História da Ordem Militar de Avis (Portugal)
Teve esta Milícia o seu princípio na união de alguns Cavaleiros Portugueses que, ambiciosos de honra e glória, obraram tais acções contra os Mouros em várias terras deste Reino e na conquista de Lisboa, que se fizeram com que el Rei D. Afonso Henriques os favorecesse, dando-lhes rendas para aumento e conservação de tão útil e honrada liga. Naqueles primeiros tempos chamava-se simplesmente «Ordem Nova», nome que durou até se encontrar o lugar certo para o seu estabelecimento.
Vendo el rei a utilidade destes Cavaleiros, para maior disciplina os levou à forma Regular, dando-lhes a Regra de S. Bento com a Reforma de Cister, para o que reuniu em Coimbra todos os Prelados do Reino com o Cardeal Ostiense, Legado à latere do Papa Alexandre III, que aceitaram a determinação del Rei e elegeram para primeiro mestre o seu irmão bastardo D. Pedro Afonso. Isto aconteceu no ano de 1147.
Conquistada Évora aos Mouros em 1166 pelo famoso Giraldo Sem Pavor, ordenou el Rei que esta nova ordem passasse para aquela cidade e ofereceu-lhe para local de instalação um local naquela cidade que depois se chamou e conserva o nome de Freiria, por ter sido fundada ali a primeira Igreja da Ordem. Desde então principiou a chamar-se Ordem de Évora, título que conservou todo o tempo que ali permaneceu.
Ainda em Évora, o rei D. Afonso Henriques sujeitou-a à Ordem de Calatrava, em cuja obediência esteve até ao tempo de D. João I; e porque Évora já não era conveniente, por se encontrar longe da linha da frente de combate aos Mouros, no reinado de Afonso II a sede da Ordem foi mudada para Avis, onde permanece desde 1211. Em 1213 a Ordem de Avis separou-se em Província distinta da de Calatrava e por bula de Eugénio IV, terminou a subordinação a Calatrava, depois de muitas queixas dos Mestres de Calatrava ao Concílio de Basileia, devendo-se esta isenção ao rei D. João I.
Foram Mestres da Ordem de Avis:
1 - Pedro Afonso, irmão bastardo do rei D. Afonso Henriques; foi nomeado pelo Legado à latere em 1162 mas como no ano de 1165 ingressou como monge no Mosteiro de Alcobaça, os Cavaleiros da Ordem elegeram a...
2 - Gonçalo Viegas, filho de Egas Moniz. Existe uma dúvida se este Gonçalo Viegas não foi o primeiro Mestre da ordem, pois parece que já era seu Mestre em 1142 e governou durante 38 anos; nesse tempo a Ordem não estava sujeita à de Calatrava nem tinha confirmação solene da Sé Apostólica, existindo porque os bispos a consideravam útil e proveitosa à Igreja. Foi Gonçalo Viegas quem fundou o Convento em Évora e aumentou a ordem. Não se sabe quando morreu, mas acredita-se que está sepultado na Igreja de S. Miguel, em Évora.
3 - D. Fernando Annes ou Anes. Consta que este Cavaleiro ajudou na conquista do Algarve como Mestre da Cavalaria de Évora; e pensando que nesta cidade ficaria a Ordem, começou a fortificar o Castelo e pediu autorização ao Papa Inocêncio III, que lha concedeu em 1201. Com o consentimento del Rei D. Sancho sujeitou a Ordem e incorporou-a na de Calatrava, vendo que também professava a Regra de S. Bento. Foi ele também que passou a sede de Évora para Avis e povoou aquela zona, fundando uma Vila com seu Convento e Castelo. Governou a Ordem durante vinte e dois anos. Faleceu em 1219.
4 - Frei Fernando Rodrigues Monteiro que foi o primeiro Mestre da Ordem a ser eleito em Avis. Foi Mestre durante dezoito anos e morreu em 1237.
5 - Frei Martim Fernandes, sucedeu ao anterior no ano de 1238, reinando D. Sancho Capelo; pelos problemas que atravessava o Reino, de pouco serviam as Ordens Militares. Parece que a eleição deste Mestre não foi muito pacífica, porque de Calatrava vieram informar-se do que se passava, como se vê de um assento da Crónica de Calatrava feito a 22 de Agosto de 1238. Todavia foi confirmado Mestre e ele, com a sua cavalaria de Avis, foi ajudar o Santo Rei D. Fernando, no ano de 1248, aquando do cerco de Sevilha; foi participação vitoriosa. Não se sabe quando morreu mas em 1256 ainda era vivo.
6 - Frei João Portário. Não se sabe nada deste Mestre ou sequer se o foi.
7 - Frei Fernão Soares governou o Mestrado no tempo do Rei D. Afonso III. Diz a Crónica deste Monarca que o Mestre de Avis D. Lourenço Afonso conquistara no Algarve a vila de Albufeira e que por isso o Rei a dera à ordem. Só pode ter sido Fernão Soares, pois era este quem governava a Ordem em 1260, data em que se deram aqueles sucessos.
