terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

História: Portugal em África - Fortaleza de Ajudá em 1853


História


Portugal em África



ESTADO DO ESTABELECIMENTO DE AJUDÁ E O COMMERCIO DAQUELLA COSTA PELO SR. JACINTO PEREIRA CARNEIRO

 Ill.mo e Ex .mo Sr.

Tenho a honra de accusar a recepção do Officio de V. Ex.ª de 14 do mez passado, debaixo do N.º 241 do L. 1.º da 2.ª Repartição, no qual V. Ex.ª exige de mim algumas informações ácerca do commercio do nosso estabelecimento de S. João Baptista de Ajudá a cuja exigência vou satisfazer como melhor puder e souber.

Tráfico de escravos para o Brasil e Cuba

Este estabelecimento que no tempo do resgate de escravos na costa da Mina era de summa importância para o commercio portuguez, deixou de lhe ser proveitoso depois da separação do Reino do Brasil; porque outro qualquer negocio que não fosse o trafico de escravatura era feito em pequeníssima escala, limitando-se apenas a algumas pipas de azeite de palma, pannos de algodão riscado fabricados no paiz, limo ou cebo vegetal (espécie de pomada com que os negros se untam), grandes cuias, balaios ou cestos, esteiras finas, e finalmente certas espécies aromáticas, e picantes (pezelecum e lelecum) para condimento da comida feita com azeite de palma; mas todos estes géneros só tinham consumo especial na Província da Bahia, por serem quasi exclusivamente do Golfo de Benim os escravos para ali transportados. Da avidez porém do commercio de escravatura resultou o desenvolvimento do commercio licito; a essa avidez se deve o estado considerável em que agora se acha o fabrico do azeite de palma; porque chegando a ser a procura de negros muito superior á quantidade que podia fornecer o mercado, a accumulação de géneros, e em deterioração por falta de consumo, fez procurar-lhes uma saída, que não podia ser outra senão a compra do azeite de palma, a procura do qual desenvolveu progressivamente a sua fabricação.


Não era da Costa da Mina e Golfo de Benim d'onde os hespanhoes proviam de escravos as suas possessões das Antilhas, era sim de Galinhas, dos Calabares, e dos portos do Sul do Equador, como Loango, Cabinda, e Zaire; mas era 1822 começaram também a esquipar seus navios para o Golfo de Benim, e em 1826 já tinham ali grande numero de navios, o carregamento dos quaes reduzia se a dinheiro em ouro e prata, e a algumas mercadorias de nenhuma extracção n' aquella Costa, faltando-lhes os principaes géneros, que eram a aguardente (cachaça) e o tabaco de fumo em rolos de duas arrobas encapados em couro. Os navios brasileiros, amestrados no commercio daquella Costa, levavam boas carregações, pelo que os hespanhoes não podiam concorrer com elles na compra de escravos. Em taes circumstancias a avidez do ganho fez com que os feitores brasileiros comprassem os carregamentos aos hespanhoes por certo numero de escravos, e a um tempo dado, servindo- se para este contrato dos géneros de seus navios, mandando não obstante vir do Brasil quantidade de géneros para supprir a falta dos seus. Mas a tardança das remessas e a abundância das compras fizeram o mercado insufficiente, augmentaram o valor dos escravos, e tornaram impossível o cumprimento dos contratos da parte dos feitores brasileiros; de sorte que fornecendo Ajudá 4 a 5 000 escravos por anno, haviam 20 navios de 300 a 600 cada um, os quaes só em 2 annos é que poderiam ser aviados, o que effectivamente aconteceu, e deu causa ao desenvolvimento de uma pirataria dos navios hespanhoes contra os brasileiros, de qualquer porto da costa d'onde saíssem, roubando-lhes os escravos e dando-lhes uma ordem para o feitor seu devedor lhes pagar os escravos roubados. Esta pirataria estendeu-se até Cabinda, aonde era ainda permittido o trafico de escravos, do que se seguiram graves reclamações dos roubados contra os negociantes hespanhoes de Havana, em consequência das quaes vieram a um accôrdo de estabelecerem feitorias de Sociedade, sendo os pontos principaes Ajudá e Onim, que foi levado a effeito em grande escala.

