História
Portugal
Batalha de Aljubarrota
Esta batalha tão famosa nos anais de Portugal, se deu a 14 de agosto de 1385, entre os reis de Castela e Portugal, ambos tendo o nome de D. João I. O rei de Castela entrou em Portugal pela provincia da Beira, tomou Celorico, arruinou Trancoso, queimou os arrabaldes deCoimbra, e tendo passado o Mondego, investiu Leiria.
O rei de Portugal não se amedrontou de uma tão rápida marcha. Acompanhado do seu condestável, o bravo D. Nuno Alvares Pereira, reuniu as suas tropas, e se dirigiu a encontrar os inimigos. Estes eram muito superiores em forças, e sе propôz no conselho de repartir o exército português em dois corpos, dos quais um entraria em Castela para efectuar uma diversão, enquanto о outro fatigava em Portugal о exército inimigo. O condestável não teve dificuldade em fazer sentir que este partido seria o mais perigoso, pois que o exercito já diminuto em comparaçâo daquele dos inimigos, se tornaría aínda mais fraco se fosse dividido. Julgava ser indispensável fazer o ultimo esforço para arrojar fora de Portugal o inimigo, enquanto este se acreditava seguro pela superioridade. Concluiu-se afinal o conselho, ligando-se todos a esta opinião.
Os dois exércitos em breve tempo se avistaram. Os portugueses tomaram posição com muita sagacidade. Acham.se mum estreito lugar, tendo sobre os seus flancos dois vales inacessíveis, e em frente uma planicie aonde fácilmente se podiam estender. Sobre seis mil e quinhentos homens de que se compunha o seu pequeno exército, um certo número apenas se achava armado de paus e chuços. Todos os historiadores concordam em que o exército castelhano era três vezes mais numeroso.
Quando os portugueses se formaram em batalha, um movimento feito pelos inimigos expôs aqueles a terem o sol em frente, e a sofrerem a poeira que sobre eles conduzia o vento da parte dos castelhanos. Os portugueses, contudo, achavam-se tão decididos ao combate, que não fizeram reflexão nestes dois inconvenientes, cujas consequências lhe podiam ser funestas.
Antes da acção os prelados de uma e outra parte ofereceram um singular espectaculo. O arcebispo de Braga correu de fileira em fileira distribuindo indulgências concedidas por Urbano VI, enquanto os bispos espanhois distribuiam ás suas tropas os perdões de Clemente, competidor de Urbano. Assim, com estes motivos de religião, se exacerbavam nos dois exércitos os ódios nacionais.
Os castelhanos atemorisaram momentaneamente os portugueses, disparando sobre eles duas peças de artilharia, cujo uso naquele tempo apenas era conhecido na Espanha. Elas mataram dois irmãos; porém um soldado gritou que o céu havia purificado o exército justiciando dois malvados, dos quais um tinha assassinado um sacerdote no acto de dizer missa; e que a vitória seria dos portugueses. Estes se reanimaram e dando o seu grito de batalha: S. Jorge! e cairam sobre os inimigos.
Os castelhanos não se limitaram a esperá- los. Atacaram de igual maneira e fizeram recuar o condestável de Portugal. Eles seguiam com ardor a vantagem conseguida, e seu número aumentando-lhes o valor, a desordem começava nos contrários, quando o reí de Portugal saio do centro do batalhão da ala direita, gritando às suas tropas que o seguissem, enquanto ele ia mostrar o caminho da vitória. Com efeito, á testa de um corpo de escolha, ele conseguiu derrotar outro de inimigos, mas bem depressa foi atacado por tropas de reserva. Tudo se envolve; a cavalaría e infantaría se confundem, e por toda a parte a morte se apodera de um turbilhão de valerosos guerreiros.
O reí de Castela, que por causa do seu mau estado de saúde andava numa liteira descoberta, ia por entre os soldados e os animava com ardor; porém o rei Portugal fazia aínda melhor, dava golpes terríveis e se expunha como se fosse um soldado. As suas tropas animadas por um tão extraordinário valor, se excediam a si próprias. A confusão introduz-se nos inimigos, de que os principais chefes existem mortos, ou gravemente feridos; por último, os castelhanos fogem, e o seu rei, que eles ahandonam, se vê obrigado a montar em um cavalo, para escapar assim ao poder dos vencedores.
Alguns portugueses se achavam no exército castelhano. Aqueles que nâo morreram com as armas na mão, foram vitimados como traidores mesmo depois de rendidos. O irmão do condestável foi deste número, aínda que o rei, com intentos de salva-lo, o tivesse entregue a um dos seus oficíais. Ele morreu debaixo do ferro dos soldados furiosos. O monarca vencedor tomava um momentâneo descanço, quando vieram aumentar-lhe o júbilo apresentando-lhe o grande estandarte de Castela, achado sobre o campo da batalha.
Reconheceram-se entre mortos, muitos dos mais nobres senhores castelhanos. Subio а perda do seu exército a mais de dez mil soldados, e conseguiu-se um espolio formidavel. Elrei de Portugal fez enterrar no mosteiro de Alcobaça, jazigo dos soberanos, os principais chefes que perdera neste día. Nem o número destes, nem mesmo o dos soldados, foi muito considerável. Segundo o uso do tempo, o rei vencedor se demorou três días sobre o campo da batalha, para dar sepultura aos seus soldados, e levantar troféus sobre as árvores dos montes circunvizinhos.
O rei de Castela mostrou em sua desgraça uma sensibilidade que o honra. Ele não pode tolerar a perda de uma tão consideravel batalha, e se retirou a Carmona. Mas o que aínda realça muito mais, foi a conduta que teve quando um dos seus oficíais maltratou á sua vista um português que havia sido aprisionado em uma das cidades conquistadas antes da batalha. O oficial julgava, obrando assim fazer a corte a seu senhor, mas o rei lhe disse: «Não tendes razão de o maltratar. Todos os portugueses que que tomaram o meu partido morraram debaixo dos meus olhos, e os que se armaram contra mim me tem vencido...» Enviou depois a elrei de Portugal aqueles dos seus vassalos detidos em seu poder, e bem depressa viu em recompensa serem- lhe mandados muitos castelhanos postos em liberdade pelo generoso rei seu inimigo.
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