História da Cidade de Lagos, Portugal e imagem de 1860 do antigo brasão
A CIDADE DE LAGOS
O autor da Corographia Portugueza dá á cidade de Lagos dois mil setecentos cinquenta e seis anos de existência, atribuindo a sua fundação a um suposto rei Brigo, no ano de 1899 antes do nascimento de Cristo. Depois diz que, tendo caído em ruínas, fora reedificada e novamente povoada no ano de 350 antes da era vulgar, por um capitão de Cartago chamado Boodez.
Os fundamentos desta opinião são em parte inverosímeis, em parte duvidosos. Porém, o que é certo, é ter sido Lagos uma cidade de alguma importância no tempo dos romanos. Chamava se então Lacobriga, cidade ou povoação do lago, ao que parece por causa de um que havia na sua proximidade.
Na luta que a republica romana sustentou contra Sertorio, que se colocara á frente da independência da Lusitânia, foi posta Lacobriga em apertado cerco por um exercito romano, comandado pelo cônsul Quinto Cecilio Metelo. A cidade não foi entrada pelo inimigo, porque veio socorre-la o valente Sertorio, com os seus bravos lusitanos, mas junto dos seus muros pelejou-se uma renhida batalha, em que a Victoria se decidiu por estes últimos.
Nas invasões dessas hordas de bárbaros que destruíram o colosso do Tibre, na dos árabes, em que se aluiu a monarquia dos godos e nas guerras dos nossos primeiros Reis, de que resultou a expulsão dos moiros, Lacobriga foi por muitas vezes arruinada e despovoada. As vantagens, porém, da sua situação geográfica para o comercio de África e do estreito de Gibraltar, por outras tantas vezes a ergueram do meio das ruinas e lhe atraíram novos moradores. Todavia, nessas vicissitudes, perdeu a preeminencia de cidade, que só veio a readquirir na segunda metade do século XVI, por mercê que lhe fez el rei D. Sebastião, quando juntou na sua baía a armada que o levou a África.
A peste assolou por vezes esta cidade, e o terremoto de 1755 causou -lhe horríveis estragos, bem como em todo o Algarve. O que os impulsos da terra pouparam, foi destruído pelos acometimentos do mar- Quase todos os seus principais edifícios ficaram derrocados e alguns deles, como o palácio do governo, à casa da câmara, a torre do relógio e o convento d Trindade, nunca mais se ergueram.
Por causa desta tornou Lagos a perder prerogativas de muita importância, deixando de ser a capital do Algarve, que passou primeiramente para Tavira, onde foi residir o capitão general, e mais tarde para Faro.
Em 1833 veio a terrível epidemia de cólera dizimar os seus habitantes. Logo depois padeceu os tristes efeitos da guerra civil, que durante dois anos devastou Portugal. E depois, ainda esta malfadada terra passou por outras calamidades de epidemias e terremotos, que mais ou menos a danificaram.
Lagos tinha voto em cortes na velha monarquia, e os seus procuradores tomavam assento no terceiro banco. O seu brasão de armas compõe-se de um escudo coroado e nele uma fortaleza com três torres, banhada pelo mar e tendo, de cada lado, uma lança ao alto.
Ao presente é Lagos a segunda cidade do Reino do Algarve e dista seis léguas do Cabo de S. Vicente e vinte e duas da foz do Guadiana. Acha-se agradavelmente situada na costa ocidental de uma grande baía do seu mesmo nome, erguendo-se sobre três colinas na margem direita de um pequeno rio ou esteiro, que tem meia légua de extensão, o qual a maré faz acessível a embarcações costeiras de pequena lotação.
A baía pode oferecer amplo ancoradoiro a esquadras de grandes vasos. A barra do esteiro, que forma o porto da cidade, é defendida pela fortaleza da Ponta da Bandeira, que serve de registro, e pelo forte da Meia Praia. Para defensa da baía há diversos fortes, em melhor ou pior estado de conservação, sendo o principal a fortaleza do Pinhão, edificada primitivamente em terra firme e que, ainda nos princípios do século passado (18), formava uma península, mas que actualmente está cercada de mar e arruinada, passando pequenas embarcações entre ela e a terra. Outra fortaleza, que se construiu defronte desta, para a substituir, também o mar a pôs em ruína.
