História das Cidades de Lisboa em 1755, parte 1

História

Lisboa em 1755

1ª parte

Das Cidades de Lisboa 

Em trinta e oito g. e quarenta min. de latit. e nove e quinze min. de longit., sobre sete montes como a Cidade de Roma, nas ribeiras do Rio Tejo, se ostenta a nobilissima Corte e Cidade de Lisboa, empório de ambos os mundos, a mayor e mais formósa povoação de toda a Hespanha, e grande entre as mayores de todo o universo. Dilatase por duas legoas de frente, á maneira de Amphitheatro, com soberbissimos edifícios, girando a sua circumferencia até perto de cinco legoas, em cuja distancia se vê a cada passo competir a natureza com a arte, na exccllencia de suas fabricas, sem que os olhos possam decidir a favor de huma ou de outra, tão magnifica e tão agradável contenda.

Foy fundada segundo a vulgar opinião 3259 anos antes da vinda de Chtisto, por Élifa, bisneto de Noé, e reedificada por Ulysses, que com a nova grandeza que lhe restituia, lhe poz o nome que ainda agora conserva, chamando-se em latim Ulyssipo, e em idioma vulgar Lisboa. Recebeo a fé de Chrísto pela pregação do glorioso Màrtyr São Manços, e de São Pedro de Rates, o qual poz nella o primeiro Bispo, que padeceo martyrio no lugar, em que hoje está a sua cadeira na Ermida de N. Senhora do Monte, conhecida pela devota fé, com que buscam o seu auxilio as mulheres que estão prenhes, para conseguirem pela intercessão de S. Gens a felicidade dos seus partos.

Padeceo duro cativeiro nas irrupçoens dos Chaldeos, Turdulos, Gregos, Romanos, Godos, Suevos, Vândalos, Alanos, Árabes, os quaes a possuiram quatrocentos e quarenta e sete annos, até que no de 1147, em 25 de Outubro, a conquistou, depois de cinco mezes de apertado sitio ElRey D. Affonso Henriques, dandolhe amplíssimo foral, como convinha a Cidade de tão augusta grandeza, destinada para folio de seus excelsos sucessores. EIRey D. Fernando a cercou de formosos e dilatados muros, com trinta e oito portas, e D Affonso VI a começou a fortificar ao moderno, cuja obra em grande parte se executam com muita despeza. Da parte do mar está defendida com varias torres e fortes, que fazem respeitavel e impossível a entrada, e sahida da barra, se a artilharia da torre do Bugio, da de S. Julião, e da formosa torre de Belém, dos fortes de S. Catharina, e S Joseph, de Alcântara, da torre Velha, e outros muitos, de que está bordada toda a ribeira, não consentirem o recurso, e abrigo do seu famoso porto ás embarcaçoens de bandeiras amigas, e alliadas desta Coroa.

Dividese ao presente em duas Cidades, Occidental, e Oriental, a primeira conserva vinte e duas Freguesias na Cidade, e vinte e quatro no termo, a saber:

Continua

Descripçam corografica do reyno de Portugal, 1755