sexta-feira, 23 de setembro de 2011

História do Crato e da Flor da Rosa (imagem do brasão de 1860)


História do Crato e da Flor da Rosa (imagem do brasão de 1860)


A VILA DO CRATO

Querem os nossos antiquarios que esta vila fosse fundada muitos anos antes do nascimento de Cristo petos carthagineses, fazendo-a colonia e cidade com o nome de Catralencas.

Sem entrarmos na escurissima questão da sua origem, temos todavia por certo que é muito antiga. No concilio Illibiritano, que se celebrou no ano de 300 da era cristã na cidade de Elvira, na Andaluzia, compareceram tres bispos da Lusitania e, entre estes, Secundino, bispo Catralencense. Desta antiga hieraquia episcopal, conserva a vila do Crato uma memoria no nome de uma rua chamada da Episcopia, talvez onde outrora existisse o palacio do bispo.

Os muitos restos de edificios e sepulturas romanas que ainda no principio do seculo passado (18) se viam dentro da vila e a pouca distancia dela, os quais os moradores têem destruido desgraçadamente, para se irem aproveitando dos materiais para outras construções, provam que Catralencas foi uma povoação importante.

Pela invasão dos moiros ficou muito arruinada. Os seus moradores ou cairam sob o alfange sarraceno ou a abandonaram, indo procurar refugio nas montanhas mais escabrosas. E assim perdeu até nossos dias a sua preeminencia de cidade e sede episcopal.

Quando D. Afonso Henriques tratava de alargar com a sua gloriosa espada os limites da nascente monarquia, mandou reedificar e povoar aquela arruinada povoação, que do antigo nome, ja corrupto, se principiou a chamar Crato.

Entretanto só começou a medrar e ter alguma importancia desde que foi constituida cabeça do priorado da ordem militar de S. João de Malta. Esta ordem, foi instituida no tempo do conde D. Henrique em Jerusalem, de onde depois se mudou para a ilha de Rodes e daqui para a ilha de Malta.

Não se sabe precisamente a epoca em que foi criado o grão priorado do Crato, mas parece ter sido no reinado de D. Afonso IV, em que vemos figurar como prior do Crato a D. Alvaro Gonçalves Pereira, pai do condestavel D. Nuno Alvares Pereira, o qual foi o primeiro prior de que ha noticia. Os outros grão priores foram Afonso Gonçalves Pereira; Alvaro Gonçalves Camello; D. Pedro Alvares; D. Nuno de Gois; D. Diogo Fernandes de Almeida; D. João de Menezes, conde de Tarouca; o infante D. Luis, seu filho D. Antonio, pretendente á coroa por morte do cardeal rei; o principe Victorio Amadeo; o infante de Castela, D. Fernando; o cardeal arquiduque Alberto; D. João de Sousa; D. Manuel de Mello; o infante D. Francisco, irmão del rei D. João V; o infante D. Pedro, depois rei, terceiro do nome; seu filho, o infante D. João, depois rei, sexto do nome; e o senhor D. Miguel de Bragança.

Os rendimentos deste priorado, que no tempo deç rei D. Afonso V eram apenas de seiscentos mil réis, chegaram no ano de 1800, a vinte e quatro contos de réis. Por breve do papa Pio VI, de 24 de Novembro de 1789, ficou o grão priorado do Crato unido á casa do infantado que, como se sabe, foi extinta em 1833, bem como os dizimos que constituiam aqueles rendimentos.

No seculo XVI tiveram lugar na vila do Crato dois faustos sucessos, os consorcios del rei D. Manuel com a sua terceira mulher, a rainha D. Leonor, e de D. João III com a rainha D. Catarina, celebrados o primeiro no ano de 1318, com festas esplendidas, e o segundo no de 1524.

El rei D. Manuel deu foral a esta vila em 1512, concedendo-lhe muitos privilegios e isenções. O seu titulo de notavel tem origem muito anterior, bem como a regalia de ter voto em cortes, onde os seus procuradores tomavam assento no banco decimo segundo. O seu brasão de armas é uma cruz de Malta de prata, em campo vermelho.

Durante as guerras da restauração do reino, veio um exercito castelhano, comandado por D. João de Austria pôr cêrco á vila do Crato, no anno de 1662. Apesar de se achar muito mal guarnecida e de constar o exercito inimigo de seis mil infantes e quatro mil cavalos, defendeu-se a praça enquanto lhe foi possivel, auxiliada pelas fortes muralhas com que a cercara o prior D. Nuno de Gois e pelo castelo que este reedificara. Cedendo porém a forças tão superiores, rendeu-se, conseguindo apenas segurança para as vidas dos seus defensores e mais habitantes.

