terça-feira, 1 de novembro de 2011

História de Óbidos (imagem de 1860 do antigo brasão) e Lagoa de Óbidos



História de Óbidos (imagem de 1860 do antigo brasão) e Lagoa de Óbidos

A VILA DE ÓBIDOS

Acha-se situada esta antiquíssima povoação na província da Estremadura, a uma légua ao sul da vila das Caldas da Rainha, a três ao nascente de Peniche e doze ao norte de Lisboa. Está sentada no dorso de um monte ao qual faz coroa um velho Castelo.


A sua origem è inteiramente desconhecida, excepto se se quiser por fé nas palavras do autor da Corographia Portugueza que atribui a sua fundação aos turdulos e celtas, trezentos e oito anos antes do nascimento de Cristo.

A noticia mais antiga que se encontra desta povoação, é a que diz respeito á sua conquista por el rei D. Afonso Henriques.

Este monarca, depois de se ter assenhoreado de Santarém, Lisboa e muitas outras terras acasteladas da Estremadura, cercou e tomou de assalto aos moiros o castelo e vila de Óbidos em 1148. Como era uma posição forte pela natureza e pela arte, cuidou imediatamente o vencedor de assegurar a conquista, fazendo reparar a fortaleza e povoar de novo a vila que os sarracenos tinham abandonado.

Na guerra civil que se ateou no reino em meado do século XIII, entre o infeliz rei D. Sancho II e seu irmão, o infante D. Afonso, conde de Bolonha, mais tarde rei com o nome de Afonso III, deu aquela vila, como Celorico e Coimbra, nobre e corajoso exemplo de lealdade.

Posta em apertado assedio no ano de 1246 pelo conde de Bolonha, Óbidos resistiu valorosamente a todos os rigores do cerco e á violência de diversos acometimentos, até que o infante, perdida a esperança de reduzir pela força os leais que não pudera seduzir com promessas, levantou o arraial e retirou-se. E tal foi a nobreza de daquela povoação, sacrificando-se assim em desempenho da fidelidade, que devia ao seu rei então perseguido pela desdita, que o próprio conde de Bolonha, apenas se viu senhor pacifico de todo o reino, apressou-se a galardoa-la, fazendo-lhe entre outras mercês, a do titulo de sempre leal, a vila acrescentou ao de notável que já tinha.

El rei D. Dinis aumentou a vila e cremos reconstruiu e alargou o castelo, apesar de que alguns autores dizem que fora o seu primeiro fundador.

Pelo seu casamento este soberano fez doação de Óbidos, com mais outras terras, á rainha Isabel sua mulher. Daí em diante ficou pertencendo ás rainhas.

Durante as guerras que rebentaram entre Portugal e Castela no século XIV, el rei D. Fernando fez as muralhas que cercam a vila, ou reformou as que existiam, o que não é bem averiguado, segundo julgamos.

A rainha D. Leonor, mulher del rei D. João II, residiu algum tempo nesta vila, numas casas junto ao castelo. Por esta ocasião exercitou o animo pio e caridoso em extremo, instituindo cinco mercierias na igreja de Santa Maria, que é matriz.

Em 1634, Filipe IV de Espanha, então rei intruso de Portugal, fez conde de Óbidos a D. Vasco Mascarenhas, alcaide mor desta vila. Depois el D. Afonso VI confirmou, ou deu de novo, aquele titulo em 1663, declarando o de juro e herdade para os seus descendentes. É sétimo conde o representante desta família.

Quando em 1808 veio um exercito inglês ajudar-nos a sacudir o jugo de Napoleão, presenciou Óbidos o primeiro combate entre os franceses e os nossos auxiliares. A 15 de Agosto encontraram-se ali e pelejaram as avançadas dos dois exércitos. No dia seguinte foram vencidas as águias francesas na grande batalha da Roliça, uma légua distante desta vila, pelo exercito anglo-luso.

Óbidos tinha representação nas antigas cortes, sentando- se os seus procuradores no banco sexto. Segundo dizem alguns autores, tem por brasão de armas uma rede de arrastar no meio do escudo, que lhe fora dada pela rainha D. Leonor, de quem acima falámos, em memoria da rede em que uns pescadores de Santarém transportaram o corpo exanime de seu infeliz filho, o príncipe D. Afonso, das margens do Tejo, onde caíra do cavalo abaixo, para a vila. Porém, no livro das armas que se guarda na Torre do Tombo, acha-se pintado o brasão desta vila conforme a estampa que vai aqui junta, o qual consiste em uma torre de prata, onde tremula uma bandeira em campo verde e assente sobre rochedos.

Acerca da etimologia do seu nome, há várias opiniões, porém nenhuma inteiramente aceitável. A menos absurda diz que o nome é um composto dos monossílabos latinos ob-id-os, pelos quais designavam uma grande boca ou braço de mar, que em tempos remotos vinha ter junto á vila.

