quarta-feira, 26 de outubro de 2011

História de Moura e imagem de 1860 do antigo brasão


História de Moura e imagem de 1860 do antigo brasão

VILA DE MOURA

É a vila de Moura uma das praças de guerra da fronteira do Alentejo. Está situada em terreno elevado e acidentado, ao qual cercam, por todos os lados, extensas planicies. A meia legua para este corre o Guadiana. Banham-lhe os muros as ribeiras de Brenhas e de Lavandeira, que pagam tributo ao rio Ardila, como este o paga ao Guadiana. Dista quatro leguas ao nor-nordeste de Serpa e sete es-nordeste da cidade de Beja.

A origem d esta povoação perde se na escuridão dos tempos. Para não referirmos as fabulas que a este respeito contam alguns autores, buscaremos para ponto de partida as noticias mais certas que se encontram sobre a antiguidade desta terra.

De varias lapidas e cippos romanos que se têm achado dentro da vila e nos seus arredores, consta que ali existira a cidade de Aruccitana ou Arucia a Nova para diferença de outra, do mesmo nome, situada na Serra Morena. No tempo do imperador Trajano era uma cidade mui nomeada e importante. Desde esta epoca até ao principio da nossa monarquia a sua historia é inteiramente desconhecida. É provavel que nas vicissitudes porque passou toda a peninsula com a entrada dos barbaros do norte e mais tarde com a dos arabes, fosse alternativamente destruida e levantada das suas ruinas. O que é certo é que no seculo XII era uma povoação acastelada, que os moiros tinham a bom recado. Como a lenda da tomada desta terra pelos cristãos seja a mesma que deu origem ao seu brasão de armas, vamos referi-la.








Lenda da Tomada de Moura

Corria o ano de 1166, D. Afonso Henriques, aclamado rei de Portugal nos plainos de Ourique, tinha expulsado os infieis da Estremadura e combatia sem descanso para os expelir do Alentejo, cujo terreno lhe disputavam palmo a palmo em luta porfiosa e desesperada.

Era então alcaide do castello da antiga Aruccitana um moiro nobre e opulento, senhor de muitas terras do Alentejo. Abu Assan, que assim se chamava, tinha uma filha por nome Saluquia, a quem amava ternamente. Em prova do seu afeto, dera-lhe em dote aquele castelo, por ele reedificado e guarnecido com tudo quanto era mister para conforto e defensa. A joven moira, tão ricamente dotada não tardou a contratar o seu casamento com um agareno não menos rico e poderoso e tambem alcaide do forte castelo de Arouxe.

Chegada a ocasião dos desposorios pos-se a caminho Braffma, era o nome do noivo, seguido de uma numerosa e luzida cavalgada. Ao entrarem porem num vale estreito e sombreado por espesso arvoredo, cairam sobre eles alguns cavaleiros cristãos, tão de improviso e com tal furia e denodo, que em breve espaço de tempo se viu o chão juncado de cadaveres, não escapando com vida um só sarraceno.

Foi esta acção uma empresa de antemão combinada e disposta; e foram autores dela dois fidalgos da corte de Afonso Henriques, chamados Alvaro Rodrigues e Pedro Rodrigues.

Apenas foi concluido este primeiro acto do drama, apressaram-se os dois fidalgos e os outros seus companheiros de armas a despojar os corpos dos moiros de todos os fatos e adornos e trocando-os pelos seus, num momento se acharam transformados em perfeitos cavaleiros mauritanos.

Assim disfarçados, seguiram o caminho do Castelo da noiva, entoando alegres vozes e gritas ao modo dos sarracenos. A desditosa Saluquia, que esperava ansiosa a vinda do consorte, viu da janela do alcaçar aproximar-se a brilhante e jovial comitiva. Com o riso nos labios e no coração a falaz esperança da felicidade, correu a ordenar á sua gente que baixasse a ponte levadiça e abrisse de par em par as portas da fortaleza, para receber o seu novo senhor. A sua ilusão porém passou rapidamente, como o relampago. As vozes de alegria e paz, que os cavaleiros entoavam ao transpôr os fossos do castelo, em breve se converteram no retinir das armas, nos alaridos da guerra e emfim nos brados de vitoria.


