segunda-feira, 13 de junho de 2011

História: D. João, um túmulo português em Chipre



História

Chipre

Um túmulo português em Chipre

D. João de Coimbra, Príncipe de Antioquia

Cyprus (Kipros), que os Turcos chamam Kibris, e que nós chamamos Chipre, é uma das maiores e mais ferieis ilhas do Mediterrâneo, e está situada no golfo formado pelas costas da Anatólia e da Síria.

Foi primeiramente colonisada pelos Fenícios; estabeleceram-se depois colónias gregas nas costas; caiu mais tarde no poder dos Persas, aos quais a tomou depois Alexandre o Grande. Por morte deste conquistador passou aos Ptolomeus, reis do Egipto, aos quais a tomaram os Romanos. Pela queda do império romano foi por algum tempo ocupada pelos Árabes, que posteriormente os imperadores gregos expulsaram. No tempo das Cruzadas, Ricardo «Coração de Leão», a tomou (1191) ao imperador Isaac Commena, e acedeu a Guido de Lusignan, para o indemnisar da perda do trono de Jerusalém. Depois da morte do ultimo rei da estirpe de Lusignan, devia pertencer ao rei da Sardenha, em razão do casamento de um príncipe desta casa com uma herdeira dos Lusignan; mas esta princesa cedeu em 1480 a soberania aos Venezianos, os quaes conservaram a ilha até 1571, em que de todo a tomaram os Turcos, ainda hoje seus possuidores.

Vêde as vicissitudes por que passou alé hoje uma tal possessão!

No período grego, e ainda no romano, foram célebres como é de todos sabido, o monte Olimpo, o templo de Vénus, Paphos, etc.

No período romano é particularmente notável a incorporação de Chipre no império, como uma província deste, depois que de todo se apoderou da ilha Marco Catão levando para Roma um rico tesouro e consideráveis despojos.

No final do período dos Lusignans devemos particularisar um incidente, em que figura um príncipe português, D. João, filho do imoral Infante D. Pedro (duque de Coimbra e Regente do reino na menoridade de D. Afonso V) veio a casar com Carlota, herdeira presuntiva do reino de Chipre, por ser filha do rei da mesma Ilha Jono III. Passando este ultimo a segundas núpcias, e enlaçando-se com Helena Paleologo, grega do Peloponeso, sucedeu que um filho deste segundo matrimónio tivesse inveja do príncipe D. João; surgiu uma infernal maquinação, nada menos que tendente a privar da vida o ilustre português. Não chegou, diz muito bem um historiador, «não chegou porém o príncipe D. João a pôr na cabeça a corôa de rei de Chipre, por morrer em vida seu sogro, com suspeitas de veneno, no ano de 1457.»

O mesmo historiador, porém, invocando o do autor das «Istorie dê ré Lusiynani» refere miudezas que são muito honrosas para a memória do príncipe português, e que a porluguezes será grato ouvir:

- Os Cipriotas suspiraram pela presença deste príncipe, por causa da dura denominação da rainha Helena sua sogra, «por ser este príncipe de gentil presença, de vivíssimo engenho, de costumes ingénuos, de animo grande, e apto para todas as cousas», pelo que em breve tempo e por aprovação do senado obteve todo o governo do reino, com grande sentimento da rainha sua sogra... Finalmente se acomodou de sorte ao génio dos súbditos sem nunca se apartar da justiça, unindo a afabilidade à expedição dos negócios, com tanto cuidado que aqueles povos creram haver achado um príncipe á medida dos seus desejos. Deste universal aplauso do povo nasceu uma cruel desconfiança na rainha sua sogra, que estava na posse de governar, tanto á custa da reputação del Rei seu marido, que conjurada com o camareiro-mór, seu confidente e grande valido, introduziram em El Rei desconfianças do genro, que lhe tirou o governo, e não satisfeita a malícia de o verem deposlo dele... se adiantou de sorte o ódio que procuraram tirar-lhe a vida com veneno; e para conseguirem o fim desta detestável acção, se aproveitaram de uma doença que o príncipe padecia... e valendo-se da ama, que a creara, e era grande confidente da rainha que associou a este negocio um médico seu primo, que compôs uma bebida mortífera, mas com tal arte que a morte parecesse acidente: com efeito aplicando-lhe a medicina, em lugar de beber nela a saúde, tragou a morte, cuja noticia foi ouvida dos Cipriotas com impaciência desafogando o sentimento em lágrimas e clamores, dando nas repetidas e lamentáveis vozes os últimos testemunhos do seu afecto, da sua lealdade, da sua fé; porque o príncipe D. João com a suavidade do trato e com a prática das virtudes tinha adquirido um amor universal no reino.

- No final do período da dominação Veneziana é muito notável o cerco de Famngosta. Por longo tempo, com extraordinária firmeza defendeu o Veneziano Bragadino a praça de Famagosta; mas afinal fez uma capitulação (1571) com os Turcos, a qual assegurava aos sitiados as honras da guerra. Mustapha Pacha, que assinou a capitulação, faltou infamemente ao estipulado; passou tudo á espada e fez morrer no meio dos mais ferozes e bárbaros tormentos o heróico Bragadino.

As principais cidades de Chipre na actualidade são Nicocia, capital; Famagosta; Larnika c Limisso ou Limasol. Os mais frequentados portos são Bafo ou a nova Paphos; e a antiga Cerinia.



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