terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

História de Pombal e Origem da Festa do Bodo (Imagem antiga do Brasão de Pombal)



História de Pombal e Origem da Festa do Bodo (Imagem antiga do Brasão de Pombal)


A VILA DE POMBAL 

Acha-se esta povoação sentada em lugar plano na província da Estremadura, distrito administrativo de Leiria, entre a cidade deste nome, que lhe fica pouco mais de quatro léguas e a de Coimbra, de onde dista perto de oito. Pelo meio da vila passa a nova e bela estrada macdamisada, que conduz da capital do reino á cidade do Porto. Sobranceiro á povoação ergue-se um monte que ostenta por coroa as venerandas relíquias do antiquíssimo castelo de Gualdim Pais.

Não há certeza acerca da origem de Pombal e até é duvidoso o sitio da sua primeira fundação. Pretendem uns que fora na encosta do monte de S. Cristóvão, fronteiro ao do castelo. Outros querem que fosse na ladeira do monte que se levanta á entrada da vila, vindo de Coimbra, onde se vêem vestígios de edificações. Aos que quisessem provar que a vila nunca teve outro assento senão aquele em que está aos pés da fortaleza que outrora a protegia, não lhes faltariam razões para dar pelo menos alguma autoridade á sua opinião.

Seja porém como for, o que é certo é que D. Gualdim Pais, mestre dos templários foi o fundador do castelo, pelos anos de 1160; e também foi quem deu o primeiro foral á povoação.

Enquanto existiram os cavaleiros do Templo, o castelo e a vila de Pombal não tiveram outros senhores. Logo porém que esta poderosa e aguerrida ordem, envolvida no anátema que levou ao patibulo em Paris o seu grão mestre, Jacques Molay, foi extinta em toda a parte por Clemente V, passaram aquela vila e castelo ao domínio da nova ordem de cavalaria de Cristo, criada a instâncias del rei D. Dinis em 1319, para substituir a dos templários e ser ao mesmo tempo herdeira dos seus avultados bens.

Na guerra civil que o infante D. Afonso por vazes acendeu em Portugal contra el rei D. Dinis, seu pai, fez-se a paz na vila de Pombal em 1323, vencidos os dois príncipes pelos rogos e lágrimas da rainha Santa Isabel. O acordo foi celebrado na igreja de S. Martinho, onde o infante, que depois sucedeu na coroa com o nome de Afonso IV, selou o tratado com juramento, que todavia não tardou muito a romper.

El rei D. Afonso V deu o senhorio de Pombal aos condes de Castelo Melhor, que ao presente são marqueses do mesmo titulo.

El rei D. Manuel concedeu novo foral á vila com muitos privilégios; e D. José I honrou-a, fazendo marquês de Pombal o seu ministro, conde de Oeiras, a quem o pa´s é devedor de tão assinalados serviços.

O reinado de D. Maria I estreou-se com o desterro deste grande estadista, que foi acabar os seus dias naquela vila, ao cabo de uma residência de cinco anos.

Pombal tem tido desde os fins do século passado (XVIII) para cá, diversas épocas de prosperidade e decadência. A estrada de Lisboa ao Porto, que a rainha D. Maria I mandou abrir por Leiria e Pombal a Coimbra, em vez de seguir a antiga direcção de Santarém a Tomar, deu àquela vila muita importância e desenvolvimento, tanto pela concorrencia de passageiros, que então era grande, como pela animação que veio dar á cultura dos férteis terrenos que cercam a povoação.

Este estado porém não durou muito. A passagem dos exércitos franceses nos princípios deste século (XIX) e todos os outros tristes resultados desta guerra, produziram a decadência desta vila. E quando a Providência afastou do nosso país estes males transitórios, vieram outros actuar poderosamente sobre Pombal. Primeiro a deterioração da estrada de Lisboa ao Porto, que em breves anos chegou a completo estado de ruína; depois as guerras civis e enfim o estabelecimento de carreiras regulares por barcos movidos a vapor entre estas duas cidades, puseram aquela vila numa situação de perfeito isolamento e esquecimento.

De tão precário e ruinoso estado veio arranca-la a nova estrada, que há quatro anos pôs em fácil comunicação a capital do reino com o Porto e terras intermédias. Assim pois já mostra Pombal evidentes sinais de ter entrado de novo numa época que lhe promete prosperidade.

