quarta-feira, 7 de setembro de 2011

O ouro do Brasil e a reconstrução de Lisboa depois do terremoto de 1755




História

O ouro do Brasil


Reconstrução de Lisboa depois do terremoto

A VORACIDADE DOS BRAGANÇAS 

Os principes da dinastia bragantina no século XVIII, custaram-nos os olhos da cara.
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O Brasil, disse Humboldt, produziu mais da metade do ouro da America. E Minas Gerais três vezes mais que todo o ouro do resto do Brasil. Enquanto da época do descobrimento até 1822, Mato Grosso, Goiás, S. Paulo, Baia e Ceará produziram 270 mil quilos de ouro, Minas no mesmo espaço de tempo, extraiu 51.500 arrobas, ou sejam 772.500 quilos.

Isso a produção "oficial", sobre a qual pesaram o quinto e outros impostos vexatorios do momento. Dos contrabandos que a vigilancia feroz de Portugal nunca pôde conter, ninguem sabe a soma.
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Foi sobre o imenso tesouro das minas do Brasil, que d. Pedro II de Portugal, assentou o seu trono absoluto.

Só d. João V recebeu, das nossas mãos, 130 milhões de cruzados, 100 mil moedas de ouro, 315 mil marcos de prata 24.500 marcos de ouro em barra, 700 arrobas de ouro em pó, 392 oitavas de peso e mais 40 milhões de cruzados de valor em diamantes.

No século XVIII, Portugal não teve tempo de trabalhar. Ficou como que embasbacado, a assistir às loucas prodigalidades de seus monarcas. Trabalhámos por ele.

Custeámos-lhe tudo. D. João V não foi, para nós, um rei: foi uma sanguessuga monumental e insaciavel.

Pagámos-lhe, uma por uma, as suas manias de louco coroado. Pagámos- lhe o frenesi religioso. A Santa Sé era o balcão para onde se canalizava o nosso dinheiro. O Papa foi o mercador voraz, a vender a Portugal, por preços fabulosos, as mais futeis concessões do rito catolico. Só para o Vaticano o rei mandou, do nosso ouro mais de duzentos milhões de cruzados, para a compra de titulos honorificos e outras bagatelas.

Pagámos-lhe o delirio de grandeza. A fabrica de seda, a academia, a basilica de Mafra, com o seu sino que pesava oitocentas arrobas, - o maior sino do mundo - as suas alfaias, os seus lustres, os seus cancelos, relogios, purpuras, carrilhões e sedas, tudo e tudo saiu do nosso suor.

Pagámos-lhe o desenfreio da devassidão. Os amores com a Petronilha, com a Gamarra, com tantas e tantas mulheres de sua côrte, sairam nos carissimos. O luxo da madre Paula, no ninho voluptuoso de Odivelas, com os seus terraços de marmore, moveis de marfim, cama de ébano, charões e sedas, sairam das catas brasileiras.

Foi um século em que carregámos Portugal, pesadamente nos ombros. A grande remodelação que Pombal tentou fazer no reino inteiro fomos nós que a pagámos.
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Em 1709, além dos impostos que nos sobrecarregam, exige se de nós um "donativo voluntario", para a guerra que Portugal sustentava naquele tempo. Em 1715 proibem- se os engenhos de açucar, "para que os negros não sejam distraidos da extração do ouro". Açucar é coisa de nonada; ouro, sim, é que vale tudo. Que venha ele só ele.
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Consta-lhe que os ourives são perigosos. Manda expulsá-los do territorio mineiro e confisca-lhes os bens.
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O Papa, a Inglaterra, Mafra, os santos, os conventos, os jesuitas, o ninho de madre Paula, os outros ninhos eram sorvedouros incontentaveis. Que venha ouro e mais ouro, do Brasil! Que se tire de Minas tudo que ela possa dar! E, em 1735, é substituida a cobrança do quinto pela capitação.

Vai até 1751, quando Pombal a extingue, e nesses dezesseis anos, produz 2.066 arrobas de ouro. A 1500 réis a oitava, como era no tempo, são mais de 13 mil contos.

Minas Gerais, influxionada pelas suas catas, desenfreia-se no luxo. Até os mulatos, até os negros forros, vivem como nababos. Assim o ouro ficará em Minas nas e não se canalizará para o erário real. Proiba-se o luxo!

E vem de Portugal leis horriveis. O negro ou mulato forros, que trajem vestidos enfeitados de ouro e prata, ou tecidos de lã, holandas e usem joias, serão mandados para S Tomé. Para Angola irão os que usarem ouro ou galões. Impede-se o uso de capotes e carapuças de rebuço, sob pena de perder o transgressor o capote e a carapuça. Não há necessidade de corpo de delito, para castigar a transgressão, basta a noticia dela.

Veda-se nas alfandegas, a importação de carruagens, mesas, bofetes, comodas, cadeiras, tamboretes, ramalhado,s tremós e meias de seda.

No governo de Pombal a situação não melhora. O grande ministro quer salvar a sua patria da decomposição e do jesuitismo. Uma imensa obra só se faz com imenso dinheiro. A capitania de Minas é inesgotavel - que seja aproveitada à larga.

Lisboa desaba com o terremoto de 1755, e é necessario levantar Lisboa. Lance-se sobre Minas um "donativo voluntario". O donativo é por prazo determinado - dez anos. Mas, durante quarenta, o povo mineiro paga angustiosamente. Rende só de 1758 a 1799 a insignificancia de 1 030 705 $366, e isso ao preço de 1.500 réis a oitava de ouro. E quando Minas, já cansada de pagar, apela para o rei, pedindo a extinção do imposto, o rei responde, prorrogando-o por mais dez anos, a pretexto de que precisa construir um palacio real.
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A avidez do ouro nos monarcas bragantinos do século XVIII, não tem limites nem peias. Chupam o Brasil sem dó nem piedade. Não lhes bastam os impostos sufocantes: inventam o eufemismo caricato dos "donativos voluntarios".
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Custaram-nos os olhos da cara os principes bragantinos do século XVIII.



Historias da Nossa Historia, VIRIATO CORRÊA 

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