8 - Frei Simão Soares governou a ordem de Avis durante catorze anos, nos reinados de D. Afonso III e de D. Dinis. Morreu em 1290.
9 - Frei João Peres governou durante onze anos e morreu em 1301.
10 - Frei Lourenço Afonso do qual não há mais dados que ter governado a Ordem durante dez anos e falecido em 1310. Há quem o coloque antes de João Peres.
11 - Frei Garcia Pires
12 - Frei Gil Martins foi um dos mais famosos Mestres da ordem de Avis, que governou durante cinco anos. Participou na fundação da Ordem de Cristo apoiando o rei D. Dinis, no ano de 1319. Parece que Gil Martins terá governado a Ordem até 1325, ano em que, a instâncias de D. Dinis, renunciou ao seu Mestrado, para se tornar no primeiro Mestre da Ordem de Cristo. No entanto, na sua sepultura que se encontra na Igreja da ordem em Tomar, consta que morreu a 13 de Novembro de 1321.
13 - Frei Vasco Afonso, governou a Ordem de Avis durante cerca de dez anos.
14 - Frei Gil Peres foi eleito em 1332.
15 - Frei Afonso Mendes em 1334.
16 - Frei Gonçalo Vaz, Mestre de Avis que esteve com a sua Cavalaria em várias batalhas ao lado do rei D. Afonso IV.
17 - Frei João Rodrigues Pimentel. Governou a ordem de 1341 a 1343 e nesse ano celebrou um Capítulo dom os seus Freires e Comendadores.
18 - Frei Sancho Soares, que sucedeu ao anterior.
19 - Frei Diogo Garcia, que governou a ordem de Avis durante cinco anos.
20 - Frei João Afonso que morreu em 1353.
21 - Frei Egas Moniz.
22 - Frei Marinho de Avelar, eleito em 1357 e que governou durante quase sete anos.
23 - O Infante D. João, que depois veio a ser o rei D. João I. Foi eleito Mestre de Avis em 1364 com sete anos de idade. A Ordem ajudou-no muito a conquistar o trono; depois de coroado ampliou os privilégios da Ordem e separou-a da de Calatrava, não consentindo que viessem Visitadores de Castela viver em Avis; não não chegou a completar esta separação, porque morreu antes do progresso concluído.
24 - Frei Fernando Rodrigues de Siqueira. Depois que o Infante D. João foi aclamado Rei, tomou a administração da Ordem em 1386 e, no seu tempo, veio de Castela o Mestre de Calatrava, D. Gonçalo Nunes de Gusmão, para visitar a Ordem de Avis; encontrando nela os Cavaleiros em conspiração e mais políticos que obedientes, protestando a resistência que lhe faziam, voltou para Castela de onde se queixou ao Concílio de Baliseia; e conseguiu um Breve, no ano de 1436, para que a Ordem de Avis reconhecesse a subordinação à de Calatrava; porém, encontrando-se no mesmo Concílio D. Afonso Pereira, Embaixador do Rei D. Duarte (que depois foi Marquês de Valença), este conseguiu do papa Eugénio IV uma Bula de perpétua isenção para esta Ordem de Cavalaria.
Com este Cavaleiro acabaram os Mestres que saíram do corpo da Ordem e se criaram na observância Regular; daqui para diante o Mestrado foi para a Casa Real, para que mantivessem e conservassem os seus estados honorificamente, como convinha a filhos ou netos de Reis.
Assim, morto Mestre D. Fernando Rodrigues de Siqueira, reinando D. Duarte, tratou-se logo de entregar o Mestrado de Avis ao Infante D. Fernando, que foi o primeiro Administrador em 1434. Muitas coisas mudaram na ordem no tempo deste Senhor. Primeiro, conseguiu-se que os Cavaleiros pudessem casar, começando nos que tomassem o hábito depois de publicadas as Bulas. Em 1443 morreu este Infante em África, depois de um longo cativeiro, deixando para a ordem a grande glória de ter tido por Mestre um Princípe Santo.
Seguiu-se o Infante D. Pedro, filho primogénito do Infante D. Pedro, Regente que foi deste Reino.
E por morte deste el Rei D. João II. Seguiu-se o Príncipe D. Afonso, seu filho, que só foi administrador do mestrado por pouco mais de um ano e meio, pois veio a morrer em Santarém da maneira infeliz que se conhece. Sucedeu-lhe D. Jorge em 1492 e por morte deste foram anexadas na Coroa as três ordem Militares do Reino, ficando os Reis com o título de perpétuos Administradores delas.
Comendadores Mores da Ordem Militar de Avis
Depois dos Mestres segue-se, em todas as Ordens Militares o lugar de Comendador Mor, os quais levam o estoque diante do Mestre e a bandeira, quando vão à guerra. Há poucas informações sobre eles, mas conhecemos alguns Comendadores Mores da Ordem de Avis:
D. Simão Esmigues, Comendador Mor no ano de 1226
D. Pedro Yanes, em 1260.
D. Egas Martins em 1268.
D. João Martins em 1290.
D. Lopo Afonso em 1296.
D. Arias Peres em 1300.
D. Afonso Mendes em 1321.
D. Vasco Esteves em 1330.
D. João Soares em 1332.
D. Vasco Martins em 1349.
D. Fernando Rodrigues de Siqueira em 1370.
D. Lopo Vasques em 1386.
D. Garcia Rodrigues de Siqueira em 1431.
D. Pedro Silva em 1492.
D. Luís de Lencastre em 1514.
Todos estes Comendadores administraram a Ordem na ausência dos Mestres.
