunidade de cónegos que abraçaram a regra de St. Agostinho, e que em tempos possuíram grandes rendas e privilégios, como o senhorio dos direitos de todo o pescado que se colhia desde Aveiro até Galiza; com o decurso do tempo alcançaram eles bulas apostólicas para viverem separados a exemplo cónegos das catedrais. Durante o dos árabes se celebraram nela sem interrupção os divinos ofícios. «Mas (diz D. Rod. da Cunha) sem averiguarmos estas antiguidades, que estão tão longe de nós, a igreja de Cedofeita é Colegiada e uma das insignes do reino.» Salvas as recordações, não o dirá hoje quem olhar para o edifício, que nem tem arquitectura notável, nem coisa que o recomende. Apontaremos de passagem que o mesmo Cunha, a pag 61 do citado catalogo, primeira edição, diz que em Abril de 1263, reinado de D. Afonso II, deu Nuno Soares, abade de Cedofeita e conego na Sé do Porto, ao bispo, desta D. Martinho, e a seus sucessores todo o direito que tinha na igreja Campanhã e seu padroado. Este direito viera ao dito Nuno de seus maiores, consta do Censual da sé do Porto, e vemos extracto de João Pedro Ribeiro, Dissert. 19ª, pag. 25, do vol 5, onde se acha aquela doação feita sendo rei D. Sancho II; além desta prova bastava a data para se conhecer que não fora no reinado antecedente.
O P. Rebello, querendo exaltar grandemente Cedofeita, a pag. 94 diz que em mais de doze séculos de duração (até o tempo dele) nunca fora reedificada. Cremos que tão pequeno e fraco edifício ha-de ter sido reparado; nem é, como pertendem, o templo cristão mais antigo do reino; porque, por exemplo, lá tem a sua incontestável prioridade a sé bracarense. Distingue-se também a de Cedofeita por muitos varöes ilustres nela tiveram cadeira, entre eles о prior D. Nicolau Monteiro, natural do Porto, e bispo desta cidade, que fora conselheiro de estado, mestre dos filhos de D. João IV, e embaixador deste monarca ao pontifice Urbano VIII, advogando em Roma eficazmente a justiça de Portugal contra as pertenções de Castela, assim com a voz como pela pena publicando o livro Vox turturis. A este prelado de grandes virtudes deveu muito a diocese portuense. O P. Carvalho, na Chorog. tom I, pag. 354, põe na série dos bispos D. Nicolau logo imediato a D. Rodrigo da Cunha, segundo do nome (o A, dos Catálogos), omitindo D. Fr. João de Valadares, transferido de Miranda, que sucedeu a D. Rodrigo em 1627; D. Gaspar do Rego, seu sucessor em 1637; e os trinta e dois anos de sé vacante, em que o cabido nomeou governadores interinos, porque nem regeu D. Francisco Pereira Pinto, nomeado por Filipe de Castela, nem Sebastião Cesar de Menezes, escolhido por D. João IV; durando então as contestaçôes com a curia romana. D. Nicolau Monteiro só tomou posse em Abril de 1671.
41º 09' N 08º 36' W
Porto
Portugal
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