Em 1832 o agente da feitoria de Ajudá, João Baptista Bellarra, homem intelligente emprehendedor, conhecendo que não longe a completa abolição do trafico de escravos; que do negocio do azeite se podia grande proveito, e que lhe era forçoso dar saída á grande porção de géneros que a perderem-se nos armazéns, lançou os fundamentos deste commercio, começando methodicamente a contratar a compra com negros que negociavam no interior do paiz, vendendo o mesmo azeite aos navios inglezes que ali faziam escala. Este commercio foi pouco a pouco progredind,o mesmo apezar morte do feitor Bellarra; e offerecendo consideráveis interesses, animou a Casa Victor & Louis Régis Frères de Marselha, a ali estabelecer uma feitoria, a qual ainda ali existe (desde 1840) e tem um movimento annual 1.000 000 de francos.

Azeite de Palma

O augmento do commercio do azeite se limitou ao porto de Ajudá; desenvolveu-se também com a mesma força em Porto Novo (30 milhas a E.) d'onde sáem 10 a 15 navios por anno de 150 a 300 toneladas; e Onim no Rio da Alagôa, d'onde sáem também o mesmo numero de navios pouco mais ou menos.

A exportação do azeite regula actualmente em Ajudá de 3 500 a 4 000 toneladas por anno; seu preço nas transacções para esta exportação é, desde 6 annos, 3 galões (medida de vinho) por 1 peso ou pataca hespanhola; este negocio, porém, é feito a troco de aguardente, tabaco, louça de faiança, tecidos de algodão, lençarias, etc., como se póde ver na nota junta, que mostra os géneros para o Golfo de Benim, e seus valores nas transacções da compra do azeite.

Moeda local

O peso ou pataca hespanhola, e o ake de ouro em pó, que é meia oitava de peso Inglez, e que tem o valor de um peso forte, são a moeda adoptada para as transacções com os navios que vão negociar n'aquella Costa. Mas para com os negros do paiz ha uma divisão que começa em Cabo Lahou. D'este Cabo, que é d'onde começa o commercio do ouro em pó d' além do Cabo das Palmas, são feitas as transacções por akes até Acra; mas deste ponto até ao Rio da Alagôa servem- se de uma moeda imaginaria, a que chamam onça (em Benim e Calabares ha moeda imaginaria chamada barra, e considera-se no valor de meio peso).

Um rolo de tabaco, um barril de pólvora de 25 arrateis, uma espingarda de munição, uma peça de tecidos de algodão de 28 jardas, etc. tem o valor, cada um destes géneros, de uma onça; mas sendo objectos de maior valôr, como v.g. a pipa de aguardente, que vale 20 onças, eleva-se o preço ás onças convencionadas, Para os géneros de menor valor é dividida a onça em cabeças (advirta-se que não são cabeças de escravos, é somente o nome que se dá á primeira divisão da onça); as cabeças são grandes ou pequenas, e são representadas por búzios, ou cauris.

Divide-se a onça em 4 cabeças grandes,ou 8 pequenas; a cabeça grande em 20 gallinhas, a pequena em 10; a gallinha em 5 toques, o toque em 40 búzios; de sorte que onça, conforme a divisão que fica indicada, tem 16 000 búzios, ou cauris. Usa-se desta moeda nas pequenas transacções, e nas despezas miúdas. A onça divide-se também em 8 pesos; e então, dando ao peso o valor 1$000 réis, o toque vale 20 réis da nossa moeda.

Estando eu em Calcutá cm 1817, em cujo paiz os cauris são a moeda circulante para as pequenas despezas da gente pobre, tive a curiosidade de comparar o seu valor em relação á rupia, e ao paiçá. 200 cauris representavam um paiçá; um anaz (ou 4 paiçás) continha 800 cauris; 8 anazes ou uma rupia, 6 400 cauris; por conseguinte a pataca hespanhola 2 rupias (naquelle valia mais 2 a 4 paiçás), contém esta moeda, digo, o peso, 12 800 búzios, isto é, seis oitavas da onça. Por esta comparação conheci em África o grande interesse que haveria nas carregações dos navios, se uma parte d'ellas fosse representada por cauris, mandando-os vir da India, como tive depois occasião de conhecer que assim o praticavam os negociantes inglezes; mas devem ser verdadeiros cauris e não da costa oriental de Africa, que, apesar de se assimilharem aos da India, não tem valor algum pela sua pouca consistência. Fiz a experiência em 1829, levando do Rio de Janeiro algumas toneladas deste búzio; os negros não o queriam receber, reputando- o búzio falso.

