História de Elvas e brasão antigo (imagem de 1860)
A CIDADE DE ELVAS
Na provincia do Alentejo, junto á fronteira de Espanha, está a cidade de Elvas, assentada em anfiteatro sobre uma eminencia e distante de Lisboa trinta e tres leguas. Aos lados erguem se dois montes que a dominam e que são coroados pelos fortes de Santa Luzia e de Nossa Senhora da Graça. A duas leguas corre a ribeira do Caia que divide Portugal de Espanha. A tres leguas levanta-se, em frente de Elvas, a cidade e praça espanhola de Badajoz.
Sobre a origem de Elvas emitem os nossos autores opiniões diversas, sendo algumas inverosimeis ou pelo menos faltas de bons fundamentos. A que parece mais provavel, atribue aos romanos a sua fundação e faz derivar o seu nome de Marco Helvio, que então governava esse distrito da Lusitania.
Quanto á sua existencia na epoca da dominação romana não ha que duvidar. Varias sepulturas e inscrições achadas junto á cidade provam evidentemente que nesse tempo era povoação importante, mas além disto ha muitos outros testemunhos.
Dizem alguns antiquarios que o celebre general cartaginês Maharbal vivera muito tempo em Elvas e que aíi convalescera de uma perigosa enfermidade, em memoria do que erigiu um templo a Cupido nas vizinhanças de Vila Viçosa, junto a Terena. Deste templo viam-se ainda, no seculo passado (18), bastantes vestigios.
Depois da destruição do imperio romano Elvas passou sob o jugo dos diversos povos, que a seu turno sujeitaram a Lusitania. Dos moiros, que foram os ultimos, resgatou-a el rei D. Afonso Henriques no ano de 1166; tornando porém ao poder dos infleis, libertou-a novamente seu, filho D. Sancho I, no ano de 1200.
As guerras arruinaram-na e quase de todo a despovoaram. Porém D. Sancho II mandou-a reedificar e povoar no anno de 1226, dando-lhe por essa ocasião foral com os mesmos privilegios de que gozava a cidade de Evora. Elevou-a el rei D. Manuel á categoria de cidade, em 1513, e el rei D Sebastião á preeminencia de sede episcopal por bula pontificia de 9 de Junho de 1570.
Nas guerras da independencia, que se seguiram á morte del rei D. Fernando, já possuia Elvas um forte castelo e boa cerca de muralhas, com que resistiu valorosamente ás tropas castelhanas que então a sitiaram e acometeram.
Na gloriosa luta da restauração de 1640, foi teatro de grandes vitorias para as armas portuguesas, principalmente no dia 14 de Janeiro de 1659, em que o exercito espanhol, que a cercava, foi completamente desbaratado pelas tropas portuguesas, sob o cominando de D. Antonio Luis de Menezes, primeiro marquês de Marialva. Nesta batalha memoravel nos fastos de Portugal, com o nome de Vitoria das linhas de Elvas, perderam os inimigos, além de grande numero de mortos, feridos e prisioneiros, toda a artilharia, munições e bagagens.
No seculo seguinte passaram-se em Elvas cenas diametralmente opostas. Desta vez eram grandes festas e regosisos pelos dois consorcios que estreitaram em intimos laços de familia os soberanos de Espanha e Portugal. El rei D. João V e toda a familia real, aí foram passar alguns dias, durante os quais se avistaram e conversaram com D. Filipe V de Espanha e sua familia, numa esplendida casa que para esse fim se construiu sobre o Caia, limite dos dois paises. Os reais desposados foram o principe D. José, depois rei, primeiro do nome, com a infanta D. Mariana Victoria, filha de el rei Filipe V, e o filho herdeiro deste soberano, o principe D. Fernando, que veio a ser o sexto do nome entre os reis dc Espanha, com a infanta D. Maria Barbara, filha de el rei D. João V.
É a cidade de Elvas a principal praça de guerra de Portugal. A parte mais antiga das suas fortificações é o castelo, de que acima falámos, fundado no lugar mais elevado e cercado de muralhas ameiadas, flanqueadas de torres, tudo em bom estado de conservação. As obras que fizeram desta cidade uma praça de primeira ordem, foram empreendidas em epocas mui diversas, algumas anteriores a 1640, muitas e importantes durante a guerra da restauração e outras nos reinados de D. João V, D. José, D. Maria I e D. João VI.
Tem esta praça no seu circuito sete baluartes, quatro meios baluartes e um redente, ligados por cortinas que formam doze faces. Das obras de defesa exteriores, as principais são os fortes de Nossa Senhora da Graça e de Santa Luzia.
