Poema a S. Gonçalo de Amarante
S. GONÇALO d'Amarante,
Casamenteiro das velhas,
Porque não casaes as moças,
Que mal vos fizeram ellas.
Sejam as velhas beatas
Que resem com santidade;
São de mais ha-as de sobra
Na vossa santa irmandade.
Resar-vos-hei, ó meu santo,
Três padre-nossos cantados,
Se por cada um me deres
Três esbeltos namorados
Irei descalça ouvir missa
No dia do vosso nome
S'eu alcançar boa paga
Deste amor que me consome.
Nem todas as velhas juntas
Levarão tantos bentinhos,
Como encobertos nest'alma
Levarei ternos carinhos.
S. Goncalo d'Amarante,
Brincalhão e galhofeiro,
Fazei-vos antes das moças
Devoto casamenteiro.
Qu'eu vos prometto por todas.
(Ficando a nosso contento)
Muita crença na virtude
Muita fé no casamento.
Resar-vos-hei ó meu santo,
Três padre-nossos cantados,
Se por cada um me deres
Três esbeltos namorados.
Promessas que fazem moças,
Tem tal condão e verdade,
Que o santo deixou as velhas,
Foi pr'as moças... por bondade...
E a datar desta promessa,
Feita ao bom de S. Gonçalo
Não ha uma só donzella
Que possa deixar d'ama- lo.
Que a todas o bom do santo
Deu alma p'ra seis amores
A qual delles o mais falso,
Em seus dons e seus favores!
Sejam as velhas beatas,
Que resem com santidade;
São de mais, ha-as de sobra,
Na vossa benta irmandade.
S. Gonçalo d'Amarante
Um dos meus três namorados
Irá resar-vos por mim,
Os padre nossos cantados.
E só se dirá mentindo,
D'um santo tão galhofeiro,
Qu'inda é como era d' antes
Das velhas casamenteiro!
L.A. Palmeirim
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Revista Popular, 1848
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