No antigo regímen tinha voto em cortes com assento no banco décimo sétimo. O seu brasão de armas, como se acha na Torre do Tombo, é em campo vermelho, uma torre de prata com duas pombas também de prata, sobre as ameias. Entretanto, achando concordes todos os autores em lhe acrescentar ao brasão acima descrito a imagem do arcanjo S. Miguel sobre a torre, com a letra Ave Maria, preferimos dar este em estampa.

A vila de Pombal, como dissemos, está assentada em planície. Nenhuma povoação do nosso país tem uma entrada mais formosa e triunfal que esta terra. É uma extensa alameda de árvores frondosas e colossais, que se abraçam e cruzam, formando uma abobada de verdura. Precede a vila do lado de Leiria. Foi plantada no reinado de D. Maria I, quando se fez a estrada.

Dividia-se outrora a povoação por três paroquias: Santa Maria do Castelo, S. Pedro e S. Martinho. Da primeira, que estava junto das muralhas do castelo, da parte do sul, não restam mais que ruínas. Mas ainda assim deixa ver que era um templo não grande, porém de elegante arquitectura e ornado de muitas e graciosas esculturas em pedra ançã. Admiravam-se nesta igreja varias obras de muita delicadeza e primor feitas em pedra pelos celebrados escultores João de Ruão e Jacome de Bruges.

Na sacristia da igreja paroquial de S. Martinho conservou-se por mais de setenta anos, em indecente e vergonhoso deposito, o ataúde que encerrava os restos mortais do grande marquês de Pombal, até que ha poucos anos foi transportado para Lisboa pelo seu terceiro neto, o quinto marquês do mesmo titulo e colocado num mausoléu de mármore na ermida de Nossa Senhora das Mercês, junto á rua Formosa.

Há na vila casa de misericórdia e o templo Nossa Senhora de Jerusalém ou do Cardal, subúrbios diversas ermidas.

O castelo, apesar do estado de ruína em que acha, deixa fazer-se uma ideia da sua antiga estrutura. Tinha dentro uma igreja dedicada a S. Miguel, que há mais de duzentos anos que se arruinou.

São mui aprazíveis os arredores de Pombal. O rio Arunca ou Arunce, de margens arborizadas, passa junto da vila por baixo de uma boa ponte de cantaria e, depois de ter recebido em seu leito diferentes ribeiras e de ter dado frescura e aos campos vizinhos, vai lançar-se no Mondego. No verão as suas águas apenas bastam para regas e para fazer trabalhar alguns moinhos. Mas no inverno afluem-lhe em tanta copia, que transbordam e causam cheias.

Cultiva-se no termo trigo, cevada e milho, legumes, batatas, vinho, azeite e algumas variedades de frutas. Pombal encerra uns quatro mil habitantes, que se empregam na agricultura e em diversas pequenas industrias manufactoras.

É tão popular no país a lenda do bolo de Pombal, que julgamos a propósito consigna-la aqui. Referi-la- emos pelas próprias palavras de um escritor que dedicou o seu tempo e aplicação ao estudo das antiguidades usos costumes e linguagem do nosso país. Este escritor é o padre D. Rafael Bluteau, da congregação da Divina Providência, que faltando da vila de Pombal, conta o caso pelo modo seguinte: «Junto ao sitio do Cardal, assim chamado pelos muitos cardos que produzia, assentaram domicilio os descendentes da família dos Fogaças num castelejo que aí tinham á maneira de torreão, o qual haverá vinte e oito anos se acabou de arruinar, conservando ainda hoje o dito sitio o nome da Torre; e os senhores dela mandaram edificar uma capela à Virgem Mãe de Deus, com a invocação de Nossa Senhora de Jerusalém.

«A esta sacrossanta imagem tiveram sempre os moradores e seus vizinhos muita veneração e, sendo o Senhor servido castiga-los com uma praga de gafanhotos, que sobre afogarem as searas, suspendiam nos rios e fontes o curso das águas, e metidos nas casas obrigavam os habitadores a desampara-las, vexação tão insofrível que obrigou o povo, com acordo do senado da câmara e clero, irem á matriz S. Pedro e aí principiarem procissão de preces, a qual vieram acabar na dita capela da Senhora de Jerusalém, no dito sitio do Cardal. E chegando o pároco ao ofertório, em voz alta prometeu á Senhora, em nome daquele povo, que se fosse servida livra-los daquela praga, lhe fariam festas todos os anos em acção de graças; no que consentiu o povo todo e a câmara como cabeça dele se obrigou a fazer cumprir a promessa que, pela muita fé contrição e arrependimento de culpas, foi certamente muito aceita a Deus, pela intercessão da Virgem, porque sendo esta acção das preces no ultimo sábado do mês de Junho, logo no domingo amanheceu o campo livre dos gafanhotos, sem que em árvore ou seara se visse um só; á vista do que foram todos dar graças á Senhora e ali logo ajustaram festas para o ano vindouro, as quais tomou por sua conta a própria senhora e administradora da capela, D. Maria Fogaça, que morava na dita torre e nelas foi tal o empenho que se fizeram com canas, escaramuças, toiros, fogos e danças; e os parentes que a dita senhora tinha em Santarém e Tomar a vieram desempenhar com grandeza notável e por toda a Estremadura soou a generosa gratificação do milagre.