D. João de Austria, irritado pela resistencia que lhe opôs um tão pequeno numero de soldados, permitiu aos vencedores todo o genero de cruezas. A vila foi roubada e queimada, não ficando edificio algum que não padecesse maior ou menor ruina. O castelo foi demolido por ordem do general castelhano. Os pobres habitantes, espoliados e privados de habitação, fugiram para a cidade de Portalegre e outras povoações da provincia. Entre as muitas perdas causadas pelo incendio da vila, houve a lamentar a dos cartorios, ricos em documentos importantes para a historia de Portugal e da ordem de Malta.

Passado algum tempo começaram a voltar os moradores e pouco a pouco se foram reedificando as habitações. Todavia esta catastrofe, não só paralisou os progressos que a vila do Crato ia fazendo visivelmente de ano para ano, mas deixou- lhe tão grandes vestigios da sua funesta passagem, que ainda hoje se vêem alguns, posto que tenha decorrido quase seculo e meio.

Está situada a vila do Crato na provincia do Alentejo, tres leguas distante da cidade de Portalegre para o lado do poente, quatro da vila de Niza para o sul e outras tantas do Tejo. O seu terreno é acidentado pelos muitos e grandes rochedos que a cercam por todos os lados, exceptuando o do sul.

Tem nas suas velhas muralhas cinco portas, chamadas de Santarem, de S. Pedro, de Berinjel, da Seda e Porta Nova. O castelo, fundado numa eminencia pedregosa, ficava sobranceiro á povoação, para a parte do nascente. Dele ainda resta a cerca de muros exteriores com seus baluartes. A torre de menagem e mais edificios que existiam dentro daquela cerca foram destruidos, como dissemos, em 1662.

A igreja de Nossa Senhora da Conceição é a unica paroquia da vila. É um bom templo de tres naves. A igreja da Misericórdia foi feita de novo no meado do seculo passado (18), tendo- se demolido o antigo templo, por estar muito arruinado e ser mui pequeno. Por esta ocasiâo tambem se reedificou o hospital da mesma santa casa. A torre do relojo é uma curiosa antigualha. Está situada no centro da povoação. É toda de cantaria muito alta e de forma piramidal.

Dentro e fora da vila há varias ermidas. A de S. Pedro que tem muita antiguidade; foi em tempos remotos a igreja matriz.




Nos suburbios da vila ha uma pequena aldeia, chamada o arrabalde da Flor da Rosa. Deve este nome e a sua origem, a um templo que aí fundou o grão prior D. Alvaro Gonçalves Pereira em 1356. Intitula-se de Nossa Senhora da Flor da Rosa, cuja imagem se achou escondida no mesmo lugar em que está edificada a igreja e dizem que pertencera a um antiquissimo convento de monges de S. Bento que os moiros destruiram totalmente na sua invasão da peninsula e que existia sobre o monte vizinho onde agora se vê uma capela dedicada a S. Bento.

Este templo de Nossa Senhora da Flor da Rosa é de arquitectura gotica e de excelente fabrica. No meio dele descansa o fundador num tumulo de marmore. No cruzeiro ergue-se outro tumulo, tambem de marmore, sobre seis leões, no qual estão as cinzas de D. Diogo Fernandes de Almeida, prior do Crato e filho de D. Lopo de AImeida, conde de Abrantes.

Proximo da vila, tinha a ordem de S. Francisco um convento da invocação de Santo Antonio.

A principal cultura do termo consiste em olivais ccreaes e vinhas. Tem muita caça e alguma criação de gado. Regam-no diversas ribeiras, a principal das quais, chamada de Seda, faz trabalhar varias azenhas. Proximo de outra ribeira, denominada do Xocanal, se descobriram pelos anos de 1724 uns cippos e outras pedras com inscrições romanas.

A 15 de Agosto e 8 de Setembro fazem-se duas feiras no arrabalde de Nossa Senhora da Flor da Rosa, ás quais concorre muita gente. A vila do Crato conta perto de mil e trezentos habitantes.

Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelos Censos 2011 o Crato conta com 3786 habitantes

O Crato é uma vila do Distrito de Portalegre

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