História da Ericeira e antigo brasão (imagem de 1860)
A VILA DA ERICEIRA
Acha-se edificada esta vila na costa do oceano, a légua e meia de distancia de Mafra, para o ocidente e três ao norte de Sintra.
Não há noticia certa sobre a sua origem nem encerra vestígio algum de antiguidade. Todavia o seu primeiro foral foi-lhe dado por el rei D. Afonso IV no ano do 1369; o qual el rei D. Manuel reformou em 1513. Por essa ocasião este soberano fez doação da Ericeira ao infante D. Luís, seu filho, que a deixou ao seu filho natural, D. António, prior do Crato.
Pela oposição que este príncipe fez como um dos pretendentes do trono a Filipe II de Espanha, quando se apossou deste reino pela morte do cardeal rei, foram-lhe sequestrados todos os bens e por conseguinte voltou a Ericeira para a coroa. Filipe II doou esta terra de juro e herdade a Luís Álvares de Azevedo e, como viesse a pertencer em herança a uma sua filha, freira do mosteiro de Odivelas, a abadessa vendeu aquele senhorio a D. Diogo de Menezes, que pouco depois foi criado conde da Ericeira.
Ainda aí se vê, posto que em ruínas, mas como uma honrosa memoria, o palácio desta esclarecida família que tanto se distinguiu nos reinados de D. João IV, D. Afonso VI e D. Pedro II, pelos relevantes serviços que os condes, Luís e D. Francisco Xavier de Menezes, prestaram á causa da independência nacional e ao progresso das letras.
Sentada sobre uma elevada rocha cortada a prumo e minada na base pelas ondas do mar, a vila da Ericeira domina o seu pequeno porto e uma extensão imensa de oceano. É formado o seu porto por um recôncavo quase circular, todo guarnecido de rochedos, que vão diminuindo em grandeza até deixar aberta uma estreita garganta por onde entra o mar e as embarcações nesta pequenissima baía. A estreiteza desta barra, só acessível para embarcações costeiras de pequeno lote, e a força com que aí rebentam as vagas fazem dificil a entrada.
Da povoação desce para o porto uma calçada sustentada do lado do mar por uma grossa muralha. O porto é frequentado por uns cem barcos de pesca e de cabotagem, que são os principais ramos de industria em que se emprega a maioria dos habitantes da vila. Por conseguinte, não só é abastecida de muita variedade de peixe, mas faz deste género grande comercio para o interior. Os pescadores da Ericeira são ousados e empreendedores. Não se limitam a pescar ao longo das costas da Estremadura, demandam também as costas de Marrocos e já têem feito modernamente varias expedições aos bancos da Terra Nova.
Da muita quantidade de ouriços que há em toda aquela costa, tira o seu nome a vila da Ericeira, que em tempos antigos se chamava Oyriceira. Pelo mesmo motivo tem por brasão de armas um ouriço no meio do escudo.
É singular esta vila pelo extremo asseio das ruas e casas, que sem excepção resplandecem de alvura. Tem uma única paroquia, da invocação de S. Pedro, que foi reedificada no século passado (18), concorrendo para esse fim el rei D. João V com avultada esmola.
A casa da Misericórdia, fundada em 1678 por Francisco Lopes Franco, tem bons rendimentos com que provê ás despesas do seu hospital e a mais socorros á pobreza. Há na vila varias ermidas e algumas boas casas. Na estação dos banhos de mar concorrem aí bastantes famílias do interior da província e também algumas de Lisboa.
Sobranceiro á calçada que conduz ao porto, há um forte construído no reinado de D. Pedro II. Ao presente acha-se desartilhado ,mas em bom estado de conservação.
Um chafariz chamado a Fonte do Cabo, que segundo uma inscrição que nele há, de letras góticas, foi feito cm 1457, fornece agua abundantemente para toda a povoação, que se eleva a umas duas mil e oitocentas almas.
As cercanias da Ericeira são muito áridas e desprovidas de arvoredo, como todos os terrenos próximos da costa, nesta província da Estremadura. A principal cultura consiste em cereais e batatas.
A 25 de Julho faz-se nesta vila uma feira de três dias.
Por Ignacio de Vilhena Barbosa
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Ericeira é uma e freguesia do concelho de Mafra
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