A medida pela qual os negros vendem o azeite denomina-se curbá (espécie de tina ou celha), que varia de capacidade segundo as localidades. O curbá de Ajudá é de 18 galões (medida de vinho), e custa uma onça de géneros; o curbá de Onim é de 7 1/2 galões, e custa uma cabeça grande; estes preços porém variam segundo a abundância ou escacez do azeite, e dos géneros de importação.

Ocupação inglesa

Desde o anno passado que os inglezes se senhorearam de todos os pontos do Golfo de Benim, nos quaes ainda não tinham podido estabelecer a sua dominação, estando já de posse dos consideráveis estabelecimentos Dinamarquezes de Accará, e Quitá, comprados ao Governo daquella nação, penso que por 300 mil francos. De Quitá tem fáceis communicações pela Alagôa com todo o litoral. Esta Alagoa vem do Rio da Volta, um pouco ao O. do Cabo de S. Paulo, e segue pelo interior, a pouca distancia da praia, até quasi a Porto Novo, aonde é interrompida pelo monte deste nome; mas segue logo por Badagri e Onim até ao Rio de Benim.

Os inglezes estabeleceram um rigoroso bloqueio entre Quitá e Onim para obrigar os chefes das Povoações do litoral, e o Rei de Agomé a assignarem um tractado para a abolição do trafico de escravos; com alguns mezes de bloqueio conseguiram o seu fim; e também o de commerciarem e terem cônsules ou agentes do Governo inglez em todos esses pontos. No logar aonde provaram maior resistência foi em Onim; mas uma guerra de successão facilitou-Ihes os meios de tudo conseguirem. Pozeram-se da parte do chefe deposto, entraram em lanchas no Rio da Alagôa, e apesar da resistência de 2 a 3 000 homens bem armados, apossaram-se da povoação, queimaram a maior parte das casas, e fizeram reconhecer o chefe que auxiliavam, o qual se pôz logo debaixo da protecção da Inglaterra. Levantaram um plano da embocadura do Rio da Alagôa, e conheceram que a barra podia dar entrada a pequenas embarcações até 100 toneladas; e então aquelle porto vai tornar-se para o commercio do azeite muito mais considerável do que Ajudá e Porto Novo.

Estando os Inglezes senhores das duas extremidades do litoral, Quitá e Onim, e tendo as communicações fáceis pela Alagôa com todos os portos intermédios, não póde duvidar-se que o commercio desta nação vai necessariamente dominar todo o commercio d'aquella costa; pois que suas feitorias podem ser soccorridas a tempo, tanto por Quitá como por Onim, sem ser preciso esperar o bom tempo para desembarcar na costa, o que mesmo se tornaria impossível para outras embarcações que não sejam canoas feitas apropriadamente para passar o banco de areia que borda toda a costa, a cem braças pouco mais ou menos da praia, baluarte inexpugnável a qualquer ataque que se pretenda dirigir a todos os portos daquella costa, e que os Inglezes em todos os tempos não tem podido vencer.

O Rei de Agomé

O Forte de Ajudá é situado a uma légua de distancia da praia, tendo intermédia a Alagôa; e á distancia de um tiro de espingarda estão os Fortes francez, e inglez, chamados, tanto estes como aquelle, impropriamente Fortes, porque são apenas parapeitos de barro em completa ruina. Cada um, destes três Fortes tem uma povoação a que chamam Sarame composta de casas de barro de palha, e habitadas por negros livres paiz e escravos. O Rei de Agomé não permittia nem aos brancos cobrir as casas de telha; ultimamente concedeu a alguns, por especial, essa permissão.

