História
Lisboa
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Conclusão
Terminada a digressão a que nos levou o encontro de varios documentos ineditos a respeito do desapparecimento dos ossos de Affonso de Albuquerque, concluamos a investigação das origens e historia da casa dos Bicos.
Um dos quesitos que tomámos para balisas das nossas averiguações, foi saber a quem pertence hoje esta casa e qual a sua historia moderna. Eis o que apurámos.
Em 1827 foi a casa dos Bicos posta em praça pela fazenda nacional, achando- se já penhorada pela somma de 14 800$000 réis, que o proprietario devia de decimas d'este e d' outros predios que possuia. Arrematou-a por 14 500$000 réis o inquilino, que era Caetano Lopes da Silva, honrado negociante de bacalhau e pae dos actuaes locatarios, que ainda alli conservam a mesma bacalhoaria de seus avós.
Em 1838, Francisco Antonio Marques Giraldes Barba, tutor do menor Pedro Telles de Mello, successor do antigo senhorio d'esta casa, citou o arrematante para lha restituir, com o fundamento de que sendo vinculada, não podia ser vendida, embora por execução fiscal. Caetano Lopes, homem de antiga tempera, inimigo de demandas, e reconhecendo por conselho de letrados, que a casa fôra illegalmente posta em praça, confessou a acção, demittiu de si o dominio de uma propriedade, que lhe tinha custado tantos contos de réis, fazendo ao novo senhorio um arrendamento de longo praso, pelo aluguer annual de 500$000 réis.
E posto que tivesse direito de pedir ao estado a restituição do preço que havia pago, por um predio que o fisco não podia vender, nunca quiz usar d' esse direito, nem tão pouco seus filhos. Acção é esta digna de ficar aqui registada com o devido louvor.
Tal é a situação actual da casa dos Bicos.
Temos respondido já á maior parte dos quesitos que formámos quando démos começo ás investigações sobre a origem d'esta popularissima casa; só restam alguns de pouca importancia.
Um d'elles é saber por que pertence a casa Bicos ao morgado do antigo secretario de guerra, de que é actual administrador o sr. Pedro Telles de Mello Malheiros Brito Freire e Albuquerque.
Os bens, tanto vinculares como allodiaes, pertencentes ao grande Affonso de Albuquerque e a seu filho, passaram successivamente para as differentes familias que hoje os possuem, e são os srs. marquez Pombal, successor da casa Sarzedas; conde de Peniche, herdeiro das do conde de Villa-Verde e de Angeja; conde de Mesquitella e Pedro de Mello. Ao morgado d'este ultimo coube a casa dos Bicos. Fica porém uma questão irresoluta, e é, determinar qual destes seja o descendente directo de Affonso de Albuquerque. Achámos esta averiguação genealogica muito intricada, e tanto que nos não atrevemos por em quanto a resolvel-a. N'outro estudo mais largo o faremos.
O quesito tocante á tradição, de que na familia dos Albuquerques se entroncára um magistrado de appellido Bacalhau, filho de um commerciante d'este pescado; e que por isso a casa dos Bicos, desde muito antes do terremoto, como já vimos tem servido de bacalhoaria; que pelo mesmo motivo se mudára o nome á celebre quinta de Azeitão, chamando-se da Bacalhôa, sendo o primitivo de quinta do Paraiso; de similhante tradição não encontrámos documentos, nem para a confirmar nem para a refutar. O bacalhau, por em quanto não é fiel amigo da fidalguia, porque como appellido não o achámos em nenhum dos muitos nobiliarios que havemos folheado, para esta e outras investigações archeologicas.
Resumamos, pois, o que nos antecedentes artigos fica apurado tocante á casa dos Bicos, e é que:
Foi edificada por Affonso de Albuquerque Junior, cerca do anno 1523.
Que por esta data se vê que nunca alli residiu o grande conquistador da India.
Que foi acabada, e não embargada durante a sua edificação como alguns suppozeram.
Que se não sabe a razão por que nos livros e manuscriptos antigos se lhe chama dos diamantes.
Que foi parar á casa do secretario de guerra (Mellos), em cujo dominio se conserva, no anno de 1649.
Que a fazenda nacional a pozera em praça no anno de 1827, sendo arrematada por 14 500$000 réis.
Que em 1838 fôra reivindicada pelo tutor de Pedro Telles de Mello, com o fundamento de que sendo vinculada se não podia vender.
Que actualmente a traz de renda o sr. J. Caetano da Silva por 500$000 réis annuaes; e ahi tem os seus armazens de bacalhau. Antes do terremoto andava esta casa arrendada a um negociante inglez, de bacalhau, tambem por 700$000 réis.
Finalmente, que as outras tradições populares não têm fundamento averiguado.
Para seguir toda a História da Casa dos Bicos e da sua relação com os descendentes de Afonso de Albuquerque vá aqui em Antikuices
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