O sagrado pavilhão das quinas tremolava jà triunfante sobre as ameias da cidadela. A praça estava rendida aos pés do vencedor, mas não assim a sua altiva senhora. A desgraçada Saluquia, preferindo a morte á escravidão, arremeçara-se do alto da torre que defendia a entrada da fortaleza.

Em memoria deste sucesso, tomou a terra o nome de vila da Moura e por seu brasão de armas um escudo com um castelo e junto á porta deste, uma mulher morta.

Esta é a lenda, mas pretendem alguns autores que a povoação, antes desta conquista já era denominada Moura. Outros dizem, que durante o dominio dos arabes, davam-lhe estes o nome de Ilma-nijah.

O que é verdade historica, é ter sido conquistada aos infieis por aqueles dois cavaleiros, que tomaram desta empresa o appelido de Moura, que transmittiram aos seus descendentes, actualmente representados na pessoa do senhor marquês de Loulé.

A pouca distancia da vila, ha um sitio ainda hoje denominado Braffma de Arouxe, onde a tradição popular diz que foi assassinado o infeliz noivo.

No meio de certa confusão de noticias que se dá a respeito da tomada desta vila, parece depreender-se que, depois daquela primeira conquista, tornou a cair em poder dos moiros, sendo mais tarde outra vez resgatada pelos cristãos.

Reinando el rei D. Dinis, o senhorio de Moura, juntamente com o de algumas outras terras do Alentejo, foi causa de um rompimento entre Portugal e Castela, pelos annos de 1295. Terminada a guerra e reconhecido o direito de possessão a Portugal pelo tratado de paz de Ciudad Rodrigo, el rei D. Dinis deu foral á vila de Moura em Dezembro daquele mesmo ano.

Por ocasião da lcta da restauração de 1640, fizeram- se na vila de Moura importantes obras de defensa, que a elevaram á categoria de praça forte. Em Junho dc 1707, durante a guerra da sucessão de Espanha, rendeu-se esta praça por capitulação ao exercito espanhol, comandado pelo duque de Ossuna, depois de quinze dias de defensa. Passado algum tempo abandonou-a o inimigo, fazendo antes voar o Castelo e grande parte das fortificações da praça.

No nosso antigo sistema monarquico, a vila de Moura tinha voto em cortes com assento no banco quinto.

Ha na vila duas paroquias, S. João Baptista e Santo Agostinho, pertencentes outrora á ordem de Avis. Tem casa da Misericórdia, hospital e umas doze ermidas. Tem dois conventos de freiras, o de Nossa Senhora da Assunção, de religiosas dominicas fundado em 1562 dentro do castelo, e o de freiras de Santa Clara; e teve tres conventos de frades, um da ordem de S. Francisco, outro de carmelitas calçados e o terceiro de hospitaleiros de S. João de Deus, que tem servido de Hospital militar.

Conserva grande parte das antigas fortificações, posto que muito arruinadas, tais como a cerca de muralhas, com as suas quatro portas, do Carmo, Nova do Fojo, de S. Francisco e de Santa Justa; uma magestosa torre, fabrica del rei D. Dinis e varias reliquias de construções mais antigas, umas que se atribuem aos arabes e outras aos romanos.

As fortificações modernas acham-se tambem em muita destruição, pelo efeito daquela catastrofe e depois pelo abandono dos homens e pela acção do tempo.

As duas ribeiras de Brenhas e Lavandeira, que cercam e banham a vila e regam hortas e pomares; o rio de Ardila, onde estas vão desaguar, que mais caudaloso, faz moer muitas azenhas; e emfim, o Guadiana, que passa nas vizinhanças, tornamos suburbios de Moura bonitos frescos e amenos. O termo produz em abundancia cereais e azeite. Recolhe algum vinho, cera e mel e possui excelentes montados, onde se cria muito gado suino. Os montes abundam em caça e o Guadiana fornece variedade de peixe.

A vila de Moura é cabeça de comarca, distrito administrativo de Beja e encerra perto de quatro mil habitantes.

A 8 de Setembro tem a sua feira anual, muito concorrida de gente e de generos.


Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos 2011 Moura conta com 15 186 habitantes

Freguesias de Moura 

Amareleja, Póvoa de São Miguel, Safara, Santo Agostinho, Santo Aleixo da Restauração, Santo Amador, São João Baptista, Sobral da Adiça 

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