Priores da ordem de Avis
Antigamente o Prior do Convento não era mais que um Cura daquela Freguesia que administrava os Sacramentos aos Cavaleiros e fregueses da Vila. Depois, crescendo a Ordem e, vendo-se que o Prior do Convento, como nas outras Ordens Militares, era o Pai espiritual de toda ela, a de Calatrava, quis que o Prior tivesse suprema autoridade e que nos Capítulos da Ordem ocupasse o lado esquerdo do Mestre, porque à direita sentava-se o Comendador Mor; e que o Prior fosse no espiritual como é o Bispo no seu Bispado e que os Clérigos, que iam providos nos Benefícios, passassem pelo seu exame e por ele fossem nomeados. Este direito durou até que el Rei D. João III instituiu o Tribunal da Mesa da Consciência. Leão X, por Bula de 15 de Março de 1515 concedeu-lhes insígnias Pontificais, Roquete, Bago, Mitra, etc., com jurisdição especial no espiritual nas vilas de Noudar e Barrancos, além de temporal no Convento de Avis. O primeiro D. Prior, de que há memória, foi frei Gonçalo no ano de 1349, no tempo do Mestre João Rodrigues Pimentel, como se mostra pelo Capítulo que este Senhor celebrou.
Capítulos da Ordem Militar de Avis
1 - Em 1343, pelo Mestre D. João Rodrigues Pimentel, celebrou-se em Avis.
2 - No ano de 1414, no mesmo Convento de Avis, convocado pelo Mestre D. Fernando Rodrigues Siqueira; aqui tratou-se de discutir o modo de se eximir esta Ordem da de Calatrava.
3 - Em 1445, por D. Pedro, filho do Infante D. Pedro.
4 - Em 1469 pelo Príncipe D. João, Administrador da Ordem.
5 - No ano de 1482, em Évora, pelo mesmo Príncipe.
6- Em 1488.
7 - No ano de 1503 em Setúbal, no Hospital da Anunciada, pelo Mestre D. Jorge. Este foi o último Capítulo celebrado pela Ordem Militar de Avis.
Juízes da Ordem Militar de Avis
Há na Ordem de Avis quatro Juízes:
1 - O Prior da Igreja de Benavente.
2 - O Prior de Santa Maria de Estremoz.
3 - O Prior da Matriz de Moura.
4 - O Vigário da Matriz de S. Miguel de Aveiro.
Dignidades da Ordem Militar de Avis
São seis as Dignidades da Ordem Militar de Avis:
1 - O Mestre ou em seu lugar o Administrador.
2 - O Prior Mor.
3 - O Comendador Mor.
4 - O Claveiro; e a este compete distribuir o mantimento aos cavaleiros, quando está no Convento e tomar conta dos gastos que se fazem.
5 - Alferes Mor.
6 - Sacristão Mor.
Insígnias do Mestre da ordem Militar de Avis
As Insígnias do Mestre da ordem Militar de Avis constam de Estoque, Bandeira - que numa parte tem pintada a Virgem Santíssima e na outra a Cruz de Avis de cor verde com duas Águias dos lados inferiores, de cor parda -, e o Selo da Ordem
Comendas da ordem Militar de Avis
Dentro do Mestrado: Avis, Benavila, Cabeção, Coruche, Cano, Cabeço de Vide, Alter pedroso, Benavente, Defesa do Hospital, Ervedal, Figueira, Mora, Galveias, Pavia, Juromenha, Seda, Fronteira, Alandroal, Alvarinha, Veiros, Alcanede, Alpedriz e Pernes.
Fora do Mestrado:
Freiria de Évora, Borba, eja, Estremoz, Moura, Mourão, Serpa, Sousel, Olivença, Albufeira, Aveiro, Penela, Seixo Amarelo, S. Meice, Seixo de Ervedal, Santiago de Varzea, Casal, S. Vicente da Beira, Meimea, Oriz, Noudar, Alcáçova de Santarém e Montargil.
O Hábito dos Cavaleiros da Ordem Militar de Avis
O hábito destes cavaleiros era antigamente composto de um escapulário curto com capelo de cor preta. O Rei D. Afonso IV pediu ao Papa Inocêncio VI que se mudasse o capelo para uma Cruz verde, o que foi concedido no ano de 1353.
Além da Cruz, usavam no Convento e fora dele, nos Actos Eclesiásticos, um hábito branco com a mesma Cruz ao peito e cauda comprida.
Tem esta Ordem um Mosteiro de Religiosas Comendadeiras em Lisboa, chamado de Nossa Senhora da Encarnação, fundado em 1630, de que hoje (1767) é Comendadeira a Senhora D. Madalena de Bourbon.
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