História de Ponte de Lima e imagem do antigo brasão
A VILA DE PONTE DE LIMA
Três léguas a este da cidade de Viana do Castelo, a cujo distrito administrativo pertence e cinco da cidade de Braga, está edificada a vila de Ponte de Lima, sobre a margem esquerda do formoso rio
Se a antiguidade desta povoação não é tanta como alguns dos nossos autores pretendem, atribuindo-lhe uma origem grega ou celta ou turdula, muito anterior ao nascimento de Cristo, é certo todavia que já existia no século II da era cristã, sendo então uma cidade sob o domínio dos romanos chamada Forum Limicorum. A situação em que o itinerário do imperador Antonino Pio põe esta cidade, não deixa duvidar de que teve o mesmo assento em que ora vemos Ponte de Lima.
Como ficava na via militar que os romanos abriram de Braga à cidade de Astorga, por Tuy e Lugo, era muito transitada e florescente no tempo destes dominadores do mundo. Atendendo à perfeição e grandeza com que eram construídas as vias militares dos romanos, é de crer que tivessem edificado neste sitio uma boa ponte. Não há porém vestígios nem memoria de semelhante obra. Contudo deveria aí existir alguma ponte anteriormente à fundação da monarquia portuguesa, porquanto achando -se aquela terra arruinada e despovoada, no principio do século XII, a rainha D. Teresa e seu filho D. Afonso Henriques, sendo ainda infante, mandando-a reedificar e povoar de novo. no foral que lhe deram em 1125. chamam- lhe Ponte de Lima.
El rei D. Afonso II confirmou este foral e acrescentou-lhe mais algumas regalias. Mas apesar de todos estes favores e de tantas vantagens da situação e dos terrenos circunvizinhos, foi-se despovoando outra vez e caindo em ruínas. E a tal ponto chegou de miséria, que no meado do século XIV eslava reduzida a um pequeno numero de pobres choças de palha.
Resolvendo-se então el rei D. Pedro I a restaura-la novamente e com melhores condições, transferiu-a em 1360 do sitio em que se achava, que era abaixo do convento de S. Francisco, para o lugar em que a vemos. Abriu ruas, construiu casas, cercou tudo de grossa muralha com varias torres ameiadas, barbacãs e cinco portas, denominadas: do Souto, do Postigo, da Ponte, de S. João e a de Braga, que mais tarde tomou o nome de porta do palácio dos viscondes. E, enfim, para que nada faltasse ao desenvolvimento e prosperidade da terra, para a qual atraiu muitos moradores, edificou-lhe sobre o rio Lima uma excelente ponte de pedra fortificada em cada extremidade com uma forte torre e, tudo isto, tão solidamente construído, que ainda ao presente se conserva em óptimo estado.
Não bastaram porém todos estes esforços e avultadas obras de segurança e comodidade para vencer o mau fado desta terra. Achava-se em tamanha decadência no começo do século XVI, que, tratando el rei D. Manuel de reformar os forais das terras do reino, acrescentou ao antigo foral de Ponte de Lima, entre outros privilégios, que os seus moradores fossem isentos de pagar portagem e direitos em todo o país.
Depois disto têm passado três séculos e meio e a vila, que neste espaço de tempo prosperou, chegando a contar perto de três mil habitantes, tornou a decair e hoje não possui mais de dois mil. É de esperar, todavia, que a nova estrada macdamisada que em breve a vai pôr em fácil comunicação com a cidade de Braga, com a praça de Valença e outras povoações, lhe há-de dar benéfico impulso.
Na velha monarquia tinha esta vila representação em cortes com assento no banco quinto. Tem por brasão de armas um escudo com uma ponte entre duas torres. É seu alcaide mor o senhor marquês de Ponte de Lima, que é décimo sétimo visconde de Vila Nova de Cerveira.
Nossa Senhora da Assunção é a única paróquia da vila. É um bom templo edificado no século XVIII. Antes da sua fundação a igreja paroquial estava fora da vila, próxima da capela de Nossa Senhora da Guia. Veneram-se naquele templo duas imagens Nossa Senhora da Piedade, com o Senhor morto no regaço, que vieram de Inglaterra.
Tem casa de misericórdia, dois hospitais e diversas ermidas dentro e fora da povoação. A capela de S. Sebastião, que está fora da porta do Souto, foi sinagoga dos judeus, quando residiram alguns nesta vila e moravam na rua nova.
Os principais edifícios, além dos já citados, são a ponte e o palácio dos senhores marqueses de Ponte de Lima. O primeiro, posto que tenha tido algumas reconstruções parciais, conserva na sua maior parte a fabrica primitiva. É um belo e curioso monumento de arquitectura gótica. Consta de vinte e quatro arcos, sendo dezasseis ogivas. Nas extremidades erguem se duas torres, por baixo das quais é necessário passar para entrar na ponte ou sair dela. O segundo é o solar da ilustre família dos Limas, que el rei D. Afonso V elevou às honras de viscondes de Vila Nova de Cerveira em 1476, em favor de D. Leonel de Lima e a rainha D. Maria I ás de marqueses de Ponte de Lima em 1790, na pessoa de D. Tomás Xavier de Lima, seu ministro dos negócios do reino. Acha-se este palácio em muita ruína e o mesmo acontece ás muralhas da vila.