Dão entrada para a praça tres grandes portas chamadas da Esquina, de Olivença e de S. Vicente, além de varias portas falsas ou poternas, que se abrem nas cortinas do recinto. Ha na praça vastos quarteis, armazens e uma grande cisterna, paiois, etc, tudo á prova de bomba.
A sua guranição em tempo de guerra pode elevar-se a seis ou sete mil homens. No começo deste seculo (19) defendiam-na duzentas e cinquenta e sete peças de artilharia.
Conta Elvas quatro paroquias: a sé, Nossa Senhora da Alcaçova, o Salvador e S. Pedro. A sé è um templo de tres naves, obra de el rei D. Manuel. Era a antiga matriz, com a invocação de Santa Maria. Interiormente é de boa arquitectura gotica, com abobada de laçaria de pedra. A capela mór é moderna e sumptuosa. Foi fabricada de finos marmores por alguns dos melhores artistas que trabalharam no palacio real de Mafra. Na igreja, sacristia e casa do capitulo, vêem-se muitos paineis a oleo, alguns de bastante merecimento.
A paroquia do Salvador, outrora intitulada de Santiago, pertenceu ao colegio dos jesuitas. A ogreja da Misericórdia é um belo templo de tres naves, sustentadas em colunas de ordem toscana. Contiguo está o hospital administrado por esta pia confraria.
Havia em Elvas quatro conventos de frades. O de Nossa Senhora dos Mártires, de religiosos dominicos, cuja primeira fabrica foi del rei D. Afonso III, em 1267, tem uma bom igreja de tres naves. O edificio do convento serve actualmente de quartel militar. O de S. João de Deus, de hospitaleiros é hoje hospital militar. O colegio dos padres da Companhia e o convento de S. Francisco, de piedosos, contiguo á cidade, e fundado em 1591.
De freiras tem dois conventos: o de Nossa Senhora da Consolação, de religiosas dominicas, edificado em 1543, cuja igreja é de forma rotunda e mui elegante; e o de Nossa Senhora da Conceição, de freiras da regra de Santa Clara.
A confraria dos terceiros de S. Francisco, possui um bom edificio e uma excelente igreja, ornada de obra de talha doirada de muito primor.
Além destes templos, ha na cidade e cercanias varias ermidas. As ruas, posto que estreitas em geral, são regulares. A principal praça é a da Sé, onde ficam tambem o palacio episcopal em que se hospedou el rei D. João V com a familia real e outros principes, em eras anteriores; e a casa da camara, com a sua torre de relogio e com uma boa sala de sessões, decorada com varios paineis do pincel de Cyrillo Volkmar Machado. Nesta praça vê-se o antigo pelourinho, formado de uma só peça de marmore, todo cheio de esculpturas no gosto gotico.
Ha na cidade um passeio publico, começado em 1807 e situado entre as portas de Olivença e da Esquina. O grande aqueduto da Amoreira abastece abundantemente de agua a povoação e alimenta diversos chafarizes, dos quais o de S. Lourenço é o de melhor arquitectura.
Os suburbios de EIvas são amenos muito arborisados, com muitas hortas e quintas e, principalmente no extenso vale por onde corre o ribeiro Ceto, e que separa a praça do forte de Nossa Senhora da Graça. O termo produz cereais em abundancia, vinho, muito azeite, frutas,etc. Ha nele magnificas herdades em que se cria bastante gado.
Elvas conta uma população de perto de onze mil quatrocentas almas. Tem tres feiras anuais muito concorridas de nacionais e de espanhois: uma a 20 de Janeiro, outra a 20 de Maio e a ultima a 21 de Setembro.
Gozava esta cidade de voto em cortes, no antigo regimen, tendo assento os seus procuradores no banco segundo. Tem por brasão de armas um escudo coroado e nele, em campo vermelho, um guerreiro a cavalo todo armado, empunhando na mão direita o estandarte das quinas portuguesas. Commemora este brasão a acção audaciosa de um cavaleiro português que, num dia de função publica em Badajoz, entrou nesta cidade e, arremetendo por meio do povo, ousou apossar-se do estandarte castelhano e, correndo com ele na mão até junto das muralhas de Elvas, conseguiu arremeça-lo para dentro da praça, onde não entrou porque os castelhanos que a perseguiam Iho impediram com a morte.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Pelo Censos 2011 Elvas conta com 23 087 habitantes
Elvas é uma cidade portuguesa do Distrito de Portalegre
Freguesias de Elvas
Ajuda, Salvador e Santo Ildefonso (Urbana), Alcáçova (Urbana), Assunção (Urbana), Barbacena (Rural), Caia e São Pedro (Urbana), Santa Eulália (Rural), São Brás e São Lourenço (Rural), São Vicente e Ventosa (Rural), Terrugem (Rural), Vila Boim (Rural), Vila Fernando (Rural)
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