Como nas festas da cristandade foi antigo costume haver oferta para o pároco e a mais ordinária, particularmente entre rústicos, era de bolos, mandou D. Maria Fogaça fazer dois bolos, que saindo de extraordinária grandeza para a capacidade do forno, com grande sentimento das serventes, um criado da casa, que estava presente, também sentido da desproporção e compadecido da pena das moças, levado da consideração que a oferta era em louvor da Senhora do Cardal, invocando o nome da mesma Senhora, entrou no forno, concertou e agasalhou os bolos com tão admirável sucesso que, saindo para fora ileso e sem o mínimo dano nos vestidos, nem ainda no cabelo, se publicou o milagre e ficou autenticado com a confissão dos circunstantes, que viram entrar e sair o homem do forno. À vista do que o pároco desistiu da oferta e como pão de milagre foi entregue à misericórdia para se repartir pelo povo com devota caridade e a esta oferta lhe chamaram fogaça, nome da instituidora da festa.

«Nos anos seguintes, vendo os moradores que se não podiam continuar as festas sem grave descómodo, por se fazerem em o ultimo domingo de Junho, em que não há trigos, nem cevadas, nem palhas, assentaram com a câmara que se fizessem no ultimo domingo de Julho e que para não perder a tradição do domingo ultimo de Junho, em que sucedeu o milagre e não faltar ao voto, se fizesse do dito domingo e nos seguintes, até chegar ao da festa, quatro alvoradas, que contem aos sábados, vésperas cantadas na ermida da Senhora, procissão da matriz até á dita capela, sermão e missa cantada todos os domingos; e nas noites dos sábados cantigas em louvor da Senhora pelo povo com muita alegria, a qual, degenerando em demasiado festejo, pareceu a alguns zelosos improprio ao louvor da Senhora e contra a vontade do povo proibiram os mordomos as ditas alvoradas. Mas dizem que no mesmo tempo, que faltaram, se viu o sitio do Cardal coberto de lagartas e borboletas e daí foram dando nos prados, pelo que dando na causa, foram continuando com o uso antigo.

«A sobre dita D. Maria Fogaça, antes do seu falecimento, fez desistência do domínio e administração da capela nas mãos da câmara, por cuja conta corre hoje a fabrica e culto dela. Ouço dizer que hoje a festa se faz a 12 ou a 13 de Julho. Entra um homem de certa família pela boca do forno e torna a sair sem se queimar nem se lhe crestar muito o vestido. Verdade é que somente se detém em quanto lhe dura um fôlego, de sorte que não toma respiração dentro do forno, para não beber fogo em lugar de ar.

«Isto me disseram pessoas fidedignas, se bem para o milagre ser completo parece que aquele mesmo fogo que não queima a cara, não havia de ofender a garganta respirando. Porém é certo que está o forno tão quente, que os homens que lhe botam lenha se não chegam perto da boca, mas desviados lha metem com forcados.

«Foram estas festas antigamente celebradas com tão grande concurso e fervor, que da autoridade real tiveram um privilegio notável, e era que a pessoa que mostrasse vinha das festas ou ia para as festas, oito dias antes e oito dias depois, não fosse presa por qualquer crime que tivesse, salvo o cometesse nas mesmas festas. Este privilegio se observou até el rei D. Sebastião..

«Esquecia-me dizer que esse famoso bolo tem vinte alqueires de farinha de trigo e para se acomodar melhor, o fazem de pão asmo e o levam seis homens num andor ao forno e depois de se terem queimado três carradas de lenha, se mete dentro o homem .»

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos 2011 Pombal conta com 55 mil habitantes

Freguesias de Pombal

Abiul, Albergaria dos Doze, Almagreira, Carnide, Carriço, Guia, Ilha, Louriçal, Mata Mourisca, Meirinhas, Pelariga, Pombal, Redinha, Santiago de Litém, São Simão de Litém, Vermoil,Vila Cã

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