domingo, 20 de março de 2011

História: Os Templários I


OS TEMPLÁRIOS

1ª parte


Em 1118 estabeleceu-se em Jerusalém uma ordem militar. Beauduino II, rei da cidade santa, domiciliou os religiosos recem vindos perto do Templo de Salomão. D'ahi lhes veio o nome de templários. Em pouco tempo a ordem cresceu, espalhou-se e adquiriu bens consideráveis em toda a christandade. Guilherme de Tyro diz que pelas suas riquezas os cavaleiros do Templo eram comparáveis aos reis.



Tão grandes elementos de poder despertaram a cobiça dos reis e dos papas. É sem duvida ao desejo de invadir os bens dos templários que se devem atribuir os primeiros ataques contra a ordem, e as calumnias de que se serviram para a destruir. A historia não tem assignado outro motivo ao procedimento que o papa e Filippe, o belo, tiveram com os templários. A egreja não era então insensível á posse dos bens temporaes; o poder monarchico nada lhe cedia em avidez. Entretanto, mesmo n'um século de barbaria, estas cobiças não teriam ousado apparecer, se o duplo principio de auctoridade não houvesse achado meio de as apoiar, sob pretexto de sérios aggravos - mas aggravos que ainda se ignoram.

O ultimo século mostrou-se enthusiasta e compadecido da memoria dos templários. A escola de Voltaire exultava sempre que podia embalsamar nas honras do martyrio todos os homens, sobre quem a egreja tinha desencadeado os furores do braço secular. Prestámos homenagem a tal sentimento de justiça e reparação histórica; mas é preciso que este sentimento seja esclarecido.


Os costumes dos templários tem sido objecto das mais graves accusações. E claro que religiosos, cuja vida se passava no meio dos campos, deviam misturar com as praticas da sua ordem toda a casta de rapina e galhardia... Até havia um antigo provérbio que dizia «Beber como um templário». Porém esta depravação de costumes, inseparável do mister das armas, tinha-a a egreja respeitosamente coberto com o seu silencio, e mesmo com a sua estima, em quanto os templários se limitaram a defender os interesses dos christãos contra os infiéis.

Demais a suppor-se o procedimento dos templários tão pouco regular como o querem fazer, essa desordem não fôra culpa própria, mas das instituições que a egreja e a corte de Roma tinham approvado. A egreja, na sua alliança com o principio de auctoridade, condemnára-se a servir-se também da força. A creação das ordens militares foi uma das consequências d' este pacto.


A existência de padres soldados, não é facto novo na historia. Em Roma a lança e o altar não se separavam. Mas uma alliança, que parece natural numa ordem de cousas em que a existência civil, como em Roma, era absorvida pelo culto, torna-se monstruosa, quando a religião e a politica não vão de accôrdo. A egreja tivera mais que fazer do que destruir o contraste que havia entre as suas doutrinas e o emprego da força material. Que os padres soldados fossem os únicos que se crêssem com direito de sacrificar, com mãos tanto mais puras quanto mais manchadas de sangue, era isso bom na Roma pagã, curvada a divindades ferozes. Mas como associar em sociedades christãs, o caracter religioso ao selvático espirito de guerra, a costumes relaxados e brutaes, que constituem o caracter do soldado? Como desembainhar a espada em nome d' aquelle que disse: « mettei a espada na bainha».


A instituição dos templários seguiu nos seus progressos a marcha de todas as sociedades humanas. Os povos fazem a principio a guerra para destruir; symbolo, Hercules; fazem-na depois para adquirir: symbolo, a expedição dos argonautas.

Em latim a mesma palavra significava primitivamente combater e roubar, latrocinari. A guerra não é em verdade senão mão levada sobre os bens do inimigo. Na organisação de todos os conquistadores famosos ha alguma cousa do salteador. Não é, pois, para admirar que os templários, cuja coragem ninguém ainda contestou, alcançassem consideráveis bens.

Lisonjear a espada santa foi a principio táctica na egreja e no estado, que, vendo nos templários homens decididos e bravos soldados, esperavam ajudar-se dos seus serviços para fins políticos. Mas a espada em pouco tomou -se tão forte que metteu medo ao papa e aos reis. Foi por isso que resolveram quebral-a.


O que falta achar, o que os historiadores não disseram, foi a natureza do mysterio, até hoje impenetrável, que motivou a destruição da ordem. É preciso encarar directamente os factos: anniquilar uma associação, a um tempo religiosa e guerreira, que se apoiava nas suas riquezas e na sua espada, não era então empreza fácil. Para obrarem tão de accôrdo era preciso que o papa e o rei de França, Filipe, o belo, tivessem reconhecido que havia perigo na demora, isto é, que os templários ameaçavam com suas doutrinas, já a orthodoxia, já a constituição politica do estado.

E demais, haveria na ordem segredo? É difficil duvidar disso. A maior parte dos depoimentos estabelecem que, com o véo de praticas communs ás outras sociedades religiosas, os templários encobriam um misterio exclusivo da ordem. A tal respeito Raoul de Presles diz: «Quando estive em Laon, travei amizade com o prior templário da cidade chamado frei Gervásio de Beauvais. Muitas vezes lhe ouvi dizer, mesmo diante de muitos, e isto mais de cem vezes, quatro, cinco, ou seis annos antes da prisão dos templários, que na sua ordem havia um ponto tão singular e de tal forma secreto, que antes preferia lhe cortassem a cabeça, que revelal- o; que, demais, havia no capitulo geral um outro ponto, de tão importante segredo, que se por infelicidade o seu amigo de Presles, ou o próprio rei, o vissem, os freires reunidos os matariam sem remorso. Também muitas vezes ouvi dizer ao mesmo frei Gervásio, que tinha uma collecção de estatuas da ordem que mostrava aos estrangeiros; mas que também tinha outra colecção que não deixaria ver nem por todos os bens da terra.»


Assim a ordem do Templo era uma sociedade secreta.

A revelação do misterio dos templários (pois que nelles havia misterio) fôra, talvez começada, como sempre, por falsos irmãos. Dois cavaleiros do Templo, condenados a prisão perpetua, um por heresia, outro por differentes crimes, declararam o segredo da ordem aos ministros do rei. Geralmente as prisões é que são a voz dos delatores. O attractivo da liberdade leva em tal caso as almas baixas á revelação dos tramas que existem, e muitas vezes á invenção dos que não existem. (Continua)

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