quarta-feira, 26 de outubro de 2011

História de Montemor-o-Velho e imagem de 1860 do antigo brasão


História de Montemor-o-Velho e imagem de 1860 do antigo brasão

 VILA DE MONTEMOR O VELHO

Na margem direita do Mondego, a três léguas distancia do oceano e quatro da cidade de Coimbra, está a antiga vila de Montemor o Velho. Faz parte da província da Beira, distrito administrativo de Coimbra.

Dizem alguns dos nossos antiquários, que esta povoação tivera principio mil e novecentos anos antes do nascimento de Cristo, dando- lhe por fundador um suposto rei chamado Brigo. Posto que se não possa dar credito a semelhante noticia, é fora de duvida que esta vila tem uma origem muito remota.

Segundo a opinião de vários autores nacionais e castelhanos, no tempo do domínio romano, era uma cidade de alguma importância chamada Medobriga e não Mirobriga, como outros escrevem, pois que esta ultima tinha o seu assento aonde hoje vemos Santiago de Cacem.

Nas invasões dos povos do norte e na dos árabes, curvou-se, como toda a Lusitânia, ao jugo dos vencedores. Ainda não era passado século e meio depois da conquista dos sarracenos, quando D. Ramiro I, rei de Leão, caindo com grosso exercito sobre os moiros, restituiu Montemor a fé cristã no ano de 858. Não gozou porém da liberdade por muito tempo. Os infiéis de novo a acometeram e levaram de assalto, senhoreando-a por largos anos, até que em 1040 foi outra vez reconquistada pelas armas cristãs, sob o comando de D. Fernando I, rei de Castela e Leão.

Este soberano, que mereceu por suas gloriosas empresas o epíteto de Magno, nesta ocasião também foi grande na vingança. Não só fez lançar por terra os torreados muros que pretenderam embargar-lhe o passo; a própria povoação foi arrasada completamente.

Pelos anos de 1088, reinando em Castela D Afonso VI, foi Montemor reedificada e povoada de novo, por diligencias do conde D. Raimundo de Borgonha, genro de D. Afonso VI, auxiliado pelo conde D. Sisnando, que então governava Coimbra em nome daquele monarca. Passados poucos anos, casando D. Teresa, filha de D. Afonso VI, com D. Henrique de Borgonha, irmão de D. Raimundo e obtendo, em dote, as terras de Portugal até então conquistadas aos moiros com titulo de condado, entrou Montemor no domínio dos seus novos soberanos.

Como ficava próxima da fronteira inimiga, pois que as meias luas campeavam em toda a Estremadura e como a sua posição era forte por natureza, cuidou-se na restauração das suas antigas muralhas e castelo. E isto valeu-lhe de muito, salvando-a, por vezes, nas invasões que pelo tempo adiante os árabes fizeram por aquela parte da Beira, cobiçosos de se apoderarem novamente de Coimbra.

D. Sancho I mandou-a povoar e deu-lhe foral em 1202 e, por sua morte, deixou o senhorio desta vila a suas filhas, as infantas D. Sancha e D. Teresa, sobre que tiveram grandes dissensões com seu irmão el rei D. Afonso II.

Sob o governo dos nossos primeiros Reis, chamavam geralmente a esta povoação «Terra do Infantado», em razão de se achar sempre na posse dela algum infante. Depois principiaram a denomina-la Montemor-o- Velho, para diferença da outra vila de Montemor o Novo.

No antigo regímen tinha voto em cortes, nas quais os seus procuradores tomavam assento no banco quinto. O seu brasão de armas é um castelo d oiro em campo vermelho e sobre ele o escudo das quinas reais. É assim que se acha no livro dos brasões que se guarda na Torre do Tombo. Jorge Cardoso e António Carvalho da Costa, dão-lhe por brasão simplesmente o escudo das armas reais.

Está edificada esta vila nas abas de um monte, de onde deriva o seu nome, numa situação mui aprazível. De um e outro lado do monte, que se acha isolado e parece ali colocado só para servir de encosto á povoação, estendem-se os vastíssimos campos do Mondego. Pela frente corre este formoso rio entre margens de perene verdura. No cimo do monte, avulta o castelo da idade media, derrocado e desprezado, mas ainda soberbo em suas ruínas. A vista que daí se goza é de um efeito encantador.

Divide se a povoação em cinco freguesias, que são Santa Maria da Alcáçova, que é a matriz e está dentro do castelo; S. Martinho; o Salvador; Santa Maria Madalena e S. Miguel. A igreja e hospital da Misericórdia foram fundados por el rei D. Manuel.

Havia na vila um convento de eremitas de Santo Agostinho e outro de freiras franciscanas, ambos extintos. Dentro e fora dos muros há varias ermidas. As ruas em geral são más, estreitas tortuosas e mal calçadas. Para o lado do rio tem um belo campo ou rossio, onde está o edifício do extinto convento de Nossa Senhora do Campo, de que acima fizemos menção. O porto é frequentado de muitos barcos que navegam para a Figueira, para Coimbra e para outras mais povoações das margens do Mondego.

Montemor o Velho ainda mostra as antigas muralhas com as suas três portas. Os subúrbios são muito lindos e amenos, tanto pelas hortas, pomares, vinhas e fontes em que abundam, como pela boa vizinhança do rio. O termo produz muitos cereais e legumes, algum azeite e vinho e muita fruta. Cria se nele bastante gado e caça. A terra é mimosa de peixe, quer da costa, donde dista apenas três léguas, quer do rio.

A 8 de Setembro tem a sua feira anual A população d esta vila ascende a três mil almas.

Montemor o Velho é pátria do nosso poeta Jorge de Montemor, tão celebrado cm Portugal no reinado de D. João III e na Espanha, onde viveu muitos anos, estimado e favorecido de toda a corte. As suas poesias obtiveram tal acolhimento que o livro delas que intitulou «Diana», em que cantava os seus amores com uma certa dama de muita beleza, teve cinco edições em vida do autor.

Jorge de Montemor andava compondo um poema do descobrimento da Índia, quando faleceu no ano de 1561.


Por Ignacio de Vilhena Barbosa


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Pelo Censos 2011 Montemor-o-Velho conta com  26 214 habitantes 

Freguesias de Montemor-o-Velho

Abrunheira, Arazede, Carapinheira, Ereira, Gatões, Liceia, Meãs do Campo, Montemor-o-Velho, Pereira, Santo Varão, Seixo de Gatões, Tentúgal, Verride, Vila Nova da Barca

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