terça-feira, 11 de outubro de 2011

História da Cidade da Guarda e imagem de 1860 do antigo brasão


História da Cidade da Guarda e imagem de 1860 do antigo brasão


A CIDADE DA GUARDA

Quando todo o solo da península era um campo de batalha, nessa guerra porfiosa que os cristãos travaram com os agarenos, até os repulsarem para África, mandou o nosso rei D. Sancho I, logo no começo do seu reinado, construir uma torre num lugar eminente nas faldas do norte da serra da Estrela. Não era uma fortaleza para sustentar combates, mas simplesmente uma atalaia de onde se descobriam muitas terras de moiros e, por conseguinte, de onde se podiam vigiar todos os seus movimentos.


Como o sitio tivesse capacidade para mais vastas edificações e el rei D. Sancho reconhecesse quanto convinha levantar ali um posto de guerra, que impusesse respeito ao inimigo, tratou-se da fundação de um castelo e, em seguida, de uma cidade fortificada junto á fortaleza.

A 26 de Novembro de 1199, concedeu aquele monarca á nova povoação o foral de cidade, com muitos privilégios, dando-lhe o nome de Guarda, em memoria da torre que primeiro edificara. A esta espécie de torres dava-se indistintamente o nome de atalaias ou guardas.

O mesmo soberano lhe alcançou a dignidade episcopal por bula do papa Paulo III. Pelos anos de 1202, fez dela doação ao conde D. Fernando. Porém, em Janeiro do ano seguinte, achava se já de posse deste senhorio, em recompensa de serviços, Pedro Viegas de Tavares. El rei D. Manuel fez duque da Guarda a seu filho, o infante D. Fernando. A alcaidaria mor desta cidade, andava na casa dos condes de Sarzedas, tendo sido o primeiro alcaide mor Pedro Pais de Matos.

No antigo regímen gozava esta cidade da prerogativa de mandar procuradores ás cortes, os quais tomavam assento no banco segundo. Tem por brasão de armas um escudo, coroado e nele uma fortaleza de prata com três torres em campo azul, tendo na torre do meio o escudo real só com as quinas.

Está pois situada a cidade da Guarda nas faldas da serra da Estrela, para o lado do norte, em terreno plano, mas bastantemente elevado. Duas grandes quebradas separam a cidade dos terrenos circunivizinhos. Pela do ocidente, que forma um profundo vale, corre o Mondego, que nasce perto dali, na serra donde se precipita para o vale. Pela outra quebrada, passa o pequeno rio Noéme, que, unindo-se depois ao Lamegal, vai juntar-se ao Coa.

Quase nos limites da província da Beira Baixa, dista seis léguas da fronteira de Espanha, doze da cidade de Castelo Branco e cinquenta de Lisboa.

Dividem-se os moradores por cinco paroquias que são: a Sé, S. Vicente, S. Pedro, Santiago e Nossa Senhora do Mercado. A Sé, como todas as catedrais do reino, é dedicada a Nossa Senhora da Assunção. A primeira igreja que serviu de Sé, foi começada por el rei D. Sancho I e concluída por D. Afonso II, sendo consagrada a S Gens. Pequena e de mesquinha fabrica, como eram em geral as construções na infância da monarquia, embora procedessem de fundação real, não passaram muitos anos sem que se reconhecesse a necessidade de edificar uma nova Sé. Querendo- se lugar mais desafogado, deu-se principio á obra num espaçoso terreiro, fora dos muros da cidade. Acabou-se de edificar, este segundo templo, no reinado de D. Pedro I. Foi feito pelas rendas do bispado e dizem que era grande e de boa arquitectura. Infelizmente teve ainda mais curta existência do que o primeiro, pois que no seguinte reinado, durante as guerras encarniçadas que rebentaram por vezes entre Portugal e Castela, o nosso rei D. Fernando I, mandou-o demolir, a fim de desafrontar as fortificações da cidade.

Em vão requereram os bispos, no resto do governo deste soberano, que lhes mandasse construir dentro da cidade outra Sé. As suas justas queixas só vieram a ser atendidas daí a bastantes anos, reinando já havia muitos D. João I, que alfim determinou começar a obra segundo a planta que enviou. Correram as obras tom largas interrupções, ora por impulso real, ora por conta da mitra, pelo espaço de mais de um século, até que se lhe pôs o ultimo remate no tempo del rei D. João III.

É uma das mais vastas e sumptuosas catedrais de Portugal. É de bela arquitectura gótica, exteriormente construída de boa pedra e no interior ornada de mármores e obra de talha doirada de muito primor.

Os outros edifícios principais da cidade são: o paço do bispo, a igreja e hospital da Misericórdia, o seminário episcopal, fundado em 1595 pelo bispo D. Nuno de Noronha, filho dos condes de Odemira; o extinto convento de frades franciscanos, levantado em 1217; outro de religiosas da mesma ordem, fundação muito posterior; e oito ermidas.

Das antigas fortificações existem as muralhas da cidade, com seis portas e varias torres e, na parte mais alta da povoação, o velho castelo.

Desfruta esta cidade um clima muito saudável, posto que no inverno excessivamente frio, pela muita neve que aí cai e de que se cobre a serra vizinha. Mas em compensação, numerosas nascentes de mui boas e fresquíssimas águas, abastecem abundantemente a cidade e regam todo o seu termo, fazendo-o muito fértil em milho, centeio, legumes, hortaliças, frutas e algum vinho. Porém as suas pastagens, que são magnificas e onde se cria grande quantidade de excelente gado de diversas espécies, constituem o principal ramo da sua industria agrícola. É muito importante o seu comercio de exportação de gados, lãs, queijos e manteiga.

Tem tido ali notável desenvolvimento a cultura da amoreira, pelo que tem aumentado e prosperado muito a criação do bicho da seda e fiação deste produto, em que as mulheres se empregam quase exclusivamente.

A população da Guarda pouco passa de quatro mil habitantes. A 25 de Junho tem uma feira anual mui concorrida.

A serra da Estrela, povoada de muita diversidade de caça e com as suas celebradas lagoas, vistosas cascatas, grutas e rochedos singulares, faz mui curiosas e pitorescas as cercanias da cidade da Guarda.


Por Ignacio de Vilhena Barbosa

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Pelos Censos 2011 a Guarda conta com 42 460 habitantes

Freguesias da Guarda

Adão, Albardo, Aldeia do Bispo, Aldeia Viçosa, Alvendre, Arrifana, Avelãs da Ribeira, Avelãs de Ambom, Benespera, Carvalhal Meão, Casal de Cinza, Castanheira, Cavadoude, Codesseiro, Corujeira, Faia, Famalicão, Fernão Joanes, Gagos, Gonçalo, Gonçalo Bocas, João Antão, Maçainhas, anteriormente Maçainhas de Baixo, Marmeleiro, Meios, Mizarela, Monte Margarida, Panóias de Cima, Pega, Pêra do Moço, Pêro Soares, Porto da Carne. Pousada, Ramela, Ribeira dos Carinhos, Rocamondo, Rochoso, Santana da Azinha, São Miguel da Guarda (Guarda), São Miguel de Jarmelo, São Pedro de Jarmelo, São Vicente (Guarda), Sé (Guarda), Seixo Amarelo, Sobral da Serra, Trinta, Vale de Estrela, Valhelhas, Vela, Videmonte, Vila Cortês do Mondego, Vila Fernando, Vila Franca do Deão, Vila Garcia, Vila Soeiro

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