quinta-feira, 3 de março de 2011

História: Viagem ao passado da cidade do Porto, imagem de 1840











História

Cidade do Porto

Viagem ao passado da cidade do Porto, imagem de 1840


A antiga e heróica cidade do Porto está assentada em vasto anfiteatro sobre as encostas de dois montes na margem direita do rio Douro, a uma légua pequena da sua foz. Foi a sua primitiva fundação pelos galos Celtas, 296 anos antes da vinda de Cristo, no sitio fronteiro que chamam Gaya. Depois pelos anos 416 da era Cristã, havendo grandes guerras entre Ataces, rei dos Alanos, e Hermenerico, fundarão os suevos nova povoação na outra parte do Douro, á qual chamaram Fastabole, que na sua língua queria dizer Porto ou Praia nova.




A esta nova povoação destruirão os moiros pelos anos de 716, e no de 905 a reedificou elrei D. Afonso 3.º de Leão. Depois foi outra vez arrasada por Almançor, califa de Córdova, permanecendo despovoada até ao ano de 982, no qual, reinando em Leão e Astúrias elrei D. Ramiro 3.º, segundo escreve o conde D. Pedro, entrou pela foz do Douro D. Moninho Viegas com uma armada de gascões, e chegando ao Porto, começou com os seus a reedificar a cidade destruída, cercando-a de muros de que ainda existem ruínas, e fortificando-a de maneira que pudessem seus moradores rebater e expulsar os moiros de toda aquela comarca.


Nesta obra da reedificação do Porto  puseram todas as suas forças Sisnando, irmão de D. Moninho, que depois foi bispo desta cidade, e D. Nonego, bispo de Vandoma em França, que tinham também vindo na armada dos gascões, para os ajudarem na expulsão dos moiros, e de novo restaurarão a igreja catedral, edificando outras obras com que a cidade melhorou, e ficou livre da sujeição dos bárbaros.


No tempo em que D. Moninho reedificou esta cidade, tinha dois filhos, D. Egas e D. Garcia; este morreu em uma batalha que deu aos moiros em terra de Santa Maria; e aquele teve descendência, e foram seus netos Egas Moniz, aio d'elrei D. Afonso Henriques, e Mem Moniz, que acompanhando o mesmo rei na tomada de Lisboa, ai sacrificou generosamente a vida, para dar aos cristãos entrada na cidade, atravessando-se entre as portas.




Foi a cidade do Porto muito tempo governada pelos descendentes de D. Egas, que para ela e para si ganharão muita gloria, fazendo muitas conquistas, e chamando a toda a comarca que ião ganhando, Terra de Santa Maria, em que entravam a vila da Feira e a de Guimarães, onde naqueles tempos era a fronteira dos moiros. Por suas obras valorosas forão estes cavaleiros muito estimados dos Reis de Leão D. Afonso 5º e D. Fernando 1º, e por eles honrados com muitos privilégios, de que tiveram origem os que depois gozou a mesma cidade, por doação d'elrei D. João l de Portugal, prémio dos notáveis serviços que seus cidadãos lhe fizeram nas guerras que teve com Castela para sustentar a independência deste reino.




Foi esta cidade novamente cercada por D. Gonçalo Pereira, arcebispo de Braga, com soberbos muros de cantaria que tinhão três mil passos de circunferência e de altura, com elevadas torres e muitas portas para a serventia pública, das quais eram as principais, a Porta Nova, a dos Banhos, Lingueta, e Ribeira, para o do rio e a do Sol, Cima de Vila, Carros, Olival Virtudes para a parte da terra. Começava a muralha ao poente junto á Porta Nova, e d'alli voltando seguia em linha recta pela margem do Douro, formando hum belo passeio. Chegando aos Guindaes subia ao nascente á Porta do Sol, e continuava até Cima de Vila, onde começava a descer pela Calçada da Teresa, até á porta de Carros, que era a mais frequentada. Seguia d' ali á porta de Santo Eloy, e subindo outra vez á porta do Olival, continuava pelo largo da Cordoaria ás Virtudes, Esperança, até ir fechar na Porta Nova onde havia principiado. Quarenta anos levou esta obra para se acabar.


Tem a cidade alguma ruas mui alegres, largas e bem calçadas, com passeios de lagedo, como a de S. Nicolau, mandada abrir por elrei D. João 1º, a das Flores por elrei D. Manuel, e a rua nova de S. João assentada sobre fortes arcadas de cantaria. Ultimamente os estragos e ruínas, que sofreu a cidade durante o cerco de 1833, deram lugar a abrirem-se nova ruas e praças que muito a aformoseiam, e facílitão as comunicações.




Os principais edifícios público da cidade do Porto são: a catedral, cuja primeira fundação data dos anos de 580, mas depois a reedificarão quase inteiramente de novo o conde D. Henrique e sua mulher a rainha D. Teresa, e a sagrou D. Bernardo, arcebispo de Toledo; é de três naves, com muitas e excelentes capelas, especialmente a maior, que pode competir com os melhores templos da Espanha; tem o pavimento em xadrez de mármore branco e vermelho, e toda ela é de pedra mui bem lavrada. A sua fachada principal é nobre e bem lançada, rematando com duas torre laterais. A soberba igreja dos clérigos, cuja torre é a mais alta do reino, e excede as de Hamburgo, Bristol, Bolonha e Riga; tem de altura ate á bola 316 palmos e meio; foi começada em 1732, e levou mais de trinta anos a acabar. O logar elevado em que está colocada, ajudando sua própria altura, faz que seja avistada de uma grande distancia. A igreja de S. Francisco, obra grandiosa e de bela e nobre arquitectura, hoje pertencente aos terceiros da ordem seráfica. A casa da Relação e cadeia pública, neste género é um dos melhores edifícios do reino. O paço episcopal, edifício vastíssimo e magnifico, reedificado pelo bispo D. João Rafael de Mendonça, mas hoje mui danificado pelo ultimo cerco; nele se nota uma bela e grandiosa escadaria, que pode competir em beleza, senão em primor, com a do convento de Mafra. O hospital novo, que seria dos melhores edifícios do reino se estivesse acabado. O quartel de Santo Ovídio, o teatro de S. João, e o edifício da Casa Pia, são cada hum no seu género d grande merecimento. Merecem também atenção a igreja de S. Martinho de Cedofeita, fundada pelo rei suevo Reciario pelos anos de 446; a de S. Pedro de Miragaia, edificada por S. Basílio, primeiro bispo do Porto, e onde esteve por muitos séculos o corpo do mártir S. Pantaleão, padroeiro da cidade, até que o bispo D. Diogo de Sousa o mandou trasladar para a igreja da Sé pelos anos de 1500; e a capela de Nossa Senhora da Lapa, hoje notável por nela se conservar em deposito o Coração do imortal Duque de Bragança.


Muitos e nobres edifício particular ornam também esta cidade, distinguindo-se d'entre todos o sumptuoso palácio da Torre da Marca, chamado dos Carrancas; e a Feitoria inglesa.




A povoação da cidade do Porto, segundo os últimos recenseamentos oficiais, é hoje de 60 mil almas, e incluindo a de Vila Nova de Gaia. 71 400.


Depois de Lisboa é o Porto a principal cidade do reino, pela sua riqueza e comercio, principalmente no importantíssimo ramo dos vinhos do Douro, de que exporta anualmente de trinta a quarenta mil pipas.





41º 09' N 08º 36' W
Porto
Portugal




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