Além d'estes três Sarames, chamados Portuguez, Francez e Inglez, há o Sarame Avogá, ou Governador de todo o paiz em nome do Rei de Agomé, que tem sobre todos os habitantes, sejam do paiz, ou de fora; aquelles são vassallos, sobre os quaes o rei tem o direito de vida e de morte; os de fora, isto é os brancos, e os considerados taes, são isentos das penas dos vassallos logo que são remidos pelas grossas multas que são impostas, quando commettem delictos ou infracções contra as Leis (não escriptas), usos, e costumes do paiz.

Permitta-me V. Ex.ª que lhe cite um exemplo de um delicto que não foi possível remi-lo com menos de 400 pesos; por elle póde V. Ex.ª julgar de outros muitos a que está sujeito o branco que alli vae habitar, ainda que seja de passagem. A cóbra (Bôa) é reverenciada em Ajudá como o boi no Egypto; ha uma casa aonde estão recolhidas um montão dellas; são mantidas á custa do povo, e tem padres que dirigem o seu culto. Estes reptis costumam ás vezes fugir, e introduzirem-se nas casas dos habitantes; aconteceu pegar fogo em uma destas casas, aonde tinha entrado uma cobra sem seu dono saber, pois que se o soubesse tinha obrigação de dar parte ao padre para ir busca-la; ardeu a casa e foi encontrada a cobra morta no montão das cinzas; o dono da casa teve que pagar 400 pesos para poder remir-se do crime que commetteu o fogo!

Á questão levantada depois do delicio até ao pagamento da multa chama se palavra. A palavra de pouca consideração, ou aquella sobre a qual não se levanta questão de preço, é decidida pelo Avogá; a de maior vulto depende da deliberação do Rei. Quando ha palavra com qualquer branco, sobre tudo sendo Feitor de casa de commercio, a primeira cousa que o Avogá faz é mandar apregoar por toda a parte, que os caminhos ficam fechados para aquelle branco; e então cessa completamente o commercio com elle; tem havido occasiões em que fica n'uma rigorosa excommunhão; não sendo branco que mereça alguma consideração, está sujeito a ser mettido em rigorosa prisão, ou ir amarrado de pés e mãos, mettido n'um cesto, conduzido á cabeça dos negros até á capital, a 30 léguas no interior, para o Rei fazer d'elle o que lhe aprouver.

O Xáxá

Francisco Felix de Sousa, conhecido mais pelo appellido de Xáxá, ultimo Almoxarife do Forte Portuguez, tendo prestado grandes serviços ao actual Rei, pois que foi a causa principal da sua elevação ao Throno, promovendo e sustentando uma revolução em todo aquelle Reino, foi elevado á alta dignidade de Avogá dos brancos, com authoridade sobre o Avogá, Governador do paiz, por isso que só por sua intervenção, ou sendo previamente consultado, é que se decidiam as questões entre os brancos, e todas as palavras do paiz; depois porém de sua morte, sendo posto seu filho Isidoro Felix de Sousa em seu logar, não tem conservado o prestigio de seu pae, do que tem resultado o ter tomado o Avogá preto toda a authoridade no paiz, mesmo a respeito do Avogá dos brancos.

O Governador de S. Thomé e Príncipe, fazendo uma visita áquella possessão em Abril do anno passado, creou ali uma Companhia de Milícias, tendo anteriormente dado a patente de Tenente Coronel ao supra indicado Isidoro, e commissionando-o no emprego de Governador do Districto de Ajudá. Vou pôr aqui o que a este respeito me escrevem d'ali em data do 1º de Março: « O Governador Isidoro quer ter uma authoridade suprema, mas infelizmente quer esta authoridade para obrigar a cumprir todos seus caprichos. V. sabe do que elle, e todos os filhos do Xáxá são capazes, pois que os conhece a todos; filhos do serralho, creados, e educados pelos negros, têem d'elles todos os costumes, usos, e inclinações; são vassallos do Rei de Agomé, e tem muita honra nisso. Houve quem lhe disse, que se elle continuasse, haviam de representar contra elle ao Governador de S. Thomé. - Que me importa, respondeu elle, sou súbdito do Rei de Agomé, elle me defenderá, se tentarem vir cá a terra, o que é impossível porque é preciso pedir licença ao Banc,o mas o Banco não lh' a dá. - Apesar da investidura que lhe deu o Rei, ninguém se importa com elle, vão ventilar suas questões perante o Avogá. O Governador faz o mesmo, leva os que lhe desagradam a casa do Avogá, e fal'os pagar multas, como aconteceu com Francisco de Miranda Vasconcellos, e Francisco de Sousa Maciel, que pagaram 400 pesos de multa cada um. A Companhia de Milícias apenas tem 34 praças, mas para completa la será preciso mandar fazer soldados de barro; para chegar porem áquelle numero, foram obrigados a assentar praça os pretos Minas deportados do Brasil. São soldados no nome, e quando por acaso se chegam a reunir, excitam o escarneo e as gargalhadas de riso.»

