segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Poema: S. Gonçalo de Amarante, 1848

 




S. GONÇALO d'Amarante
Casamenteiro das velhas, 
Porque não casaes as moças, 
Que mal vos fizeram ellas. 

Sejam as velhas beatas 
Que resem com santidade; 
São de mais ha-as de sobra 
Na vossa santa irmandade. 

Resar-vos-hei, ó meu santo, 
Três padre-nossos cantados, 
Se por cada um me deres 
Três esbeltos namorados 

Irei descalça ouvir missa 
No dia do vosso nome 
S'eu alcançar boa paga 
Deste amor que me consome. 

Nem todas as velhas juntas 
Levarão tantos bentinhos, 
Como encobertos nest'alma 
Levarei ternos carinhos. 

S. Goncalo d'Amarante, 
Brincalhão e galhofeiro, 
Fazei-vos antes das moças 
Devoto casamenteiro. 

Qu'eu vos prometto por todas. 
(Ficando a nosso contento) 
Muita crença na virtude 
Muita fé no casamento. 

Resar-vos-hei ó meu santo, 
Três padre-nossos cantados, 
Se por cada um me deres 
Três esbeltos namorados. 

Promessas que fazem moças, 
Tem tal condão e verdade, 
Que o santo deixou as velhas, 
Foi pr'as moças... por bondade... 

E a datar desta promessa, 
Feita ao bom de S. Gonçalo 
Não ha uma só donzella 
Que possa deixar d'ama- lo. 

Que a todas o bom do santo 
Deu alma p'ra seis amores 
A qual delles o mais falso, 
Em seus dons e seus favores! 

Sejam as velhas beatas, 
Que resem com santidade; 
São de mais, ha-as de sobra, 
Na vossa benta irmandade. 

S. Gonçalo d'Amarante 
Um dos meus três namorados 
Irá resar-vos por mim, 
Os padre nossos cantados. 

E só se dirá mentindo, 
D'um santo tão galhofeiro, 
Qu'inda é como era d' antes 
Das velhas casamenteiro! 

L.A. Palmeirim 

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Revista Popular, 1848

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