domingo, 16 de janeiro de 2011

História: Lusitânia


História

Lusitânia

A peninsula hispânica foi antigamente conhecida pelos nomes de Hispânia, Ibéria e Hesperia última. Os romanos fizeram delia uma província sua 200 annos antes da era vulgar. Estabeleceram aqui seu governo suas leis e politica, introduziram seus costumes e idioma e levantaram aqueductos, pontes magestosas, e outros edifícios soberbos; algumas das quaes obras têem resistido a vinte séculos de duração e ainda promettem durar até ás mais remotas gerações.

Por este tempo estava a península dividida em duas partes: Hispania Citerior e Hispania Ulterior, sendo a primeira formada pela parte da península, que ficava para o lado do oceano; mas não é possível assignar limites precisos a estas duas partes.

No tempo de Augusto a Hispania foi dividida em três grandes províncias, Lusitânia, Bética e Tarraconensis. Achavam-se comprehendidas na Lusitânia, as actuaes províncias da Beira-alta, Extremadura, Algarve, e em grande parte as do Douro, Beira-baixa e Alemtejo. Os limites da Lusitânia eram, ao norte o rio Durius (Douro) ao occidente e ao sul o oceano no oriente o rio Ana (Guadiana) desde sua embocadura até quasi ao meio da península, uma linha tirada deste ponto para o norte até encontrar o Durius.

Pelos limites apresentados bem se vê que a Lusitânia não correspondia ao actual Portugal. Sua extensão era muito mais consideravel, pois abrangia não só as actuaes províncias que citámos, mas também grandes porções das províncias hespanholas, Extremadura, Castella- nova, Castella-velha e Leão.

As actuaes províncias Minho, Traz-os-montes e parte do Douro, pertenciam á Tarraconnensis. A pequena parte do Alemtejo, ao oriente do Guadiana, pertencia á Bética.

Os principaes povos da Lusitânia eram os seguintes. Os lusitanos propriamente ditos habitavam entre o Durius e o Tagus (Tejo), toda a Beira-alta, e parte das actuaes províncias, Douro, Extremadura e Beira baixa. Suas povoações principaes eram Emineum (Agueda), Concórdia (Thomar), Conimbriga (Coimbra), Hierobriga (Alemquer?), Lama (Lamego), Olisipo ou Felicitas Augusta (Lisboa) Scalabis ou Praesidium-Julium (Santarém), Tabucci (Abrantes), Talabriga (Aveiro).

Os túrdulos, ou turdetanos celticos, habitavam entre o Tagus e o Ana, parte da Extremadura e quasi todo o Alemtejo. Suas principaes povoações eram: Cetobriga (Setúbal?), Elora ou Liberalitas Julia (Évora), Merobriga (S. Thiago de Cacem? Odemira?) Myrtilis-Julia (Mertola), Pax-Julia ou Pax- Augusta (Béja), Salacia- imperatoria (Alcacer-do-sal), Troja (Tróia, defronte de Setúbal).

Os cuneos habitavam o Algarve. Suas principies povoações eram: Balsa (Tavira), Lacobriga (Lagos), Ossonoba (perto de Faro), Portus Hannibalis (Villa-nova- de Portimão).

Os vectones, ao oriente dos lusitanos propriamente ditos, habitavam entre o Durius e o Ana, parte da Beira-baixa, e parte das províncias de Hespanha, Extremadura, Castella- nova, Castella-velha e Leão. A principal povoação, assentada naquella parte da Beira baixa, era Lancia- Opidana (Guarda).

As principaes povoações dos vectones, que já ficavam fora dos limites orientaes do moderno Portugal, eram: Emerita- Augusta (Merida) Norba-Cesaria (Alcantara) Salamantica (Salamanca).

As províncias do Minho, Traz-os-montes, e parte do Douro, não comprehendidas na Lusitânia, eram occupadas pelos gallegos -braccaros. Suas principaes povoações eram: Aquae- Flavia (Chaves), Araduca (Guimarães), Bracara-Augusta (Braga), Calle (Porto), Fórum Limicorum (Ponte de Lima).

A parte do Alemtejo, igualmente não comprehendida na Lusitânia, era habitada por turdetanos da Betica. Suas principaes povoações eram: Asuci (Moura) Serpa (Serpa).
Os principaes cabos da Lusitânia eram: Munda (Mondego), Lunarium (Carvoeiro), Magnum ou Olisiponense (Roca), Barbarium (Espichel), Pyrgos (Sines), Sacrum (S. Vicente), Cuncus (S. Maria).

Os principaes rios eram: Minius ou Baenis (Minho), Limia, Belion ou Lethe (Lima), Naebis (Neiva), Cadavus (Cavado), Avus (Ave), Celando (Leça), Durius (Douro), Vacus ou Vácua (Vouga), Munda (Mondego), Tagus (Tejo), Callipus ou Salacia (Sado), Ana (Guadiana).

Os montes principaes eram: Jurezus (Gerez), Herminius major (Estrella), Tarpeius (Ancião), Tagrus (Montejunto), Monslunae (Cintra), Barbaricus (Arrabida), Herminius minor (Marvão), Cicus (Monxique).

No quinto século da nossa era, cahindo o império do occidente, a Lusitânia foi dividida entre os dois reinos dos suevos e dos wisigodos, de maneira que o território ao norte do Tejo fez parte do primeiro, o território ao sul do segundo.

No sexto século o reino dos suevos foi conquistado pelos wisigodos, que se fizeram senhores de toda a península.

No oitavo século os mouros apoderaram-se de toda a Hespanha, e della formaram o califado de Hespanha. As províncias, e muitas cidades, montes, e rios, mudaram então de nome. No meado deste século, os reis christãos, que já tinham conseguido expulsar os mouros de quasi toda a Galliza, conquistaram a província do Minho, conhecida no século seguinte pelo nome de Portucalia. Este nome tirava sua origem de Portucale, povoação que demorava na margem meridional do Douro, fronteira á actual cidade do Porto.

Nos séculos nono e decimo, Portucalia ou Portugal, estendia se ora até ao Douro, ora até ao Mondego, ora até ao Tejo, segundo os resultados da guerra travada entre os christãos e os mouros.
Pelo meado do século onze estava já grande parte da península sob o domínio de príncipes christãos, que á custa de torrentes de sangue se íam apoderando das terras que os mouros possuíam. Nos fins deste seculo veio á Hespanha Henrique, filho do duque de Borgonha; e Affonso VI, rei de Leão e Castella para galardoar os relevantes serviços prestados por elle á sua coroa, deu-lhe a mão de sua filha Thereza e as terras de Portugal, com o titulo de conde. Este condado dilatava- se desde o rio Minho até ás abas do Tejo. Tudo mais que hoje é Portugal, estava sob a dominação dos mouros. As povoações principaes do condado de Portugal eram Coimbra e Guimarães.

No século doze Affonso I, filho do conde de Portugal, conquistou muitas terras que ficavam além do Tejo; e Portugal principiou a tomar sua forma actual, e a ser conhecido pelo nome de reino. Sancho I principiou a conquista do Algarve, e Affonso III a acabou no meado do século decimo terceiro; e desde então tem Portugal conservado a mesma extensão, excepto pequenas mudanças na fronteira oriental.

João FELIX PEREIRA, Lente de Chronologia, História e Geographia do Lyceo de Lisboa



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