As cercanias de Ponte de Lima são de uma beleza singular. O rio Lima corre sobre amplo leito de alvissima areia entre margens orladas de frondoso arvoredo e pelo meio de campos sempre viçosos, em que avultam aqui e ali, ora uma torre ameiada, solar de remotas eras, ora uma casa gótica dos séculos XV e XVI. ora residências de tempos mais modernos e mais prosaicos, mas agradavelmente situadas á beira do rio ou escondidas entre copadosfaldas, tão lindamente vestidos nas encostas de arvoredo silvestre, com tantas capelinhas a coroar-lhes os cumes mais elevados, que formam um precioso caixilho ao quadro do vale, já de per si tão rico, tão belo e variado.
O rio, que no inverno enche e transborda o alveo, empobrecido no verão, divide se em vários braços, por entre ilhotas de areia. Mas ainda assim, com mais ou menos custo, é navegável e transitado de muitos barcos pelo espaço de quase duas léguas para cima e três para baixo, até á cidade de Viana do Castelo, onde tem a sua foz.
Saindo-se da povoação pela ponte tem junto desta um arrabalde com tantas e algumas tão boas casas, que é como a continuação da vila. Seguindo a estrada, que por este lado vai paralela ao rio até Viana, encontram-se duas deliciosas quintas, cujos palácios situados entre jardins e meio ocultos na espessura de densos bosques, ainda se miram, como a furto, nas águas cristalinas do Lima. São as residências dos senhores condes de Bertiandos e de Almada. Da outra parte do rio também vai uma estrada, mais chegada á margem e que conduz igualmente àquela cidade. É um passeio encantador. O viajante, ao percorre-la, vendo-se caminhar sob um toldo de verdura e por meio da pomposa vegetação que veste fertilíssimos campos em todas as estações do ano julga, atravessar uma quinta de regalo tratada com esmero.
Próximo da vila, nos subúrbios, vêem-se os edifícios dos dois extintos conventos de Santo António, na margem esquerda, o qual foi de frades capuchos, fundado por D. Leonel de Lima, primeiro visconde de Vila Nova de Cerveira; e de S. Francisco de Val de Pereiras, na margem direita, edificado em 1360 e que, depois de ter pertencido aos religiosos franciscanos, passou em 1513 a ser ocupado por freiras de Santa Clara.
Nos subúrbios da margem esquerda, logo abaixo da ermida de Nossa Senhora da Guia, no monte te chamado dos Medos, descobrem-se vestígios de um antigo castelo. Um pouco mais distante, próximo do sitio onde está a capela de Nossa Senhora da Conceição, existem, ou pelo menos existiam há anos, as ruínas de um forte que dizem ser obra dos romanos.
O termo de Ponte de Lima, por onde corre também o rio Neiva, é muito produtivo em Iodas as variedades de cereais, legumes, hortaliças e frutas, que se cultivam ordinariamente no nosso país. Recolhe vinho, algum azeite, cera e mel. Abunda em caça e criação de gado de espécies varias. O rio cria muito peixe, especialmente lampreias e salmões, em que se faz muito comercio para diversas terras do reino.
Alguns autores nossos pretendem que o Lima fosse aquele rio tão celebrado na antiguidade com o nome de Lethes. Esta opinião não tem mais fundamento do que a amenidade e encantos do nosso Lima, que por eles faz, sem duvida, que todos aqueles que os gozam, se esqueçam por então de tudo o mais.
Conta-se que, vindo a estas paragens uma legião romana capitaneada pelo pro-cônsul Junio Bruto, repugnara atravessar o rio, crendo ser o Lethes, com receio de se esquecer ao passa-lo da pátria e parentes; e que fora preciso para a resolver que o pro cônsul passasse primeiro e depois de chegar á margem oposta começasse de lá a referir algumas particularidades de Roma, para os convencer de que não estava esquecido da pátria.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
Pelo Censos 2011 Ponte de Lima conta com 43 mil habitantes.
Freguesias de Ponte de Lima
Anais, Arca (integra o perímetro urbano), Arcozelo (vila de Arcozelo), Ardegão, Bárrio, Beiral do Lima, Bertiandos, Boalhosa, Brandara, Cabaços, Cabração, Calheiros, Calvelo, Cepões, Correlhã (integra o perímetro urbano), Estorãos, Facha, Feitosa (integra o perímetro urbano), Fojo Lobal, Fontão, Fornelos, Freixo, Friastelas, Gaifar, Gandra, Gemieira, Gondufe, Labruja, Labrujó, Mato, Moreira do Lima, Navió, Poiares, Ponte de Lima, Queijada, Refóios do Lima, Rendufe, Ribeira (integra o perímetro urbano), Sá, Sandiães, Santa Comba, Santa Cruz do Lima, Santa Maria de Rebordões, São Pedro d'Arcos, Seara, Serdedelo, Souto de Rebordões, Vilar das Almas, Vilar do Monte, Vitorino das Donas, Vitorino dos Piães
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