sexta-feira, 6 de junho de 2014

Roberto I de Borgonha - bisavô de Afonso Henriques era um bandido

Roberto I de Borgonha - bisavô de Afonso Henriques era um bandido


O avô do nosso conde D. Henrique, Roberto I de Borgonha, morre de forma vergonhosa a 18(ref) ou 21(ref) de Março de 1076 na igreja de Fleurey-sur-Ouche. Com ele morre também a sua segunda mulher, Ermengarde d'Anjou, sua prima em terceiro grau, com quem casara em 1048(ref), depois de repudiar Helie de Semur, mãe dos seus filhos Hugo, Henrique e Constança.

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Robert I, duque da Borgonha, era filho do rei de França Roberto II, por sua vez filho de Hugo Capeto e de Adelaide da Aquitânia. A mãe era Constance D'Arles que, em 1030, instiga os dois filhos - além de Robert havia o primogénito, Henrique - a revoltarem-se contra o pai. Esta revolta termina graças à intervenção do abade Guillaume de Volpiano, mas pouco depois depois da morte do pai, em 1031, Robert, novamente instigado pela mãe, revolta-se contra o irmão, já Henrique I, rei de França, numa tentativa de se apossar do trono. Esta revolta acaba por dar em nada e Robert acaba por ficar com o que lhe destinara o pai, o ducado de Borgonha.

Em 1033 casa com Helie de Semur, filha de Dalmas de Semur e irmã de Hugo, futuro abade de Cluny e santo. Deste casamento nascem Hugo, em 1034 (que morrerá em batalha em 1058-59, talvez em Espanha), Henrique, em 1035, que morrerá antes do pai, por volta de 1070-72 e que é o pai do nosso conde D. Henrique; e Constança (1036), que casará em segundas núpcias com o rei Afonso VI de Leão.


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Em 1048 repudia Helie de Semur, mata o sogro e o cunhado(ref), casando depois com Ermengarde d'Anjou, viuva de Geoffroy II de Gatinais, falecido em 1043 ou 1045. deste casamento nascem Robert e Simon. 

Em 1058, Robert surge em Espanha numa expedição de apoio ao conde de Barcelona, Raymond Borel, contra os mouros, acompanhado pelo seu segundo filho, Henrique, que acabará por casar com uma parente do conde, que talvez se chamasse Sibila. O apelido Borel acaba por passar para os seus descendentes. Deste matrimónio, nasceram Hugo I (certamente não em 1057 mas depois de 1058), Eudes I (Odo), le Borel, Roberto, Hélia, Beatriz, Reinaldo e, o sétimo filho, Henrique, futuro pai do primeiro rei de Portugal. Henrique terá nascido entre 1066 (o irmão Renaud (Reinald nasce em 1064-65) e 1070-72, data aproximada da morte do pai.

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Voltando a Robert I de Borgonha, a sua vida continua marcada pela violência e pelo banditismo. Além de muito provavelmente ter morto o sogro e o cunhado, também atacou igrejas e mosteiros, roubando colheitas, apossando-se de dízimos, assaltando adegas. Tais crimes não podiam passar sem punição, e Robert acabou excomungado. Os religiosos convocam-no para um concílio em Autun, por volta de 1060, onde o duque consegue reconciliar-se com a Igreja e onde terá sido decidida a sua viagem a Roma, que deve ter acontecido entre os anos de 1060 e 1064 e cujo objectivo era ele arrepender-se dos seus pecados.

Chegamos pois a 1076, à igreja de Fleurey-sur-Ouche. Robert I queria que lhe sucedesse o seu filho Robert, filho do seu casamento com Ermengarde d'Anjou, em detrimento do seu neto Hugo, filho do seu filho Henrique. Acontece que depois da morte de Robert e da esposa, Hugo é aclamado duque em Dijon com o apoio dos vassalos e os filhos de Robert I e Ermengarde são expulsos do ducado. 

Temos pois a clara antipatia da Igreja, a oposição dos vassalos a um senhor extremamente violento, que queria impor um herdeiro. Tudo indica que algo de extremamente violento aconteceu na igreja de Fleurey-sur-Ouche. Robert I, duque de Borgonha e sua esposa, Ermengarde d'Anjou foram assassinados e o ducado passou para as mãos do seu neto Hugo.

Podemos acrescentar que o duque Hugo I, apesar de ter participado numa expedição em Espanha contra os mouros e em apoio a Sancho, rei de Aragão, depois da morte da esposa, Yolande ou Sybille de Nevers em 1079, retirou-se como monge para a abadia de Clunny. Quem sabe se não carregava na consciência as mortes do avô e da esposa deste.  

Quanto aos meio-irmãos, sabemos que Robert aparece em Espanha em 1087 combatendo os mouros e daí parte para a Sicília, onde casa com a filha de Roger I, tendo a viúva deste, Adelaide de Monteferrat, confiado nele a regência dos seus estados até à maioridade dos seus filhos. Ora segundo o cronista Orderic Vital, é esta sua sogra quem o manda envenenar em 1112 ou 13.

No ducado da Borgonha, depois de Hugo I se retirar para a abadia de Cluny em 1079, sucede-lhe o irmão Eudes I, le Borel (Odo), que parece ter herdado as piores características do avô Robert. Algumas crónicas colocam-no em Espanha em 1087 (curiosamente a mesma data em que o seu meio irmão Robert também está presente), mas referem-no como apoiando Afonso VI na tomada de Toledo, o que aconteceu em 1085. O mais provável é Eudes I ter respondido ao apelo que Afonso VI fez aos reinos cristãos da Europa depois da derrota na batalha de Zalaca e consequente perda para os almorávidas de muitos territórios antes controlados por Afonso.

Mas Eudes I, le Borel era um homem violento e saqueador de estradas. A propósito dele, conta-se a história da passagem de Anselmo de Cantuária, futuro Santo Anselmo, por terras de Eudes, em 1097, quando o prelado se dirigia a Roma. Na esperança de um bom saque ou de soberbo resgate pela vida de Anselmo, Eudes prepara uma emboscada ao séquito. Quando se aproxima e pergunta por Anselmo, este aproxima-se e abraça-o. Desconcertado, o duque declara-se humilde servidor de Anselmo.

Não parece ter feito parte da Primeira Cruzada, mas faz parte da fracassada Cruzada de 1101 e acaba por morrer a 23 de Março de 1103 em Tarso, na Cilícia (atual província turca de Mersin).



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