segunda-feira, 13 de junho de 2011

Póvoa de Varzim: Festas de S. João, Santo António e S. Pedro



História

Póvoa de Varzim: Festas de S. João, Santo António e S. Pedro

Procissão de 15 de Agosto

Na Póvoa de Varzim, não obstante ser terra de pescadores, que deviam dar a primazia a S. Pedro acontece - e apesar dos três santos populares ali terem, com efeito, fervorosos devotos e abundância de alegrias e folgares, o preferido é o S. João, aliás como em todo o Reino.

Nesse dia todas as classes se divertem. Nas lojas arma-se um trono com a imagem do santo, e na véspera á noite acendem-se fogueiras em frente das portas.

Vão todavia mais adiante os pescadores. Defronte das suas casas levantam um pinheiro verde, cujos ramos presos ás janelas vizinhas são vistosamente embandeirados com bandeiras e lenços de cores. A este uso se refere a seguinte quadra que ali se canta:

Sentemo-nos, raparigas,
Á sombra deste pinheiro;
Há um ano já que esperamos
O S. João verdadeiro

A pequena distancia do pinheiro acende-se uma fogueira, e em volta se compõe uma dança que não sabemos que exista em outra terra do Minho. Chama-se a esta dança «dos solteiros», porque nela só entram rapazes e raparigas, em número de trinta ou quarenta, formando quinze ou vinte pares. Os que têm de entrar na dança vêm uniformisados, assim de um como de outro sexo, e os trajos são originais. As raparigas trazem colete encarnado e camisa branca, sem jaqueta nem roupinhas, e saia branca; na cabeça e nos ombros lenço branco; e ou vêm descalças ou resguardam os pés em pequenas chinelas de cabedal preto. Os rapazes trajam também colete encarnado sobre camisa branca, calça branca, faixa encarnada a tiracolo da direita para a esquerda, cinta encarnada (e isto é para os mais garridos), chapéu de palha ou barrete vermelho posto a direito (como ás vezes se vê nos campinos do Ribatejo), e tendo enrolado um lenço branco em forma de fita; e chinelas de cabedal amarelo, quando não trazem os pés nus como as suas interessantes companheiras.

Figurai agora estes trinta ou quarenta pares em duas linhas separadas, os do sexo feminino defronte dos do masculino, avançando, pulando ora num, ora n outro pé, recuando, e entoando quadras em que mostram desejos de que se encapele o mar para que não afaste daqueles folguedos os rapazes da vila.

Ó meu S. João Baptista,
Dai sardinha em demasia,
Mas ao vir a vossa véspera,
Mandai ao mar maresia

ou em que procuram exaltar o santo do dia:

Alegrai-vos, raparigas,
E mais toda a nossa gente,
Que S. João está no céu
Gozando glória eminente.
Raparigas cantai a vitória,
Pois S. João está na glória;

ou outros versos alegóricos cujos estribilhos são repetidos em coro, quando as linhas dos dançantes avançam ou recuam; e tereis feito ideia deste singular uso dos póveiros.

O acompanhamento para tais dansas e descantes, compõe-se de violas, rebecas e pandeiros, e diga-se com verdade, pelo que respeita a harmonia, nem sempre se presta culto á deusa Euterpe.

Nas vésperas de Santo António e S. Pedro, as festas são mais limitadas; nem delas participam todas as classes, nem se forma a dança dos solteiros, nem se levanta e embandeira o pinheiro verde, nem se acende número tão abundante de fogueiras.

A alegria no entretanto reina desafogadamente; os rapazes e as raparigas dançam e cantam ao som rouco de uma coisa a que chamam tamboril (instrumento feito de pele de peixe esticada na boca de algum cantaro quebrado), para testimunharern que tanto lhes valia pularem nas areias da Póvoa de Varzim como nas margens de Biscaia.

Na véspera e no dia de S. Pedro há mais entusiasmo, sobretudo entre os pescadores, mas ainda não é esta a festa religiosa deles. A sua piedade e devoção reserva-se mais particularmente para Aquela, cuja protecção imploram no momento do perigo todos os mareantes, e que a igreja celebra no dia 15 de agosto.

Estamos a 15 de agosto. Neste dia celebra-se com pompa a festividade de Nossa Senhora da Assunção, sob cuja invocação os pescadores composeram a sua irmandade.

A irmandade dos pescadores, além da solenidade da manhã, sai à tarde em procissão de triumfo, com diversos andores muito vistosos e bem adornados, sendo o último aquele em que se apresenta a bella imagem da indicada Senhora da Assunção.

Os pescadores moços, pela maior parte solteiros, que têm que ir na procissão, trazem nesse dia ao peito, como eles dizem, «em signal de luxo e consideração», um raminho de odorifera alfavaca, simbolo, conforme alguns, de tristeza e misantropia.

Ora a procissão no seu regresso, vai pela beira mar; e quando tem de descançar os que levam os andores, voltam estes com a frente para o Oceano, como se quisessem suplicar aos santos, cujas imagens ali conduzem em triunfo, que intercedessem por eles para que as águas fossem menos perigosas e mais copiosas em peixes.

No trânsito desta procissão pela praia vêem-se os barcos na maior parte enfeitados com bandeiras e lenços de variadas cores; e quando passa a imagem de Nossa Senhora, os pescadores lançam de dentro deles foguetes de muitas respostas, e em alguns também ardem rodas de fogo, que parece formarem na atmosfera um circulo de estrelinhas.

Há anos em que é tal a quantidade dos foguetes por ocasião da festa de 15 de agosto, que o continuado estalido das bombas de artificio se nos figura uma prolongada batalha; porém isto se presenceia com o mais notável entusiasmo nas epocas em que a pescaria foi abundantissima. Os pobres pescadores julgam assim patentear à Senhora a sua gratidão pelos beneficios recebidos.

Se pelo contrario a pescaria escasseou, o número de foguetes tambem diminuiu consideravelmente; o que prova então o desgosto dos pescadores porque o Oceano não os favoreceu ou porque o mau tempo afastou o peixe daquela costa.

Brito Aranha

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