A barra, que há cem anos apresentava sete a oito braças de fundo, agora apenas tem uns dez palmos. Alguns cachopos e bancos de areia lhe dificultam um pouco a entrada.
São duas as paroquias da cidade: Santa Maria, que é a matriz e S. Sebastião. A primeira acha-se estabelecida na igreja da Misericórdia, desde o cataclismo de 1755, que lhe destruiu o seu antiquíssimo templo, o qual campeava sobre uma eminencia. Na tentativa, que se fez para o reedificar, apenas lhe levantaram as paredes até meia altura. Depois pararam inteiramente as obras, ficando a servir o seu recinto de cemitério.
A segunda paroquia está edificada num alto. É um grande templo de três naves, de muito antiga fundação e reconstruído por rel rei D. João II, que lhe trocou a invocação primitiva de Conceição, pela de S. Sebastião, por ser este santo padroeiro e advogado contra a peste, que então afligia todo o Algarve.
Havia em Lagos quatro conventos, três de frades um de freiras. Este era de religiosas carmelitas, do titulo de Nossa Senhora da Conceição. Foi fundado em 1554, arrasado quase totalmente em 1755 e reconstruído depois.
Os conventos de religiosos eram: o de S. Francisco,de franciscanos, edificado em 1560; o da Trindade, do trinos, fundado em 1599; o de S. João de Deus, em que se estabelecera um hospital militar levantado em 1696.
Os outros edifícios religiosos são a casa da Misericórdia com seu hospital, a igreja de Santo António, que é capela militar, e varias ermidas. O edifício outrora ocupado pelo trem e igreja de Santa Barbara, serve agora de quartel militar, e a antiga igreja de S. Brás e a de Nossa Senhora do Porto Salvo, construída no século XVI por comerciantes italianos, que vieram estabelecer se em Lagos, acham-se transformadas em armazéns de arrecadação, pertencentes ao quartel.
Conta a cidade quatro praças e algumas ruas boas, porém as outras são estreitas e tortuosas e todas mal calçadas. Um aqueduto, obra del rei D. Manuel, que conduz boa copia de agua do sitio do Paul, na extensão de quatrocentas e dez braças, abastece a povoação e fornece cómoda aguada aos navios. Para este fim, tem um chafariz junto da Porta Nova e da muralha, que cai sobre o rio.
Lagos é praça de armas. As suas primeiras fortificações datam do reinado de D. Afonso IV, ou talvez do tempo de el rei D. Dinis. Constava de uma cerca de muros, com suas torres e portas. Nos fins do século XVI, ou principio do XVII, edificou-se nova cerca de muralhas, que ao presente se conserva com oito portas e quatorze baluartes. Para o lado do rio, tem as portas de S. Gonçalo, do Cais, de S. Roque e Nova, e cinco redutos. Para o lado de terra tem as portas de Portugal, do Postigo, de Quartos e da Vila e nove baluartes.
Os subúrbios de Lagos são aprazíveis. Tem campos mui bem cultivados, muitos figueirais, vinhas, hortas e pomares.
Lagos exporta cereais e legumes, muitos figos, algum vinho, aguardente de figos, muito peixe salgado, azeite de oliveira e de peixe e diversos produtos fabris de obra de palma e de fio de piteira. A agricultura tem tido há anos bastante desenvolvimento, todavia as pescarias constituem o principal ramo, talvez da industria dos habitantes e da riqueza publica. Empregam-se nelas muitas embarcações e alguns centos de pescadores, que não se limitando ás costas do Algarve, demandam também as de Marrocos, notáveis pela sua produção. A pesca do atum é objecto de muita importância,
A 12 de Outubro faz se nesta cidade uma feira anual. A população de Lagos sobe a oito mil e quatrocentos habitantes.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelo Censos 2011 Lagos conta com 30 755 habitantes
Freguesias de Lagos
Barão de São João, Bensafrim, Luz, Odiáxere, Santa Maria (Lagos), São Sebastião (Lagos)
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