Se tenho entrado em certos detalhes ácerca do nosso estabelecimento de Ajudá, é para fazer conhecer, que o Rei de Agomé é senhor absoluto de todo aquelle paiz; que lhe pagam tributos, a que dão o nome de costume todos os navios, sejam de que nação forem, que ali vão negociar; e que, finalmente, recebe direitos de todas as mercadorias que elles importão ou exportão; e é também para fazer sentir que se quizermos recuperar o nosso antigo prestigio perdido, não o poderemos conseguir senão imitando a politica que os Inglezes foram obrigados a adoptar nas suas Possessões da Costa da Mina. Senhores alli do Castello de Cabo Corso, tão forte como o de S. Jorge da Mina, seu domínio limitava- se ao recinto de suas muralhas; porque tentaram por meio da força estender seu domínio ao interior do paiz; por isso tiveram que sustentar uma guerra desastrosa com os Achantis, que durou muitos annos sem nada adiantarem; desenganados, porém, fizeram a paz a muito custo. Foi então que elles começaram a mandar educar na Inglaterra os filhos do Rei, e dos maiores potentados do paiz ,e tomaram outros como creados a bordo de seus navios, tanto de guerra como mercantes, todos os quaes voltando á sua terra concorreram poderosamente para estabelecer as relações intimas que agora existem; e pouco a pouco, com esta politica civilisadoram conseguiram o que não lhes foi possível com o emprego da força.

Em Ajudá porém, não ha muralhas, não ha um desembarque fácil como em Cabo Corso; as communicações com a costa tornam se impossíveis, mesmo no bom tempo, se uma opposição ainda que pequena, se apresentar no desembarque, porque então tudo acabará no Banco.

Soluções

No entanto, para começar, parece-me que o único meio que ha para tirar algum partido em Ajudá, é estabelecer ali uma feitoria para a compra do azeite de palma, a qual terá que luctar, é verdade, com a concorrência da que ali está estabelecida ha muitos annos; mas se o feitor for homem hábil, que se sirva do prestigio que ainda ali tem os portuguezes, devido a antigas tradições, para ganhar a amisade do Rei e dos grandes, indo investido de uma authoridade consular, e munido de presentes para o Rei, é provável que reganhemos o credito e a preponderância que temos perdido, do que o nosso commercio deve tirar, sem duvida alguma, maiores vantagens do que o das outras nações. Deve haver nesta Capital algnns Capitães de navios que conheçam o negocio d' aquella costa; um conheço eu, vindo d'ali ha pouco tempo, João Maximiano Pitta, que para a escolha dos géneros apropriados, e para um sortimento conveniente, estou certo que se prestará de boa vontade; isto no caso de alguma tentativa se operar para estabelecer a feitoria que indico.

Não me occorre nada mais a dizer ácerca de Ajudá, parecendo-me que com isto tenho preenchido, ainda que mal, os desejos de V. Ex.ª a respeito de informações d'aquelle paiz. Deos guarde a V. Ex.ª

 Lisboa 31 de Maio de 1853

Ill.mo e Ex.mo Sr. Conselheiro José Ferreira Pestana, Vice Presidente do Conselho Ultramarino.

Jacinto Pereira Carneiro
Deputado ás Cortes


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