Conserva esta os seus antigos muros com pouca ruína, cercando-a por todos os lados com quatro portas denominadas: da Vila, do Vale da Cerca e do Telhal e dois postigos, o de Cima e o de Baixo. A povoação acha- se toda recostada no declive do monte, cuja crista serve de base ao Castelo e á igreja de Santiago, que se eleva junto da fortaleza. O estado de conservação desta é muito sofrível, atendendo á sua antiguidade. Goza-se d daí um lindo e variado panorama.



São quatro as freguesias: Santa Maria, que é a matriz, S. Pedro, Santiago e S. João Baptista. Os outros edifícios religiosos, são a igreja da Misericordia com o seu hospital e com avultada renda; as ermidas de Nossa Senhora de Monserrate, pertencente á ordem terceira; a de S. Vicente, onde está a paroquia de S. João Baptista; e a de S. Martinho, de arquitectura antiga. Fora da vila, mas nas imediações, encontram-se outras ermidas. A mais notável é a do Senhor da Pedra, começada em 1740 junto á estrada que conduz para a vila das Caldas da Rainha. Apesar de não estar concluída, é um belo e sumptuoso templo, em que se despenderam duzentos mil cruzados, havidos de esmolas daqueles povos, ás quais se juntaram valiosos donativos del rei D. João V, que por diversas vezes ali foi. A 3 de Maio, dia da invenção da Santa Cruz, celebra-se neste templo uma grandiosa função, com festa de arraial e mercado e á qual concorre muita gente das povoações vizinhas.

Tem a vila cinco ruas principais e uma praça ornada com um chafariz. Além deste, possui mais quatro, porém todos fora dos muros. Aquele e dois destes, recebem a agua de um aqueduto que corre sobre arcos, na extensão de meia légua e foi obra da rainha D Catarina, mulher de D. João III.

Os arrabaldes de Óbidos são notáveis por algumas quintas que os povoam e, principalmente, pela grande lagoa a que a vila dá o seu nome. Entre as quintas nomearemos a das Janelas, a das Flores e a do Bom Sucesso. A primeira pertence aos senhores condes de S. Vicente e possui águas termais semelhantes ás das Caldas da Rainha, ás quais concorrem alguns enfermos. Achando-se hospedado nesta quinta o infante D. Francisco, irmão de el rei D. João V, faleceu aí de uma cólica, a 21 de Julho de 1742. D. João V e a família real achavam-se então nas Caldas da Rainha. A quinta das Flores tem uma nascente das mesmas aguas. A do Bom Sucesso é muito arborizada e distingue-se pela sua posição pitoresca e alegres vistas.

A Lagoa de Óbidos

A lagoa dista da vila uma légua. O seu comprimento não chega a uma légua e de largura tem meia. Está cercada de montes, em que se abrem quatro gargantas, três por onde nela vêm desaguar os rios do Cabo, do Meio e Real; e a quarta, por onde a lagoa comunica com o mar. Esta ultima, todos os anos se obstrui de areias que é necessário remover a braços, para evitar o mau efeito da estagnação das águas. A lagoa estende dois braços para o interior, um na direcção de leste, chamado da Barrosa e o outro na do sul, denominado da Atouguia ou do Bom Sucesso. Contém esta lagoa muita variedade de peixes e de excelentes mariscos, que fornecem a vila todo o ano e muitas mais terras da Estremadura. No inverno é abundantissima de caça de arribação, que atrai ali, de grandes distancias, centenares de caçadores, uns para comercio, outros por simples divertimento.

A menos de um quarto de légua da vila, está o edifício do extinto convento de S. Miguel das Gaeiras, que foi de frades arrabidos e se fundou em 1602, mudando-se do antigo sitio em que o cardeal infante D. Henrique edificara o primeiro, em 1569. Contíguo àquele edifício há um frondoso bosque, que faz parte da cerca do convento.

O termo de Óbidos é fértil e produz cereais, algum vinho e muitas e excelentes frutas de toda a qualidade.

Tem esta vila uma feira anual em 20 de Outubro. Ao presente, que se acha em decadência, conta uns três mil habitantes. Já teve, porém maior população.

Ufana-se Óbidos de ter sido o berço da insigne pintora Josefa d' Ayala, mais conhecida pelo nome de Josefa d' Óbidos e do espirituoso e distinto poeta Francisco Manuel Gomes da Silveira Malhão.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelos Censos 2011 Óbidos conta com 11 689 habitantes


Freguesias de Óbidos

A dos Negros, Amoreira, Gaeiras, Olho Marinho, Santa Maria, São Pedro, Sobral da Lagoa, Usseira, Vau

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